O Benfica comemora hoje 117 anos. Quase um século e um quinto de História de glória, que não é apagada por momentos menos bons, e às vezes até menos dignos dela, como é o presente.
Celebrar este aniversário é afirmar essa História de glória e chama imensa, e intensa. É também gritar bem alto que esta chama é indestrutível, e que não toleramos mais que uma casta de oportunistas continue a fazer do Benfica o seu bunker de protecção pessoal. E que não permitiremos que ninguém manche de vergonha 117 anos de História do maior e mais glorioso clube de Portugal.
Chama-se Leonardo Jardim, é, como o nome deixa entender, madeirense e foi, até há pouco, treinador do Beira Mar. Na época passada, conduziu a equipa de regresso à I Liga e, sempre com o clube envolvido no meio de problemas organizativos e financeiros sem fim, conseguiu, ao longo desta, estabilizar a equipa em torno de níveis exibicionais bem altos e de resultados francamente positivos, ocupando sempre a primeira metade da tabela classificativa.
Tinha por isso, que não é pouco, dado nas vistas!
No final da passada semana começaram a surgir notícias que davam conta do envolvimento do FC Porto. Que Pinto da Costa, bem à sua maneira, classificava de imbecilidades.
Dizia-se que, também bem à sua maneira, o teria contratado já para a eventualidade do André Vilas Boas sair. Para a hipótese de chegar uma proposta do estrangeiro que o levasse da sua tal cadeira de sonho. Com um plano B, bem à Pinto da Costa: se o rapaz não fosse levado a deixar a sua cadeira de sonho, o destino temporário do madeirense seria Braga.
Uma viagem de Aveiro ao Porto com escala em Braga!
A conversa, ontem mesmo, de Domingos Paciência era um mal encapotado discurso de despedida. Hoje, o Leonardo de Jardim abandonou o Beira Mar!
Contra a vontade do presidente do clube, surpreendido com a decisão do treinador. A notícia correu: “Leonardo Jardim não chegou a acordo com o Beira Mar para a renovação do contrato e rescindiu o contrato”!
Ninguém percebe. Então não chegar a acordo para a renovação do contrato implica rescindir agora o contrato em vigor até ao final desta época? Por que raio rescindir agora um contrato que termina em Junho apenas porque não quis, e dentro de toda a sua legitimidade, renová-lo para além dessa data?
Não bate certo, mas o treinador explicou: “… entendo que é o momento certo para sair do Beira Mar”!
Acredito que se forem procurar na literatura já disponível sobre o futebolês, ou em qualquer tentativa de dicionário desta linguagem, não encontrarão esta expressão: fazer posse. Já sei que estão a pensar googlar. Tirem o cavalinho da chuva: só encontrarão fazer pose!
Não é a mesma coisa, garanto-vos!
Corro pois o risco de ser acusado de andar para aí a inventar palavras – que não palavrões – e expressões para o futebolês só para alimentar esta rubrica. Garanto que não invento nada! Esta, parece-me, é uma expressão nova. Ouvi-a recentemente da boca de um dos novos agentes do fomento e desenvolvimento desta variante de comunicação – um dos muitos treinadores desempregados que viram comentadores, e donde surgem verdadeiras revelações na arte do futebolês.
Regressamos a essa dimensão erótica da bola a propósito desta expressão de hoje. Porque tudo começa no próprio acto de possuir a bola. Toda aquela gente, todos e cada um daqueles 22 jovens que por ali andam não sonham com outra coisa que não seja possuí-la. Lutam doidamente pela sua posse, como qualquer macho feroz pela sua fêmea. O tempo do acto de possuir é rigorosamente medido e depois apresentado em estatísticas sob a forma de percentagem: umas vezes bem repartido pelos dois conjuntos, outras com desequilíbrios verdadeiramente obscenos. Veja-se o caso do Barcelona: aquela rapaziada possui a bola com evidente exagero. É sempre bem acima dos 60%, eles possuem tudo e não deixam nada!
Deixemos por agora os catalães e a sua obsessão por possuir a bola e fixemo-nos na dinâmica própria desta linguagem.
