Não admira...
... Não admira muito que o FMI tenha vindo dizer, com todas as letras e de forma clara e inequívoca, que o dito programa de resgate que, juntamente com as instituições europeias, impôs a Portugal foi um desastre. Não é novidade nenhuma, uma boa parte de nós, da direita - sim, muita gente de direita esteve convictamente contra o eufemisticamente chamado programa de ajustamento, muitos do próprio PSD, como é sabido - à esquerda, há muito que tinha dado conta disso. E que em tempo oportuno, e não depois do mal estar feito, ergueu a voz contra o pocesso de destruição em curso no país.
O próprio Vítor Gaspar, como muito bem lembrou o Pedro Marques Lopes (uma das vozes do PSD que na altura própria se fizeram ouvir) no DN neste fim se semana, deixara claro na sua carta de demisão, a meio do mandato e a pouco mais de meio do programa, que tudo aquilo dera errado.
Não admira que o FMI diga hoje que se deveria ter feito a reestruturação da dívida, quando na altura se atirava para a fogueira toda a gente que ousasse falar disso.
Também não admira que o FMI venha agora dizer que estava errado nos pressupostos, que errara no diagnóstico e que se enganara nas fórmulas, com a leviandade de quem está a falar de uma receita de massa de bacalhau. Sabemos o que a casa gasta... E sabemos bem que há por lá muita gente que muito jeito para carrasco e pouco, ou nenhum, para resolver problemas de Economia.
Nem admira que este Relatório tenha sido conhecido ao mesmo tempo que se ficou a conhecer o fim da telenovela das sanções da Europa.
O que admira - ou, se calhar, não - é que não se ouça uma palavra dos convictos executantes desse programa de destruição. Que Passos Coelho, Maria Luís ou Portas não tenham um comentário que seja a fazer. O que admira - ou talvez não - é que para a imensa legião de comentadores com que enxamearam as televisões este Relatório seja um não acontecimento!