O Benfica tem passado estes últimos tempos em complexos exercícios de equilibrismo, aparentemente sem rede, entre a necessidade de reforçar a sua equipa principal de futebol, e a necessidade de Luís Filipe Vieira assegurar a sua perpetuação no poder.
Reforçar a equipa não seria, apesar de tudo, tarefa de grande grau de dificuldade. Reforçar a posição de LFV, deixando a ideia de reforçar a equipa para grandes proezas e conquistas, é que tem trazido grandes problemas.
Tudo tem corrido mal. O ponto alto foi, evidentemente, Cavani. Uma contratação que nunca teve em vista reforçar a equipa - nem poderia ter, independentemente da sua valia, pese a idade, um jogador daquele estatuto, que manda os outros correr enquanto ganha mais que todos eles juntos (há exagero, mas nem é assim tão grande) mina o espírito de grupo e não reforça equipa nenhuma - mas apenas reforçar LFV.
E por isso, na ânsia de não perder esse reforço, a sofreguidão deixou que a incompetência tomasse conta da condução do processo, que acabou em chacota nacional.
Depois de mais uns quantos nomes, diariamente alimentados nos jornais e televisões por especialistas que mais não têm sido que bobos da corte de LFV surgiu, como cereja no topo do bolo, o folhetim Darwin Nunez. Tinha falhado o "velho" mas aí estava o novo Cavani!
Os bobos da corte fizeram o seu trabalho, e fizeram do jovem uruguaio a estrela mais cintilante da galáxia da bola. Era sucesso desportivo imediato e estrondoso êxito financeiro a curto prazo. Das sucessivas lesões que vêm afectando o jovem jogador, com três intervenções aos joelhos em pouco tempo, uma das quais a uma ruptura de ligamentos, nada foi dito. Está tudo ultrapassado, e os maus tempos já ficaram para trás...
Finalmente Darwin Nunez chegou a Lisboa, pelo braço de Rui Costa. A contratação mais cara do futebol português - que afinal apenas igualava a de Nakagima pelo Porto, no último defeso - estava confirmada e o jogador seria apresentado no dia seguinte. Marcada a hora da apresentação ... nada. Fica adiada.
Nada de grave, justificaria de imediato a estrutura de comunicação de Vieira: apenas não tinha dado para concluir os testes médicos.
Claro que não era nada disso. Era de dinheiro que se tratava. O Benfica teria que abrir ainda mais os cordões à bolsa, e bater claramente o recorde do jogador japonês do Porto. Parece que alguém se esquecera de avisar o Rui Costa e o Almeria, que o Paulo Gonçalves, o tal, esse que nos enche de vergonha alheia, tinha também umas comissões a receber. Diz agora que representa o jogador e o seu empresário e, ao saber da contratação, em que não foi tido nem achado, chegou e apresentou a factura.
Terá certamente muitas mais para apresentar. É assim que as coisas funcionam.
E é assim que se vai reforçando a equipa, a poucos dias de se começar a decidir o acesso à Champions. E é assim, com pouca vergonha em cima de pouca vergonha, que Vieira faz do Benfica o seu bunker pessoal.
Dois temas dominaram este período de férias de Verão que está a terminar, ou já terá mesmo terminado, para a maioria dos portugueses: o drama num lar de idosos em Reguengos de Monsaraz, e a Festa do Avante.
Ambos tinham supostamente a covid como traço comum, muito embora não seja difícil concluir que esse elo que as liga é mais instrumental que verdadeiro. Quem tenha estado atento ao que se disse e escreveu, e não esteja prisioneiro de preconceitos, ou mentalmente condicionado por fés ideológicas, percebeu que se tratou de duas ondas surfadas a preceito durante várias semanas, sempre ao serviço de uma agenda precisa e bem identificada, em que a pandemia não foi mais que a prancha.
Não quero com isto – nem de perto, nem de longe – desvalorizar o que se passou em Reguengos de Monsaraz, as 18 vidas que se perderam e, em particular e pelas informações que vieram a público, as condições em que aconteceram essas mortes. Nem as redes clientelares e as teias de poder reveladas nessas notícias. Nem quero deixar de dizer que sou de opinião que a Festa do Avante, que hoje se inicia, enquanto tal, poderia passar para o próximo ano, como aconteceu com todos os festivais de Verão. Que o PCP andou mal ao insistir teimosamente na sua realização. E que até o governo não conseguiu evitar que passasse para a opinião pública a ideia que, acima de tudo, pretendia evitar conflitos que pudessem tornar mais difíceis as circunstâncias do próximo orçamento.
