Quando meio país está a banhos e a outra metade a arder, os agentes de topo da nossa Justiça resolveram brindar-nos com um sem número de preciosidades. Provavelmente dispostos a mostrarem-nos que aquela história das férias judiciais não passa de um treta, e que mesmo quando todo o país está em férias eles aí estão, sempre no activo. Mais activos do que nunca!
Pena é que gente tão dinâmica, pró activa e qualificada tenha canalizado toda a sua energia para uma guerra civil que o país bem dispensava. Se tivessem colocado toda essa vasta gama de recursos consistentemente ao serviço dos superiores valores da Justiça, e em particular dos da investigação, não teríamos tantos e tantos casos que nos envergonham. Aos nosso olhos e aos do mundo… Sim, porque Maddie e Freeport, entre outros, levaram a nossa vergonha para além fronteiras. Envergonham-nos por essa Europa e por esse mundo fora!
O Procurador Geral da República (PGR) é o superior hierárquico dos procuradores do Ministério Público. Está no topo de uma hierarquia que ele próprio designa de “simulacro de hierarquia”, naquela sua célebre alusão à Rainha de Inglaterra.
Porquê? Porque a hierarquia está nessa aberração sindical. Quem manda no Ministério Público é o respectivo Sindicato. Que desrespeita, desautoriza, desafia e mina o PGR.
O principal responsável pelo que se passa no Ministério Público é o PGR. Uma responsabilidade formal mas que não se efectiva a partir de uma autoridade exercida.
Porquê? Por falta de poderes, conforme reclamava o PGR?
Não sei nem faço a mínima ideia se ao PGR faltam poderes. Mas parece-me que lhe falta coragem para utilizar os que tem. Para que quer mais poderes se não tem coragem para usar os que tem?
Esta guerra entre o Ministério Público (MP) e o PGR não é a dimensão pública de divergências ocasionais. Não é uma discussão pontual. É uma guerra civil entre um MP entrincheirado num inaceitável sindicato (para quando um sindicato dos deputados? E dos ministros?) e um PGR refém da falta de coragem política há muito instalada no país, que se verga a todos os corporativismos que lhe surjam pela frente.
Esta é uma guerra que, como os incêndios que foi deixando para segundo plano, vai destruindo o país consumindo-lhe as últimas réstias de esperança. Esta é uma guerra que permite notícias como esta do Expresso desta semana: Cândida Almeida negociou com os procuradores que queriam ouvir o primeiro-ministro – eles não levariam por diante essa ideia e, em troca, poderiam juntar as tais listas de perguntas por fazer ao despacho de arquivamento.
E nisto não se sabe para que serve o ministro da Justiça. Melhor, sabe-se que não serve para nada! É que, com tudo isto, o processo Freeport retirou ao governo toda e qualquer capacidade de intervenção na Justiça. Que continua a alimentar o lume brando em que o vai continuando a fritar. Irremediavelmente!
A complexidade do sistema financeiro, nome atribuído ao manto com que se cobre, e onde se enrola muito enroladinho para que tudo continue a passar entre os pingos da chuva, tem destas coisas.
Com a resolução que há seis anos, feitos esta semana, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, cozinhou com a União Europeia, poderia pensar-se que o BES ficaria morto e enterrado sob o nome de banco mau. E que teria nascido um banco bom, para fazer vida como Novo Banco, até que alguém o aperfilhasse e lhe desse um nome porventura mais apelativo.
Hoje sabemos que o banco bom era tão mau como o mau, e que ninguém o quis aperfilhar. Acabou por ter que ser dado a uma família de acolhimento que, para ficar com ele, exigiu uma pesada pensão de alimentos, que nos custa os olhos da cara.
E sabemos que o banco mau, em vez de jazer tranquilo, continuou a sua vidinha, a escavar o buraco em que o deixaram. De tal forma que o buraco já triplicou. E hoje o BES não tem capacidade para responder por mais que 2,8% do buraco em que está metido. Parece que já há que lá meter uns 6,5 mil milhões de euros.
Não se sabe muito bem por quê. Sabe-se que paga salários, e que o salário médio é superior a 4 mil euros mensais, provavelmente porque, num banco a jazer estendido, há grandes decisões a tomar e pesadas responsabilidades a remunerar.
A dívida do seu fundo de pensões cresceu ao mesmo ritmo, e também já triplicou desde 2014. Essa já é mais fácil de perceber, basta lembrar que, só a Ricardo Salgado, continua a pagar uma pensão de 90 mil euros por mês.
