Fecha-se um ano e uma década. Uma década que teve de tudo um pouco. Teve troika, e muitos sacrifícios. Teve incêndios. Teve BES. Teve Sócrates. Teve revolta, muita revolta, ainda assim menos revolta do que se justificaria. Mas também teve momentos de euforia e de exaltação colectiva, alguns únicos e irrepetíveis.
E teve Quinta Emenda, que deseja a todos os leitores e visitantes um bom Ano de 2020!
Não diga mais nada, Senhor Presidente. É que se não disser mais nada até que as doze badaladas soem no Corvo, fecha com chave de ouro este último ano da década. Não estrague (mais)!
Com tudo pacatamente à espera que as horas passem até que cheguem as últimas doze badaladas do ano, e com o Presidente a despachar a comenda do Jorge Jesus para fazer as malas de partida para o Corvo, não se passa nada. É uma chatice... Não fosse o "sempre em pé" Augusto Santos Silva ter dito umas coisas, que não deixam de ser verdade mesmo que as não devesse ter dito - logo ele, pouco senhor da verdade -, e não se passava mesmo nada.
É verdade que não se passa nada, na mesma. Mas fala-se. E fala muita gente. E levou troco: "as afirmações proferidas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros só podem ser entendidas por terem sido ditas por alguém que, vivendo fechado em ambientes palacianos, há muito que não sai à rua para ver como o mundo lá fora gira e avança". O que também não deixa de ser verdade!
Que grande equipa construiu Nuno Espírito Santo em Woverhampton!
Com seis portugueses - quatro jovens da nova fornada do futebol português (Diogo J, Rúben Neves, Rúben Vinagre e Pedro Neto), mais um jovem veterano de 33 anos (João Moutinho), e ainda Rui Patrício - no espaço de dois dias a equipa de NES recebeu e venceu o Manchester City, de Guardiola e campeão em título, com uma exibição espectacular e uma não menos notável reviravolta no marcador (0-2 para 3-2), e deslocou-se a Anfield Road para discutir, como nenhuma outra equipa ainda fizera, o jogo com o campeão europeu e do mundo, e indiscutivelmente a melhor equipa mundial da actualidade.
Só uma grande equipa e superiormente orientada consegue fazer aquilo que os Wolves hoje fizeram a este grande Liverpool de Klopp, que alcançou hoje a 18ª vitória nos 19 jogos disputados nesta edição da Premier League (numa série inédita de 18 vitórias e um empate), num jogo em que o resultado foi determinado por duas decisões muito discutíveis do VAR, validando o golo da vitória dos reds, que o árbitro havia considerado irregular, e anulando o golo do empate, que o árbitro havia validado.
No golo do Liverpool, o árbitro viu que a assistência de Lalana para Mané foi feita com o braço. O VAR viu que foi com o ombro. No do Wolverhampton o árbitro não viu qualquer irregularidade, mas o VAR descobriu um fora de jogo daqueles que nem as linhas esclarecem, no início da jogada, quase um minuto antes de Pedro Neto rematar para a baliza.
Mas não é apenas por estas incidências arbitrais que a derrota é de todo injusta para a exibição da equipa de NES. É que, depois de sofrer o golo, aos 42 minutos, reagiu de imediato (o golo foi-lhe anulado três minutos depois) e foi sempre superior de toda a segunda parte: Rui Patrício foi apenas mais um espectador do jogo!
Dá gosto ver jogar esta equipa. E é excitante ver estes miúdos da "armada portuguesa" a jogar à bola. Como excitante é Traoré, um miúdo que carrega talento, velocidade e repentismo em cima de uma invulgar massa muscular. Em Barcelona deve haver muita gente incrédula com este lobo!
António Costa bem quis convencer o pessoal que não houve cheias nenhumas, ou que o que aconteceu não teve a menor importância. Sobrara apenas um pequeno dano colateral, quando o ministro do Ambiente meteu os pés pelas mãos, e até aconselhou as vítimas a mudarem-se para outro lado, mas nada de grave.