Mas bastaram 16 mortes numa residência privada para idosos de classes mais abastadas para percebermos que assim foi. Nesta residência do Porto morreram de covid 16 pessoas (55%), mais de metade dos 29 utentes. Os responsáveis da empresa esconderam a ocorrência durante dias a fio, para preservar imagem e o negócio.
Mas nem se viram os artigos lancinantes que se escreveram sobre as 18 mortes de Reguengos de Monsaraz que, num universo de 80 idosos, representam 23% de mortes, bem menos de metade dos 55% do Porto. Nem debates televisivos a apontar culpas, nem sequer ninguém a exigir inquéritos e investigações.
É sempre assim. Os tempos de maior crise são sempre tempos de manipulação. E de pesos e medidas à medida das conveniências…
Hoje já se sabe que, por vontade do Banco de Portugal, nunca virá a chegar ao conhecimento público. Nem ao do governo, nem ao dos deputados. Se não for obrigado por ordem judicial, o Banco de Portugal nunca permitirá a sua divulgação para fora do restrito meio dos reguladores e do Fundo de Resolução que, pelo que se vai percebendo das entrevistas do presidente do Novo Banco, é visita da mesma casa.
Já vi escrito que este era apenas o primeiro episódio do capítulo das incompatibilidades apontadas à nomeação de Mário Centeno. Expressei aqui várias vezes, em diversas circunstâncias, que a transferência de Centeno do Ministério das Finanças para o Banco de Portugal não era sequer aceitável, pelo que estou bastante à vontade para contrariar este tese.
Não. Não é por Mário Centeno vir do Ministério das Finanças que o Banco de Portugal não autoriza a divulgação do Relatório. É apenas porque, como o seu antecessor, é governador do Banco de Portugal. E no Banco de Portugal é assim. Não é de agora. O Banco de Portugal sempre recusou a divulgação de todas as anteriores auditorias desde 2014.
A justificação é a mesma de sempre: "sujeito a dever de segredo". A carta de recusa do pedido do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, assinada pelo secretário geral do Banco de Portugal, conclui muito simplesmente que "não se encontrando verificada nenhuma das circunstâncias legalmente previstas que determinam o afastamento do referido dever legal de segredo, o Banco de Portugal encontra‐ se impedido de proceder ao envio".
É sua majestade o segredo bancário. O mesmo que impede a divulgação da lista de devedores. O mesmo que há-de sempre, nalgum ponto, impedir que se siga o rasto do dinheiro. É o que tem que ser... E - como se diz - o que tem que ser tem muita força.
Mário Centeno não faz, nem nunca faria, diferente. Poderá acertar mais nas decisões que tiver de tomar que o seu antecessor. Mas, mesmo que isso já faça muita diferença, é só isso!
Quando em futebolês se fala em losango não se está a falar daquele polígono quadrilátero a que também chamamos rombo. Fala-se, como nunca se tinha falado, de sistema táctico. Da disposição táctica dos jogadores em campo ou, na linguagem futebolesa mais elaborada de Luís de Freitas Lobo, da construção da casa táctica da equipa ou do habitat táctico-posicional dos jogadores.
Quando digo que se fala do losango como nunca se tinha falado de outro sistema táctico faço-o com toda a propriedade: creio que nunca outro sistema foi tão badalado, mas também nunca outro sistema fora apresentado desta forma, com recurso a este tipo de imagem e terminologia.
Uma rápida espreitadela pela História das tácticas do futebol mostra-nos isso mesmo (não, não é o famoso “o futebol é isso mesmo”, máxima do politicamente correcto em futebolês que serve de resposta a tudo o que se não sabe responder).