Não se indignem. Tem mesmo que ser assim. É preciso pagar-lhe todos os meses 90 mil euros para que ele possa pagar, também todos os meses, os 39 mil que dessa pensão lhe foram arrestados em 2017.
Deixa um terço do que tira. Mas, de outra forma, Ricardo Salgado não pagaria nada. Nem teria por onde…
Há 75 anos - pelas 8h15 da manhã de 6 de agosto de 1945 - o Enola Gay, pilotado pelo americano Paul Tibbets, lançou sobre Hiroshima a primeira bomba atómica da História.
Seguir-se-ia, três dias depois, Nagasaki. E o mundo mudou, para sempre. O Japão imperial foi obrigado a aceitar uma rendição que não cabia no seu quadro mental, e a Guerra acabaria logo a seguir. Na realidade já tinha acabado, e na realidade o mundo poderia ter- se poupado a tamanha tragédia.
A maior mudança não foi imediata. Nem o fim de uma guerra que já tinha acabado. Foi a nova consciência que Hiroshima e Nagasaki trouxeram ao mundo. A consciência que a Humanidade adquiriu que aquela era a maior ameaça que já conhecera.
Uma consciência que fez com que, por mais que sempre em perigosos equilíbrios de terror, tivessem passado três quartos de século sem que bombas atómicas voltassem a ser lançadas para destruir o futuro da Humanidade.
Tal como há a época balnear, agora no auge, a época de saldos - que já não safa ninguém da crise –, a época tauromáquica - mesmo na Catalunha onde a época é, mais do que nunca, de contestação a tudo o que possa cheirar a hispânico -, ou a época da caça, que apesar de também já contestada lá vai sobrevivendo, também há a época do futebol.
O que nenhuma das outras tem é a pré-época. Têm defeso, mas não pré-época!
A época do futebol, a mais longa de todas, vai de Agosto e Maio. A pré-época é assim como que um período antes da ordem do dia, que se espalha pelo mês de Julho, mesmo nos anos em que há fases finais de europeus ou mundiais. Ano sim, ano não!
A pré-época consegue ainda ser mais animada que a própria época. Só encontro paralelo na maternidade: quando ser pré-mamã é muito mais animado que ser mamã. Calma, falo apenas de animação!
São as contratações dos grandes craques todos os dias nas primeiras páginas dos jornais que, evidentemente, precisam de vender e sabem muito bem como é que isso se faz. São as vendas das nossas jóias da coroa, bem seguras pelas famosas cláusulas de rescisão que entraram na moda em tempo de vacas gordas mas que não servem para nada quando as vacas são magras.
Alguns ainda tentam uns artifícios para aproximar o preço de venda ao da cláusula de rescisão, mas nem assim.
O Sporting, que nunca deixara sair Veloso e João Moutinho, agarrado a cláusulas de rescisão de gente grande, acabou por deixá-los passar do prazo de validade. Um apodreceu mesmo, ao que se disse! O Porto está agora a repetir em dose dupla a experiência de Quaresma de há dois anos. O Benfica lá deixou ir o Di Maria por valores bem abaixo da dita, a lembrar também a saída da última jóia – o Simão! O Ramires não tinha cláusula de rescisão, aí nem foi necessário invocá-la. Como metade do passe já tinha sido vendido a uns tipos cujo negócio é números, tinha que se lhes fazer a vontade. Sob pena de, na próxima curva de aflição, não haver ninguém disposto a antecipar uns cobres…
A pré-época do Benfica fica, no entanto, indiscutivelmente marcada pela polémica em torno do novo guarda-redes – Roberto – que o futebolês já aqui abordou. Não se fala mais nisso, pronto. Até porque uns tipos lá na Sport TV, a pensar que ninguém os ouvia, também resolveram brincar com isso e o Benfica não gostou. E a Benfica TV ainda menos!
Mas também fica marcada pela necessidade de alterar a matriz táctica e a estratégia de jogo. Porque o Di Maria lá foi, a tempo e horas, para o Real Madrid de Mourinho e o Ramires já está, a esta hora, em Londres. No Chelsea de Abramovich. Foram-se os jogadores das alas. Claro que ainda por cá está o Fábio Coentrão, que corre o risco de, depois da revelação da época passada a lateral esquerdo, se transformar na revelação desta época na ala esquerda. E fica ainda marcada pelo ponto final na discussão de Cardoso: sem ele não há golos. Com ele parece que marcar golos é mesmo a coisa mais fácil do futebol. Sem ele é a mais difícil!
