O mais baixo défice de sempre em democracia, desemprego a cair, crescimento económico acima de todas as previsões, e até fortes aplausos de Bruxelas. E um Presidente da República enamorado pelo governo. Demasiado para uma oposição à espera do diabo, apostada no quanto pior, melhor.
Isto tinha que acabar. O CDS vai até às últimas consequências. O PSD rasga as vestes pela verdade. E até um presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito se demite. O país das televisões está a arder. Esperemos que não pegue fogo ao outro...
O último capítulo deste folhetim que estamos a acompanhar chama-se SMS. Foram os "sms" trocados entre Centeno e Domingues, que António Lobo Xavier levou a Marcelo, que levaram à alteração e ao endurecimento da posição do presidente. Não tendo aparecido o tal documento assinado em que Marcelo respaldava a sua defesa do ministro das finanças, apareceram os "sms".
E com eles mais dois bons motivos para nos envergonharmos das élites da nossa praça.
No Parlamento, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Caixa, logo os deputados do CDS e do PSD exigiram também que lhe fossem entregues. A direita entende que a CPI, cujo objecto é apurar os erros na gestão da Caixa nos 10 anos anteriores a 2015, precisa dos "sms" trocados entre o actual ministro das finanças e o indigitado presidente da Caixa em 2016. Não interessa, disso nada se sabe, o que aconteceu aos 3 mil milhões de euros que a Caixa fez desaparecer em calotes. Não interessa aos senhores deputados quem se abotoou com o dinheiro, quem autorizou esses créditos, com que garantias... Não os preocupa que, mais uma vez, sejamos chamados a pagá-los. Interessa-lhes e preocupa-os os "sms"!
Interessa-lhes tanto que não resistiram a chamá-los para onde não eram chamados, quando podiam - e podem - pedi-los a António Domingues, mais que disponível para lhes entregar toda a documentação trocada com Mário Centeno.
Mas este espisódio dos "sms" não mostra só o que são realmente os interesses representados nas comissões parlamentares de inquérito, sejam elas quais forem. Mostram-nos também como se tratam as coisas entre as élites que mandam no regime. António Domingues já tinha deixado uma imagem pouco respeitável em todo este processo. Não é a conivência de Mário Centeno, e do primeiro-ministro, como é evidente, que altera essa imagem: exigir prerrogativas especiais e leis à medida, mesmo que contra a lei, não é a melhor carta de apresentação. Ao utilizar o seu amigo António Lobo Xavier para entregar os "sms" ao Presidente da Reública volta a portar-se mal. E a deixar também mal o seu amigo, que se permitiu prestar-se a esse papel... De resto, há muito anunciado. Ou ameaçado?
Grande ambiente na Luz, à Champions. Grande jogo, intenso até mais não. Sofrido até não poder ser mais, neste regresso da Champions, no 500º jogo oficial de Luisão com o manto sagrado colado ao corpo.
O Borussia Dortmund é uma grande equipa, e tem um grande futebol, com uma dinâmica praticamente imparável. Ao Benfica restou resistir, sofrer e, tanto quanto possível, contrariar aquele futebol demolidor.
O Benfica sabia ao que vinha. Sabia que logo que a equipa alemã impusesse o seu futebol ficaria difícil contrariá-lo. E sabia que só tomando conta do jogo, e impondo o seu futebol próprio futebol, poderia retardar a entrada em funcionamento da máquina alemã.
Conseguiu-o durante os primeiros dez minutos, chegando a deixar pensar que conseguiria verdadeiramente discutir o jogo em todas as sua vertentes. E em todo o campo.
A verdade é que os restantes 35 minutos da primeira parte mostraram que não. O Dortmund encostou a equipa benfiquista à sua área, como no pugilismo se encosta o adversário às cordas. O Benfica não conseguia secar a fonte do futebol alemão, que alimentava as torrentes de ataque que apanhavam a equipa lá atrás, com as sucessivas vagas a rebentarem-lhe em cima.
Na segunda parte Rui Vitória deu a volta a este estado de coisas. Com a saída de Carrillo - não por ser Carrillo, nem porque estivesse pior que os outros - e a entrada de Filipe Augusto (o Samaris a perder espaço) permitiu que Pizzi subisse no terreno e, mesmo sem a secar, condicionar a nascente do futebol do Borussia, ali pelos lados do central Bartra. E assim o Benfica voltou a entrar melhor, voltou a discutir o jogo e, com a sorte que nestas coisas faz sempre falta, chega ao golo.
