Histórias mal contadas*
Não estamos habituados – felizmente que não – a crimes de sangue tão violentos e repugnantes como os que ocorreram no início da semana.
Estamos habituados – diria agora que infelizmente – ao tratamento que as televisões dão a este tipo de ocorrências. Exploram até à exaustão o filão emocional da tragédia, muitas das vezes de forma absolutamente gratuita, em longos directos de encher chouriços, cada vez mais deprimentes. E ficam-se por aí…
Serve isto para dizer que não há, nem haveria, grandes razões para esperar grande coisa da inevitável ampla cobertura que as televisões fizeram dos trágicos acontecimentos de Aguiar da Beira. Que, por aí, a história não viesse bem contada não nos surpreenderia por aí além. Surpreende-nos a sucessão de incongruências. E surpreende-nos ainda mais que percebamos que é a GNR quem nos conta coisas inconsistentes.
O que fomos ouvindo foi uma sucessão de histórias mal contadas logo desde o início. Os suspeitos eram dois, mas depois apenas um. Surpreendidos por dois militares da GNR em pleno roubo. De materiais de construção. Mas também podia ser de cobre. Ou outra coisa. No fim, o suspeito acaba identificado pela sua carta de condução, que deixa no bolso do agente que matou …
A carta de condução na posse do militar da GNR sugere mais propriamente um acto de identificação do que um espontâneo e explosivo encontro entre o polícia e o ladrão, em pleno acto criminoso. Com a boca na botija!
E um assassino frio e calculista, como o descreve a GNR, com tempo para tudo – largas horas, mesmo – acaba por fugir e deixar a sua identificação no bolso do militar que matou, e que deixou na mala do carro.
Que está mal contado, está. Acredito que se venha a descobrir por quê…
* Da minha crónica de hoje na Cister FM