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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Sem pingo de vergonha*

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Bem cedo se percebeu que a tragédia iria ser objecto de aproveitamento político. Que o diabo anunciado para o Verão passado estaria para chegar, com um ano de atraso, e agora no seu habitat natural, nas chamas do inferno em que o país se tornou.

Tudo começou, se bem se lembram, com a notícia da queda do avião que não caiu, ainda em pleno combate ao incêndio do Pedrogão Grande. Logo a seguir surgiu a notícia dos suicídios, dada pelo próprio profecta do diabo, a que se sucedeu a inacreditável série de artigos publicados no El Mundo, assinados por um jornalista virtual, o tal Sebastião Pereira, que continua a monte. Sem que ninguém se preocupe muito em encontra-lo.  

Num país onde coubesse um só bocadinho de vergonha, esta sucessão de episódios, inspirados nas fake news, que Trump passou a exportar para todo o mundo, teria ficado por aqui.

Não ficou. Neste país já não há lugar para um pingo de vergonha. Não admira que, por isso, tenha sido um jornal dito de referência, o maior e mais influente semanário do país, a não ter vergonha de usar a primeira página para lançar o boato sobre o número de mortes anunciadas. Vergonha ainda mais indesculpável quando, depois, o corpo do texto não tem nada a ver com o título puxado para manchete.

Muita gente se indignou com a chegada de Trump à presidência da América. Mas nem todos perceberam o que isso poderia vir a significar. Muitos percebemos que Trump era um grande mal para a América, poucos perceberam que seria um mal muito maior para outras partes do mundo. É que, por lá, continua a haver jornalistas capazes de o desmascarar, e de denunciar as suas fake news. Por cá, não!

Não houve – não há – jornalista que escrutine e valide a notícia antes de a dar, como mandam a ética e a deontologia. Uma lista de uma senhora, ao que se diz empresária, e ao que se conhece de currículo pouco respeitável, foi quanto baste para suportar um boato macabro. Ninguém se preocupou em compará-la com o que quer que fosse. Ninguém se interessou sequer em ver que lá havia nomes repetidos…

Não. Era preciso lançar a bola de neve. Um número interminável de abutres, maior que o da lista que apregoavam, estava à espera. E este jornalismo não gosta de os fazer esperar!

 

* Da minha crónica de hoje na Cister FM

Do salmão ao cor de rosa

 

Exame

 

Para não falar de fogos, falemos de ricos. A revista Exame apresenta-os ao quarteirão, mas fica-se pelo primeiro. É a lista dos 25 mais ricos, e é uma agitação por esses jornais fora...

"Os mais ricos estão mais ricos" é a notícia.mais repetida. Só que, por definição, não é notícia. É tão natural os ricos estarem mais ricos como o cão morder o homem... 

Talvez por isso o Diário de Notícias tenha entrado por outra porta, e descobriu que as "maiores fortunas do país valem tanto como dívidas dos portugueses ao fisco". Pode até ser o homem a morder o cão. Pode até ser verdade, pode até ser que a soma dessas fortunas coincida com o valor das dívidas ao fisco. Não se percebe é o que é que uma coisa tem a ver com a outra...

Bem se podiam ficar pelas banalidades habituais. Não que façam mais sentido, mas têm a vantagem de já estarmos habituados. E, mesmo sem notícias e com banalidades, bem podiam ter mais um bocadinho de rigor no que escrevem. Escrever no mesmo texto, com o intervalo de meia dúzia de caracteres, que "as 25 maiores fortunas do país cresceram 3,8 mil milhões de euros no espaço de um ano" e que "no total, os milionários do top 25 amealharam ao longo do último ano 18,8 mil milhões de euros", diz bem do que por aí vai.

Havia uma antiga tradição (baseada no respeitado Finantial Times) da cor salmão para os jornais (ou os suplementos) que se dedicavam aos temas da economia. Agora mudaram de cor, e tornaram-se autênticas revistas cor de rosa.

 

Ezquizofrenia

 

A ezquizofrenia tomou conta do país, tão avassaladoramente quanto as chamas que o consomem. Há um mês, com a catástrofe do Pedrogão Grande no auge da discussão pública, Mação era o modelo, o mais acabado exemplo de sucesso para enfrentar esta calamidade. De capital dos fogos, Mação passara a capital da prevenção e combate a incêndios.

Um mês depois, Mação arde tão dramaticamente, se não mais ainda, quanto tantas vezes ardeu no passado. Ameaçando povoações, e desalojando ainda mais pessoas.