O problema, mais uma vez, foi o Presidente. Marcelo hoje meteu-se a caminho, foi até lá e, literalmente, agitou as águas. As cheias do Baixo Mondego são afinal um problema. E nacional. E elogiou "a resistência" das populações com que o ministro (que ouviu das boas) tinha brincado. Ou, no mínimo, tratado com pouco respeito.
No dia a seguir ao Natal as notícias costumam ficar-se pelo rescaldo das festividades e pelos números – sempre dramáticos - da operação da brigada de trânsito da GNR. Desta vez poderiam passar ainda pela mensagem natalícia do primeiro-ministro, exclusivamente dedicada à Saúde, até porque as cheias já aconteceram há muito tempo, e são assunto arrumado pelo ministro do Ambiente, e entrar directamente na intrujice.
Mas como intrujice é coisa que por cá não falta, a notícia do dia foi outra. É revelada por um jornal diário e diz que um banco pagava 2 mil euros por mês à mulher do seu presidente, que não era funcionária nem prestava qualquer serviço ao banco.
O rumor correu muito tempo pelos corredores do banco, e acabou por chegar ao Banco de Portugal. O banqueiro, que primeiro se achava apenas vítima de perseguição e de calúnia anónima, viria a confirmar tal situação numa carta, justificando que esse era o preço a pagar à mulher pela estabilidade emocional que lhe garantia, indispensável ao seu bom desempenho. Que a mulher era o seu fator de equilíbrio, que era professora e abandonara a profissão para se dedicar em exclusivo à tarefa de velar pelo seu equilíbrio emocional, e que tinha colocado essa condição quando tinha aceitado a presidência do banco.
No que toca a remuneração de banqueiros já nada nos surpreende. Estamos habituados a tudo, de remunerações milionárias a pensões pornográficas. E normalmente perdoamos-lhe tudo, mesmo quando acabamos por perceber que afinal somos nós sempre a pagar isso tudo.
Só que a “estória” não acaba aqui. O homem terminou o seu mandato, bem-sucedido certamente, e foi no mês passado reeleito para um segundo. A circunstância motivou uma entrevista a uma estação de rádio e a um jornal durante a qual, questionado sobre a subvenção da mulher, negou tudo. Negou o que afirmara por escrito e até que o tivesse feito, e garantiu mesmo que a mulher era professora e que nada tinha a ver com o banco.
Apanhado, não deu mais respostas. E foi então fonte oficial do banco a vir a público garantir que o seu presidente se referira apenas à situação no seu atual mandato.
É isto. São estas as elites que temos… e é nesta intrujice que vamos vivendo. E parece que já nem se pode dizer que a falta de vergonha desta gente é uma vergonha. Mas é mesmo!
É porque há notícias destas que temos que acreditar que nem tudo está perdido. No futebol, como é o caso, como na vida. Nas nossas vidas ...
A notícia anda aí, e corre depressa: num jogo de futebol a contar para o campeonato distrital de juvenis de Castelo Branco, entre os miúdos do Vila Velha de Ródão e do Sporting da Covilhã, a equipa da casa, por razões diversas, que vão da dificuldade de recrutamento a lesões e gripes, apenas conseguiu apresentar-se com oito jogadores. Então o treinador dos leões da Serra decidiu que a sua equipa alinharia igualmente com oito jogadores.
Tem 27 anos, e acha que mais importante que ganhar é dar bons exemplos. É bom que haja quem pense assim. E é fantástico que haja gente que pensa assim a trabalhar com miúdos, e logo naquilo que eles mais gostam de fazer!
Dantes chamavam-lhe "bons exemplos". Agora já não há. Hoje fala-se de "boas práticas", que não é bem a mesma coisa. Nem pouco mais ou menos!
Em cima da passadeira da caixa do supermercado duas garrafas de óleo alimentar, um garrafão de água e dois sacos de pão. No chão ficara o cesto, com mais dois sacos de pão.
