Limites e obsessões*
A morte de dois jovens militares em exercícios de treino dos Comandos não gerou apenas ondas de consternação pelo país fora. Lançou também uma vaga de discussão, mais uma, à volta das tropas especiais, e dos comandos em particular.
E já se sabe como é: a esquerda tem umas contas velhas a ajustar com os comandos, e não perde uma oportunidade para sacar do lápis e do papel; a direita … pelo contrário. E já se sabe que não gosta nada de nada que mexa com os equilíbrios da estrutura militar. O conservadorismo é também isso…
Como é fácil de perceber, rapidamente o debate passou a dividir-se entre os que defendiam a simples erradicação das tropas especiais e os que as entendem intocáveis e indispensáveis ao país. As causas que estão na origem da disparatada e inaceitável perda de vidas jovens, em circunstâncias que dificilmente poderão ser consideradas acidentais, é que não geraram discussão.
Não sei se o país precisa de forças especiais, ou de elite, nas forças armadas e em particular no exército. Não tenho dúvidas que são imprescindíveis na Polícia ou na GNR, mas, no exacto contexto da Defesa em Portugal, não tenho idêntica certeza no que se refere ao exército. Tenho porém uma convicção: é que se o debate se justificar, terá que se justificar por outras razões que não a morte destes dois jovens.
O debate que estas mortes têm de suscitar é em torno das condições de treino que são impostas aos jovens que têm por opção, e diria até por sonho, virem a ser comandos. Para prevenir que mais jovens voltem a perder a vida nestas condições, talvez o debate deva ter por objectivo evitar que instruendos obcecados por uma boina, sem respeito pelos seus próprios limites, se cruzem com instrutores obcecados em negar limites, que tudo o que respeitam é uma boina.
* Da minha crónica de hoje na Cister FM