Um cartoon de António, onde Trump, cego, é conduzido por um cão-guia com rosto de Netanyahu, que também é Benjamim mas conhecido por Bibi, que bem podia ser nome de cão, foi publicado, sem sua autorização e sem sequer disso ter sido informado, pelo New York Times.
Até aqui a única anormalidade é um jornal desta dimensão publicar um trabalho de um autor à sua completa revelia. Mas nenhum problema, a não ser que Trump use quipá, e que na extremidade da coleira esteja a estrela de David. Aí... alto lá!
Aí, o jornal foi acusado de anti-semitismo, e imediatamente tratou de retirar o cartoon, pedir desculpas e lamentar a falta.
Espanha foi a votos e nada ficou como estava. Não houve qualquer revolução sociológica a determinar o novo mapa político da(s) Espanha(s): direita e esquerda mantiveram os seus votos. Só que os da direita, distribuídos por três forças políticas - o PP, que praticamente implodiu, o Ciudadanos, que quase chegou a segundo partido, e o Vox, da extrema direita (sim, Nuno Melo - extrema direita), mesmo sem se confirmar o tsunami anunciado - valeram menos 22 deputados. Mesmo assim, menos que os 29 perdidos pelo Podemos, vítima dos seus próprios erros, mas também da radicalização eleitoral que potenciou o voto útil nos socialistas.
No meio disto tudo o PSOE ganhou e Pedro Sanchez dá agora voltas à cabeça para encontrar uma geringonça que lhe permita governar. A tentação de um bloco central com o Ciudadanos está fora de causa. Nem eles eles próprios, nem os eleitores socialistas, o querem. Logo que os resultados ficaram conhecidos, ao mesmo tempo que celebravam a vitória, as bases socialistas gritavam "Rivera, no". E não bastam os deputados do Podemos, tal foi hecatombe eleitoral. É preciso envolver ainda os partidos nacionalistas da Catalunha (Esquerda Republicana da Catalunha, com 15 deputados, já que também o partido de Puidgemont foi "castigado") ou do País Basco (Partido Nacional Basco, 6 deputados) ...
Há um velho jargão do futebol que diz que uma "equipa joga aquilo que a outra deixa". Esta quarta final que o Benfica hoje disputou em Braga ilustra na perfeição esta dialéctica, muitas vezes difícil de perceber.
Na primeira parte o Benfica fez um jogo fraquinho. Jogou aquilo que o adversário deixou, e a verdade é que o Braga não o deixou jogar mais, pressionando alto e lutando pela bola com mais vontade, com os seus jogadores a anteciparem-se sempre aos do Benfica.
Mais que fazer uma grande exibição, mais que exercer um claro domínio sobre o adversário, o Braga dominou o jogo não deixando o Benfica o jogar. Porque na verdade os protocandidatos ao título não criaram uma única oportunidade de golo. O que marcaram foi de penalti, claramente o mais oferecido dos três que o jogo teve. Fransérgio veio por ali fora - e não o deviam ter deixado vir, estenderam-lhe a passadeira - à espera do menor pretexto para o penalti. Foi o Rúben Dias que resolveu oferecer-lhe esse pretexto, quando só tinha que aguentar ao lado dele e fazer-lhe guarda de honra até à linha final.
Mas - lá está - o Braga jogou assim porque também o Benfica deixou que jogasse assim. A perder ao intervalo, o Benfica não poderia deixar que o Braga continuasse a jogar assim na segunda parte. Teria que obrigar o adversário a deixá-lo jogar o seu futebol.
E assim fez. Fosse porque o Braga já não pudesse, fosse porque não lhe permitiu mais que pudesse, o Benfica entrou para a segunda parte a dizer: "pronto, acabou-se. Agora mandamos nós"!
Pegou no jogo, foi para cima do adversário, e as oportunidades de golo começaram a surgir. Foram onze oportunidades claras de golo, nas estatísticas finais do jogo, e o guarda-redes do Braga acabou com uma grande exibição.
Nunca mais o jogo teve nada a ver com o da primeira parte, e à medida que os minutos passavam e que a equipa bracarense ia caindo - lá está a dialéctica, outra vez - a exibição do Benfica atingia o brilhantismo.
"Uma equipa joga aquilo que a outra deixa"? Sim, mas também aquilo que sabe. E este Benfica sabe jogar muito, e foi a jogar muito que foi destroçando o adversário, limitando-lhe a ambição ao anseio pelo apito final do árbitro.
A reviravolta no resultado começou com dois penaltis, incontestados e incontestáveis. Coisa nunca vista antes, dois penaltis a favor do Benfica... Tão estranho que não se estranha que os comunicadores do costume tenham algo a comunicar.
E assim, mais uma vez de forma categórica, o Benfica passou, com distinção e nova goleada, mais uma final. Faltam agora três!
P.S. Não sei se fui apenas eu a reparar na azia dos senhores da Sport TV. Se calhar, fui!