A pré-época do FCP fica marcada pela contratação da maçã podre e pela pose dos seus números 2 e 3 junto da caixa registadora. Pose abandonada agora pelo capitão Bruno Alves, rumo á longínqua Rússia. Para o Raul Meireles é que não há fumo branco!
Também por mais um roubo ao Benfica – o miúdo colombiano, James Rodriguez. Mas há ainda quem ache que fica marcada pela contratação de mais um novo craque, um brasileiro de 20 anos, Walter de seu nome. Que permaneceu umas largas semanas no Porto sem assinar nem dar sinais de vida. Eu não acho: é que, como o moço é analfabeto – veio do Brasil sem saber ler nem escrever – apenas esteve a aproveitar as novas oportunidades e a aprender a escrever o nome, para então poder assinar o contrato.
Mas a marcar mesmo a pré-época portista ficará seguramente a saída do Vítor Baía! Veremos!
A pré-época Sporting fica antes de mais marcada pelo sucesso das vendas de Moutinho e Veloso, dois objectivos perseguidos há alguns anos. Um sucesso que começou a ser preparado logo no arranque da pré-época quando a nova equipa técnica, sob a batuta firme do director desportivo, atacou o problema que bloqueava toda a máquina do futebol leonino: a questão do capitão de equipa!
Mas seria injusto se não referenciasse como a principal marca da pré-época do Sporting a preparação não de um, não de dois, mas de três sistemas de jogo alternativos. É isso mesmo. O Paulo Sérgio conseguiu implementar três sistemas tácticos na equipa. O adversário nunca saberá o que vai encontrar. Os treinadores adversários não farão outra coisa que não seja correr atrás da táctica do Sporting, sempre em mudança. Quando, no primeiro Benfica-Sporting, virem o Jorge Jesus andar a correr ao longo da linha lateral já sabem: anda a correr atrás da táctica do Paulo Sérgio!
O problema é que em Alvalade parece que não dão assim tanto valor à paleta de tácticas. Ainda vamos na pré-época e não há quem os convença a parar com os assobios. Quando chegar ao Natal...
Mas eu não acompanhei apenas a pré-época em Portugal. Também dei um saltinho a França! E gostei mesmo da pré-época do Paris Saint Germain, oPSG do nosso Pauleta! Confesso que gostei do que fizeram…
E, já agora, repare-se nos mercados dos três grandes: o Benfica vendeu para o Real Madrid e para o Chelsea. O Sporting, para o Porto e para o Génova. E o FCP para o Zénit, da antiga cidade de Lenine. É sintomático! Apenas o glorioso tem acesso ao primeiro mercado!
E pronto, a pré-época chegou ao fim – aí está, com a supertaça, a nova época 2010/2011. Já amanhã. Eu gostaria que começasse bem. Pelo menos sem pedras! E sem isqueiros! E sem vidros partidos...
Beirute voltou a arder. Duas explosões praticamente seguidas e de rara violência - diz-se que provocou ondas sísmicas equivalentes às de um abalo de 3,3 graus na escala de Richter e que foram ouvidas na ilha de Chipre - fizeram regressar o sangue, a morte e o caos a Beirute.
Pensou-se que era o regresso da guerra ao Líbano, um dos mais martirizados do Médio Oriente. Dizem-nos que não. Que se tratou da explosão de cerca de 2.750 toneladas de de nitrato de amónio, há seis anos guardados num depósito junto ao porto, depois de aí terem sido apreendidos, provocada por uma intervenção de soldadura para tapar um buraco que permitiria roubos. Trump no entanto diz que não: "Eu falei com os nossos generais e parece que não foi um acidente industrial. Parece, segundo eles, que foi um ataque, uma bomba".
Aconteceu no fim-de-semana, apenas ao fim do dia de ontem foi conhecido, e é hoje notícia do dia. Juan Carlos, o ainda rei emérito de Espanha, partiu para o exílio. Saiu do país pela porta pequena. Não, não tem a ver por onde saiu - pelos vistos pela Galiza, com passagem pelo Porto - mas pela forma como saiu. Com o rabinho entre as pernas...
A imprensa hoje entretém-se a adivinhar o seu destino. Não se percebe onde esteja o interesse, mas é assim. Há gente para quem é mais importante saber o destino que a origem. E não é por qualquer razão filosófica que possa defender que o que importa é onde se chega, não de onde se parte. Também não tem a ver com os fins a justificar os meios, porque aqui só há princípios e fins.
