Ao PS não bastou passar-lhe pela cabeça indicar Vitalino Canas - personagem que sempre viveu à sombra do partido, a cheirar o tacho, e que acha que isso lhe deu 40 anos de preparação para Juiz do Tribunal Constitucional - insistiu, mesmo depois da natural reacção da opinião pública a tamanha desfaçatez, em levar o seu nome à indispensável votação parlamentar.
Não sei se a isto se chama arrogância, se obstinação fundamentalista. Mas depois da humilhação pública que resultou da votação da Assembleia da República (nem os votos de todos seus deputados conseguiu arregimentar) ouvir a líder parlamentar e número dois do partido, em vez de, com humildade democrática, reconhecer o tiro no pé, dizer que o Parlamento está a bloquear o funcionamento das outras instituições já nem vale a pena procurar adjectivações.
Palavras para quê? É um artista português, como dizia o velho anúncio. Ou, dito de outra forma, é cada vez mais o regresso do PS em todo o seu esplendor!
O Carnaval já lá vai, e o Entrudo até já foi a enterrar. Guardaram-se umas máscaras, mas ficaram outras, que duram para lá do Carnaval. Mais assustadoras. Que metem mais medo!
Medo é talvez a palavra-chave desta semana. Infundido pelo Covid-19, o nome atribuído ao coronavírus, e pela forma como se está a espalhar. Mas mais ainda pelos mais insondáveis interesses de uma obscura ”indústria” do medo interessada em lançar o pânico como caminho para o caos.
Mas medo também temos quando percebemos que, numa matéria tão decisiva como a localização de um aeroporto, que anda em discussão há dezenas de anos, depois de tudo anunciado, negociado e assinado com pompa e circunstância - mesmo ainda antes de recebidos todos os necessários pareceres, depois emitidos à medida, e os pássaros não são estúpidos - tudo fica bloqueado por uma obscura lei com 10 anos, feita de interesses e objectivos incógnitos, e que ninguém levou a sério.
Medo temos que ter da leviandade com que nos governam. Da leviandade com que um governo quer mudar, à medida, uma lei que lhe não serve. Da leviandade com que a ignorou. E da leviandade com que vem agora dizer que, se não há mudança da lei, não há aeroporto. Nem drama. Nem debates apocalípticos!
Medo, a sério, temos de tanta incompetência e de tamanha irresponsabilidade. Leviandade é eufemismo!
Foi a hecatombe. Todas as quatro equipas portuguesas foram varridas da Liga Europa logo à primeira, numa brutal demonstração das fraquezas deste pobrezinho futebol português. E ainda ouvíamos por aí uns iluminados a dizer que a Liga Europa era a competição europeia à medida dos clubes portugueses...
Mas pronto. Aí estão agora todos contentes, limitados à competiçãozinha interna que faz de conta que é competitiva.
Com três equipas a jogar em casa, todas com derrotas tangenciais e com golos marcados fora na primeira mão, apenas o Benfica não perdeu. Mas não ganhou nada com isso, com um empate a 3 golos, e foi afastado pelo Shaktar Donetz.
Na primeira parte o Benfica conseguiu superiorizar-se claramente ao adversário ucraniano. Fez o primeiro golo - cheio de classe, por Pizzi - bem cedo e ficou logo à frente da eliminatória. Mas por pouco tempo. Logo a seguir, com mais um auto-golo, mais uma vez de Rúben Dias, o Benfica deitou fora a vantagem. Voltou a marcar, na redenção de Rúben Dias, que marcou na sequência de um canto, e saiu para o intervalo com a eliminatória empatada. E sem tirar qualquer vantagem da superioridade que de facto exibiu, e que lhe deveria ter permitido resolver logo ali tudo o que havia para decidir.
