Há nove anos também tivemos orçamento. Cheirava muito a queijo mas tinha vida. Havia vida para além do orçamento e nem se ouvia falar de défice, quanto mais de vida para além dele. Também não se falava de dívida e, de mercados, só fosse do peixe, do Bulhão ou da Ribeira!
E no entanto, de repente, quando ninguém esperava, chegou o pântano! O pantanal veio por aí fora, mais rápido e surpreendente que um tsunami, e transformou tudo num imenso e pelos vistos insuportável lamaçal!
O governo fugiu, e o país, nas palavras de alguém que também haveria de fugir pouco depois, viria a ficar de tanga!
Hoje, nove anos passados, o país secou, secou e … de pântano transformou-se num inferno. A arder por todo o lado. Insuportável!
Ontem terá sido o dia D. Um vento mais forte de um quadrante qualquer fez alastrar as chamas a uma velocidade maior que a do tsunami. E o governo volta a fugir!
Vai fugir como fugiu o de Guterres mas até a tanga já nos leva. Agora deixa-nos nos nus e descompostos! Espero que fiquemos também envergonhados!
É hoje claro que para o primeiro-ministro aquilo não passou de baile. Não era para levar a sério, era para continuar a fazer de conta. O seu parceiro de tango é que, como agora se vê, parece que levou aquilo um pouco mais a sério!
Entretanto o primeiro-ministro lá ia deixando correr o marfim. Num país virtual, ora tecnológico ora de novas oportunidades, em second life.
Percebia-se que o par dançava cada vez mais afastado, num tango já sem ponta de sensualidade. Nem um ligeiro encosto, um leve sarrafar!
Até que chegamos à beirinha do orçamento. O Presidente da República quer um orçamento negociado entre os dois para garantir a sua vidinha sem chatices: é música para os ouvidos de Sócrates! Que, porém, nada faz para se aproximar do par, que até parece cheirar mal dos sovacos, a precisar de patcholi.
Passa a dançar a solo, substituindo a música: agora é o Estado Social, tocado até à exaustão. Até o disco ficar riscado!
Claro que sabíamos no que ia dar a conversa do Estado Social. Simples: aumentar impostos mas nunca cortar na despesa! Subliminar: não reduzimos a despesa do Estado para não pôr em causa o Estado Social e para combater o défice temos que aumentar impostos. Outra vez!
Já ninguém se lembra que há quatro meses se havia acordado aumentos de impostos mas também redução de despesa! E que todos garantiam a pés juntos que não haveria mais aumentos de impostos!
E pronto! O ministro das finanças, como se acabasse de ser apanhado por uma enorme surpresa, a mesma surpresa do disparo do défice nos últimos dias do ano passado, lança o grito de desespero: digam-me como é que eu consigo reduzir o défice em 4,5 mil milhões sem aumentar impostos?
Logo a seguir é Pedro Silva Pereira: se não aprovam o nosso orçamento com os impostos que quisermos vamos embora. Já hoje, e desde Nova Iorque, é o primeiro-ministro que o confirma.
Está visto: esta gente, para reduzir o défice, só conhece um instrumento e uma única maneira de lhe mexer: aumentar impostos, ir-nos ao bolso!
Eu, por mim deixava-os ir embora. De vez e para bem longe. Pena que não fiquem a arder nas chamas do inferno que aqui criaram!
Ficamos hoje a saber que nos Estado Unidos, e nos restantes países mais desenvolvidos, esta crise epidemiológica deverá chegar ao fim no terceiro ou no quarto trimestre do próximo ano, mas que é possível que regressemos à normalidade já no primeiro ou no segundo trimestre.
E quem é que nos vem dizer estas coisas, a apontar para a luz no fim do túnel?
Um grupo de cientistas de um conglomerado de universidades mundiais? A OMS? Um departamento especializado de uma estrutura europeia ou americana de que nunca tínhamos ouvido falar?
Não. Nada disso. Quem nos diz isto é uma consultora americana de negócios: a McKinsey!
