Disparates
O presidente Marcelo tem sido praticamente unânime. Tenta agradar a toda a gente, e a verdade é que o tem conseguido. Mas a verdade é, também que, consegui-lo, vai contra a sua natureza irrequieta: "agradar a todos é bom; mas é uma grande chatice"!
Por isso de vez em quando resolve fazer uns disparates, para que isto não seja uma grande chatice. Esta semana tivemos notícia de dois, e ambos têm a ver com concedorações : um ocorreu há já três meses, e só agora teve destaque com o estrondo de um vídeo dos terroristas do daesh; o outro é do início da semana, e a sua notícia chegou de mansinho, quase sem se dar por ela.
A condecoração do rei de Marrocos, Mohamed VI, com o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada é um disparate, é uma autêntica gafe. Condecorar um chefe de estado islâmico com símbolos de uma religião adversa contraria as mais elementares regras de bom senso. Tanto pior que, como se sabe, a figura de Santiago foi sempre a mais invocada nas campanhas de expulsão dos mouros da península. a ponto de ter até ficado conhecido por mata-mouros. Que Mário Soares tenha feito exactamente o mesmo, em 1993, com Hassan II, o pai do actual monarca, não serve de atenuante. Pelo contrário!
Marcelo teria muitas razões para condecorar Cavaco Silva. A mais forte de todas seria certamente por Cavaco ter sido tão mau que lhe permite a ele próprio, agora, parecer tão bom. Mas... condecorá-lo pela sensiblidade social? "Agradecer-lhe ter sabido compreender o que se passava na sociedade portuguesa"?
Por amor de Deus... Ou de Santiago...