Este período voltou a não durar mais que dez minutos. Mas a torrente do futebol alemão nunca mais foi a mesma. E depois surgiu Ederson em todo o seu explendor, defendendo tudo. Até um penalti. E garantindo um resultado que é tão obviamente bom quanto provavelmente insuficiente para repetir os quartos de final da época passada.
No fim ficou uma alegria imensa. Como a chama. E as lágrimas do capitão, do senhor 500, a juntar ao suor de todos, e ao sangue de Lindelof e Ederson...
Como era bom de ver, e ontem aqui previra, o presidente Marcelo ganhou protagonismo no folhetim que há semanas domina os tops mediáticos. Não esperava que fosse tão cedo, ainda no mesmo dia, mas não havia volta a dar: depois de "picado" daquela forma pelo verdadeiro argumentista da coisa, o presidente teria de sair a terreiro. Não podia ser de outra maneira, e lá teve Mário Centeno de se prestar àquela figura.
O diabo - que afinal existe, mesmo que não esteja de muito boas relações com Passos Coelho - é que de Bruxelas vem música, da melhor, para os ouvidos de António Costa e Centeno. O diabo parte mesmo de Bruxelas, mas vai na direcção errada: ninguém imaginaria que em tão pouco tempo as coisas ficassem viradas do avesso.
Bem podem berrar os vazios e estridentes rapazolas do CDS e do PSD. Bem podem colunistas e comentadores não falar de outra coisa. Bem pode até o presidente, "picado", fazer agora umas ameaçazitas. Enquanto Bruxelas mantiver este sentido de oportunidade Centeno pode dormir descansado. E até finalmente sonhar com o último episódio do folhetim que tanto tem excitado as élites da opinião publicada...
Quando julgávamos que o último capítulo da novela da contratação de António Domingues para a administração da Caixa Geral de Depósitos se intitulava "mentiu/não mentiu", ou "há documentos escritos/ não há documentos escritos", eis que, para segurar audiências e aprofundar o suspense, o argumentista acaba de lhe acrescentar mais um: "O Governo manipulou a data de publicação do decreto-lei".
A forma como tem dirigido a telenovela revela o dedo apurado argumentista. Um verdadeiro mestre: quem é que acredita que só agora, no ponto mais alto do capítulo ainda em cena, Marques Mendes tivesse reparado que o D.L nº 39/2016 fora aprovado em Conselho de MInistros em 8 de Junho, promulgado pelo Presidente em 21 de Junho, e apenas publicado no Diáro da República em 28 de Julho?
É certo que o guião ajuda. E ajuda especialmente na parte em que Antóno Costa, a quem se exigia muito mais dedo para a ética política do que para a habilidade politiqueira, perdendo todas as oportunidades para a introdução de um ponto de ordem na mesa deste descalabro, abriu caminho à bola de neve, cada vez mais difícil de parar.
Já ninguém consegue dizer que este seja o último capítulo da telenovela. Não me parece, e admito até que nas cenas dos próximos capítulos surja uma personagem com mais protagonismo. Basta que lhe apresentem uma assinatura num papel...
Os erros pagam-se. E este só não sairá muito mais caro porque, mesmo com o seu exército espalhado pelas televisões e jornais, a oposição se resume àqueles vinte minutos dominicais de Marques Mendes. E aos seus interesses políticos pessoais...
Exactamente. Assim mesmo. Depois do que se viu na semana passada, amanhã os jornais não poderão deixar de se cobrir de títulos como este. Esperemos para ver...
Dito isto, já se pode dizer que o melhor futebol que o país tem para mostrar está de volta. O jogo do passado domingo já o tinha deixado perceber. O de hoje, desta noite gelada de sexta-feira - que certamente explica a menor assistência do campeonato, apenas 47 mil pessoas na Luz - confirmou que o Benfica não deixou fugir o perfume do seu futebol. A primeira parte foi de autêntico explendor na relva, com Carrillo - pela primeira vez titular no campeonato - Zivkovic, Jonas e Nelson Semedo a recitarem futebol.