Possuir a bola, também em tempos referido como ter a bola em seu poder – notoriamente menos romântica – rapidamente evolui para posse de bola. Depois foi só deixar cair a bola para se fixar na posse.
E surgem a construção em posse, a progressão em posse ou, ainda, a posse e circulação. Até ao novo fazer posse. Isto é o que deveria chamar uma verdadeira língua viva!
Fazer posse é então um neologismo do futebolês utilizado para referir uma circunstância de jogo que passa por possuir a bola por bons períodos de tempo. Por guardá-la para si, trocando-a entre os colegas quase a roçar o despudor. Ou, fugindo a esta carga mais perversa, fazendo-a circular entre os jogadores.
Evidentemente que, como em tudo na vida, não faz posse quem quer. Faz posse quem pode! Quem dispõe de jogadores com capacidade técnica, quem trabalha a cultura de posse e quem respira saúde física e mental.
Se estas condições se não conjugarem ninguém segura a bola. Se falta a condição mental então que a bola queima! Sem condições psicológicas os jogadores não estão seguros de tratar bem a bola - problemas de adolescência, diria - e querem livrar-se dela o mais rapidamente possível. De qualquer maneira porque ela até lhes queima os pés!
Desconfio que a bola também tenha as suas preferências. Enquanto queima os pés de uns aconchega-se docilmente nos de outros. Enquanto foge que nem o diabo da cruz de gente como Gatuso, Mascherano ou Bruno Alves, corre alegremente para os pés de Messi, Nasri, ou Cristiano Ronaldo. Enquanto se passeia, airosa e obediente, entre Xavi, Iniesta e Messi, foge que nem uma barata tonta de Maniche, Saleiro e Djalo!
Peço desculpa pelo exemplo: as coisas não estão para exemplos destes. Como dizia um amigo e leitor: corre-se um risco de atentado ao pudor!
Depois de falhado o acesso à Champions, de perdida a Supertaça, de perdida a Taça da Liga, e de perdido o campeonato, o Benfica acaba de ficar também de fora da Liga Europa, logo na primeira vez a eliminar. Tudo o que havia de objectivos esta época foi irremediavelmente pelo cano abaixo.
Para que não sejam falhados todos os objectivos, a Direcção, através do seu lastimável aparelho de (des)informação, fixa agora como objectivo atingir a final da Taça. A meio da eliminatória que decide esse acesso com uma equipa da II Divisão, e com uma vantagem de 3-1 conquistada no primeiro jogo, fora, o objectivo definido pela Direcção de Vieira é chegar à final. Não é ganhar o único título que pode conquistar!
Começo por aqui porque esta é a ideia que salta deste jogo em Atenas, casa emprestada do Arsenal para a segunda mão desta (primeira) eliminatória da Liga Europa, que dava o acesso aos oitavos de final da competição. O conformismo e a falta de ambição, e as fasquias rentes ao chão, é o que ressalta deste jogo.
Percebeu-se que apenas se buscava uma derrota honrosa (como se houvesse disso), que permitisse uma espécie de vitória moral com que Jorge Jesus pudesse manter a narrativa da sua irresponsabilidade. Daí que diga que "fizemos um grande jogo".
Não fizeram, nem nada que se pareça. E, pior, quando o jogo lhe ofereceu a possibilidade de o ganharem, e de eliminarem o Arsenal, transformado em gigante pela narrativa de Jesus, tratando o 11º classificado da liga inglesa numa das maiores equipas de Inglaterra, ficaram surpreendidos, sem saber o que fazer.
Durante toda a primeira parte a equipa não finalizou uma única jogada de futebol corrido. Fez dois remates em lances de bola parada. O primeiro aos 35 minutos, numa cabeçada de Vertonghen em resposta a um livre cobrado na direita por Pizzi; e o segundo naquele fantástico livre directo surpreendentemente cobrado por Diogo Gonçalves, que deu no golo do empate, em cima do intervalo.
