"Onde é que está a novidade"? - já estão todos a perguntar. A novidade é que é pelo lado do negócio, é que o extraordinário criador de canções "virou" empreendedor exactamente pelo lado do uísque.
Uma novidade não tem que ser necesariamente uma surpresa. E na realidade nem há aqui grande surpresa: se sair-se tão bem no manejamento da palavara a escever canções lhe valeu o Nobel da literatura, tanto lidar com o uísque ... pode dar premium!
Sou muito mais dado ao Scotch, acho que é no malte que está a verdade, mas não deixarei de experimentar um "Heaven's Door" 20 anos... Se é que vai ser possível lá entrar. Pode sempre acontecer que, por mais que se bata, a porta se não abra.
Não faço parte da imensa maioria da turba da bola que ficou surpreendida com o que hoje se passou na Luz, mais uma vez com mais de 50 mil nas bancadas. Tornara-se evidente que, depois de ter perdido Jonas, já lá vai um mês, o Benfica entrara em queda livre. Só faltava saber onde é que iria parar. Em pleno movimento de queda, olhar para a constituição da equipa que Rui Vitória decidiu apresentar, era mais um factor de previsibilidade do que se viria a passar. A lesão do André Almeida, à meia hora de jogo e quando já se via claramente o que o jogo tinha para dar, e a opção (um tal Douglas) para a sua substituição, naquela defesa, transformou o previsível em inevitável.
Se já se percebera que o Benfica tinha regressado ao registo da primeira fase da época, não conseguindo manter o controlo dos jogos, nem um ritmo aceitável durante muito tempo, desligando-se facilmente do jogo e perdendo rapidamente as poucas ideias tinha, este jogo de hoje fez questão de que confirmar essa evidência. Foi o teste do algodão, a prova provada que a regra deste Benfica que se queria penta é esta pobreza, este descalabro técnico-táctico, esta falta de qualidade. A dúzia de jogos bem sucedidos, com bom futebol, que nos alimentaram o sonho do penta são a excepção.
Como naquele período em que perdeu tudo o que havia a perder, entre Setembro e Dezembro, que julgávamos enterrado bem fundo no passado, o Benfica entrou bem e marcou cedo. No primeiro remate do jogo, mal se tinham jogado os primeiros 10 minutos. E durou até ao meio da primeira parte, quer dizer, mais outros 10 minutos.
A partir daí, foi o descalabro. De tal forma que, mesmo sem que o Tondela tivesse feito qualquer remate, o primeiro golo, à saída da primeira meia hora, era já esperado. Não há melhor forma de perceber o que se estava a passar: sem ter feito sequer um remate, já se percebia que o golo do Tondela estava a chegar. Aconteceu numa perda de bola de Cervi - culpa do argentino que não está jogar nada, mas consequência da falta de soluções da equipa - e depois lá estava Luisão, que não merecia passar por isto, para assistir na primeira fila ao bom trabalho do ponta de lança tondelense. Logo a seguir, pouco mais de 5 minutos depois, Varela recebeu uma bola atrasada, complicou e acabou por chutá-la para fora, logo ali. É inacreditável, mas é verdade: lançamento lateral e... novo golo. Ao segundo remate. Mais uma vez com Luisão a assistir, agora literalmente.
Ao intervalo, a substituição do costume. Sálvio entrou para o lugar do desaparecido Cervi, e dispôs logo de duas oportunidades incríveis. Numa delas fez mesmo o mais dfifícil, em frente à baliza, sozinho e a 1 metro da linha de golo, conseguiu mandar a bola para a bancada. Foram muitas as oportunidades de golo desperdIçadas, é verdade. Faltou sorte, mas a equipa não fez por merecê-la. E foi o Tondela que voltou a marcar. Primeiro, um golo que me pareceu mal anulado, e que seria o hat-trick do Miguel Cardoso. E, depois a valer, o terceiro. Em 5 remates!
Faltava ainda a terceira substituição, também a habitual. A entrada de Seferovic, mais uma vez à espera não se sabe de quê, para retirar o melhor - ou o menos mau - dos que estavam em campo: Zivkovic. Qual Pizzi? Qual Douglas? Não, Zivkovic é que era!
Que deu no que sempre tem dado: nada!
Já nos descontos Salvio fez o segundo golo, com que fechou a segunda derrota em casa. Consecutiva. E a do último adeus a um título que seria o penta. Que, percebe-se bem, ou ninguém que manda no Benfica quis, ou todos negligenciaram!
Comemoraram-se anteontem os 44 anos do 25 de Abril. Fez-se festa por todo o país, e discursos no Parlamento, centro das comemorações oficiais.
Discursos cheios de retórica, uns mais cinzentos que outros, com mais ou menos referências à “manhã que Sofia esperava” daquele “dia inicial inteiro e limpo”, mas que geralmente dizem pouco. E a que pouca gente liga alguma coisa, à excepção daqueles que da sua decifragem fazem modo de vida.
Desta vez houve surpresas. Eu, pelo menos, fui surpreendido com a introdução do tema central da nossa democracia no discurso oficial das comemorações do 25 de Abril. Comemorar a revolução dos cravos é, tem de ser antes de tudo, avaliar os riscos da nossa democracia, que é exactamente o que de mais importante acabou por ficar.