Comemoramos ontem os 45 anos do 25 de Abril. Como sempre, com festas populares por todo o país, com desfiles nas principais cidades, e com a sessão solene na Assembleia da República. Que, em vez de uma oportunidade solene para os poderes democráticos instituídos comemorarem e dignificarem a democracia e o 25 de Abril, é normalmente oportunidade para todas as polémicas, e para exponenciar as divisões políticas, sejam elas estruturais, e quase insanáveis, ou meramente conjunturais, esgotadas no tacticismo oportunista da luta política.
O discurso de Presidente da República, sempre o ponto alto da sessão, raramente consegue fugir a estas divisões, sendo mesmo frequente que as acentue. O anterior titular foi disso flagrante exemplo.
As divisões passam invariavelmente pelo cravo vermelho e pelo posicionamento face o discurso do mais alto magistrado da nação.
O cravo vermelho é símbolo dessa divisão que mais salta à vista. Não os bonitos cravos vermelhos que invariavelmente engalanam a casa da democracia para a ocasião, mas os que integram a indumentária dos intervenientes.
Dividem-se sempre em dois grupos: os que usam e os que não usam cravo ao peito. O cravo não é assim o símbolo da liberdade e da democracia, mas o carimbo que uns ostentam orgulhosamente e outros, porventura não menos orgulhosamente, fazem questão de publicamente recusar. Nos últimos largos anos com o Presidente da República à cabeça!
Ontem, a grande maioria dos intervenientes apresentou-se de cravo ao peito. A excepção do representante de uma das bancadas não surpreenderia, e fez apenas tornar mais notada a atitude do mais alto magistrado da nação, que repetiu exactamente o gesto do ano passado, entrando timidamente de cravo vermelho na mão, que pousou na bancada logo que iniciou o discurso.
O que não impediu que, pela primeira vez, todas as bancadas o tenham aplaudido. Nunca antes um discurso presidencial, no 25 de Abril, tinha convocado um aplauso unânime e inequívoco. Terá certamente sido pelo seu conteúdo abrangente e oportuno, afastado das intrigas que enchem a espuma dos dias do discurso político, a que tantas vezes não consegue resistir. Mas também pela consciência que os tempos não vão fáceis para a democracia, e que a sua comemoração não se pode perder em minudências.
Categoria em que me recuso a incluir o cravo vermelho. Por isso gostaria de um dia o ver no peito de todos os que estivessem a festejar o 25 de Abril. E por maioria de razão no do Presidente da República. Porque o cravo vermelho, como o 25 de Abril, não tem dono. E porque a democracia é feita de símbolos!
Cansados de uma guerra injusta, e desiludidos com um país sem futuro, os capitães organizaram-se em movimento. Chamaram-lhe Movimento das Forças Armadas, e ouvimos falar dele pela primeira vez nesta madrugada de 25 de Abril, há 45 anos: "Aqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas..."
Começava assim, numa voz grave e bem colocada, cada notícia que nos chegava da revolução na rua, que se enchia de cravos vermelhos, naquela manhã limpa e clara, prenhe de esperança. E aos poucos fomos percebendo que a libertação do país era irreversível, que a velha e tenebrosa ditadura de quase 50 anos caía de podre, e que aquele era um dos dias mais importantes da História de Portugal.
Foi há 45 anos, e muita gente não tem já memória do que era então o país. E do que era um regime totalitário que tudo nos negava. Tudo, é tudo mesmo. Quando se rouba a dignidade a um homem ou a uma mulher rouba-se-lhe tudo.
Hoje, 45 anos depois, faz sentido lembrar isso a quem disso não tem memória. Porque a democracia, a liberdade e o Estado de Direito são factores inegociáveis da dignidade humana.
E não são hoje tão irreversíveis quanto se possa pensar... Antes pelo contrário, como por aí vemos todos os dias!
Dois apontamentos picantes a quebrar a monotonia destes chatos dias invernosos de Abril. O primeiro foi a intervenção de dois jovens que interromperam a festa de aniversário do Partido Socialista, um disputando o púlpito e o microfone com António Costa, e outro, por acaso outra, de pé na plateia, imitando a sinalização da aterragem. Antes, já outros dez companheiros se tinham divertido a fazer aterrar no palco aviõezinhos de papel. Pertencem a um novo movimento do activismo ambiental, que se dá pelo nome de Extintion Rebellion, que se manifesta contra o aeroporto no Montijo, e as correlativas negociatas, e trouxeram um toque divertido à festa socialista. Mesmo que a coisa tenha acabado sem grande graça para o pobre rapaz que, ao que diz, e apesar de tão bem ter estado a contracenar com o Secretário-Geral do partido, não se livrou de alguns maus tratos.
O outro chega-nos directamente do famoso Sérgio Moro, o juiz que prendeu o ex-presidente Lula e se passou para ministro da Justiça de Bolsonaro que, chegado a Portugal, não perdeu tempo a comentar a Justiça portuguesa, com o ferro todo ele direitinho a José Sócrates. Que não se teve e acusou-o de "activista político disfarçado de juiz", ao que o ministro brasileiro respondeu que "não debato com criminosos".