Creio que não estarei errado se disser que tudo começou com o WM – pelo menos não tenho conhecimento de referências a sistemas tácticos anteriores – que tem a particularidade de, como o losango, recorrer a uma imagem para traduzir o desenho arquitectónico da casa táctica: 2 defesas, então chamados, à inglesa, de backs, identificados nas duas bases inferiores do W, 3 médios, identificados nas três pontas superiores do mesmo W, e cinco avançados, sendo dois extremos (pontas superiores do M) com os restantes três (base inferior do M) no meio – dois interiores (o esquerdo e o direito) e o avançado centro.
Era o futebol dos anos 40 do século passado, todo mandado para frente: apenas dois defesas e cinco avançados. São os anos gloriosos do Sporting dos cinco violinos – os cinco avançados que ficaram na história do Sporting e do futebol nacional.
Depois passou-se à imagem numérica para identificar o sistema. Utilizando esta forma de representação o WM teria sido o 2x3x5. É quando surge, já nos anos 50 e durante boa parte da década de 60, o 4x2x4: reforço da defesa, agora a quatro, pouca importância do meio campo, com apenas dois jogadores, e quatro avançados, mantendo os mesmos dois extremos bem agarrados à linha, perdendo-se os dois interiores e passando a dois avançados centro. São os tempos gloriosos do Benfica de sessenta, donde emerge um famoso quarteto (José Augusto, Torres, Eusébio e Simões), que domina em Portugal e na Europa, com cinco presenças na final da Taça dos Campeões Europeus. E da mais brilhante de todas as selecções nacionais: a de 66!
A partir daqui assiste-se ao reforço dos cuidados defensivos e a um crescimento demográfico no meio do campo. No 4x3x3 que surge nos finais da década de 60 (excelentemente interpretado pela selecção do Brasil no Mundial do México de 1970) e vem até à actualidade - evidentemente que com múltiplas nuances de alas e trincos. Ou nos actuais 4x4x2, 4x2x3x1 e … losango!
O problema é que o losango é uma simplificação. Transmite-nos uma imagem geométrica, em vez de um alinhamento de algarismos em forma de factores de multiplicação, mas não representa mais que uma variante do 4x4x2. Pois é, a imagem do rombo aplica-se apenas ao desenho do quarteto do meio campo: um médio defensivo atrás, o 6, dois no meio (sem alas) e um 10 à frente! Daí que a verdadeira designação do sistema seja o 4x4x2 em losango, que se traduziria em (veja-se a confusão) 4x1x2x1x2.O talque no Sporting de Paulo Bento, tal a dependência, mais parecia cocaína. Dizia-se que o Sporting era losangodependente!
Daí que a Academia de Alcochete agora mais pareça uma clínica de desintoxicação, para cortar definitivamente com aquela dependência. O Paulo Sérgio, coitado, passa as noites a sonhar com o maldito losango e a tentar inventar novos sistemas. Numa destas até inventou um que metia um pinheiro… Como cidadão responsável andava, como todos nós, preocupado os incêndios que destroem a maior mancha de pinheiros da Europa. Mas, como profissional responsável, não dormia às voltas com os muitos sistemas tácticos que pretende implementar na equipa em simultâneo, para matar de vez o losango e surpreender finalmente os adversários. Epronto, lá veio um com pinheiro…
O Costinha bem lhe explica que não pode ser, que os pinheiros arderam todos e que os poucos que resistiram estão pela hora da morte. Mas nem assim ele tira o pinheiro da cabeça! E já avisou que no Natal não quer ser enganado. Quer mesmo um pinheiro, não é dessas árvores de natal de plástico que os ecologistas agora nos querem impingir!
PS A selecção inicia hoje os jogos de apuramento para o euro 2012. O que é que a gente pode dizer? Parafrasear o Queiroz? Não, é muita ordinarice…
Sabemos como Putin interferiu na eleição de Trump, há quatro anos. Sabemos que criou a IRA, uma agência de espionagem para interferir nas redes sociais, criar sites de notícias falsas e veículos de circulação de fake news e desinformação. Sabemos - divulga-o, mesmo a sério, o New York Times - que continua a fazê-lo na campanha eleitoral em curso.
E sabemos como são essas as àguas de Trump, que consegue mentir descaradamente sem qualquer espécie de dificuldade, com performances verdadeiramente impressionantes: em cada dez afirmações que faz, oito ou são completamente falsas, ou contêm falsidades pelo meio, ou partem de premissas falsas.