Entrou bem na segunda parte, fez logo o terceiro, numa falha da defesa adversária. E voltou a ter a chave do sucesso na mão. Só que essa vantagem não durou mais de dois minutos. Num canto, e no primeiro remate, o Shaktar fez o segundo golo. Um remate, dois golos.
É azar? É! E é mais da quando, ao segundo remate, faz o terceiro e o empate final. Um remate feliz, ainda por cima na sequência de um corte em que a bola poderia ter sobrado para qualquer sítio menos para aquele.
Mas a verdade é que na segunda parte o Shaktar fez do jogo o que quis. Sempre com um futebol superior, estruturado, onde tudo saía com naturalidade, sem esforço. Controlou o ritmo do jogo como bem entendeu, explorou todos os espaços que Benfica concedeu, entrou como e por onde quis, numa banhada monumental de Luís Castro a Bruno Lage. Chegou até a parecer uma equipa do topo do futebol europeu. Que não é, nós é que estamos engolidos pela mediocridade, a anos luz da simples mediania.
Parasitas é o nome do filme coreano que arrancou os principais óscares de Hollywood deste ano, o que deixou Trump particularmente irritado. Onde é que já se viu um filme com legendas? - perguntou ele. Que passam tão depressa que nem dá para ler - acreditamos nós que não terá dito, mas terá pensado.
Esta semana tivemos conhecimento de uma publicação científica que dava conta da descoberta de um animal que não precisa de oxigénio para viver. Chama-se, diz a publicação, Henneguya salminicola e vive, como o nome quase deixa adivinhar, alojado no salmão. Mais concretamente nos músculos. É um parasita, com a elegância documentada na foto.. Mas um parasita de última geração: 5.0, para aí... Da geração que terá percebido que podia bem viver sem a maçada de ter que respirar, que será certamente a aspiração máxima de qualquer parasita. A perfeição!
E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? - perguntarão. Nada, à excepção do nome, nada liga o filme à descoberta científica.
E o que é que tem ver com Trump? Não sei. Mas não ficaria supreendido se ele viesse agora dizer que isto é que são parasitas a sério. Sem legendas. Americanos. Nascidos e descobertos na América. Great again!
O covid-19 tem mantido a sua marcha galopante, arrastando consigo à mesma velocidade uma vaga de medo que hoje condiciona claramente o mundo, com o cancelamento de uma imensa panóplia de acontecimentos mundiais, e com impacto significativo em padrões económicos e até sociais.
A OMS já anunciou que ninguém está preparado para enfrentar o vírus, e que a pandemia está iminente. As infecções espalham-se pelo mundo e, na China, no epicentro de todo este terramoto, tudo saiu já fora de controlo.
O que se está a passar por estes dias na China poderá vir a passar-se dentro de pouco tempo um pouco por todo o mundo: um autêntico círculo de destruição da capacidade de resposta das estruturas de saúde, onde o vírus surge como uma espécie de íman trágico, a captar e destruir recursos que não só não o conseguem combater, como lhe abrem caminho à sua propagação ao faltarem, e desprotegerem, todos os restantes cuidados básicos e gerais de saúde.
Cenário mais medonho é difícil, e sabe-se que, em circunstâncias críticas desta natureza, tão - ou mais? - importante como controlar o mal é controlar o medo. Sabemos também que as ditaduras se saem melhor nessas tarefas, lidar com o medo é a sua especialidade. Por isso mais medo ainda com o medo que claramente de lá vem.
O regime chinês fez tudo para controlar tudo. Silenciou, como só estes regimes sabem silenciar. E mesmo assim, provavelmente, nunca da China se soube de tanto medo como agora...
Era um dos mais importantes jogos desta Liga para o Benfica, este de Barcelos, com o surpreendente Gil Vicente, de Vítor Oliveira. Pelas dificuldades que o Gil coloca aos adversários, especialmente em casa, onde apenas tinha perdido uma vez, num jogo atípico, com o Moreirense. E onde tinha vencido Porto e Sporting. Mas, mais ainda, pelas dificuldades próprias da actualidade do Benfica, que vinha de quatro jogos sem ganhar e de seis sucessivamente a sofrer golos.