Na circunstância concreta do monarca, bons princípios a que faltaram princípios para bons fins. A princípio correu bem. Subiu ao trono na agonia do franquismo, assegurou a transição para a democracia e assegurou a impossível unidade nacional espanhola. Depois é que veio o diabo. Vestido de mulher, como tanta vez. E começou a faltar-lhe em princípios o que passou a sobrar-lhe em caça grossa...
Não importa para onde seguiu. Até porque reinará para onde quer que vá. E, como já há cinco séculos dizia John Milton, reinavam por cá os Felipes, é melhor reinar no inferno do que servir no céu!
Neste início de Agosto, o mês em que o país pára – se bem que parado pareça estar há muito –, em que nada se passa, algo se mexe e nos prende a atenção. Dois acontecimentos que parece nada terem em comum. Mas se calhar até têm!
A presidente da Câmara de Rio Maior, Isaura Morais, após cinco anos de agressões físicas e psicológicas sob a forma da mais cobarde violência – a violência doméstica, que se vale do silêncio das paredes da intimidade, da indiferença da sociedade e da vergonha social – teve a coragem de dizer basta e apresentar queixa na Polícia Judiciária.
Uma lição de coragem, a mesma coragem que me lembro de ver anunciada, ao lado da sua fotografia, num cartaz da sua candidatura à Junta de Freguesia de Rio Maior, nas penúltimas autárquicas: coragem de romper com o ciclo de medo e de vergonha, coragem de dar nome às nódoas negras que lhe marcavam o corpo, coragem de enfrentar o mais manipulador, perigoso e cobarde de todos os agressores, coragem de não se deixar escravizar pela função que ocupa e coragem de enfrentar uma sociedade que pensa que a violência doméstica é flagelo exclusivo das suas margens.
Que grande lição quando, com toda a dignidade, se enfrenta o mais indigno dos crimes!
O Procurador Geral da República (PGR), não se sabe bem com que objectivo mas claramente no quadro das circunstâncias do arquivamento do chamado processo Freeport, veio reclamar da falta de poderes: era como a Rainha de Inglaterra, disse!
Não foram palavras de coragem. Eventualmente não foram um exemplo de dignidade.
Porque não é verdade que o PGR não tenha poderes: teve poderes suficientes para tomar as decisões que tomou, por exemplo, no processo Face Oculta, quando se opôs às decisões do Procurador de Aveiro, tornando a coisa porventura ainda mais oculta. E porque, quando aceitou o cargo – se bem me lembro vai para quatro anos – conhecia as competências que o integravam. Não compete a quem aceita um cargo público discutir as suas competências, compete-lhe conhecê-las e aceitá-lo ou recusá-lo.
O PGR não dignificou o cargo, um dos mais altos e prestigiados do Estado, nem contribuiu para outra coisa que não seja o aprofundamento do contínuo descrédito da Justiça. Tal como, conforme descreveu na altura o Jornal de Notícias, o Tribunal de Peniche: quando lhe foi apresentado o agressor da Presidente da Câmara de Rio Maior, detido por posse ilegal de duas armas de fogo e duas brancas, encontradas pelos inspectores no quarto onde o casal dormia na residência da autarca, o Tribunal, apesar de todos os indícios e até de ameaças de morte, mandou-o em liberdade apenas com termo de identidade e residência.
Rui Rio perdeu o pé, e entrou no desespero em que tudo lhe serve desde que dê pata agarrar. Bastou António Costa lançar uns piropos à esquerda para Rio se virar para André Ventura, à procura aconchego. A aconchegar-se.
Rui Rio não percebeu que não estava a agarrar-se ao Chega. Estava a dar -lhe a mão. Não percebeu que André Ventura, e o Chega, podem até estar a crescer muito mas, por muito que cresçam, sozinhos nunca chegam onde pretendem chegar. Que, ao dar-lhe a mão, não se está a agarrar, está a puxá-lo para cima.
André Ventura, mais esperto, sabe que dali não tinha nada a perder. Agarrou a oportunidade que Rio lhe ofereceu de bandeja e, em vez de sair de lá, como desastrada e ingenuamente Rio lhe propusera, chamou-o para lá. E sob ameaça: se não vier, destrói-o.
Em política, como no resto, os erros pagam-se. Rui Rio começa a correr riscos de insolvência...