Sabemos como foi também assim com Bolsonaro, no Brasil. E que é assim, de uma forma geral, que a extrema-direita vem fazendo o seu caminho pelo mundo fora. Também cá, em Portugal.
Os exemplos engrossam diariamente, e cada vez mais grosseiros. Já nem sequer têm mínimas preocupações de credibilidade, as mentiras mais incríveis passam da mesma forma, já que não há qualquer tipo de crivo. Ainda há poucos dias foi a notícia de que um vídeo alusivo às festas de Nossa Senhora da Agonia teria sido proibido por alegadas denúncias de racismo. Não fazia o menor sentido, e o vídeo fora apenas retirado do facebook por questões de propriedade, de direitos de autor. Mas logo alguém ali viu a oportunidade para encher as redes sociais de ataques ao movimento anti-racista, com o conhecido eurodeputado Nuno Melo a correr para o Twitter a soltar os cães.
Ontem a SIC deu-nos mais um exemplo de como o "Jornalismo" desactivou todos os filtros e corre atrás da primeira coisa que lhe ponham à frente.
No Jornal da Noite, apresentado por Clara de Sousa, a SIC seguiu uma montagem que falseava uma primeira página do New York Times que dramatizava como um suicídio colectivo a festa do Avante. A própria jornalista, no decurso do mesmo programa, faria o desmentido e apresentaria desculpas. Nada que no entanto impedisse Rui Rio de usar a mesma notícia falsa para lançar na televisões o alarme do efeito internacional do assunto mais importante deste Verão para a direita.
É assim que as coisas estão a acontecer. Primeiro lança-se a mentira, depois dá-se-lhe gás e propaga-se à velocidade da luz. E depois, as instituições que lá deveriam estar para as travar, limitam-se a correr atrás delas...
Parece que desta é que é! Amanhã teremos finalmente a leitura do acórdão do Processo Casa Pia.
Espera-se pela sentença com a esperança que se espera de cada decisão do tribunal: espera-se por Justiça!
Uma esperança que elevamos à máxima potência quando esperamos que possa apagar o passado, como uma simples borracha. Que apague todo o mal que foi causado, que limpe de todo sofrimento e que abra as cancelas a um amanhã cheio de sol …
Ninguém pode esperar nada disto para amanhã: muitas das crianças violadas e violentadas, vítimas primeiras de toda esta vergonha nacional, ouvirão provavelmente amanhã a sentença já com filhos ao colo. Outras vítimas, vítimas que também há entre os arguidos, não tenho disso grandes dúvidas, sabem que já nada consegue limpar nada.
Já não há esperança. Não se fará justiça! Assim nunca se fará justiça…
Já quase se tinha deixado de falar dele, mas chegou. Ontem, último dia de Agosto. Bem ao fim do dia.
Falo do Relatório da auditoria especial ao BES e ao Novo Banco. O Relatório de que há meses se falava, e sem o qual nem mais um cêntimo entraria no Novo Banco. Entrou, como se sabe. Sem que Mário Centeno saísse. Sairia depois, como se sabe. E para onde bem se sabe.
Não se conhecem as razões de tamanho atraso na sua entrega, mas não será de todo alheio ao facto de a Deloitte internacional ter feito questão de accionar todos os mecanismos de controlo de qualidade e de exercer apertada supervisão sobre o Relatório. O caso não era para menos. Um Relatório a abranger um período tão alargado - 2000 a 2018 - e o maior escândalo financeiro da História de Portugal, mas também a água que a filial portuguesa ia carregando no capote, justificavam-no.
Não é ainda público, nem se sabe se o virá a ser. Sabe-se que irá ser entregue à Procuradoria Geral da República. E naturalmente aos supervisores (Banco de Portugal e CMVM) e ao Fundo de Resolução. E não se sabe muito mais. O que se conhece é de um comunicado do Ministério da Finanças, e o que se sabe não é nada de novo.
Que o Novo Banco perdeu mais de 4 mil milhões de euros, em pouco mais de três anos, até 2018. já não é novidade nenhuma. Como novidade não é "o conjunto de insuficiências e deficiências graves de controlo interno no período de actividade até 2014 do Banco Espírito Santo no processo de concessão e acompanhamento do crédito, bem como relativamente ao investimento noutros activos financeiros e imobiliários".