Sem surpresa, Trump anunciou que vai retirar os Estados Unidos do Acordo de Associação Transpacífico. Tinha deixado claro na campanha que se opunha a este como a todos os acordos desta natureza, e é conhecido que defende o proteccionismo económico, barreiras e até muros... Não surpreende por isso que tenha começado por deixar cair este acordo que, sendo um instrumento de globalização, tinha por objectivo responder ao crescimento da influência da China no Pacífico. E que aguardava ainda ratificação pelo Congresso.
O proteccionismo é o oposto à globalização que, ideologicamente, aproxima campos ideologicamente opostos. Mesmo que nuns a ideologia se resuma a "sol na eira e chuva no nabal". Que, como se sabe, deixa de se chamar ideologia para se passar a chamar pragmatismo. Ou real politik, que é a mesma coisa: mandar os princípios às malvas...
Mas não costuma ser fácil reverter processos históricos!
Hoje, as portas do número 266 (e 266 A) da Avenida da Liberdade estão fechadas. Sem grande alarido, sem sombra de contestação - apenas aqui e ali alguma consternação - o Diário de Notícias deixou a casa que sempre foi sua, no topo da mais bonita e famosa avenida da capital.
Quis quem pode que fosse tempo do mais histórico dos jornais portugueses deixar o belo e emblemático edifício, prémio Valmor, contruído em 1940 - pela primeira vez, em toda a Península Ibérica, foi construído um edifício propositadadamente para sede de um jornal - para o entregar à especulação imobiliária.
Já há dezena e meia de anos, no início do século, tinham querido. Só que, então, não puderam. Então, os cidadãos deste país, com os jornalistas do DN à frente, não lho permitiram...
Hoje tudo é diferente. Os jornalistas do DN são diferentes e, depois dos sucessivos despedimentos colectivos, são acima de tudo muito menos. Podem menos, mas também querem menos. Como todos nós, afinal...
A Taça tembém merece este Benfica. A Taça também merece este futebol!
Que fantástica exibição fez o Benfica!
O Marítimo não teve tempo para nada. Entrou como é costume entrarem os adversários do Benfica, com uma ideia de pressionar logo na primeira zona de construção, coisa que, como se sabe, é possível fazer enquanto há pernas e pulmão..Tem esse problema: não é possível fazer durante todo o tempo. Mas tem outro: se a equipa consegue ultrapassar essa zona de pressão fica logo em vantagem, porque os adversários ficaram para trás, e já sem condições de recuperar.
Foi o que aconteceu logo após a bola de saída. O Benfica saiu da pressão que o Marítimo montou, passando pela teia montada como cão por vinha vindimada, e fez logo o primeiro golo. E o Marítimo ficou ali, como quem fica a meio da ponte: sem saber muito bem se devia cumprir o plano de voo que trazia. Percebeu-se que o abandonou, não voltou a pressionar alto e aconchegou-se lá atrás, a ver jogar o Benfica.
E o que viu... E o que vimos... Que jogo!
A primeira parte foi absolutamente espectacular, com um futebol de ataque permanente, com soluções para todos os problemas, em jogadas a um ou dois toques, numa dinâmica verdadeiramente extraordinária. A ponto de, ao intervalo, apenas os números surpreenderem: três golos para tanto futebol era surpreendente. Tão surpreendente como as estatísticas de posse de bola: não dá para acreditar nos 72% apresentados. Pelo que víramos, não dava para acreditar em tudo o que fosse menos de 90% ...
A segunda parte, meso sem nunca ter baixado do exigível a uma grande exibição, não teve o mesmo nível. Mas teve o mesmo número de golos, que fizeram subir o resultado para a meia dúzia - todos de rara beleza, incluindo o quinto, de penalti -, o maior resultado da época. A condizer com a melhor exibição da temporada. E a deixar excelentes indicações para o que aí vem. Em especial para o que aí vem já na quarta-feira, na Turquia.