O Benfica entrou na partida determinado, com todos os jogadores concentrados e focados, a gerir na perfeição os ritmos do jogo e a variá-lo com critério. O Arouca - de Lito Vidigal, ao que se diz de partida, não resistindo ao chamamento de Israel - foi de imediato encostado lá atrás, donde não conseguia sair. Seguiu-se um curto período de abrandamento, que permitiu ao Arouca subir um bocadinho e deixar perceber que pretendia fazer o que todos querem fazer na Luz: pressionar no campo todo, condicionar a saída de bola e tentar engasgar a construção do Benfica.
Só que, na tal gestão dos ritmos do jogo, o Benfica rapidamente voltava a imobilizar o adversário lá atrás. Percebia-se que o golo estava a espreitar. Apareceu, foi muito festejado, mas viria a ser anulado, a fazer lembrar o terceiro golo do Boavista do fatídico último jogo da primeira volta, mas em versão bem menos exuberante. Isso mesmo, o critério é só um. E simples: se, em fora de jogo possicional, um jogador se faz ao lance, é fora de jogo se der golo para o Benfica. Já não o é se der golo contra o Benfica.
Pouco depois, Mitroglou voltaria a acertar na baliza, de cabeça, a passe de Jonas, em mais uma espectacular jogada de futebol. Ia a primeira parte a meio e não havia como anulá-lo. Menos de 10 minutos depois, numa jogada colectiva ainda mais bonita, o grego bisou.
Em noite de lua cheia, a Luz resplandecia de futebol. De repente, o caso Mateus: Ederson sai da baliza e vai disputar a bola com o conhecido angolano do Arouca, a meio do meio campo. Chuta a bola que, azar dos azares, vai bater no Eliseu, que vinha em corrida, e segue em direcção à baliza, enquanto o guarda-redes do Benfica acaba a chocar com o adversário. O jogo prossegue, Lindelof recupera a bola bem antes que ela se cruzasse com a baliza e, por ordem do fiscal de linha, o árbitro interrompe o jogo expulsa o guarda-redes. Como se o árbitro assistente - é assim que se chama, não é fiscal de linha -, que não veria, bem à sua frente, uns minutos depois, uma agressão com o cotovelo a Lindelof, tivesse visto a bola ser jogada pelo avançado do Arouca, e como se ele tivesse ficado isolado, em condições de fazer golo. Inacreditável!
Não houve eclipse. Nem da Luz, nem do bom futebol, porque já se viu que não é por aí. A Luz reacendeu-se, e reacendeu-se ainda mais quando o árbitro apitou para intervalo depois de mais uma falta sobre Carrillo, junto à àrea adversária, que o árbitro assinalou sem que permitisse cobrar o livre. E o bom futebol, evidentemente que com novas nouances, regressou para a segunda parte com os 10 jogadores do Benfica.
E para que não ficassem dúvidas, logo no início, Carrillo assinou a obra de arte que fixaria o resultado final. A fasquia da qualidade dos golos tinha vindo a subir e estava bem alta: o terceiro não podia ser outra coisa que uma obra prima.
Passam amanhã 10 anos sobre o referendo que permitiu rever a legislação da despenalização da interrupção voluntária da gravidez – IVG, ou mais popularmente o aborto -, depois de, em 1998, num domingo Verão em que, reza a História, as pessoas preferiram a praia à assembleia de voto, tudo ter ficado na mesma.
Na mesma, era legislação de 1984 - nos países mais desenvolvidos datava do início do século - que cobria apenas situações de violação e de risco de vida para a mãe.
Dez anos é já tempo suficiente para fazer balanço, agora que há registos oficiais. O Balanço tem muitos números. Para não ser fastidioso detenhamo-nos em dois:
Em 2015 as ocorrências de IVG foram 10% inferiores às de 2008, primeiro ano de vigência da lei;
Entre 2001 e 2007 morreram 14 mulheres em resultado de aborto provocado; entre 2008 e 2012, uma; depois de 2012, nenhuma.
