Deitada ao sol, linhas bem torneadas, biquini a condizer e bronze no ponto, captava os olhares de quem passava. De repente virou-se e ouviu-se, bem ouvido: "enchetes-me chea de area"!
Lembrei-me daquele jargão: "calado, és um poeta". Mas não batia certo no género. Então veio-me à cabeça: "calada poderias ser uma musa"...
Se são as últimas imagens as que ficam, nem sei bem com qual ficar deste último dia de férias...
O mundo novo que se abriu há quatro anos com o brexit, e com a eleição de Trump, está aí. À vista de todos, e com tudo à mostra.
Os últimos dias foram ricos em manifestações deste mundo novo. Como se não bastasse o que se passou na reunião do G7, e o que se está a passar na Amazónia, ou o apoio declarado e expresso de Trump à política e à personalidade de Bolsonaro, e ao brexit e a Boris Johnson, assistimos em Itália e no Reino Unido, a dois autênticos golpes de Estado. O primeiro, em Itália, à primeira vista, fracassado. O segundo, à primeira vista, bem-sucedido!
Em Itália, Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e representante deste novo mundo na paisagem política italiana, derrubou o seu próprio governo para seguir para eleições, atrás das sondagens que lhe prometem o reforço da sua expressão eleitoral e a possibilidade de conquistar o poder neste novo mundo. Saiu-lhe furado. As instituições italianas funcionaram e, em vez das eleições ambicionadas por Salvini, saiu um novo governo do actual quadro parlamentar, pronto a concluir a legislatura.
No Reino Unido, Boris Johnson fez diferente, mas com a mente no mesmo objectivo. Para concluir o brexit até à data de 31 de Outubro, o novo primeiro-ministro britânico e parceiro de Trump, decidiu fechar o Parlamento. Fechado, sem deputados a discutir e a votar, Boris Johnson decide sozinho como e quando abandona a União Europeia. Sendo que o quando é já, e o como é sem acordo. Custe isso o que custar, incluindo a própria integralidade do Reino Unido, porque do outro lado do Atlântico há um tio Sam a acenar com “tremendous” acordos comerciais. Fechado o brexit, parte para eleições. E, com as receitas conhecidas, ganhá-las-á – espera ele. Ele e os seus parceiros deste novo mundo!
Até aqui as coisas parecem correr-lhe bem. Mas ainda não são favas contadas. Há ainda muita coisa que lhe poderá correr mal. E pode até ser que nem corra tudo mal sempre aos mesmos…
A ideia já tinha passado cá por Portugal, aqui há 10 anos, lançada por uma senhora então candidata a primeira-ministra. Era um pouco mais ambiciosa, é verdade: propunha na altura a suspensão da democracia por seis meses. Foi agora recuperada por Boris Johnson, o homem certo para conduzir com êxito o brexit, que está a fazer tudo bem, como diz o presidente americano, para quem também Bolsonaro está a fazer tudo o que deve ser feito. Netanyahu, também, mas esse já nem precisa que Trump ande a dizê-lo...
Pois, o novo primeiro-ministro britânico, que não foi eleito porque a mais velha democracia da Europa também tem destas coisas, não foi tão longe como Manuela Ferreira Leite preconizava na altura, mas chegou lá. Como tem de tratar da saída sem acordo até 31de Outubro, e está visto que o parlamento, eleito democraticamente, só atrapalha primeiros-ministros não eleitos, requereu à rainha a suspensão do parlamento britânico por cinco semanas. Menos que 6 meses, é certo, e apenas o estritamente necessário para que esteja fechado sem incomodar o sócio de Trump na tramitação do brexit. Mas conseguiu, enquanto a experiência portuguesa ficou por terra... A rainha aceitou!
Marcelo faz tudo, está em todo lado, e é ainda responsável pela segurança dos hoteis. Pelo menos para o jornal de maior circulação nas mesas dos cafés ...