Pela primeira vez em muitos meses o Benfica entrava em campo sem ocupar o primeiro lugar, e obrigado a recuperá-lo. Não ganhar este jogo significava o adeus à liderança, e muito provavelmente, por muitos jogos que ainda faltem e mesmo que Maio esteja ainda a três meses de distância, o adeus ao título. Porque sabe-se o empolgamento que isso legitimamente daria ao rival do título, e a mossa que um quinto jogo consecutivo sem ganhar, e o rápido esfumar de uma gorda vantagem de sete pontos, faria na equipa.
Hoje não se podia pedir à equipa do Benfica que invertesse o nível exibicional dos últimos jogos, que jogasse bem e que regressasse ao futebol que em Dezembro deslumbrava os adeptos. Hoje exigia-se ao Benfica que ganhasse!
E ganhou. E ganhou bem. Sem mácula, e com justiça. Teve maior domínio do jogo, mais bola e mais melhores oportunidades de golo, mesmo que não fossem muitas. Mas não jogou bem, é verdade. Mas também não era isso, hoje, que se exigia. Nem poderia ser!
O Benfica entrou bem no jogo, assumindo desde logo o comando das operações. E chegou cedo ao golo, logo aos 15 minutos, por Vinícius, de cabeça, na primeira - se não considerarmos a finalização de Pizzi, logo no início - oportunidade que criou. Que foi certamente a chave do jogo. Muitas das dificuldades da equipa nos últimos jogos, e flagrantemente no da última jornada, com o Braga, nasceram da acentuada quebra de eficácia na finalização.
Com Samaris no onze, o meio campo ganhou segurança e a equipa consistência. E isso foi notório, especialmente na primeira parte, onde a superioridade do Benfica foi mais evidente, mesmo que com poucas oportunidades de golo. Curiosamente a equipa criou mais, e mais claras, oportunidades para chegar ao golo na segunda parte, em que o Gil Vicente dividiu mais o jogo, equilibrando-o durante largos períodos.
Logo na arranque da segunda parte Carlos Vinícius desperdiçou uma claríssima oportunidade para bisar. A meio da segunda parte, Taarabt abriu o livro e, numa jogada individual espectacular, atirou com estrondo à barra. Pouco antes de sair, esgotado, Vinícius voltou a ser protagonista de mais uma excelente oportunidade e, já na parte final do jogo, foi ainda Cervi, recém entrado para substituir Rafa, a estar perto do golo.
O lado esquerdo da defesa beneficiou muito da presença de Samaris, e hoje esteve na direita o elo mais fraco. Defensivamente Tomás Tavares passou por muitas dificuldades, mais criadas pelo próprio que pelos adversários. A eficácia do passe melhorou um bocadinho, mas a decisão final, em Pizzi, mas especialmente em Rafa, continua muito abaixo da qualidade aceitável.
Fica a vitória, afinal o que hoje era verdadeiramente inegociável. E a liderança segura por um ponto, até que melhores marés venham.
Passar pela cabeça de alguém propor Vitalino Canas para o Tribunal Constitucional seria um absurdo. Propo-lo mesmo, com todas as letras, é uma tragédia. A tragédia de um PS cavernoso, do vale tudo, incapaz de perceber o que lhe aconteceu e o que aconteceu ao país... Mas acima de tudo a tragédia de um país que não consegue ser levado a sério!
Quando tanto se fala de radicais, acaba de desaparecer o mais radical dos portugueses. E muito provavelmente de todos os radicais o mais brilhante!
Vamos ter saudades da inteligência, da perspicácia, da argúcia e do "killer instinct" que, se a política fosse um local bem frequentado, teriam feito de VPV um dos mais extraordinários actores da política portuguesa dos últimos anos.