Nada que preocupe a ezquizofrenia instalada, agora que a grande prioridade nacional foi cumprida, com a publicação da lista dos mortos do Pedrogão, nome por nome. Provavelmente ainda dentro das 24 horas do ultimato do outro...

O ultimato

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Nunca foi tão forte a sintonia entre a direita em geral, e o PSD em particular, e a comunicação social.

Não. Não é no que respeita a ideologia, é na imbecilidade!

E quanto mais fundo cai o nível da qualidade dos seus dirigentes políticos mais se reforça essa sintonia, que terá certamente o seu ponto mais alto no ultimato desse grande vulto político que acaba de chegar à liderança parlamentar, que se dá pelo nome de Hugo Soares.

Já não há paciência...

Capa do Expresso

 

O Expresso - já é costume -  lançou a confusão. Uma vez lançada meteu-se a caminho, que palmilha a passo acelerado sem saber nem onde nem quando vai parar. 

Os mortos do Pedrogão eram mais, muitos mais que os 64 divulgados, começava o Expresso por adiantar. A direita entrou em êxtase. Passos nem cabia em si, profundamente convencido que é na desgraça que encontra a salvação. O governo escondia a lista oficial dos mortes porque, claro, numa lista é fácil contar.

Com a lista que o governo não quer divulgar, era canja: chegava-se aos 64 nomes e e a lista continuaria por ali baixo, alegre e contente, como se em vez de mortos estivéssemos a consultar uma lista de premiados da Santa Casa.

Então o Expresso tem  acesso à lista e conta, um a um. Dá 64. Não, esperem: dá 64 por causa dos critérios, que excluem as mortes indirectas. Fossem outros os critérios de lá teríamos de certeza muitos mais que os 64. Fossem outros os critérios e teriam contado com aquela mulher atropelada, a fugir do fogo. Fossem outros os critérios e, contando esta mulher, seriam 65. Muito mais que 64!

Acredito que haja quem ache isto interessante. Mas serão certamente (também) muitos mais os que já não têm paciência para isto...

Tour de France (X e último)

 

"Aux Champs Elysées"... Ponto final na 104ª edição do Tour de France. A etapa final foi, como sempre é, de consagração. Tudo estava arrumado - o pódio já era este, mesmo com o terceiro lugar preso por um simples segundo - só faltava a sempre apetecida vitória no último sprint. Coube ao holandês Dylan Groenewegem, um jovem sprinter debutante, que bateu o especialista alemão André Greipel, cliente habitual da meta dos Campos Elíseos. Que este ano, com este segundo lugar como melhor resultado, constituiu uma das desilusões do Tour. Creio não estar enganado ao dizer que este é o primeiro Tour que o alemão acaba em branco.

Para o ano há mais.

Tour de France (IX)

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O Tour acaba amanhã, com a festa nos Campos Elíseos, mas ficou hoje decidido. Mesmo que o último lugar no pódio esteja preso por apenas 1 segundo, na linha da tradição instituída, na etapa de amanhã a única coisa que se discute é a vitória no sprint final, junto ao Arco do Triunfo.

Claro que há bonificações em jogo, e 1 segundo é a mínima fracção de tempo. Mesmo assim, seria um autêntico golpe de teatro se Mikel Landa se conseguisse intrometer na disputa do sprint final, e lograsse ganhar uns segundinhos. Seria mesmo a extrema ironia que Bardet, que se insurgiu contra as bonificações de Uran nas etapas de montanha, quando disputava o primeiro lugar, viesse a perder o seu terceiro lugar na última etapa justamente pelas bonificações.

Tinha aqui dado por garantido que os lugares do pódio já tinham dono. O contra relógio de hoje, com apenas 20,5 quilómetros, apenas servia para dar o seu a seu dono. Foi assim, mas apenas pelo tal segundo. Porque o francês, que, não tendo sido capaz de ganhar, pretendia naturalmente repetir o segundo lugar de há um ano, teve um mau desempenho no contra relógio onde, dos três, era o menos habilitado. Foi claramente ultrapassado por Uran, que fez o oitavo tempo, e quase ultrapassado por Landa, muito longe de ser um especialiista.

A troca de Bardet por Uran no segundo lugar não foi a única entre os dez primeiros. Também no fim da lista houve troca, com Contador - excelente contra relógio, com o sexto melhor registo - a superar o rei dos trepadores, Barguil, que é bem melhor contra as montanhas que contra o relógio.

