Atracção fatal pela trapalhada
Começa a ser demasiado frequente e comum que, mais cedo ou mais tarde no ciclo da legislatura, os governos comecem a embrulhar-se em trapalhadas.
Nunca ninguém está livre de cair em trapalhadas, e por isso a trapalhada não está em cair numa trapalhada. Está em não sair dela depressa. Está em criar uma nova para esconder a anterior, criando um ciclo de trapalhadas.
O actual governo, que parecia capaz de romper com tanta coisa que atrapalhava, não está a conseguir fugir a este fatalismo da trapalhada, com dois pontos altos nestes dias: o primeiro, ainda no já longo ciclo de trapalhadas à volta da nova administração da CGD é, depois do salário milionário e da legislação especial à revelia do estatuto de gestor público, a dispensa de apresentação da declaração de rendimentos e interesses às entidades competentes; o segundo é a inexplicável falta de dados que fazem normalmente parte do relatório de um Orçamento.
Com tanta e tão grossa trapalhada na nomeação da equipa de António Domingues, o mais elementar bom senso aconselharia a evitar mais esta. Ninguém consegue apresentar uma boa razão para esta isenção declarativa, e teria sido muito fácil emendar a mão. Mas o governo preferiu, como de costume, insistir na trapalhada.
No meio desta trapalhada, bem que o governo devia fugir como o diabo da cruz de tudo o que lhe pudesse cheirar a mais trapalhada. Tinha de preocupar-se em canalizar as energias para defender o seu orçamento e, se faltavam dados, reconhecê-lo e entregá-los. De preferência com um pedido de desculpas. Mas não. Começou por negar ("o que faltam é os números que a oposição quer" - chegou a dizer o ministro das finanças) e, depois de instalada a confusão, acabou ainda ontem por entregar novos dados e prometer os restantes para a próxima sexta-feira.
É uma espécie da atracção fatal. Com Mário Centeno sempre bem no centro da fotografia ...