Desde as eleições europeias que Assunção Cristas vive num sentimento de insegurança, que as sondagens só têm agravado. A insegurança é sempre um sentimento desconfortável, que facilmente se transforma em pânico. Particularmente quando o chão foge debaixo dos pés a grande velocidade, como lhe vem acontecendo. Há quatro anos era poder, e há apenas dois julgava ter conquistado Lisboa e o país. Era líder de oposição e haveria de ser primeira-ministra!
Continua desaparecido, o Benfica de Bruno Lage. Mesmo que hoje, e terminado este ciclo de quatro jogos com adversários da geografia dominante do campeonato - o Minho, com cinco equipas do distrito de Braga, e sete num raio de 30 quilómetros, é a capital da Liga 2019-20 - tenha estado na Luz, diante do Vitória Futebol Clube (também merece ser assim designado), um Benfica um bocadinho melhor que o dos últimos três jogos.
Começou a perceber-se essa ligeira melhoria logo que foi dado o pontapé de saída: mais querer, mais pressão e menos passes errados. Mas só isso, até porque a primeira grande oportunidade foi incrivelmente desperdiçada por Seferovic, mas em fora de jogo. E o primeiro remate - do Benfica e do jogo - surgiu já a primeira parte ia a meio. Finalizações e vislumbre de oportunidades de golo, só mesmo nos minutos finais da primeira parte.
O adversário não facilitava, é certo. Defendia - só defendia - com uma linha de seis à frente do guarda-redes, e logo com outra de quatro dois metros à frente. Nem sequer pressionava para além dessa linha de trinta metros à frente da sua baliza. Nada que, pelas suas palavras, tivesse surpreendido Bruno Lage, que afirmou estar a contar com isso.
E começa por aí o drama deste jogo de hoje. E desta fase que o campeão nacional atravessa. Contra um adversário fechadíssimo lá atrás, e a pensar em apenas defender a sua baliza, a equipa do Benfica, mesmo que prevenida disso, como o seu treinador declarou, escalou Gedson para jogar na frente, ao lado de Seferovic. Quando, no banco, estavam 37 milhões de euros de pontas de lança, contratados esta época...
Não admira por isso que, mesmo jogando um pouquinho melhor que nos últimos jogos, o Benfica tenha chegado ao intervalo com poucas situações de golo criadas, com poucas finalizações e apenas três remates à baliza.
A segunda parte iniciou-se com Gabriel, no lugar de Fejsa. Na frente, tudo na mesma, e foram até os sadinos, que na primeira não tinham saído do seu meio campo, a fazer os dois primeiros remates à baliza. E criaram até uma oportunidade para marcar, anulada por um excelente corte de Rúben Dias.
Estava já a esgotar-se o primeiro quarto de hora quando Bruno Lage fez entrar o segundo ponta de lança, Carlos Vinícius, em substituição de Pizzi, o mais desaparecido dos mais influentes jogadores do Benfica. Que precisou de menos de cinco minutos para fazer o que ninguém conseguia fazer - o golo. Que acabaria por ser salvador, e dar os três pontos.
A partir daí, e com o jogo dominado e controlado, esperava-se que o Benfica pudesse salvar a exibição e, senão regressar às goleadas perdidas, pelo menos consolidar a vitória. E a festa estaria de volta à Luz, com quase 60 mil nas bancadas, se o árbitro Tiago Martins - que, com Fábio Veríssimo, faz a dupla dos mais fracos e descarados árbitros dos últimos anos - não tivesse refinado a sua evidente acção persecutória. Porque, claro, do VAR já estamos mais que conversados. Estão sobre pressão, como disse o outro...
Para trás tinham ficado um penalti por assinalar sobre Rafa, um cartão vermelho por mostrar a um jogador vitoriano, numa entrada sobre o mesmo Rafa, mais uma escandalosa série de dualidade de critérios, sempre em prejuízo dos mesmos, foras de jogo mal assinalados e até lançamentos laterais trocados. Dava cabo da cabeça dos jogadores encarnados, e á primeira reacção contemplava-os com o cartão amarelo. Foram três, assim. A expulsão de Taarabt, aos 80 minutos, foi apenas "a cereja no topo do bolo". Que acabou com o que se esperava fosse o reaparecimento do Benfica.
