A caminho de se completarem duas semanas sobre a tragédia do Pedrógão Grande o país, ou boa parte dele, exige que rolem cabeças. “Demitam-se”, grita o país, ou boa parte dele, todos os dias.
Demitam-se. Demitam-se as estruturas de comando da GNR, que mandou as pessoas para a Estrada Nacional 236. Demita-se a Secretaria Geral do Ministério, que acusa a Protecção Civil. E a PSP, que ainda ninguém sabe o que é que tem a ver com isto. Demitam-se as estruturas do SIRESP, que diz que tudo funcionou em pleno, mesmo que todos tenham visto que não funcionou, não funciona, nem sequer se sabe quando poderá funcionar. Demita-se a Autoridade Nacional da Protecção Civil. Demita-se o Instituto do Mar e da Atmosfera. Demita-se a ministra da administração interna. Porque tudo se passa na sua tutela, porque se chegou à frente para as câmaras, porque chegou tarde, porque nunca mais de lá saiu mas, acima de tudo, porque o Jorge Coelho também se demitiu.
Demita-se o Director Nacional da Polícia Judiciária, que se apressou a dizer que não houvera mão criminosa. Demita-se o presidente da Liga dos Bombeiros, porque desconfia que houve.
Demita-se o Presidente da República, que garantiu ter sido feito tudo o que era possível ser feito. E não foi, nem nada que se parecesse. Demita-se o primeiro-ministro, que só faz perguntas, e não dá respostas. E que, há pouco mais de 10 anos, e então ministro, em vez de enterrar definitivamente a já ilegal PPP do SIRESP - assinada pelo governo de Santana Lopes a três dias das eleições - resolveu salvá-lo, recauchutando-o na falsa ideia de poupar 50 milhões ao Estado. Demita-se Passos Coelho, que não ligou nenhuma ao relatório da auditoria da KPMG ao sistema, identificando as falhas. Que meteu os pés pelas mãos, e estas pelos eucaliptos. E que se apressou cavalgar a tragédia acrescentando-lhe suicídios soprados por um correligionário, um dinossauro autárquico em trânsito pela Santa Casa lá do sítio, em tempo de fazer tempo para fintar a lei, e regressar em Outubro ao poiso. Demita-se o provedor da Santa Casa lá do sítio, e demita-se o dinossauro soprador.
Demitam-se. Mas demitam-se mesmo todos. E venham outros para demitir a seguir … Porque isto ... é o diabo. À solta!
O governo encomendou uma série de estudos para saber como ficou de popularidade, depois dos incêndios. Segundo o jornal i, Costa respirou de alívio...
A notícia que a tragédia de Pedrogão Grande tinha posto termo ao estado de graça era francamente exagerada. António Costa continua na sua fase Salvador Sobral, mesmo que o peido tenha trazido molho. E do grosso. Da grossa!
Já se começou a perceber que a responsabilidade é uma batata quente a saltar das mãos da Protecção Civil para as do SIRESP ao ritmo da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna. Mais que os relatórios, que não convencem ninguém de que sirvam para mais que, cada um, fugir com o rabo à seringa, é essa insustentável batuta nas mãos da ministra que mais lhe pesa nesta altura.
As responsabilidades podem ser sacudidas - do SIRESP para a Protecção Civil, da Protecção Civil para a GNR... - como entenderem, mas nunca saem do MAI. E quando caírem, é lá que caem. É que não podem cair noutro lado.
Parece-me que a senhora ministra já percebeu isso... Que, quando os ventos não as ajudam a empurrar, não adianta sacudir responsabilidades. Acabam por cair sempre ali!
Não tinha. Um correlegionário, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Pedrogão Grande e candidato do partido à presidência da Câmara Municipal local, na imagem, com desmedida vontade de apresentar serviço, tinha-lhe dado conhecimento de um suicídio. Não confirmou, e logo transformou em plural. Não o plural majestático, mas o plural patético.