Depois de ter oferecido o campeonato, como se não fosse pouco, o Benfica resolveu oferecer também a Taça ao Porto. Uma oferta em dobradinha!
Isto não quer dizer que o Porto não tenha feito o que lhe competia, que se tenha limitado a receber as ofertas. Não. Quer no campeonato, quer hoje em Coimbra no jogo da final da Taça, pela primeira vez sem público, o Porto fez, com as armas que tem, o que lhe cabia fazer: ganhar e fazer com que o Benfica tivesse merecido perder.
O início do jogo começou por confirmar isso mesmo. Com o Porto a tomar a iniciativa e o Benfica simplesmente em reacção. Já o jogo ia nos 20 minutos quando o Benfica conseguiu chegar ao jogo, mas mesmo assim sem grande convicção. Mas deve dizer-se também que, depois do quarto de hora inicial, nunca mais o Porto esteve por cima do jogo, que se tornou até aborrecido e pouco digno de uma final.
Aos 37 minutos o árbitro Soares Dias - não há mais árbitros em Portugal para arbitrar estes clássicos - errou ao mostrar o cartão amarelo ao Luiz Diaz, como já errara quando lhe mostrara o primeiro, bem cedo no jogo. Como errara ao mostrá-lo, logo a seguir, a pedido do Sérgio Conceição, ao Rúben Dias. No segundo amarelo ao jogador do Porto, o erro é que o cartão a mostrar era claramente o vermelho.
Vermelho que, também na sequência de duplo amarelo, mostraria a Sérgio Conceição, afastando-o do banco. A custo, porque foram precisos largos minutos para que o treinador do Porto saísse do campo.
No tempo que decorreu até ao intervalo não houve jogo. Foi tempo para tudo - incluindo para, pelo menos Octávio, dever também ter seguido o caminho do balneário - menos para jogar à bola.
Há duas circunstâncias de um jogo de futebol em que a superioridade numérica se torna irrelevante: quando a equipa com menos jogadores opta por apenas defender, concentrando todos os jogadores na sua área; e nas bolas paradas, onde a respectiva estratégia não é influencidada por haver mais ou menos um jogador em campo.
O Porto conseguiu - e o Benfica permitiu - reduzir o jogo a estas duas circunstâncias. E assim ganhou o jogo e conquistou também a Taça.
Logo no arranque da segunda parte Vlochodimos deu um mote, oferecendo o primeiro golo de uma forma inacreditável. Num livre, com sete colegas de equipa à sua volta, conseguiu a proeza de colocar a bola na cabeça de Mbemba, sozinho no poste contrário, e praticamente sem ângulo.
E claro, o Porto juntou os seus 10 jogadores à frente da sua baliza. Com os jogadores do Benfica sem chama, nem engenho, nem futebol para contrariar isso. E sem construir uma única oportunidade para marcar.
Uma dúzia de minutos depois da oferta de Vlachodimos, novo pontapé livre - as faltas inventadas pelos batidos jogadores do Porto foram uma constante, sempre com a complacência de Soares Dias, que teve até o desplante de mostrar um amarelo a Vnícius (que entrara entretanto) depois de Pepe, dentro da área, se ter feito passar de agressor a vítima - e, novamente Mbemba, que pareceu em fora de jogo, mas que as famosas linhas deram posição legal por 3 centímetros, fez o segundo golo.
Foram as únicas duas vezes em que, em toda a segunda parte, o Porto chegou à baliza do Benfica. Que continuava sem saber como furar aquela barreira defensiva. Veríssimo metia avançados em cima de avançados, incluindo essa preciosidade que se chama Dyego Souza, mas sem conseguir melhor que a primeira oportunidade de golo já À entrada do último quarto de hora. Vinícius rematou de cabeça contra o solo, mas a bola subiu antes de entrar na baliza.
E daí até ao fim, para além do golo, dez minutos depois, num penalti convertido por melhor marcador do campeonato, apenas mais uma jogada que poderia ter acabado em golo, e um remate de Jota ao poste. Que poderia ter dado o empate, mas não deu.
Nos escassos (para as substituições e as paragens sucessivas que os jogadores portistas impuseram ao jogo) 5 minutos de compensação voltou a não haver jogo. Como naturalmente interessava ao Porto!
E assim, com mais um decepcionante exibição desta destroçada equipa, os jogadores do Benfica fecharam uma época que já só queriam que acabasse. A estrutura, essa que estava dez anos à frente da concorrência, sem olhar para trás, vai agora continuar a ensaiar saltos para a frente.