É certo que uma equipa como a do Benfica não pode, mesmo com dez, contra este Vitória, perder o controlo do jogo. Tem, mesmo assim, que ser superior. Mas tem de também de admitir-se que, mais que a inferioridade numérica, tenha sido a adversidade da arbitragem a pesar sobre os jogadores.
Se é da adversidade que vem a força, pode até ser que esta encomenda tenha vindo por bem, e esteja por aí a chave da porta da recuperação.
Regresso aos sinais dos tempos que vivemos. Tempos estranhos, carregados de preconceitos que subvertem os verdadeiros problemas do nosso mundo, particularmente nas sociedades desenvolvidas, autenticamente viradas do avesso.
Na semana passada fomos surpreendidos com um estranho autoflagelo do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, uma das vedetas da actual política internacional. Em plena campanha eleitoral, também no Canadá, veio a lume uma fotografia de uma festa de finalistas, há para aí uns 30 anos, em que o jovem Trudeau surgia maquilhado de escuro, num disfarce de Aladino, logo usada pela paranóia instalada dos tempos que correm para ser acusado de racista.
Quando se esperaria uma reacção de denúncia da infundada e abusiva acusação, completamente contra-senso, foi o próprio Trudeau que veio de imediato assinar por baixo, publicamente mostrar arrependimento e pedir desculpa pelo acto cometido na juventude, e do qual se sentia profundamente envergonhado.
Aquele acto de contrição, de violento autoflagelo, era ainda mais paranóico que a acusação inicial. E por isso mais chocante!
Trudeau não pedia desculpa por um acto racista que ninguém de bom senso reconhece, e que bem sabe não cometeu. Reagia apenas ao medo que marca os tempos que correm, num acto de tremenda cobardia perante essa tenebrosa tribo do preconceito politicamente correcto. Trudeau não a combateu, como a condição de líder mundial lhe impunha, juntou-se a ela e deu-lhe ainda mais força.
Não admira por isso que no início desta semana tivemos assistido a mais uma demonstração desta força das trevas. Desta vez a desdita caiu que nem uma bomba em cima do Bernardo Silva, a estrela da selecção nacional de futebol e do Manchester City, e por sinal uma joia de moço. Limitou-se a uma brincadeira, no Twitter, com um seu colega de equipa e amigo, o francês Mendy – negro, evidentemente - prontamente correspondida pelo seu interlocutor, usando uma imagem de um boneco negro de uma conhecida marca de chocolates.
A turba não perdoou, e saltou em comentários enfurecidos e queixas e denúncias por todo o lado. O rapaz apagou o que escrevera, mas já não lhe valeu de nada. A Federação inglesa abriu um inquérito por comportamento racista. Diz-se que poderá ser castigado com 7 jogos de suspensão!
A ASAE chegou a uma livraria dos Olivais e apreendeu um livro. O único exemplar disponível do "Gémeas marotas", um livro publicado nos anos 1970 e reeditado em 2012, de autor desconhecido que assina pelo pseudónimo de Brick Duna, que contas estórias eróticas de duas gémeas - "marotas", já se vê .
Tem inegáveis semelhanças gráficas com os livros da coelhinha Miffy, do holandês Dick Bruna - cujo nome é também puxado para o pseudónimo, como é de evidente e óbvia prova -, e é por isso confundível à vista com um livro infantil. No entanto, na livraria onde foi apreendido o seu exemplar único estava, como, contam outros livreiros, sempre esteve ao longo dos anos em que o tiveram à venda, na secção para adultos, longe portanto do acesso a crianças.
Perante o que pareceria o mais estúpido acto de censura, a acção da ASAE aparece a ser justificada por questões de direitos de autor, justificação não menos estúpida. Se apreender por acto de censura um exemplar único de um livro publicado há quase 50 anos é absurdo; não o é menos admitir que o holandês, falecido há dois anos, ou quem o representa, demorasse 50 anos a perceber que alguém lhe estava a violar direitos de autor. A própria editora do holandês veio já negar qualquer iniciativa desse tipo, até porque simplesmente desconhecia a existência do livro em causa.
