"Não há dinheiro" - diz António Costa, rendido a Mário Centeno.
"Não há dinheiro" - dizia Vítor Gaspar há meia dúzia de anos, em pleno furacão da crise. Acrescentava-lhe ainda, dourando-lhe a dureza - "qual destas três palavras não compreendeu"?
Entre estes dois "não há dinheiro" não há apenas meia dúzia de anos. Há todo um mundo. Um mundo de coisas que faz com um não tenha nada a ver com o outro.
O "não há dinheiro" de Vítor Gaspar era literal. Simplesmente não havia dinheiro, nem onde o ir buscar. O país estava sob resgate, sem soberania e sem dinheiro. O "não há dinheiro" de Costa e Centeno não tem nada a ver. O país tem o mais baixo défice de sempre, paga os juros mais baixos de sempre, e dispõe de toda a margem de decisão para alocar os seus recursos.
O "não há dinheiro" de Costa e Centeno não é "não há dinheiro". É simplesmente "não há dinheiro para aquilo que vocês querem". É um "não há dinheiro" mentiroso. Há dinheiro, claro que há dinheiro, as prioridades para o gastar é que são outras que não as dos destinatários do "não há dinheiro". Que não são também os mesmos, antes pelo contrário - Vítor Gaspar dirigia-se à oposição; Costa e Centeno dirigem-se aos "suporters"!
Por isso, e só por isso, é que não lhe acrescentam a "arrogante" interrogação de Vítor Gaspar: "qual destas três palavras não compreendeu"? Mas a arrogância está lá toda na mesma...
Tudo serve a Trump para destabilizar o mundo, e torná-lo num sítio muito perigoso. Nem que seja apenas para desviar as atenções...
Paul Manafort, o responsável da campanha campanha de Trump entre Março e Agosto de 2016, vai a julgamento já depois de amanhã. E para que não se saiba o que se vai ficar a saber ... ameaça o Irão!
São as famosas cortinas de fumo. Só que o fogo que Trump usa para fazer fumo é perigoso de mais...
O assunto vinha sendo falado entre dentes, mas agora é já à boca cheia, a ponto de se dizer que até já chegou ao Ministério Público. Refiro-me a esquemas de aproveitamento fraudulento dos fundos para a reconstrução de casas nas zonas atingidas pelos trágicos incêndios de Pedrógão Grande, há pouco mais de um ano.
Já se falou de desvios de fundos disponibilizados pela gigantesca onda de solidariedade nacional, de valores que nunca apareceram, de outros que ficaram retidos nas malhas da burocracia e até dos que acabam consumidos nos meandros da sua própria gestão, quase sempre autofágica.
Agora sabe-se que, depois de 17 de Junho do ano passado, depois dos incêndios, houve gente que alterou a morada fiscal para garantir o acesso aos fundos de reconstrução. Que há casas que nem casas eram, e casas ardidas que nem sequer arderam. Que vale tudo para enganar todos!
Dir-se-ia que é notável como somos capazes de ser tão generosos e, ao mesmo tempo, tão gananciosos. Como somos capazes do melhor e do pior, de tudo e do seu contrário. Como somos capazes de dar e de roubar. Como somos capazes de responder como ninguém à desgraça alheia, mas também, como ninguém, de nos aproveitarmos dela. Dir-se-ia que somos um povo bipolar, do oito e do oitenta, como tantas vezes de nós próprios dizemos.
Mas não. Não é nada disso. Porque não são os mesmos que dão que, depois, vão roubar. Não são os mesmos que correm a acudir que, depois, correm a sacar. Não. Uns dão, outros roubam. Uns acodem na desgraça, outros sacam nos despojos.
Uns e outros são portugueses. É por isso que nem os portugueses são de uma generosidade ímpar, nem os portugueses são uma cambada de aldrabões sempre à coca de enganar tudo e todos. Há uns e outros…
Só que … “a ocasião faz o ladrão”. E em Portugal o que não falta é ocasião!
Ao segundo dia, os Alpes trouxeram a normalidade de volta ao Tour. A mais curta etapa (apenas 108,5 quilómetros) desta 105ª edição do Tour, à excepção óbvia dos contra-relógios, corrida sob o olhar altivo do fantástico Mont Blanc, foi um espectáculo de ciclismo verdadeiramente fabuloso. Os últimos 400 metros da chegada a La Rosière (Espace San Bernardo) foram de rara emoção. O espectáculo, esse, já vinha bem de trás. E chamou-se Alejandro Valverde, Dumoulin, Geraint Thomas e Chris Froome.
