O nosso Artur, a nossa raça, o nosso ruço...
Lembro-me como mandava naquela ala direita, num vai-vem diabólico. Como dava tudo em campo, como poucos. Como ninguém mais, naquela raça inesgotável, na entrega que punha na defesa da gloriosa camisola vermelha. Era um símbolo. Era a mística encarnada num corpo franzino que chegava para tudo.
Num certo dia, corria o Verão quente de 1977, alguém entendeu que tudo aquilo era pouco. Sentiu-se empurrado para fora do seu clube de nascença, e partiu. Para o rival, porque é sempre assim...
Lembro-me como me doeu. E como me doeu mais a ingratidão do meu clube que propriamente a sua saída para o rival. Não havia nada para lhe perdoar e havia tudo para não perdoar aos que o empurraram para fora da sua casa de sempre. Aos 27 anos, no apogeu!
A vida caprichou em desalinhar dos sentimentos dos benfiquistas, como que não quisesse perdoar-lhe o que todos nós perdoávamos. E cedo lhe começou a trocar as voltas, não mais o deixando em paz. Até hoje. Aos 66 anos.
O Benfica, sempre muito maior que as pessoas e as conjunturas, por muito grandes que alguns se achem, ou tenham achado, pediu-lhe desculpa. Envergonhadamente...