Froome foi dos melhores, sem surpresa. Foi o terceiro melhor, apenas com mais 6 segundos, e ganha o Tour sem ganhar qualquer etapa. Não é caso único, mas quase. Surpresa foram Tony Martin, pela negativa, que foi apenas quarto, a confirmar que nunca esteve ao seu nível neste Tour. E os dois polacos - no dia nacional da Polónia - nos dois primeiros lugares, separados por um simples segundo, com Maciej Bodnar à frente de Michal Kwiatkowsky que, mesmo sendo 57º da classificação geral, fez um Tour absolutamente fantástico.

Tiago Machado, o único português presente, exclusivamente ocupado no trabalho de equipa - a Katusha, dirigida pelo José Azevedo, que foi absolutamente discreta - ficou-se pela 74ª posição.

Polémicas da semana*

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Enquanto o país real continuava a arder, o país digital foi tomado por duas polémicas daquelas que o rasgam ao meio.

Um conceituado médico, de ineludível referência, numa entrevista a um jornal também de referência, tornou públicas posições sobre a homossexualidade em termos que, se à luz da sua condição de conservador possam ser compreensíveis, serão porventura mais dificilmente aceitáveis à luz da sua condição de médico. A sua condição de médico não constitui qualquer limitação à sua liberdade de manifestar as suas convicções, mas obriga-o ao rigor da argumentação. Apenas aí, ao nível do rigor dos argumentos evocados, será objecto de censura. Só e apenas isso.

Um candidato autárquico, que uma pequena parte do país só conhecia como comentador desportivo, que os lamentáveis programas da especialidade com que as televisões o intoxicam transformam rapidamente em figuras públicas, assumiu posições racistas tendo os ciganos como alvo.

Homossexualidade e racismo não são apenas temas fracturantes que, se para uns dividem direita e esquerda, conservadores e progressistas, para outros, são aspectos básicos e fundamentais da cidadania e da civilização.  

Embora no mesmo quadro de fundo, as duas polémicas que marcaram a semana constituem, no entanto, quadros completamente distintos. No primeiro estamos perante a manifestação de uma opinião pessoal, mesmo que feita de forma infeliz. No segundo, e por muito sério que o problema seja, e é, por muito que deva ser discutido, e deve, estamos no domínio do calculismo político e do recurso ao mais desprezível populismo. Só isso. Só que, aqui, isso é tudo.

 

*Da minha crónica de hoje na Cister FM

Tour de France (VIII)

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Pronto. Os Alpes já ficaram para trás. Na frente, nada de muito novo porque, sendo novo que os três primeiros saiam das altas montanhas finais separados por menos de meio minuto, a verdade é que este ano tem sido sempre assim. Tudo preso por escassos segundos.

Quarto e quinto, respectivamente Mikel Landa e Fabio Aru, estão também separados por apenas 19 segundos mas, com as contas a serem feitas ao segundo, o minuto e picos que os separa do terceiro parece uma barreira intransponível. Daí que os três lugares no pódio já tenham dono!

Estas duas últimas etapas de alta montanha, em grande parte corridas acima dos dois mil metros de altitude, confirmaram o guião da Sky e, praticamente, a quarta vitória de Froome. Mas confirmaram mais. Confirmaram a grande corrida de Barguil - ganhou hoje, e pela segunda vez -, que ganhou a classifcação da montanha com uma autoridade raramente vista. Não teve culpa que o seu antecessor, Raphal Majka, tenha sido mais uma das vítimas das quedas, é mesmo um grande trepador, e terá certamete assegurado um lugar nos dez primeiros.

Confirmaram que Aru nunca poderia ganhar este Tour. Faltou-lhe força e faltou-lhe equipa. A Astana nunca se viu como equipa, como a etapa de hoje mostrou com toda a clareza, sem ninguém para ajudar o líder, e no entanto com corredores a integrar as fugas, e até a atacar a etapa, sem nada para de lá tirar. Confirmaram a decepção Quintana, ontem simplesmente penoso. Confirmaram a fibra de Alberto Contador. Quando já não pode dar mais, luta. Ganhou o prémio da combatividade por duas vezes, e acabará mesmo por segurar a última vaga nos dez primeiros, onde tantas vezes entrou e donde tantas saiu.  

Não faltaram quedas, também nos Alpes. Kittel, o rei dos sprints, com cinco vitórias e a camisola verde garantida, foi a última vítima. Logo nos Alpes, que não eram o seu campo de batalha.

E lá vão os três mosqueteiros decidir tudo no contra-relógio de sábado. Com o colombiano Rigoberto Uran e o francês Romain Bardet, separados por seis segundos, sem grandes condições para superarem o britânico Froome. 

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