Dizem os jornais que na reunião do G7 - em Biarritz, pois claro - se falou da guerra comercial de Trump com a China, da tentativa de ainda salvar o acordo nuclear com o Irão e, acima de tudo, de salvar a Amazónia.
Mas do que se fala é de beijos e trocas de olhares "flirteiros". Do beijo, que Guterres parce achar atrevido, de Trump a Merkel. E de Justin Trudeau e Melania...
Nada como uma reunião entre os mais poderosos do planeta para mostrar que, no fim de contas, o mundo tende a procurar a ordem natural das coisas, mesmo que isso possa escapar ao anfitrião Macron!
O Benfica recebia o Porto na Luz, à terceira jornada, na condição de favorito, condição que lhe era atribuída pela história recente das duas equipas, e especialmente pela sua consistência exibicional no consulado de Bruno Lage. Nunca nos últimos largos anos o Benfica chegara a um jogo com o seu principal adversário com tanto favoritismo.
A vitória cavaria uma vantagem de seis pontos, que numa fase tão precoce da competição nunca seria decisiva, mas seria certamente muito determinante para as contas do título. Pelos seis pontos à maior, mas principalmente pelo élan que daria à equipa, uma jornada antes da sempre difícil deslocação a Braga.
A Luz era o espelho de tudo isto, cheia que nem um ovo, como vem sendo habitual, e vibrante de expectativa. O jogo, no entanto, destruiria toda a história que esse favoritismo anunciava.
No início parecia amarrado, mas depressa se começou a perceber que não era o jogo que estava amarrado, mas a equipa. Passado que foi o primeiro quarto de hora, sempre com a equipa do Porto muito pressionante sobre a bola e o sobre os epaços por onde ela poderia circular, ainda se mantinha a ideia de um jogo amarrado, que mais cedo ou mais tarde se haveria de soltar. Ao início do segundo quarto de hora essa promessa pareceu ganhar forma, com o Benfica a conseguir sair daquele colete de forças que Sérgio Conceição tinha montado, a começar a conseguir fazer circular a bola e a começar a empurrar o jogo para perto da área portista.
Só que uma perda de bola de Nuno Tavares - que voltou a estar infeliz, como já sucedera no último jogo, justificando-se a entrada de André Almeida, já recuperado e no banco - acabou no primeiro canto para o Porto. E do canto, numa carambola, com o corte de Ferro a levar a bola a bater em Rúbem Dias e a ressaltar para Zé Luís fazer um golo daqueles que se chamam de sorte.
Ia a primeira parte a meio, e equipa do Benfica nunca mais se econtrou.
Esperava-se que o intervalo pudesse mudar o rumo do jogo, mas cedo se percebeu que isso não iria acontecer. Taarabt surgiu no lugar de Samaris - também pouco feliz e fisicamente debelitado depois de um choque na cabeça que o deixou no chão por alguns minutos, sem que o árbitro Jorge de Sousa interrompesse o jogo para lhe ser prestada assistência - mas não se notaram melhorias.
Até porque no primeiro quarto de hora praticamente não se jogou, quase se podendo dizer que a segunda parte começou ao minuto 60. Os jogadores do Porto jogavam claramente com o relógio e com o resultado, coisa com que Jorge de Sousa, mesmo parecendo que se importava, mostrando por exemplo o amarelo ao guarda-redes portista por queimar tempo, não se importava nada. De cada vez que um jogador do Porto se mandava para o chão era falta. Já Rafa era ceifado, atropelado e empurrado mas, quase sempre ...nada.
Não se pode dizer que foi pelo árbitro que o Benfica não jogou mais, e muito menos que não ganhou. Mas que foi mais uma arbitragem habilidosa, foi!
O Porto ganhou bem, e Sérgio Conceição ganhou claramente a Bruno Lage. Anulou bem o jogo interior do Benfica, que vinha sendo o ponto mais forte do futebol do Benfica, e soube aproveitar bem as circunstâncias do jogo. O Benfica nunca conseguiu mostrar capacidade de dar a volta ao jogo, até porque Bruno Lage não foi também feliz nas alterações que foi introduzindo, e que o obrigaram a desiquilibrar a equipa.