Em todo o jogo o guarda-redes do Arsenal não fez uma defesa. Uma única. O Benfica fez dois golos nos dois únicos remates enquadrados com a baliza. E só fez mais três remates, todos para fora. Tantos quantas as faltas que fez em todo o jogo, para se ter a ideia da forma como a equipa encarou o jogo. O Arsenal, que pelo seu futebol faz poucas faltas, fez dez!
Isto diz bem do que foi a "grande exibição" que Jorge Jesus reivindica. Não ter sido massacrado, para o treinador do Benfica, foi suficiente.
E no entanto o Benfica teve, primeiro, a vitória na mão e, depois, a eliminatória. E tudo foi cano abaixo, como tem vindo a acontecer ao longo da época. Quando Rafa - o único jogador com o dínamo carregado, e que não merecia de todo este desfecho - fez o segundo golo (caído do céu, é certo, mas era o único que poderia fazer aquele golo), pelo que o Arsenal mostrava, abriram-se as portas da vitória, no jogo e na eliminatória. Que Jorge Jesus não soube manter abertas.
Desde logo com as substituições, ainda antes de esgotado o primeiro quarto de hora da segunda parte, e pouco antes do golo de Rafa. Justificar-se-ia a troca de Seferovic por Darwin que, apesar do seu péssimo momento de forma, é mais adequado àquela função de sozinho lá na frente. É fisicamente mais forte, e mais expedito no remate. Mas as trocas de Taarabt (com o único amarelo do jogo, e desde bem cedo, logo aos 4 minutos, mas se o Benfica não fez faltas...) por Gabriel, e de Pizzi pela nulidade Everton, especialmente esta, foram desastradas.
Tudo o que Everton fez foi participar que nem um juvenil no segundo golo do Arsenal, um daqueles golos que já não se usam.
O golo da vitória do Arsenal, a três minutos do 90, não foi mais uma crueldade do futebol, como muitos querem fazer crer. Foi apenas uma inevitabilidade na incompetência de Jorge Jesus. Que Rafa não merecia. Nem porventura Weigl, Vertonghen e Otamendi.
Acabo de ouvir, pela boca do bastonário Marinho Pinto, que a Ordem dos Advogados exige a demissão do Director Geral dos Serviços Prisionais e vai accionar criminalmente o Director da Cadeia de Paços de Ferreira e os membros do comando do GISP, pela sua intervenção nessa cadeia em Setembro passado e divulgada esta semana partir de um vídeo publicado pelo jornal Público.
Acusa-os da prática do crime de tratamento cruéis e desumanos e, pelo meio, lá vai denunciando a cultura de repressão do sistema prisional. Em vez da politicamente correcta cultura de sociabilização!
Acho extraordinário!
Se eu e os meus concidadãos – que não o extraordinário Marinho Pinto – não fomos completamente enganado por tudo o que veio a público sobre o assunto, o nosso concidadão preso, coitado, apenas se recusava a abandonar a cela imunda de restos de comida e de dejectos. Os dejectos, para além inundarem a cela, serviam para o recluso – pessoa altamente sociabilizada, é bem de ver – barrar o seu corpo e ainda para arremessar a tudo o que mexesse em direcção à porta. Comportamentos humanamente normais e nada cruéis!
Não sei como é que gente extraordinária como Marinho Pinto resolveria uma situação destas. Sabe-se como a Cadeia de Paços de Ferreira resolveu: com uma intervenção toda ela preparada e devidamente autorizada pela cadeia hierárquica. Por quem de direito!
Claro que o recluso é, embora não pareça, uma pessoa humana. Prezo-me de colocar a exigência pelo respeito da dignidade humana primeiro que tudo. E acima de tudo! E, neste caso, não tenho dúvidas de que lado está… Não é do lado do recluso! Nem é do lado desta gente extraordinária que acha que os mecanismos garantistas não conhecem limites. Nem os do bom senso! E que acha que, entre polícias e ladrões, tem de estar sempre do lado dos ladrões…
Anda aí à solta a febre do desconfinamento. Toda a gente clama pela abertura ... das escola. Curiosamente como há pouco clamava pelo seu encerramento. Se não é esquizofrénico, não anda lá muito longe.