Diz-se agora que a iniciativa foi do Ministério Público ... E que isto acontece semanas depois do padre Gonçalo Portocarrero de Almada, em acção missionária permanente no Observador, a propósito de nada que viesse a propósito, ter dado expressão à sua revolta contra as "gémeas marotas". Provavelmente com a autoridade de quem nasceu na Holanda, e apoquentado com os direitos de autor de um cidadão holandês... Ou simplesmente um maroto como outros!
Desapareceu há um mês, sem deixar rasto, equipa de futebol conhecida pela qualidade, variedade e velocidade do seu jogo e pela pressão alta sobre os adversários, que sucessivamente caíam a seus pés, invariavelmente goleados. Responde pelo nome de "Benfica de Bruno Lage".
Há quem tenha julgado avistá-la nos últimos dias, entre Lisboa e o Minho, mas foi sempre falso alarme. Diz quem se aproximou que, abordada, confidenciou identificar-se por "Benfica de Rui Vitória".
Não desistiremos de te procurar. Volta depressa. Há um 38 à tua espera!
Depois de ter percebido que tinha elevado Centeno à categoria de marca, Rui Rio quis emendar a mão. Quando as coisas até parecem estar a recompor-se, simplesmente inverter tudo, virar a coisa do avesso, e trocar Centeno por Sarmento, não seria grande ideia. Nem suficiente, e decidiu acrescentar-lhe um passo, propondo um debate a dois. Entre os dois Centenos, que já pretendia entre os dois Sarmentos.
E tratou logo de adiantar que quer o seu Centeno quer o seu Sarmento já tinham aceitado!
Para quem não acredita em sondagens - evidentemente que ainda está para nascer quem acredite em sondagens desfavoráveis - nos últimos dias, à entrada do período oficial da campanha, as coisas parecem claramente mais bem encaminhadas para Rui Rio. Ganhou novo ânimo, e isso nota-se. De tal forma que até já teve que encontrar, à última da hora, um ministro das finanças ...
Conhecem-se marcas que, de tão enraizadas nos consumidores, se confundem com os próprios produtos. Digamos que é o estado supremo da imagem de marca, quando ela atinge a sua dimensão máxima de comunicação. Todos nos lembramos daquela coisa com que fazemos a barba e a que chamamos Gillette. Da esferográfica descartável, a que chamamos BIC. Da caixa de plástico a que chamamos Tupperware. Da pastilha elástica a que chamamos Chiclets. Do todo-o-terreno a que chamamos Jeep. Do Post-it, do Kleenex, ou até da recente UBER...
Este fenómeno de comunicação e marketing acontece frequentemente à primeira marca a identificar uma necessidade, e a oportunidade de negócio que lhe está associada, e a apresentar a respectiva solução. Quando uma marca cria um novo produto para um novo mercado.
O que não se conhecia, e ficou desde ontem a conhecer-se, é que este fenómeno também acontece na política, e em particular na governação. O produto ministro das finanças chama-se agora Centeno!
O PSD ganhou as eleições regionais na Madeira à rasquinha. Perdeu a maioria absoluta, que mantinha desde sempre - há 43 anos, tantos quantos conta a História do estatuto autonómico - e apenas vai conseguir manter o poder porque, coligado com o CDS, tem mais um deputado que a esquerda. Ganhou à rasquinha e mantém o poder à rasquinha!
E no entanto, para Miguel Albuquerque foi uma vitória clara, inequívoca e estrondosa.
Mas nem assim o líder regional do partido e do governo conseguiu arrebatar o prémio do absurdo da noite eleitoral. O "non sense" absoluto ficaria mesmo para o apelo de Paulo Cafôfo ao CDS, e ao pleno da coligação negativa. Para o número 1 da lista do PS geringonça é coisa do passado. Agora é preciso passar para a geringonça com piruetas e mortais encarpados à retaguarda.
Já chegamos à Madeira?