Há outros dados, como, por exemplo, que são as mulheres desempregadas que mais recorrem à IVG. Ou que são raros os casos de reincidência. Ou ainda que a maioria é por medicação, e não por intervenção cirúrgica. Ou que aumentou significativamente o recurso a métodos anticoncepcionais…
São os dados que permitem conclusões. E a primeira – se não a maior de todas – é a má-fé de todos os que quiseram, e continuam a querer, confundir a defesa da despenalização com a defesa do acto. Defender a despenalização foi e é ser contra o aborto, ao contrário do que se quis e quer fazer crer. A despenalização é um factor crítico de saúde pública que combateu o aborto, não o promoveu!
Com a OPA lançada sobre o BPI, o banco catalão La Caixa ficou com 85% do BPI. Com isto o BPI salta do PSI 20 e as poucas acçoes dos poucos que ainda as retivereram cairam hoje a pique. Inevitavelmente!
Tão inevitável como a saída directamente para a prateleira de Fernando Ulrich, o tal do "ai aguenta, aguenta"... Artur Santos Silva já lá estava.
Mas isto é também o fim da banca nacional privada, três décadas depois do seu (re)nascimento. Com o BCP entregue aos chineses, o SantanderTotta aos espanhóis, e o BES destruído no Novo Banco a entregar a quem o quiser, na esfera privada do sistema financeiro nacional subsistem agora dois pequenos bancos nacionais, ainda assim de características particulares, como são o Montepio e o Crédito Agrícola. E sabe-se lá por quanto tempo...
Os centros de decisão da banca estão fora do país, por muito que os catalães se esforcem em dizer o contrário em bom português, mesmo que disso não tenham conseguido convencer Artur Santos Silva.
Há muito que se percebeu, sem que se perceba por quê, que o Acordo Ortográfico é para ficar. Inamovível.
Ja tudo foi tentado, os resultados são sempre os mesmos: nada. Não se mexe!
A última iniciativa para o arrumar na prateleira dos actos (actos, pois claro) falhados veio da Academia das Ciências. E veio em pezinhos de lã, sem o radicalismo "mate-se e enterre-se o aborto ortográfico" mas, antes, como um apelo à introdução do bom senso no Acordo. Claro que ia dar no mesmo: introduzir-lhe o bom senso que não tem, é acabar com ele. Mas é a política, e a política é assim...
O problema é que à política sabe a política responder melhor que ninguém. E se o Parlamento disse "mata-se", logo o governo acrescentou: "esfola-se"!
Raramente nos apercebemos dos inúmeros orgãos e orgãozinhos que gravitam à volta do país institucional. Não nos apercebermos da sua existência não lhes reduz a importância, e muito menos reduz à insignificância as pessoas que os compõem.
A estação pública de Radiodifusão está há mais de 6 meses sem provedor do ouvinte porque o Conselho de Opinião da RTP deu opinião negativa sobre todos os nomes que lhe foram apresentados. Ninguém servia, por mais prestigiado e conhecedor da matéria que fosse. Foi-lhe proposto Joaquim Vieira, não serviu. Como não serviu, foi então proposto João Paulo Guerra, mais uma figura, como a anterior, acima de qualquer suspeita, prestigiada e competente. Também não serviu ao colectivo dos 31 senhores e senhoras que constituem este órgão consagrado nos estatutos da Rádio e Televisão de Portigal, que alberga gente que ninguém conhece de lado nenhum misturada com gente que todos conhecemos de gingeira.
Vetado o nome de Joaquim Vieira, o Conselho de Administração (CA) da RTP nem pediu explicações e apresentou de imediato a alternativa João Paulo Guerra, dispensando assim o douto Conselho de Opinião (CO) de justificar a sua decisão. O diabo é que - e na verdade já era demais - não voltou a apresentar novo nome e, nos termos da lei, o CO teria que justificar - no prazo de 30 dias - a sua opinião. Teria que explicar por que é que, na sua opinião, João Paulo Guerra não servia. Pelos vistos não foi capaz, como provavelmente também não teria sido capaz de justificar por que não tinha antes aceitado Joaquim Vieira.
Para uma Rádio pública, o provedor do ouvinte tem um papel importante, tão importante quanto a importância que tem ouvir o ouvinte, em rádio o princípio e o fim de tudo. Já o Conselho de Opinião, se nem as suas opiniões consegue justificar, não passa de mais um orgãozinho que não serve para coisa nenhuma.
Já agora votos de um bom mandato para o João Paulo Guerra. Que não merecia passar por isto. Nem o Joaquim Vieira...