Que explica - não fossemos nós duvidar - que, depois de desenvolvida a vacina, e da sua aplicação a parte suficiente da população, bastam seis meses para ser criada a imunidade de grupo. E que todos estes passos cabem no seu calendário se a produção da vacina permitir rapidamente a disponibilidade de milhões de doses, se as cadeias de distribuição forem eficazes e se milhões de pessoas se disponibilizarem para ser vacinadas logo na primeira metade de 2021.
Uma empresa de consultoria empresarial poderá intervir na capacidade de produção e na gestão da eficácia da distribuição. É aí que está o seu negócio. Já a descoberta e os testes da vacina, e o processo de vacinação, que é só o que verdadeiramente está em causa, são tudo coisas que não lhe dizem respeito, e que extravasam completamente o seu campo de intervenção.
Mas isso não interessa nada, como diria a outra. O que interessa é que a mensagem passe e chegue onde terá de chegar. Nem que para isso se tenha de descer ao nível da banha da cobra.
E depois não querem que os consultores tenham má fama...
Acabei de regressar do Brasil, onde voltei precisamente dez anos depois. Por mera coincidência, de novo em tempo de campanha eleitoral!
Voltei pois a encontrar um país em campanha eleitoral. Encontrei um país com algumas diferenças mas uma campanha eleitoral bem diferente.
Sempre um Brasil de dupla face – sinais de desenvolvimento próprios de uma potência mundial convivem, lado a lado, com os mais evidentes sinais de terceiro-mundismo –, mas agora um país que todo o mundo cobiça. Qual garota de Ipanema, filha adoptiva do talento de Vinícius (…olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…) que todos querem para namoradinha!
Nunca antes o mundo olhou para o Brasil deste jeito!
Um país que todos os dias atinge novos máximos nos mais diversos índices, a fazer lembrar aquelas semanas loucas das bolsas. Batem-se sucessivos recordes e cria-se a ideia que o limite é o céu. Depois cai tudo, mas isso é outra estória! Esperemos que seja!
Foi este país que vim encontrar, mas … em campanha eleitoral.
A primeira sensação foi que não tinha chegado a sair de Portugal. Sucesso atrás de sucesso, cada indicador melhor que o outro. Os milagres do Estado Social… Estava ali tudo, não faltava nada: aquilo era o discurso que eu ainda levava nos ouvidos. E, no entanto, estava do outro lado do oceano! O país era outro mas o discurso era o mesmo. Fantástico! Nunca antes tinha visto uma coisa assim!
Depois do choque inicial comecei então a perceber as nuances do discurso. Comecei por perceber que os dados e os indicadores que sustentavam o discurso faziam sentido. São produzidos pelo INE lá do sítio – o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – variam a sério, não em cagésimos, são lidos correctamente e impressionam mesmo!
Mas era um discurso cheio de “nunca antes”. Nunca antes de Lula, claro!
Todos aqueles dados e indicadores impressionantes têm uma única referência: o Presidente Lula. O mérito por tudo o que de bom se passa hoje no país é dele. E só dele! Há já quem diga que se eliminará Pedro Álvares Cabral para entregar a Lula o mérito do descobrimento do Brasil!
É este o registo de uma campanha eleitoral onde o presidente se sobrepõe ao candidato. Destinada a assegurar uma continuidade dinástica, bem mais própria da velha linha latino-americana que das democracias modernas do mundo que hoje namora o Brasil, e onde o presidente não se comporta de forma condizente com o seu prestígio pessoal. Bem maior no exterior do que internamente!
É preocupante, e bastante questionado em sectores insuspeitos da sociedade brasileira, este envolvimento e esta personalização meio chavista da campanha. Tão mais preocupante quanto se sabe que nunca foi desmantelada a rede de corrupção com epicentro na sua Casa Civil. Que todos os dias faz prova de vida.
Parece-me que nem o Brasil nem a senhora Dilma Roussef mereciam isto. Nem, acima de tudo, Lula!
Não passou despercebida a presença da bastonária da Ordem dos Enfermeiros na convenção do chaga. Não passaria, sabe ela, e sabemos todos. E por isso alguma justificação teria de dar: “Não sou apoiante do Chega, nem tenho de apoiar as propostas do Chega ou fazer parte de alguma comissão de apoio para ir cumprimentar um amigo” - foi a resposta que deu à inevitável pergunta.