Ao ver que a operadora registara já tudo o que estava à boca da caixa, o cliente que a seguia na fila chamou-lhe a atenção: olhe que ainda está isto no cesto. Segurando na mão um cartão multibanco e uma fita de papel donde não desviava o olhar, a mulher respondeu com um simples "deixe estar, é para ficar".
Três euros e noventa e seis - ouviu-se da operadora da caixa. A mulher voltou a olhar para a fita de papel: "então tire este saco de pão". Contrariada a funcionária retirou o saco, teclou, e de novo, nom mesmo tom de voz: "três euros e cinquenta e cinco".
A fila, que não parava de crescer, começava a dar sinais de impaciência. Já sem necessidade de voltar a olhar para a tira de papel de poucas linhas, ouve-se: "só pode ser três euros e trinta e três". E de seguida pede à operadora para retirar uma carcaça, ou duas, se fosse preciso, do último dos quatro sacos de pão que havia recolhido para o seu cesto de compras.
A operadora fechou por fim a conta, e a mulher passou o cartão na máquina, introduziu-lhe o código e recolheu as suas compras, enquanto a funcionária explodia: já viu o pão que se estragou por sua causa?
Terceiro da fila, senti uma raiva irreprimível a subir-me pelo corpo acima. Uma raiva que se tornou insuportável quando me dei conta que acabara de assistir a tudo aquilo sem sair da fila, e sem me chegar à frente e pedir à funcionária que repusesse todo o pão retirado.
É Natal, dizem... Sim, já senti raiva neste Natal!
A polémica à volta da Direcção Informação da RTP culminou esta semana na demissão da directora e da respectiva equipa. Tudo começou com a emissão de uma reportagem da equipa do “Sexta às Nove” sobre a exploração de lítio em Montalegre que, pronta desde o início do Verão, apenas acabaria no ar depois das eleições. Para se agravar com uma investigação a supostas irregularidades no Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM) e acabar num confronto entre Maria Flor Pedroso, a directora de Informação, e a jornalista Sandra Felgueiras. Que reabriria a velha "guerra" entre o chamado jornalismo de referência e o sensacionalista, ou de tablóide.
Confesso que me surpreendeu a oportunidade da abertura desta “guerra” – que existe e é saudável -, que começou com perto de centena e meia de jornalistas, maioritariamente pesos-pesados, a subscreverem uma declaração de apoio à até aqui directora de informação da RTP, que alegara neste processo questões de honra. Em resposta surgiram os defensores da jornalista, e das teses do Conselho de Redacção da RTP, que alegavam questões de facto.
E aqui está a razão da minha surpresa: princípios jornalísticos, ética e deontologia, debatem-se. E é todo um debate que faz sentido nesta dialéctica entre duas formas quase antagónicas de fazer jornalismo. Questões de honra, em oposição a questões de facto, é que não.
Abriu-se assim um debate enviesado que rapidamente se deslocou do eixo jornalismo de referência/jornalismo sensacionalista para um outro, que opõe jornalistas institucionais, instalados, de sorriso fácil para o poder, a jornalistas incómodos, capazes até de fazer cair banqueiros e ministros.
As contas para a aprovação do Orçamento estão há muito feitas. Depois de, por soberba ou por sobranceria, ter descartado a geringonça, o PS passou a olhar à volta à espera de sinais de abertura ao cortejo, e logo o PSD Madeira se apressou a piscar o olho.
O dote exigido já não era pequeno, mas tudo aponta agora para que a parada suba. Ontem Mário Centeno foi ao Funchal, certamente com a ideia de acertar detalhes. Só que chegou tão atrasado que o Albuquerque mandou-o dar uma volta, e o flirt virou problema latente. E lá volta o PS à lengalenga de que ninguém compreenderia que os partidos de esquerda não viabilizassem o Orçamento. Uma lengalenga que, da boca de Carlos César, sai a cheirar ainda mais a chantagem.
O PS não quis assumir responsabilidades em acordos, mas quer impô-las aos outros como se tivessem sido acordadas. É um bocado como aqueles - ou aquelas - mais dados a aventuras extra-conjugais que, quando as coisas correm mal, lá voltam a casa à espera que tudo esteja no lugar.