A qualidade da nossa democracia tem-se vindo a degradar a um ritmo alucinante. A corrupção foi-se instalando, corroendo-a até à exaustão, minando o sistema político e afastando irreversivelmente eleitos e eleitores, destruindo os mecanismos de representação que constituem os alicerces, os pilares e as vigas do edifício democrático. Depois de 10 anos de escândalos de corrupção na banca e em agentes políticos de segunda linha, atravessamos agora o período mais negro da História de Portugal, com sucessivas revelações de corrupção ao mais alto nível das instituições, do Estado e da governação.
Estranhamente – ou talvez não – a sociedade civil não reage, e parece aceitar como normalidade o que a democracia não pode tolerar. A classe política parecia viver bem com isto, com esta paz podre de que somos nós os primeiros responsáveis. Até que, no dia de comemorar a democracia, alguns se lembrassem de nos lembrar que está em perigo. E que já não é possível salvá-la mantendo intocável o actual o sistema político.
Começou por dizê-lo uma jovem deputada – Margarida Balseiro Lopes, acabada de chegar à liderança da JSD – num discurso notável. Com todas as letras. Tocou-lhe ao de leve o presidente da Assembleia da República, e disse-o com decisiva veemência o Presidente da República, entre meias palavras e palavras inteiras.
Agora ninguém pode dizer que não sabia. Agora já só podem dizer que não querem saber. Como nós não temos querido saber!
De António Costa diz o Presidente Marcelo ser um "optimista irritante". Não se cansa de o dizer em todo o lado, e há muito. Ao discurso de ontem do Presidente, chamou António Costa moderno: "é difícil interpretar a arte moderna, nem sempre é possível interpretar os discursos modernos" - referiu o primeiro-ministro no meio do pagode em piquenique, nos jardins de São Bento.
Claro que António Costa percebeu o discurso de Marcelo. Faz é que não percebe. Mas nós percebemos. E percebemos que "optimista irritante" é o mesmo que "assobiar para o lado". E começamos a ficar cansados de tanto optimismo e irritados com tanto assobiar para o lado, como se nunca nada se estivesse a passar.
António Costa já não pode continuar a fazer de conta que vivemos numa democracia imaculada e saudável, à prova de bala. Que Sócrates nunca existiu, e que nada há para dizer de um governo de que até aproveitou alguns ministros. E muito menos pode continuar a fazer que não percebe. Se não, não percebe nada!
Grande discurso da Margarida Balseiro Lopes, nova líder da JSD, e cá da região, nas comemorações oficiais do 25 de Abril, na Assembleia da República, em representação do PSD, de cravo ao peito. Muito aplaudido por Rui Rio, também com o cravo no sítio certo.
Apenas um reparo: não houve nenhuma revolução em 1975, e hoje tratava-se de lembrar 1974. Abril, 25. Mas não é certamente isso que explica uma coisa que não tem explicação: Por que é que nenhum deputado aplaude o discurso do de outro partido?
Mas, claro... os olhos estão sempre no Presidente da República. Marcelo, cujo percurso político até à actual unanimidade nacional é conhecido, entrou de cravo na mão. Não é novidade. Como novidade não é o destino que lhe tenha dado, mesmo que tenha sido possível confirmar que o casaco que vestia tinha lá o bolsinho que dá para acolher o lencinho, mas também serve de casa para aconchegar o cravo ao peito. Na hora do discurso lá estava, despido de simbologias. Do outro lado da fronteira que o cravo vermelho sempre traça a cada comemoração do 25 de Abril, no lado onde sempre vimos o seu antecessor, que não deixou saudades e de quem já nem nos queremos lembrar.
Se calhar foi por isso que o discurso do PR não mereceu os aplausos da esquerda do Parlamento... Mesmo que o principal da mensagem tenha sido a óbvia e urgente necessidade de renovação do sistema político, como já fora a do Presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, ao referir-se à necessidade da "renovação democrática das instituições" e da exclusividade dos deputados, mesmo que revisitando a sua lamentável posição relativamente às últimas denúncias sobre os deputados insulares.
Pelo mundo das denúnicas anónimas começa a perceber-se que a estrutura de comando do Benfica precisou de um ano para entender o que estava a passar-se. É tempo demais!
O jornal i dá conta de uma denúncia anónima enviada ao Ministério da Justiça, à Procuradoria-Geral da República, ao DCIAP, à PJ, à Liga Portuguesa de Futebol e à Federação, com alguns detalhes de uma estratégia pensada e montada com o único objectivo de pôr fim à hegemonia que o Benfica conquistara no futebol em Portugal e de restabelecer a velha ordem. Nela se identificam dirigentes, magistrados, agentes da PJ e jornalistas envolvidos.
O jornal A Bola dá conta de outra, entregue no DCIAP, que aponta um inspector da PJ, devidamente identificado pelo nome e pela "militância" clubista, como a verdadeira toupeira que assegura o abastecimento informativo de jornalistas e redes sociais à revelia dos interesses da investigação e à medida dos da estratégia montada.