Dos quatro, só Valverde não fica na História. Porque nunca reza dos vencidos, e Valverde acabou a perder. E muito. Como perdeu Mikel Nieve, na frente da corrida durante muito tempo, e na frente à entrada dos últimos 300 metros, acabando batido, primeiro, por Thomas, e depois, incrivelmente, ainda por Froome e Dumoulin.
O camisola amarela, o belga Avermaet que ontem resistira surpreendentemente à primeira abordagem aos Alpes, hoje desapareceu nas profundezas da classificação geral. E o próprio Valverde, que ontem era terceiro, desapareceu do top ten.
Amanhã há mais. E logo com o mítico Alpe D`Huez... Mas o que o Monte Branco testemunhou é que Thomas e Froome estão bem acima da concorrência. O tetra campeão do Tour tem a desvantagem do desgaste do Giro, que ganhou pela primeira vez. Mas tem a enorme vantagem de ter na sua equipa o seu maior concorrente. E Thomas, logo que hoje vestiu a camisola amarela, fez questão de dizer que tinha a missão de a entregar ao chefe!
Não é possível assinalar o centenário do nascimento de Mandela sem assinalar o vazio das actuais lideranças. Lembrar este gigante da História é lembrar a dimensão liliputiana dos protagonistas dos dias que correm!
Não levem à letra. Na verdade o 105º Tour de France já começou há mais de uma semana, teve até já - ontem - a primeira das duas folgas da competição, os chamados "dias de descanso". Mas, de verdade, a sério, começou hoje com a primeira subida aos Alpes, na 10ª etapa, nos 158,5 quilómetros entre Annecy e Le Grand-Bornard. Também aqui começou apenas hoje, bem mais tarde do que é costume .
Para trás ficaram as etapas dos sprints e das quedas, que tanta vez decidem tanta coisa. E aquela etapa de Roubaix, a dos pavés, que mais parece uma carnificina... Terá tradição, terá porventura algum encanto, mas ... não faz sentido. Não faz qualquer sentido manter uma etapa daquelas, que é a mais pura lotaria do ciclismo.
Mais uma vez as vítimas foram muitas. Entre elas, o australiano Richie Porte, um dos principais favoritos. Provavelmente o mais forte concorrente de Froome.
Nem sempre assim tem acontecido mas, desta vez, todas estas circunstâncias acabaram com a camisola amarela no dorso de um belga mais ou menos desconhecido - Avermaet, da BMC, colega do azarado Porte. Vestiu-a à terceira etapa, o contra-relógio por equipas, que a sua equipa ganhou, e reforçou-a exactamente na etapa de domingo, no pavé que lhe levou o líder.
Era convição geral que a despiria hoje, lá no alto. Mas não foi assim. Lutou com notável bravura, entrou numa fuga logo no início da etapa, e surpreendeu toda agente. Foi quarto na etapa, ganha pelo francês Alaphilippe, e acabou com a liderança reforçada.
Nada que assuste a Sky, que acolhe e protege os dois principais favoritos: Thomas e Froome, separados por 1 minuto, respectivamente segundo e sexto.
Há uma semana Trump humilhou os parceiros da NATO. Há dois dias, humilhou toda a Grã Bretanha, nada nem ninguém lhe escapou. Nem a Rainha... Chegado a Helsínquia, lado a lado com o seu amigo, inspirador e par, humilhou a América.
Quando Trump diz ao mundo que acredita em Putin, e não nos serviços secretos americanos, humilha a América. Quando acusa os seus antecessores de responsáveis pelas más relações com a Rússia, trai o seu país.
Pelo meio, entre a humilhação da NATO e do Reino Unido e da própria América, Trump rebentou com todos os pilares do Ocidente, ao declarar inimigos a Europa e o Canadá.
Talvez agora os mais renitentes comecem finalmente a perceber a perigosidade da criatura. Não, não é embirração!
Putin? Esse só dá por bem empregue o tempo (e o dinheiro) que gastou para o colocar na Casa Branca. Para já tudo lhe corre bem... O mundo já está de pernas para o ar!
Aqui há uns anos ficou famoso um slogan publicitário criado para uma marca de cerveja - "provavelmente a melhor cerveja do mundo"... Pegou de tal forma que permanece como imagem de marca da Carlsberg.