Não diz quem é o amigo, mas não é difícil de adivinhar. E é mesmo possível supor que por lá tivesse muitos... Tenho para mim que as visitas aos amigos pertencem à esfera de privacidade de cada um. Quando acontecem no espaço público é outra coisa. E a deslocação a um evento público para cumprimentar um amigo não é nem uma visita, nem um cumprimento. É uma forma de expressão pública de apoio. Se o evento é de natureza política, isso é expressão - legítima, não é isso que está em causa - de público apoio político.
Daí que o melhor que se pode dizer da explicação da bastonária é que está mal amanhada. "Não sou apoiante"... mas venho apoiar!
Esse partido de que não se pode dizer o nome, por causa do algoritmo, reuniu este fim de semana em Convenção Nacional. Onde o seu líder, cujo nome é, pelas mesmas razões impronunciável, acabado de eleger com mais de 99% dos votos, mas com grandes dificuldades em fazer aprovar a sua direcção e estratégia, garantiu transformar a agremiação na terceira força política do país e disputar pessoalmente a segunda volta das presidenciais
A coisa foi agitada, e não foi só por ter sido preciso esperar pela terceira votação para conseguir aprovar a direcção. A GNR teve mesmo de por lá aparecer para pôr alguma ordem naquilo, porque aquela gente faz questão de insistir que a pandemia não passa de uma questão ideológica, e que distâncias e máscaras, como bem ensinam Bolsonaro e Trump, não é coisa para eles.
Mas não foi esta agitação que mais me chamou a atenção nesta reunião. Interessava-me mais, num partido em que apenas o líder se conhecia, e que crescia nas sondagens pela mobilização dos desiludidos da democracia, os que vêm engrossando a enorme legião de abstencionistas, perceber quem começava a chegar-se atrás do cheiro a lugares de deputados, presidentes de câmara, vereadores ou até de juntas de freguesia. Ver esses nomes e as suas manobras de bastidores.
E viu-se uma coisa interessante. Viu-se, por exemplo, que um ou outro nome vinha do PNR. Mais uns tantos vinham da Aliança, do Pedro Santana Lopes que por aí vai andando, e que grande parte vem mesmo directamente do PSD. Se juntarmos a malta da Aliança, que também de lá chegou há pouco tempo, percebemos que este partido de fora do sistema, que se alimenta de desiludidos do regime, é constituído por gente que fez todo o seu percurso político no PSD. Que fez o regime, com tudo o que de certo, e de errado, ele tem.
Não consigo perceber é se isto diz mais sobre o PSD se sobre este partido que não pode dizer o nome. Há quem lhe chame "chaga". Parece-me bem: vou adoptar!
Terminou o 107º Tour de France. "Aux Champs Elysées", como dizia uma canção, "comme d`habitude", como dizia outra, na etapa 21.
Em Paris ganhou o irlandês Sam Bennett, da Quick Step, e confirmou a camisola verde que há muito vestia, mas que o eterno vencedor da classificação por pontos, o eslovaco Peter Sagan, da Bora, ainda poderia discutir.
E começaria por aqui o capítulo das desilusões deste sensacional Tour 2020. Sagan, o mais bem pago ciclista do mundo, não ganhou hoje - foi terceiro na etapa - como não ganhou nunca a qualquer dos sprinters com que teve de competir. E para quem foi durante sete anos consecutivos o vencedor da classificação por pontos, a quem se não conhecia outra camisola que a verde, foi pouco. Tudo tem um fim, e este poderá ter sido o fim de um longo reinado no mundo dos sprints.
A decepção maior vai indiscutivelmente para Ergan Bernal. De super favorito a super derrotado vai um fosso muito grande todo ele cheio de decepção. E logo a seguir para o seu compatriota Nairo Quinta, o 17º classificado a mais de uma hora dos três primeiros.
Também a corrida do nosso Nelson Oliveira nos desiludiu. E nem foi pelo 55º lugar na classificação, a mais de 3 horas dos primeiros, foi mesmo pela corrida que fez. Por exemplo, no lugar a cima, a pouco mais de 5 minutos, classificou-se um dos maiores - se não mesmo o maior - animadores da corrida, o suíço Marc Hirschi. Ganhou uma etapa, foi segundo e terceiro noutras duas, e foi considerado o super-combativo deste Tour.
Colectivamente foi a Ineos, a sucessora da espectacular Sky, a grande desilusão da prova. Tudo lhe correu mal, a começar logo na constituição da equipa, sem Chris Froome e sem Geraint Thomas. Falhou a aposta em Bernal, acabando por penalizar Carapaz, e o seu melhor corredor não conseguiu melhor que o 13º lugar na geral, atrás - mas a mais de 8 minutos - do veteraníssimo Valverde.
A Jumbo (segunda classificada) chegou a parecer, mas só isso, a parecer a herdeira da Sky na forma como controlou toda a corrida. Controlou tudo, só não controlou o que não podia controlar - o contra relógio. Aí, com os corredores entregues a si próprios, não pôde fazer nada por Roglic. O que valoriza ainda mais a vitória de Pogacar, com uma equipa - a Emirates, também de Rui Costa, incomparavelmente mais fraca e nos últimos lugares (9º) na classificação, que a Movistar voltou a ganhar.
No fim fica uma competição espectacular e a revelação de uma mão cheia de jovens ciclistas de grande qualidade futuro - a começar evidentemente no sensacional Pojacar - que garantem a espectacularidade do Tour, e da modalidade, para os próximos anos.
Golpe de teatro no Tour. Contra todas as expectativas Pogacar chegou ao contra-relógio de hoje, na penúltima etapa, destroçou toda a concorrência, e ultrapassou o seu compatriota Roglic, dado por toda a gente como o vencedor antecipado.
Aos 21 anos - o mais jovem de sempre do Tour, se não tivesse havido, em 1904, um rapaz de 19 anos a fazer o mesmo - na sua primeira participação Tadej Pogacar ganhou o Tour. Para gravar o feito a letras de ouro, foi o primeiro na classificação da montanha (há dois dias, na despedida dos Alpes, dava aqui por garantida esta classificação pelo equatoriano Carapaz, desconhecendo - mea culpa - que o contra-relógio de hoje, que acabava em montanha, ainda contaria para essas contas), foi naturalmente o primeiro na juventude (camisola branca), e ganhou três etapas. Tudo isto depois de ter sido uma das vítimas do vento, naquela sétima etapa, onde perdera minuto e meio. Ninguém ganhou tanto!
No contra-relógio de 36 quilómetros Pogacar foi simplesmente espectacular, ganhando 1:21 ao holandês Tom Dumoulin, campeão do mundo da especialidade, e ao australiano Richie Porte - os dois grandes candidatos à vitória na etapa - 1:31 ao alemão Van Aert (uma surpresa) e 1:56 a Roglic, que partira com a vantagem, dada por segura, de 57 segundos.
O esperado excelente resultado de Richie Porte valeu-lhe o pódio. Admitia-se que pudesse de lá apear Miguel Angel Lopez, o que não se esperava era que o contra-relógio atirasse o jovem colombiano por ali abaixo. Caiu para sexto, ultrapassado ainda pelos dois espanhóis do top ten, que até acabou por dar top five: Mikel Landa e Eric Mas.
Ainda não tinha falado do português Nelson Oliveira, porque não havia nada (de bom) para dizer. Esperava pelo contra-relógio de hoje, a sua especialidade, para falar dele, na expectativa de um bom desempenho, que seria sempre entre os dez melhores. Foi 27º, com mais 4:42 que Pogacar. E 56º na geral, num Tour em que foi demasiado discreto.
Foi um Benfica de luto que abriu o campeonato, em Famalicão. Todo de preto, a razão de terça-feira não era para menos. De luto mas não pesaroso e carpideiro. Pelo contrário, de feridas lambidas e disposto a vida nova.
Não sei bem o que é arrasar. Se é jogar bem, marcar muitos golos, impedir que Zlobin se transformasse em Zivkovic, ignorar árbitros e VAR´s e ridicularizar manobras de bastidores, como por exemplo, um win-win entre vendedor e comprador, a atrasar uma contratação fechada para utilizar um jogador (tido por bom, se não não o contratavam) neste jogo; se é isso tudo, o Benfica arrasou.
Jogou bem, marcou cinco bonitos golos (o do Famalicão também não é nada de deitar fora, mesmo que não lhe tenha achado graça nenhuma), e deixou por marcar outros tantos. Não deixou espaço para que a arbitragem desse um ar da sua graça, e um tal Toni Martinez acabou por ter de sair com o rabinho entre as pernas.
Para além de ter então arrasado, também o treinador do Benfica esteve bem. Muito bem, até. Bem ao substituir no onze inicial quatro dos jogadores que não tinham estado bem na segunda parte de Salonica. Se só podem jogar onze de cada vez, que joguem os melhores onze de cada vez!
E muito bem ao incluí-los nos substitutos. Dos quatro que saíram da equipa apenas o Pedrinho não entrou, e mesmo esse por uma causa maior: a opção de utilizar o Diogo Gonçalves em Famalicão. Diogo Gonçalves que - já se percebeu - irá ser trabalhado para lateral direito, e isso é uma excelente notícia. A Pizzi, Vinícius e Weigl o jogo e o treinador disseram que não entraram de início porque outros estavam melhor, mas que noutros jogos poderão ser eles a estarem melhor. Mesmo que para Vinícius e Weigl a coisa não esteja fácil.
Saliento estes aspectos porque estas não eram virtudes atribuídas a Jesus. Pelo contrário, os seus maiores defeitos prendiam-se todos com a falta de sensibilidade para estes "pormaiores" da gestão de recursos humanos.
Depois, claro, a estreia de Waldschmidt, que já tardava, foi fantástica. Dois golos (o primeiro e o último, pelo meio Everton, Grimaldo e Rafa) que lhe vincaram a classe, e uma exibição de campo cheio. A confirmação que Everton é mesmo craque, e a surpresa de uma integração perfeita neste futebol que obriga a correr muito, e nem sempre é para a frente. Gabriel a 6, muito bem e muito, mas muito acima de Weigl. E Taarabt, um transportador como não há outro, mas sempre a precisar de gelo na cabeça. Até ontem, num jogo arrasado, ferveu em pouca água.
O luto da eliminação da Champions parece que está feito. E como os adeptos não têm que olhar para as contas bancárias...
Talvez nenhum sentimento se cole tanto ao regresso às aulas como a ansiedade. É certo que também lá cabem alegria, expectativa, sonhos e ilusões. Mas nada bate a ansiedade dos que entram pela primeira vez no mundo desconhecido da escola. E a dos pais que os deixam pela primeira vez à porta desse mundo novo.
É sempre assim a cada ano que passa. Primeiro é a excitação das compras do material para a escola, do que é imprescindível e do que pouca ou nenhuma falta virá a fazer, porque há muito que o mercado potencia sem limites a oportunidade que aqui descobriu. Mas depois vem a angústia do fim das férias, a adaptação a novos ritmos, o adeus a zonas de conforto. E vêm as expectativas, as dúvidas e as inseguranças. De pais e de filhos…
Este regresso às aulas, que teve no dia de ontem o seu ponto alto, e a data limite para que as escolas abrissem as portas aos seus alunos, tem tudo isso. Mas tem muito mais, com muita mais ansiedade.
As escolas abrem na fase da maior actividade da pandemia, aos níveis de Abril, mas num período de maior complexidade e de mais incerteza, com a (grande) probabilidade de terem de voltar a fechar transformada numa espada sobre a cabeça de todos nós. Mesmo dos que, não tendo filhos em idade escolar, acham que não têm a nada a ver com o assunto.
Têm. Temos todos. Os pais, que tiveram que lidar todos estes meses com os filhos em casa, com a vida virada do avesso, não vão conseguir passar por outra igual. E isso toca-nos a todos. As escolas fechadas aprofundam desigualdades e, a cada vez que a desigualdade cria mais desigualdade, nasce uma espiral de crescimento exponencial do número dos que ficam definitivamente para trás.