Há muito que se percebia a estratégia começada a revelar em Abril do ano passado. Só não se percebia o tolhimento da direcção do Benfica...
... O "Público" "diz" hoje que o ministro Vieira da Silva guardou na gaveta o relatório da auditoria à Santa Casa da Mersericórdia de Lisboa, particularmente negativo para a gestão de Santana Lopes.
Segundo o jornal, o relatório apresentava uma longa lista de irregularidades e denunciava pressões e condicionamento do trabalho dos auditores. De tal forma que o ministro achou que não seria muito conveniente homologá-lo - note-se bem, homologá-lo não é divugá-lo - antes das eleições internas do PSD.
Bloco central é isto, não é outra coisa. A outra coisa? Só por cima do cadáver de todos os Santana Lopes!
E o regime é isto, para que fique bem entendido...
Depois da derrota no clássico da Luz, que acabou com o sonho do penta, o Benfica apareceu hoje no Estoril (com bancadas seguras e sem quaisquer riscos para os adeptos) para cumprir calendário. Se não foi assim, foi isso que pareceu!
A primeira parte foi do que de mais fácil o Benfica encontrou nesta época. O Estoril não se remeteu à defesa, distribuiu-se pelo campo todo e, com isso, sobrou espaço para os jogadores do Benfica jogarem à bola ... em ritmo de cumprimento de calendário. As facilidades eram tantas, e de certa forma tão inesperadas, que a ideia que se instalava era que ... não havia problema. De resto, com os pequenos nunca há problema, pensava-se. Problemas é com os grandes, aí é que não há volta a dar...
Fez um golo - Rafa, aos 10 minutos - e poderia ter feito mais três ou quatro, para além da (péssima) arbitragem de Hugo Miguel ter deixado por assinalar um penalti contra o Estoril, e de lhe ter permitido continuar a jogar com onze, ao perdoar, nesse lance mas já pela segunda vez, a expulsão ao defesa esquerdo, Ailton.
Ao intervalo o resultado não era apenas escasso. Era perigoso, e mais perigoso ainda pelas facilidades que o jogo tinha evidenciado.
O arranque da segunda parte confirmou esss perigos. O Estoril apertou e o Benfica cedeu. Aos 5 minutos chegou o primeiro grande aviso, com o golo estorilista. Não contou, o marcador estava em fora de jogo, mas ficou o susto.
O jogo nunca mais foi o que fora na primeira parte. Abriu ainda mais, partiu-se, como se diz em futebolês, e o Benfica passou a ter oportunidades umas atrás das outras, na maior parte dos casos na sequência de transições rápidas, na resposta aos ataques do Estoril. Todas sucessivamente falhadas, fosse na cara do guarda-redes, fosse com a baliza aberta. Rafa poderia ficar lá toda a noite sozinho com guarda-redes do Estoril que não marcaria. Desesperante!
Pelo meio o Estoril empatou, à entrada do segundo quarto de hora. E menos de 5 minutos depois já a bola batia no poste da baliza de Varela. Se na primeira parte a ideia era "que não havia problema", agora era que uma equipa que falhava tantas e tão claras oportunidades de golo não merecia ganhar o jogo.
Essa ideia ia ficando mais consolidada à medida que nos lembravamos de Jonas, e da falta que faz. Que, com muita pena, víamos a lástima a que chegou o André Almeida, numa crise de forma como nunca lhe víramos. Que víamos como Pizzi desapareceu, e como continua com lugar cativo na equipa. Que víamos como Raúl Jimenez não encaixava. Que víamos a equipa a piorar, em vez de melhorar com as substituições. Ou que tínhamos vontade de agarrar Rui Vitória pelos colarinhos para que nos explicasse o que lhe ia na cabeça para colocar Seferovic em campo...
Com tudo isto a fervilhar-nos na cabeça, ao segundo dos 7 minutos de compensação, chegou o golo da vitória, pela cabeça de Salvio. Da goleada por 2-1, como disse no fim Rui Vitória. Mais que agastado, visivelmente desgastado!
Sempre se falou da porta giratória entre os governos do país e o Grupo Espírito Santo (GES). Uns atrás dos outros saíam do GES para o governo para, depois, fazerem o trajecto inverso. Toda a gente sabia disto, toda a gente falava disto mas, enquanto durou o GES e Ricardo Salgado continuva "dono disto tudo", era como se nada se passasse.
Manuel Pinho era um - entre uma multidão - desses. Chegou ao governo de Sócrates vindo, claro, do GES. Saiu - com aquela cena dos corninhos no Parlamento - e logo voltou. Foi para uma universidade americana, a expensas da EDP. E descobre-se-lhe um apartamento de luxo em Nova Iorque. Foi mais tarde investigado por isso. E pelo que isso poderia ter a ver com as rendas excessivas da EDP, depois entregue por Passos e Portas aos chineses. Nessa investigação percebe-se agora que Ricardo Salgado pagava a Manuel Pinho, directamente para uma conta offshore, 15 mil euros por mês, mesmo enquanto estava no governo. Ao todo mais de 1 milhão de euros...