Foi desmentido. Por todos os agentes e pela própria realidade. Em vez de recuar, deu mais um passo: não tinha morrido ninguém, mas havia muito gente internada em hospitais por tentativas de suicídio. Voltou a ser desmentido. E só não foi envergonhado porque já não tem vergonha. Mas devia ter...
É sempre assim. Há sempre alguém que faz um esforço enorme para atingir um objectivo e ... corre mal. Logo a seguir, sem o menor esforço, traquilamente, outro qualquer estica a mão e agarra-o.
Todos nos lembramos do esforço de Sócrates para que a PT abarbatasse a TVI. O que o homem fez, pelo que teve de passar... Agora, sem qualquer sinal de esforço, na maior das tranquilidades, aí está a TVI - mais que a TVI, a Media Capital toda, embora já sem as acções da União de Leiria - nas mãos da PT. Que já não se chama PT, e tem agora o afrancesado nome de Altice.
Pelo qual a ex-PT já paga royalties. Sim, porque, tal como nos almoços, também não há nomes grátis. E para duplicar a receita, e ajudar a compor a carteira para ir às compras, vai passará a pagá-las também pela utilização da marca, logo que a mesma Altice substitua a marca MEO. Mas aqui não há nada a dizer, toda a gente percebe uma estratégia de marketing que entra pelos olhos dentro: substituir uma marca desconhecida e sem qualquer notoriedade, como é o caso da MEO, por outra com a força e a imagem avassaladora que a Altice tem no mercado!
Os ciclos abrem-se e fecham-se. Não deixa de ser irónico que o ciclo da destruição da PT se tenha iniciado com a tentação da TVI, e se esteja a fechar com a sua aquisição.
Tudo normal na Taça das Confederações. Para as meias-finais seguiram os campeões das regiões mais desenvolvidas no que a futebol diz respeito: a Europa, a América do Sul, e a Améra do Norte, Central e Caraíbas. E o campeão do mundo, naturalmente.
Pelo caminho ficaram os campeões de Àfrica, da Oceania e da Ásia, que por acaso até é também lá das antípodas. E o convidado para a festa, na qualidade de organizador do próximo mundial. Para quem até tinham desenhado o calendário mais agradável para esta fase da prova.
Mas como isto é para campeões, e não para convidados, foi a selecção nacional, que ganhou o grupo, a sentar-se à mesa que estava posta para a Rússia. E lá vai discutir a presença na final, com o Chile, na próxima quarta-feira. Para chegar à final, e ganhar - esperamos todos - a que será a ultima edição da prova.
De repente, o país eufórico, aos pulos e meio embriagado de tanto e tão propagado sucesso, foi surpreendido por uma das maiores tragédias dos últimos largos anos.
Foi como que um murro no estômago, ou um balde de água gelada em tanta euforia. O país que achava que já nada de mal aí podia vir, que agora era sempre a ganhar... No futebol, nas cantigas, no défice, nas agências de rating, nos mercados, ou em Bruxelas. O país do sucesso, na moda e a abarrotar de turistas, de repente olhou para o espelho e viu-se outro país, que já não queria reconhecer.
Viu-se o país que desertificou o seu interior. Que virou costas ao campo e fugiu para as cidades, e para o mar. Que se urbanizou e esqueceu as origens. Que se deixou seduzir pelo eucalipto. Que vê passar anos e governos que deixam tudo na mesma, quando tudo na mesma é cada vez pior. Um país que não cumpre as leis que cria. Um país que deixa morrer pessoas que não tinham que morrer. Um país sempre a apontar o dedo, mas nunca o apontando para o futuro…
E é já este país desolado e cabisbaixo que está agora frente ao espelho ainda embaciado que, incrédulo, começa a ver erguer-se lá atrás um país solidário, capaz de lhe trazer ainda, e de novo, um país com razões para acreditar que não serão as chamas a matar-lhe a esperança.
A notícia do avião que não caiu, numa crónica em que a única ficção é a presença do primo do Adérito perante o juíz. A crónica, é - não podia deixar de ser - do mestre, de Ferreira Fernandes. Intitula-se "Jurnalismo" e não pode deixar de ser lida: