Pode até parecer que é perseguição. Ou falta de assunto. Não é. Apenas as circunstâncias da eleição de Bolsonaro revelam cada vez mais sintomas de aberração política.
Ontem, numa participação de culto evangélico da igreja a que pertence (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), na zona norte do Rio de Janeiro, seguida por todos os jornais brasileiros, entre outras frases de circunstância Bolsonaro disse: “Não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos”.
Em circunstâncias que daríamos por normais, em muitos outros países, esta seria uma frase politicamente mortal. Até porque a falta de qualificação para o cargo, agravada pela falta de um programa político e pela recusa na participação em debates é, pelo menos, tão relevante quanto o enquadramento político-ideológico daquilo que fez e disse em campanha.
No Brasil, neste contexto, não é. É simplesmente mais uma frase pensada, e dirigida aos que o elegeram, em que Bolsonaro se coloca como um deles. Não serei o mais qualificado, mas Deus protege-me e não me vai faltar com ajuda. E isto é mortal, mas, por aberração, justamente o antónimo do mortal do parágrafo anterior.
O anúncio público - ontem, também - do convite ao juiz Moro para integrar o governo, à luz das mesmas circunstâncias que daríamos por normais em países de maturidade democrática, é um óbvio e evidente atentado aos valores democráticos, em especial do Estado de Direito, e ao princípio da separação de poderes. Nas circunstâncias da eleição de Bolsonaro, é trazer para o governo gente séria, com provas dadas na perseguição à corrupção.
Confesso-me estarrecido com as coisas que tenho visto escritas sobre a decisão eleitoral dos brasileiros. Não me refiro à Margarida Martins, essa deixou-me chocado. Duplamente chocado - com o soneto e com a emenda!
Nem aos que se tinham declarado apoiantes convictos de Bolsonaro, seja porque defendem o fascismo, seja porque ainda não perceberam muito bem o que andam por cá a fazer. Refiro-me àqueles que, até domingo, juravam que acima de tudo estava a necessidade e a obrigação de defender a democracia. Que, se votassem, fariam como Álvaro Cunhal fez, e aconselhou fazer, em 1986. Que entre um fascista, e um democrata nas antípodas do seu pensamento, sempre o democrata. E que se riam dos brasileiros que diziam que apeariam Bolsonaro se ele viesse a fazer o que dizia que faria.
Mas que, de repente, logo no domingo, passaram a achar que nada poderia ter sido de outra maneira. Que quem está cá deste lado do Atlântico não percebe nada do que passa do lado de lá. Que ódio é ódio, e o que o Lula e o PT fizeram não merece outra coisa. Que o povo é sábio, e nunca se engana. Que o fascismo de Bolsonaro é uma ficção da esquerda. Que a palavra liberdade foi a mais repetida no discurso de vitória. Enfim, que o "cara" não é nada do que pintam.
Pois. Eu até estava quase a ficar convencido. O diabo é que, de repente, começaram a desfilar pelas passadeiras da minha mente as declarações de voto daquela gente no parlamento que ditou o impeachement da Dilma. Depois aquela "oração" daquele militante evangélico de mãos dadas com o presidente eleito, de mãos dadas com a sua jovem esposa.
E quando sacudia a cabeça para afastar para longe estes pensamentos caem-me os olhos no apelo da jovem deputada Ana Caroline Campagnolo, eleita pelo PSL (percebem por que o outro teve que escolher Aliança?) de Bolsonaro. Que abriu um canal de denúncias e exorta os jovens a filmar os professores inconformados com o resultado eleitoral, e a remeter-lhe esses vídeos...
Os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro presidente do Brasil, com 55% dos votos, contra os 45 de Fernando Haddad. A diferença reduziu-se, mas não houve "virada". A primeira coisa que ouvimos do novo presidente brasileiro foi uma oração evangélica, bem puxada. A primeira coisa que me ocorreu é que, se Deus é brasileiro ... "valha-lhes Deus"!
Poderia começar continuando com o tema do último jogo do Benfica, em Amsterdão: sorte, azar e competência. Mas também poderia começar por lembrar o jogo da época passada, na altura no Restelo. A certa altura este jogo de hoje no Jamor era uma cópia digital desse, há pouco mais de seis meses. Entrada fulgurante do Benfica, oportunidades sucessivas, umas atrás das outras, e todas desperdiçadas. Também um penalti, desta vez arrancado a ferros pelo VAR ao Artur Soares Dias. Também falhado: então por Jonas, hoje por Salvio.
Mas vou começar por comparar este jogo com os que o Beleneses fez recentemente, também no Jamor, com o Porto e o Braga, em que os azuis, que já não são do Restelo, procuraram jogar de igual por igual com os adversários. E por lembrar que o João Félix saiu dos convocados.
Ao contrário do que se esperaria, o Belenenses entrou com o autocarro. Na primeira meia hora não tirou o autocarro da frente da baliza, e o Benfica asfixiou. Nada que incomodasse muito os de Belém, tudo aquilo parecia previsto no plano de vôo de Silas, até porque a bola não entrava mesmo. Parecia que o Belenenses estava à espera que o Benfica se convencesse disso mesmo - que a bola nunca entraria - para desmontar o autocarro. E passar a aproveitar as ofertas generosoas que os jogadores e o treinador do Benfica tinham guardadas.
E foi assim que o Belenenses ganhou o seu primeiro jogo em casa, perante um Benfica deprimente. Não vale de nada dizer que o guarda-redes Muriel defendeu tudo, o que valia e o que não valia, porque isso nunca é mais que circunstâncias de jogo. Nem que o segundo golo do Belenses não poderia ter sido validado, porquanto a jogada inicia-se com uma falta sobre o Pizi. Ou que um jogador do Belenenses deveria ter sido expulso ainda na primeira parte, por agressão a Rúben Dias. Vale dizer o que Benfica não fez para ganhar um jogo em que dispôs de mais de uma dúzia de oportunidades de golo. Vale dizer que Rui Vitória não sabe mexer no jogo. Que, ou joga daquela maneira, sempre naquele tom e naquele ritmo do seu futebolzinho, ou é o descalabro e pontapé para a frente. Que deixou 90 minutos em campo André Almeida e Sferovic, sem ninguém perceber para quê. Que fez a última substituição (entrada de Zivkovic, que só conta no desespero) aos 85 minutos. Que deixou de fora João Félix. Ou que não faz ideia nenhuma do que (não) vale agora Jonas...
Não estivesse Rui Vitória claramente esgotado, sem chama nem alma e, já que me lembrei de outros jogos, lembraria que, também no ano passado, este Belenenses de Silas ganhou pelos mesmos 2-0 ao Porto. Só que, assim, não há comparação. Nem por onde os benfiquistas encontrem bons prenúncios. Como se viu pela multidão que abandou o jogo ao intervalo...
Ainda mal refeito da polémica lançada pelo outro senhor no “Prós e Contras”, cada vez mais o velho lavadouro público da aldeia transportado para a televisão, que deixou o país em alvoroço com a tal coisa escandalosa das crianças não deverem ser obrigadas a dar beijos aos avós, o país voltou a entrar em ebulição com as fotografias da detenção de três suspeitos de roubos e agressões as idosos na zona norte do país, que dias antes haviam fugido em pleno tribunal.
Claro que uma não tem nada a ver com a outra, mesmo que as acções na origem de cada uma, e as posteriores reacções, tenham, e muito, umas a ver com as outras.
A questão levantada pelo tal senhor que, dizem, é professor numa universidade da praça, até faz sentido. O problema começou logo por não ter sido posto dessa maneira. Por não ter sido levantada como questão, mas lançada com a arrogância de uma certeza absoluta e indiscutível. A partir daí… valeu tudo. Porque nas redes sociais nada se perd(e)oa, tudo se transforma ... em crueldade cega e ilimitada.
A publicação da fotografia dos fugitivos acabados de deter, poderá perceber-se à luz da óbvia humilhação da polícia na fuga. Deixar fugir gente dada por perigosa pela janela de um tribunal é das maiores humilhações por que pode passar uma polícia. E daí a tentação da ostentação na recaptura, como um troféu redentor.
Só que a Polícia não serve para isso. A Polícia não serve nem para deixar fugir presos, nem para os expor como troféus. A Polícia serve, tem de servir, para preservar e defender os valores do Estado de Direito. Ao contrário, mais uma vez, da cultura das redes sociais, onde impera a lei de Talião, de “olho por olho, dente por dente”, a mais antiga lei da história da humanidade, anterior aos esforços de milhares de anos de civilização.
Os avanços civilizacionais são o resultado de milhares de anos a contrariar e sublimar os instintos mais básicos e primitivos do homem, para que a convivência harmoniosa seja possível em comunidades cada vez mais alargadas. Em sociedade!
O valor da dignidade humana é um desses resultados, porventura o maior. E justamente o que as redes sociais mais reiteradamente atropelam, de forma muitas vezes selvática.
Até para a semana. Ah… já me esquecia: “se Deus quiser”. Até para a semana, se Deus quiser!
Chama-se a isto ter uma vaga ideia de técnicas de marketing. O suspense, determinante na arte da escrita de ficção, está criado. Nunca se sabe se o que tem para dizer acrescenta ao entendimento dos tempos da troika, se há coscuvilhice, ao voyeurismo e às adjectivações baratas de Cavaco. Ou - sabe-se lá? - se, num golpe de arrojo, o que tem para dizer não é uma resposta de manual à de falta de experiência que generosamente Cavaco lhe aponta...
Não é só Trump que está a fazer equilibrismo com o assassinato de Khashoggi, o jornalista saudita esquartejado e morto (a ordem parece que é justamente esta, e os restos mortais do jornalista terão já sido encontrados nos jardins da residência do cônsul) no consulado da Arábia Saudita em Istambul. Em França e em Inglaterra não estão a fazer muito melhor, e só Angela Merkel - mais uma vez - parece capaz de uma posição firme e erecta, sem condicionar os princípios aos interesses. Do negócio das armas, que é o que, evidentemente, está em causa.
Mas em nenhum país a coisa ficou tão clara como em Espanha, o único, até ao momento, que levou ao Parlamento o embargo à venda de armas ao regime despótico e medieval de Riade. E aí, na hora da verdade, PP e PSOE, com a abstenção do Ciudadanos, chumbaram a proposta.
Diz-se que no futebol não há sorte nem azar, há competência ou falta dela. Hoje, em Amsterdão, no último lance do jogo, o Benfica pode ter acrescentado qualquer coisa a essa ideia feita.
Hoje ao Benfica faltou sorte quando lhe faltou competência, e nem se pode dizer que a sorte que lhe faltou foi a que acompanha os audazes. Creio que o Benfica foi suficentemente audaz para mercer a sorte que os protege. Não foi por aí, por falta de audácia, porque a Rui Vitória não falta só audácia. Nem sorte.
Faltou evidentemente competência ao Conti quando falhou desastradamente aquele corte mesmo no fim do jogo. A competência que teve quando, antes, tirou aquela bola de dentro da baliza. Com a sorte de lhe ter pegado escassos milímetros antes dela passar na totalidade a linha de golo. A sorte que lhe faltou quando, pelos mesmos escassos milímetros, não acertou naquela bola, tão fácil de cortar.
Já a competência do Ajax mereceu três doses de sorte: a sorte do azar do Conti, mais a sorte do azar do André Almeida, que depois ainda interceptou a bola, mas direitinha para um adversário e, por último, a sorte do azar do Grimaldo, que se opôs ao remate, mas só para desviar a bola para o caminho da baliza.
Pois é. Isso da sorte e do azar... tem muito que se lhe diga. Aos oitavos da Champions é que o Benfica já ficou com pouco para dizer!
O jornalista saudita Jamal Khashoggi entrou no consulado do seu país em Istambul, no passado dia 2, para tratar de documentação para o casamento. Lá fora, no carro, a noiva ficou à espera que ele regressasse com os papéis.
Esperou, esperou três horas... Nunca mais saiu, nem nunca mais ninguém o viu. Diz-se que foi cortado às postas. Com um moto-serra, e ainda vivo.
Tendo qualquer cidadão o seu consulado pelo lugar mais seguro do planeta, não pode haver dúvidas: casar continua a ser negócio perigoso!
Aí está de novo Cavaco, em nova prova de vida, agora com o segundo volume, e último capítulo, das suas memórias - “Quinta-feira e Outros Dias”. Não vindo daí nada de bom, daí não viria também grande mal ao mundo. O diabo - ele existe, nem que esteja apenas nos pormenores - é que, com este segundo volume, dá por concluída, nas suas próprias palavras, a prestação de contas aos portugueses.
Sendo tudo tão estranho em Cavaco, já ninguém estranha esta sua estranha maneira de prestar contas. Para Cavaco, prestar contas é apontar o dedo aos outros. Cavaco não presta contas de nada do que deve, apresenta as contas do que acha ele que os outros devem. Das suas contas, nada... E daquelas que ele sabe que nós sabemos que ele sabe, menos ainda que nada...