Quando fez entrar Taarabt, o Porto parou o jogo. E Chiquinho acabou por se lesionar - e ao que parece com gravidade - já quando o Benfica tinha esgotado as substituições, pela entrada de Vinícius, já na fase de desespero. O segundo golo do Porto, por Marega - que minutos antes tinha falhado uma oportunidade idêntica - a 3 minutos dos 90, acabou por ser consequência do do desiquilíbrio da equipa, no seu forcing final, já com a jogar com dez.
O Benfica ainda chegaria ao golo, no entanto anulado por Jorge de Sousa. Por fora de jogo, que não se percebeu, mas que o VAR confirmou. Como no último jogo tinha feito Carlos Xistra, á revelia de toda a legalidade. Está difícil que Seferovic marque. A contar!
E pronto. De um hipotético cenário com 6 pontos de vantagem, com muitos golos marcados e nehum sofrido, passamos para a realidade de uma igualdade classificativa com o Porto. Com os mesmos 6 pontos, e os mesmos 7 golos marcados e 2 sofridos.
A tarde estava quente, mas a Luz não precisava um banho de água tão gelada.
... Mas não sei se têm dado pela ausência de Assunção Cristas. Se calhar não. Mas a verdade é que desapareceu, não foi só à casa de banho... Provavelmente à espera que as sondagens se esqueçam dela... Ou que a Amazónia deixe de arder...
O que já se percebeu é que não deve ter deixado a casa lá muito bem entregue ... Deve ter sido de propósito. Pelo que se vai vendo, quando voltar sempre vai poder dizer que, sem ela, as coisas ficam ainda pior...
A greve dos motoristas, o assunto do dia nas duas últimas semanas, acabou. Mas pelos vistos para dar lugar a outra, já a 7 de Setembro.
Dois dias foram o suficiente para mostrar que nada ficou resolvido, que tudo ficou na mesma. Ou talvez pior, depois de toda agente ter gasto tudo o que tinha para gastar. Ou ainda mais, como aconteceu ao governo, que ficou sem fôlego para intermediar o que pudesse ter sobrado para intermediar.
Vem aí outra greve... ou talvez não. Porque a cara da greve já é outra. A que tinha ficado conhecida, aproveitando isso mesmo, vai dedicar-se à política.
Como já se desconfiava. E vai ser cara de candidato às legislativas de Outubro, respondendo a um convite que se adivinhava.
Saído da onda de populismo, vai mergulhar nas águas profundas da política que está na moda. E que, para além de lhe estar na pele, é o que está a dar… Mesmo que para o convidante já não tenha muito para dar. Também ele já gastou tudo o que tinha para gastar. E depressa. E por isso precisa de reforços …
Não temos, felizmente em Portugal, nesta área política em expansão por todo o mundo, grandes histórias de sucesso para contar. Mas sabemos que as modas chegam sempre atrasadas ao nosso país, e sabemos que sempre começa assim. Com gente desta!
Sem que ninguém percebesse por quê, começou logo por ser apresentado como um herói do combate contra a corrupção. Porque é por aí que esta gente começa. Gente séria e atinada, como se percebe… Dessa que faz tanta falta à política e ao país…
Trump poderá não considerar absurda a proposta de comprar a Gronelândia à Dinamarca. Afinal já outros antes o tinham feito. E também não seria a primeira vez que os Estados Unidos comprariam território no estrangeiro ...
Não pode é considerar absurda a recusa dinamarquesa em lha vender. Já a retaliação, com o cancelamento da visita programada para dentro de duas semanas, nao deverá deixar grande mágoa nos dinamarqueses...
Quando se fala também numa visita de Trump a Portugal, é pena que não lhe passe pela cabeça comprar ... sei lá ... as Berlengas ... Não sei é se não lhas venderiam, e ele vinha mesmo ... Para assinar a escritura!
