Mais um perdão fiscal. Cada governo tem o seu. Cada partido o adopta no governo, exactamente como o critica na oposição ... É a vida: sempre na mesma. Quando as coisas apertam e o défice fica mais difícl de cumprir... lá vem mais um perdão fiscal, na expectativa que o empurrão inicial - a primeira prestação - resolva a coisa. Sempre na mesma.
Já são tantos os perdões fiscais que é já possível começar a perceber tendências. E já se começa a perceber que cada perdão só resulta para as dívidas fiscais surgidas depois do último. É por isso que os seus resultados nunca fogem muito de 1,5 a 2 mil milhões de euros, e aquele número assustador, que resolvia para sempre todos os problemas do país, continua imutável. Sempre lá. Sempre na mesma...
António Guterres é o próximo secretário-geral das Nações Unidas, depois de, perante os membros do Conselho de Segurança, ter passado com sucesso praticamente absoluto seis provas de avaliação. Apesar disso, dessa sucessão de sucessos, eram muitas as dúvidas sobre o êxito final da difícil tarefa a que Guterres se lançou que, como se sabe, o levou a rejeitar liminarmente qualquer hipótese de candidatura às presidenciais do início do ano. À medida que ia ultrapassando as sucessivas provas dizia-se até que seguia de vitória em vitória, até à derrota final.
Tudo porque, dizia-se, o novo secretário-geral teria de ser, primeiro, mulher e, depois, do leste europeu, adjectivação que se julgava já fora de moda enquanto conceito geo-estratégico. O próprio Ban ki-moon – também ele a não resistir a meter-se onde não devia – também tinha as "suas mulheres", que não eram de leste - eram de dentro. E porque, à última e completamente a destempo, a Senhora Merkel, e atrás dela a Instituição Europeia, com o Presidente Juncker à cabeça, lançaram a candidatura de uma vice-presidente da Comissão Europeia: uma mulher do leste da Europa. Búlgara, tal qual outra candidata, líder da Unesco, a quem o seu governo retiraria o apoio, transferindo-o para a candidata lançada pela Alemanha, que não continua a não aceitar a velha ordem do pós-guerra que impera na ONU.
Contra tudo isto, Guterres acabou mesmo por reforçar a votação na sexta e última ronda. Porque era de facto o melhor candidato. E por isso mesmo, porque era o melhor, a sua vitória é uma vitória da própria Organização das Nações Unidas. Só depois é uma vitória pessoal, do grande mérito de António Guterres, a quem o cargo assenta como uma luva. E só mais remotamente uma vitória da diplomacia portuguesa. E mesmo do país.
Não há ganhadores sem perdedores. Perdeu a búlgara Kristalina Georgieva, que se prestou à triste figura que Merkel lhe reservou. Perdeu a líder alemã. Perdeu o governo búlgaro. Mas, acima de tudo, perdeu a União Europeia. Que mostrou que é cada vez mais um projecto falido.
Por cá também houve quem saísse a perder. Mas nem parece. Querem todos ficar na fotografia…
* Da minha crónica de hoje na Cister FM
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