PS: "Já chegamos à Madeira", vulgarmente utilizada em expressão de espanto, surpresa ou até de absurdo, é uma velha expressão mas não uma expressão velha. É bem nova. Há quem diga que decorre de se fazer no Funchal a primeira escala no transporte dos militares para a guerra colonial. Aí saídos, e pela primeira vez soltos das amarras da família e da ordem militar, os mancebos explodiam. Quando regressavam ao barco não eram mais os mesmos. E a ordem e o aprumo de até aí transformavam-se em caos para o resto da viagem.
O Benfica voltou à competição interna, e voltou à equipa A para o nosso campenato. Mas nem por isso mais inspirado!
Mesmo assim, com pouca inspiração, e nem sempre com muita transpiração, ganhou este jogo em Moreira de Cónegos, com uma remontada no marcador nos últimos cinco minutos. E talvez não o tenha merecido ganhar, mesmo que todas as varíáveis estastísticas que medem o jogo lhe tenham sido todas favoráveis: 60% de posse de bola, o dobro dos ataques, e mais do que isso nos remates, e mais oportunidades de golo.
Mas não foi a equipa que melhor jogou, as estatísticas nem sempre dizem toda a verdade do jogo.
O Moreirense entrou mehor no jogo, pressionante sobre a bola e os adversários, e ocupando todos os espaços do campo que, como se sabe, naquele campo são menos que noutros. E praticamente dominou o jogo no primeiro quarto de hora. Esse período acabaria no entanto com a única oportunidade golo a pertencer ao Benfica, desperdiçada por Pizzi, precisamente aos 15 minutos.
Seguiram-se 20 a 25 minutos em que o Benfica se superiorizou claramente no jogo, chegando a ter períodos de verdadeira asfixia. E quando se pensava que estava encontrada a fórmula para mandar no jogo e construir a vitória, viu-se que não. O Moreirense recompôs-se e voltou a encontrar a sua zona de conforto no jogo, donde não voltaria a sair até ao final da primeira parte.
Como nos últimos jogos as segundas partes têm sido invariavelmente melhores que as primeiras, esperava-se um Benfica melhor para depois do intervalo. Só que a equipa entrou como que apostada em dar uma prenda ao Moreirense. De tal forma que o golo dos minhotos, logo dois minutos depois do reinício, não apanhou ninguém de surpresa. É que naquele reinício os jogadores do Benfica não conseguiram sair da frente da sua baliza - cada vez que iam a sair, perdiam a bola.
Com o golo sofrido, e com aquela incapacidade de sair com a bola, o futebol do Benfica perdeu-se, e esqueceu-se de todas as ideias que lhe têm sido habituais. Apenas Rafa pegava no jogo e, com Taarabt, na equipa. Nada mais funcionava, e Bruno Lage parecia sem capacidade de reacção.
Apenas aos 66 minutos tirou Fejsa, que já nada acrescenta à equipa, para estrear o regressado Gedson, já que Samaris, sabe-se lá porquê, está desaparecido. E só dez minutos depois, Pizzi, a quem nada saía bem, para entrar Caio.
Querendo ficar-se apenas por dois, e não podendo ir além de três, os que sairam tinham de ser aqueles. E, pelos que estavam no banco, os que entraram dificilmente poderiam ser outros. Ou seja, substituições bem feitas, mesmo que não tenham resultado, como nada no Benfica estava a resultar.
Poderia ter entrado Jota, que sempre tem mais minutos de jogo que qualquer dos outros. Mas esse ficou para o fim, estando já junto à linha lateral, para entrar, quando em plena fase de desespero, mais com o coração do que com a cabeça, mesmo que tenha sido de cabeça, o Benfica chegou ao empate, por Rafa - quem mais? - ao minuto 85. Rafa ... de cabeça!
E se Jota estava para entrar para procurar o empate, encontrou, três minutos depois de ter entrado, o golo da vitória num cruzamento perfeito para a cabeça de Seferovic, que fez explodir a onda vermelha em Moreira de Cónegos.
Seferovic voltou aos golos, fez saltar a festa e, ao contrário da última vez, festejou como deve ser. Agora falta Raul De Tomás ... completamente engolido por uma espiral depressiva. Começou por não marcar, mas jogar. Passou a não marcar, nem jogar. E já vai em não marcar, não jogar ... e a atrapalhar.