Creio que serviria bem para anunciar a cimeira de hoje, em Helsínquia, entre "provavelmente, os dois mais odiados líderes do mundo"!
A França é campeã mundial de futebol, vinte anos depois. Os franceses vieram à Rússia para ganhar e... ganharam!
O jogo da final de Moscovo confirmou isso mesmo, o pragmatismo do futebol da selecção francesa, cheia de grandes jogadores, dos melhores para cada posição, simplesmente programados para ganhar. Foi isso que mais se notou nesta final, num jogo disputado entre uma equipa preparada para jogar futebol, do bom, e outra para ganhar. Entre o futebol cínico e o futebol sexy,
Ganhou o futebol cínico. Ganha muitas vezes, ganha mais vezes ainda quando é servido por grandes jogadores. Pelos melhores!
Ao intervalo a França ganhava por 2-1. Com um remate à baliza. Um único, e mesmo esse num pontapé de penalti. E com 31% de posse de bola. Na segunda parte não melhorou a posse de bola, mas rematou um pouco mais: fez quatro remates. Que lhe renderam mais dois golos.
Poderia dizer-se que foi esta a história do jogo, uma história de eficácia. E que, dito isto, fica a estória contada. Fica tudo dito sobre o jogo. Mas não, há mais qualquer coisa a dizer.
A Croácia surgia mais desgastada que a França. Porque se desgasta mais - o seu futebol de construção é mais desgastante - e porque, obrigada a jogar o prolongamento de 30 minutos em todos os jogos a eliminar, jogou mais 90 minutos, mais um jogo completo. E porque teve menos um dia de descanso. Mas isso não se notou, e os jogadores croatas depressa tomaram conta do jogo, com o seu futebol envolvente, de circulação pelos flancos e de cruzamentos a pedir conclusão na zona de golo.
Não lhe valeu de muito. Na primeira invasão francesa aos terrenos defensivos da Croácia, Griezmann fez uma das suas fitas e sacou um falta já próximo da área adversária, sobre a esquerda. Encarregou-se ele próprio da cobrança, e Mandzukic voltou a marcar. Só que desta vez na própria baliza, no décimo segundo auto-golo deste mundial - recordista na especialidade - mas o primeiro numa final do campeonato do mundo.
Sem rematar à baliza, pouco depois de esgotado o primeiro quarto de hora, a França já ganhava. E sabe-se no que isso costuma dar...
Mas não deu. A Croácia, qual formiguinha, não se deixou impressionar e voltou ao trabalhinho, como se nada se tivesse passado. Estava bem habituada a isso - em todos os jogos tinha começado a perder, e no entanto estava ali, na final a discutir o título mundial. Continuou a dominar o jogo, a jogar melhor, a mandar no ritmo e a ter a bola só para si. E apenas 10 minutos depois repunha o empate, num excelente golo de Perisic. A bola veio de um canto, é certo, mas não é justo dizer que foi mais um golo de bola parada...
Só que, mais 10 minutos, e um penalti do VAR voltaria a colocar a França na frente do marcador. Penalti de Perisic, na sequência de um canto, mas tão falso como o livre do primeiro golo. O VAR... tem destas coisas.
E lá voltou de novo a Croácia ao trabalhinho... Até ao intervalo, a deixar incólume um resultado cheio de mentiras...
No início da segunda parte LLoris negou o golo do empate, e percebeu-se a importância do momento. Até porque a equipa francesa subia as linhas e o desgaste croata começava a vir ao de cima. Até chegarem aqueles cinco minutos fatais, depois de fechado o primeiro quarto de hora. Primeiro foi Pogba, aos 60 minutos, num contra ataque que acabaria no aproveitamento de um ressalto, em que Modric acabou ainda por perder a noção do espaço e da bola, a desferir um golpe decisivo no melhor futebol desta final. E aí acabou a resistência da Croácia, já sem capacidade física e mental para voltar mais uma vez ao trabalhinho.
Cinco minutos depois Mbappé, já em compelto aproveitamento das circunstâncias, desferia o golpe de misericórdia numa Croácia finalmente derrotada. O caricato golo de Mandzukic, 4 minutos depois (três golos em 14 minutos numa final de um mundial, é obra!) teve apenas o condão de pôr algum gelo na arrogância francesa.
A França sempre foi uma das favoritas, e não surpreende que tenha sido campeã. Mas, com os jogadores que tem, francamente... Tem que jogar muito mais.