Se ao deixar a Justiça para passar ao governo, àquele governo, Sérgio Mora deixara de facto a ideia de "activista político disfarçado de juiz", ao comportar-se desta maneira em Portugal, reforça a ideia de um arruaceiro disfarçado de ministro. Um ministro modelo de Bolsonaro.
Uma coisa é a percepção da opinião pública, que até pode ser coincidente com o que ministro brasileiro verbalizou. Outra é o primado do Estado de Direito na democracia portuguesa, que até ao trânsito em julgado presume a inocência. Que os cidadãos anónimos até poderão ignorar mas, um juiz e ministro, não. E outra ainda é a graça que tem este ministro do governo de um país que, entre 180 países, ocupa a posição 105ª no Índice de Percepção da Corrupção de 2019, a falar da corrupção do e no país que, na mesma tabela, ocupa a 30ª posição.
O número de vítimas mortais da matança da Páscoa no Sri Lanka já vai nos 310 e, com 500 feridos, não parará por aqui. Começamos por saber que entre as vitimas havia um jovem português, recém casado em lua de mel, estilhaçado ali à frente da mulher, à mesa do pequeno almoço. E três dos quatro filhos de uma família dinamarquesa...
E ficou a saber-se que, a 9 de Abril, os serviços de informação locais enviaram um memorando ao Conselho de Segurança Nacional, alertando para a possibilidade de estarem a ser preparados ataques a templos católicos na Páscoa. E que essa informação não chegou ao governo, marginalizado pelo presidente da República, e que não tem assento naquele órgão.
E ficamos a saber que estes atentados, e estas centenas de mortos, não resultaram apenas de incompetência. Que neste país longínquo, com tanto Portugal lá dentro - o cristianismo é apenas uma das heranças portuguesas - a omissão do presidente da República, em guerra aberta com o governo (em funções depois de demitido pelo presidente mas reconduzido pelo Supremo Tribunal), tornou-o cúmplice e responsável por este acto hediondo. No mínimo tão responsável como quem o preparou, ou como cada bombista que se fez explodir para matar.
A quinta final, na Luz com o Marítimo, já ficou para trás. Foi vencida, e com distinção: grande exibição e 6-0!. Depois da eliminação da Europa, e nas condições em que aconteceu, e antes da deslocação a Braga, dificilmente se poderia esperar melhor.
O Benfica entrou - voltou a entrar - muito bem, a chegar ao golo logo aos dois minutos, num canto de laboratório, só possível por lá estar esse fantástico cientista que é João Félix. Chegou logo ao golo, sem qualquer penalti e sem nenhum jogador do Marítimo expulso. Nem de início, nem em nenhum outro momento, quando tantos tanto por isso fizeram.
Não se pode no entanto dizer que o Benfica tenha aproveitado esse golo para partir de imediato para uma grande exibição. Não. Descansou até um pouco em cima do golo e permitiu que o jogo fosse demasiado tranquílo durante alguns períodos da primeira parte. Com Seferovic infeliz como nunca se vira na finalização, o resultado chegou ao intervalo com esse golo único.
O Benfica entrou para a segunda parte de pé no fundo. E marcou o segundo logo ao quarto minuto (Pizzi). A partir daí os jogadores não mais levantaram o pé, e a equipa partiu à procura da perfeição. Encontrou-a e não mais a largou até ao fim do jogo. E foi uma delícia de ver!
E os golos foram aparecendo. Acabou na meia dúzia, mas o Marítimo bem podia ter repetido o 10-0 do seu rival do Funchal. Basta reparar que Seferovic, infeliz como nunca - hoje poderia lá estar a noite inteira a rematar, de toda a maneira e feitio, que a bola não entraria - ficou em branco e desperdiçou seis oportunidades claríssimas de golo. E que também Jonas ficou em branco, pese duas três oportunidades, daquelas que não costuma desperdiçar.
Uma goleada de meia dúzia - bis de João Félix e de Cervi, um de Pizzi e outro de Salvio -, sem golos do melhor marcador do campeonato, e sem golos de Jonas, parece estranho. Mas não é. É apenas o resultado do grande futebol que Bruno Lage trouxe para a equipa.
Faltam agora quatro finais. E muitas peripécias, certamente... Este jogo de hoje voltou a deixar muita gente assustada.
Comemora-se hoje o dia mundial da Terra. É assim, neste dia, que desde 1970 se chama a atenção dos povos, e dos poderes que sobre eles pairam, para a degradação do nosso planeta e da vida que sustenta. E que lhe dá sustentabilidade.
Não tem valido grandemente a pena... Mas vale sempre a pena continuar. Desistir será sempre pior!
É que continua a ser o único planeta que, por enquanto, temos para habitar...
Autêntica matança da Páscoa, no Sril Lanka. Duas centenas de mortos às mãos do mais ignóbil que poderá haver em seres ditos humanos. Não creio que sejam!