Ainda as televisões se entretinham, e entretinham os portugueses, com sucessivos folhetins da entrega e captura do fugitivo mais famoso dos últimos tempos quando, de repente, lançam o país em mais uma repugnante novela, a partir de inacreditáveis imagens captadas nas profundezas de um estádio de futebol.
Dir-se-á que são notícia e que, sendo notícia, teriam que ser divulgadas. Será que é assim?
Vamos lá por partes: essas imagens, que a todos nos deveriam envergonhar, e em especial aos protagonistas, foram obtidas a partir de câmaras de vigilância instaladas no local. Que teriam de ser requisitadas pelas entidades com competência para julgar os factos que tinham chegado ao conhecimento público. Exactamente para isso: para analisar, julgar e punir o que se apurasse ter acontecido. E que estavam à guarda do proprietário dos respectivos equipamentos e instalações: exactamente uma das partes. É, por isso, tudo menos normal que tenham ido parar às mãos de uma estação de televisão. Normal seria que, apenas e só, tivessem ido direitinhas, e na íntegra, parar às mãos da entidade competente para julgar os factos. Depois de as ter solicitado, evidentemente...
Este simples raciocínio deixa claro, e sem grandes dúvidas, que a divulgação dessas imagens não tem nada a ver com notícia. Tem a ver com interesses particulares. Nunca, em nenhuma circunstância, são interesses particulares a determinar o que é notícia. Apenas a relevância para o interesse público justifica a notícia!
Os interesses particulares são evidentes: de um lado uma das partes, que as selecciona e entrega em favor da sua posição de parte; do outro uma estação televisiva, que quer tirar partido em audiências da sua divulgação em exclusivo, mesmo que prestando-se a todo o tipo de manipulação, em violação clara dos deveres de ética e de deontologia.
Seguiu-se depois a esquizofrenia do absurdo à volta dessas imagens. Promovida pela mesma estação e por todas as outras, transformando-as no assunto mais importante do país, com infindáveis comentários e debates, cada um mais imbecil que o outro. Com comentadores e paineleiros para todos os gostos, cada um mais deprimente que o do lado. As redes sociais fizeram o resto e o país parou: não se falou, e não de fala, noutra coisa. A cega e acéfala clubite é apenas a pitada de tempero final neste caldo de cultura explosivo.
A conclusão é simples: pior que os energúmenos que protagonizam aquelas imagens, só as televisões que moldam em segredo este país. Os resultados já estão aí, à vista. O sucesso do populismo é feito deste caldo!
Pós-verdade é a mentira que nos chega de cada verdade. É a mentira que nos contam da própria verdade que estamos até a ver. É a mentira em que as estruturas de comunicação nos enfiam permanentemente. É a mentira feita à medida dos interesses, construída por gente sem escrúpulos.
Pós-verdade não é sequer a sofisticação da mentira. É, pelo contrário, a redução à sua expressão mais básica e mais simples. É a linguagem do populismo!
Quando, na semana passada, surgiram boas notícias sobre o desemprego, António Costa rejubilou mas adiantou logo que estariam a chegar, na próxima semana - que é esta -, mais boas notícias. E melhores!
Toda a gente se pôs a advinhar, mas ninguém acertou. Os analistas achavam que a queda do desemprego não fazia sentido (agora já não cai por via administrativa, já lá vai esse tempo, o efeito já se perdeu) sem que ninguém se lembrasse que poderia fazer sentido se a economia estivesse a crescer mais do que se dizia. E foi por isso com grande surpresa que ontem foram recebidos os dados do INE sobre o crescimento económico no terceiro trimestre: 1,6%!
Mais que o número - 1,6 é naturalmente curto para as necessidades, mas inquestionavelmente grande e significativo para a História deste século - o que impressiona é que, de repente, a economia portuguesa passou a ser a que mais cresceu na União Europeia.
Sabendo-se que o crescimento económico era a maior dificuldade do país, a maior dor de cabeça do governo e a pedra mais à mão da direita na oposição, estes dados, para além de constituírem uma grande notícia para o país, são obviamente uma excelente notícia para o governo.