Acabou a greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas, como há muito estava escrito nas estrelas. O que virá a seguir não se sabe, mas sabe-se o que ficou.
E o que ficou é uma história que não acabou, e que deixa muito para ser reflectido.
A actividade destes trabalhadores integra a fileira do negócio da energia, e dos combustíveis em particular, um dos mais rentáveis da economia nacional, onde muitos ganham muito, incluindo o Estado. Até há não muito tempo o transporte de combustíveis, fazendo jus à fileira que integra, estava a cargo das próprias refinadoras. Os motoristas que faziam esses transportes eram trabalhadores da Petrogal, ou da Galp, como agora se chama, e dispunham de condições de trabalho e de remuneração enquadradas nos padrões da maior empresa nacional.
Com a chegada da economia de subcontratação esses postos de trabalho foram transferidos para pequenas e médias empresas (PME) transportadoras, prontas a prestar esse serviço a preços muito inferiores aos custos da operação nos gigantes da refinação, num negócio interessante para ambas as partes, como convém que sejam os negócios. As petrolíferas cortavam custos e alargavam margens, e as transportadoras ganhavam negócio certo e sem risco, com uma carteira de clientes robustecida pelas empresas que mandan no país, imunes às oscilações da economia.
Com a consolidação da economia de subcontratação, e instaladas no novo negócio, as PME do transporte foram fortalecendo o M e abandonando o P e, com a propaganda do empreendedorismo e da doutrina do "crie o seu próprio posto de trabalho", passaram também elas a recrutar por subcontração no novo exército de mão-de-obra que desaguava da onda de empreendedorismo que desabava sobre o país. Empreendedores que adquiriam os seus tractores importados velhos da Europa e assinavam os contratos de leasing, que rapidamente se transformavam em corda na garganta.
Este estado de coisas arrastou as remunerações para um sistema de salarial baseado no salário mínimo nacional complementado por um conjunto de remunerações variáveis. Que no conjunto poderia até ultrapassar a média de remunerações do país, baixa como se sabe, porque o país tem um problema de salários - como agora reconhece o primeiro-ministro - mas que, na hora do infortúnio (doença, acidente, etc.) e na da reforma, não passava do salário mínimo.
Patrões e sindicatos das centrais sindicais pareciam viver bem com estas coisas. E assim passaram vinte anos... E assim surgiu a oportunidade para novas coisas surgirem.
Não sei se "a ocasião faz o ladrão", mas a oportunidade cria o oportunista. E ele surgiu. Primeiro, há quatro meses, de surpresa. E agora, já sem o efeito surpresa, com tudo premeditado. Mas também com tudo bem preparado, do outro lado.
Ouvimos agora dizer, no anúncio das negociações para amanhã, que não há vencidos nem vencedores. Que venceu o diálogo.
Não me parece. Parece-me que só há vencidos. Nem mesmo o governo, por todos dado por grande vencedor, e em cuja actuação grande parte dos analistas políticos vê um grande passo do PS para a maioria absoluta. Não tenho dúvidas que no curto prazo o governo sai a ganhar, mas tenho ainda menos que tudo o que fez vai ter fortes repercussões futuras.
Abriu precedentes que poderão abrir portas que a democracia tem a obrigação de manter sob vigilância, quebrou barreiras que não mais se reerguerão, e destruiu regras de que iremos sentir falta no futuro.
Sabemos que o país aprecia o exercício da autoridade. E sabemos que António Costa aprecia que a chancela da autoridade se junte à das "contas certas", os dois rótulos que faltavam ao seu partido, e que considera fulcrais para consolidar o poder.
Estas contas podem ter acabado certas. As outras, as que o primeiro-ministro diz que vai agora fazer aos custos da greve, poderão também não dar grande preocupação. Mas ficam muitas outras por fazer. E essas dificlmente virão a bater certas!