Boa notícia é também que não se viu o governo embandeirar em arco. Não me parece que, passe embora o aproveitamento que disso fez para alargar a corda a Centeno (se fosse no futebol seria certo que Mário Centeno estaria despedido: quando o presidente apresenta publicamente votos de confiança no treinador, é invariavelmente sinal que estará na rua em pouco tempo), António Costa tenha exagerado nos festejos.
Que não seja notícia de primeira página de qualquer jornal é que já não é sequer notícia. É assim. De todos, apenas o Jornal de Negócios traz o tema para capa. Mas apenas o tema, que não a notícia: "Economia acelera com exportações e turismo". Nada de confusões!
Se a notícia fosse exactamente ao contrário era ver as capas dos jornais: "Portugal é quem menos cresce na Europa"; ou "Economia não descola"; ou tantos outros títulos do género...
Não é só que Trump confirme todas as alarvidades de que usou e abusou durante a campanha. A única das suas promessas/ameaças que deixou cair é justamente a prisão de Hillary: afinal decidiu que não a quer prejudicar... É o que vamos conhecendo da constituição da sua equipa!
Para braço direito, para estratega da Casa Branca, Trump escolheu Steve Bannon, a quem já recorrera para a recta final da campanha, o homem da bandeira da “supremacia branca”, tido pelo “político operacional mais perigoso da América”, que o Ku Klux Klan acaba de classificar de "excelente" escolha.
Ao contrário do que nos querem fazer crer, a tragédia vai ganhando forma...
Não deixa de ser curioso reparar como a direita portuguesa, primeiro timidamentemas mas já de "peito feito", passou a defender o recém eleito presidente americano.
No início, não se percebe se por pudor e por medo, Trump era o que é: era mau. Não que fosse aquilo que é - em boa verdade, a direita mais conservadora e radical não aprecia especialmente adjectivações como xenófobo, racista ou fascista - mas porque era ... um horror. Que coisa, credo...
Sem surpresa. Ele está na primeira lnha sempre que a causa passe por mandar os princípos para as ortigas . Ou por torcer a coluna vertebral!
Agora é ver como por aí corre, livre e desimpedida, a propaganda de Trump. Que dentro de pouco tempo substituirá Salazar na caderneta dos cromos que a direita portuguesa impinge ao imaginário popular: o que Portugal precisa é de um Trump...
A jogar pouco, às vezes muito pouco, a selecção nacional chegou a ver-se aflita para ganhar à selecção da Letónia, que não jogou nada.
Sem intensidade, sem velocidade e sem imaginação, durante toda a primeira parte a selecção foi sempre demasiado repetitiva e previsível. Valeu um penalti - discutível - que o guarda-redes da Letónia quase defendia. porque a selecção nacional não criou verdadeiras ocasiões de golo.
Sem mexer na equipa, mantendo tudo na mesma, contra um adversário que defendia com dez, com as duas linhas muito juntas, a primeira metade da segunda parte foi apenas a continuação da primeira. Tudo igual; sem ocasiões de golo e também com um penalti. Que desta vez Cristiano Ronaldo falhou... Com bastante azar, diga-se. Se no primeiro o guarda-redes quase denfendera, neste foi completamente enganado. A bola foi ao poste, correu pela linha de golo, foi bater no guarda-redes, no chão, lá do outro lado, e acabou por sair...
Toda a gente então se lembrou que um azar nunca vem só, coisa que não demoraria nada a confirmar-se. Numa das poucas vezes que os jogadores da Letónia remataram à baliza de Patrício ... golo e ... empate. Faltavam pouco mais de 20 minutos para jogar, e de repente ... o susto. Dos grandes!
Valeu que Quaresma já estava em campo, e no minuto seguinte já estava a cruzar com "conta, peso e medida" - como dantes se dizia - para o improvável Wiliam Carvalho desfazer o empate. Não sobrou tempo para sustos. Sobrou foi para Quaresma continuar a levar à equipa aquilo que ela não tinha.
E então sim, surgiram oportunidades de golo em catadupla. E mais dois golos. E no fim um 4-1 mais que justificado, e aceitável face à diferença entre as duas equipas e à moral do jogo.