Percebe-se, falar das escolas é fofinho, como se a abertura das escolas quisesse dizer que só as crianças desconfinam. Não quer, como se sabe. Os pais vão levar os meninos, mas ninguém acredita muito que não saiam do carro e regressem a casa. Depois vêm os cafés, as pastelarias e os restaurantes (na realidade os sectores mais atingidos, com a hotelaria, a sua irmã gémea). E depois vem o que já todos percebemos, por experiência bem recente. Como veio depois do início do ano lectivo. E como veio depois do Natal... E voltamos ao mesmo.
Não. Não podemos voltar mais ao mesmo. E isto tem que ser claro.
Outra coisa é estarmos todos fartos disto. Cansados desta porcaria de vida. E é precisarmos todos de ver luzinhas ao fundo deste buraco em que estamos metidos. É aqui que entra o tal plano de desconfinamento, de que fala o Presidente Marcelo, com António Costa a assobiar para o lado.
Percebe-se que o governo nem queira ouvir falar disso. Por ser este governo, e por ter esta oposição. É simples - não me comprometam... É o costume. O governo, este governo, não existe para servir o país. Existe para se gerir a si próprio. E por isso não quer ouvir falar de apresentar um plano de desconfinamento que lhe seria atirado à cara ao primeiro incumprimento.
Mas devia, porque é hoje uma verdadeira prioridade ver a tal luz lá ao fundo. E podia. Um plano de descofinamento, como qualquer plano, teria que ser calendarizado. Obviamente que é aí que está o problema. Mas não teria obrigatoriamente que dar prioridade ao calendário. Nem sequer deveria. Teria que dar prioridade a critérios. Seria simples: quando o país atingir o valor x, y e z nos critérios a, b e c, abrem-se os sectores k,l e m. Pela evolução actual, mantendo as actuais regras de confinamento, poderemos atingir esses valores em x semanas.
Claro, com esses resultados suportados por testes a sério.
O Secretário de Estado do Turismo – Bernardo Trindade – declarou acreditar que Portugal ganha com a situação que se vive no Médio Oriente. Em entrevista ao Jornal de Negócios, mais tarde confirmada pelo menos a uma televisão, este membro do governo não tem dúvidas em afirmar que a instabilidade naquela zona é vantajosa para Portugal. Porque atinge os nossos concorrentes directos...
Com gente extraordinária como esta no governo, com este sentido de oportunidade – o verdadeiro killer instinct empresarial de gente extraordinária com olho para o negócio – difícil é perceber o estado a que este governo deixou que o país chegasse!
“O regime de Kadhafi acabou”: a frase é do ministro do interior da Líbia, Abdul Fattah Yunnes, em declarações à cadeia de televisão Al Arabiya.
O ministro do interior disse mais: disse que se tinha “juntado à revolução popular em curso no seu país” e disse que tinha ordenado às suas forças para “não apontarem armas aos líbios” …
E disse ainda que Muammar Kadhafi, que foi alvo de uma tentativa de assassínio por parte de um seu ajudante, provavelmente se suicidará!
Esta onda revolucionária árabe não pára de nos surpreender! É dominó atrás de dominó… Já chegou ao coração do regime!
Quem, ainda ontem, depois do discurso ameaçador de Kadhafi a anunciar o genocídio e a ameçar com a guerra civil, seria capaz de prever para hoje estas palavras do ministro do interior?
Mas não foi também depois do discurso de negação de Mubarak que a liberdade e a vitória foram cantadas na Praça Tahrir?
É indesmentível que o confinamento está a dar resultados. Já esses, os resultados, poderão não ser tão indesmentíveis. Ou, pelo menos, mais discutíveis. Por uma razão simples - é que a testagem está a diminuir assustadoramente.
Em meados de Janeiro faziam-se cerca de 70 mil testes por dia. No início deste mês, 50 mil. E na última semana apenas 30 mil, bem menos de metade de há um mês.
O confinamento está a resultar, mas significativa e expressiva descida da incidência de covid-19 nos últimos 14 dias que hoje sustentou a reunião com o Infamed, não deveria ignorar esta realidade da testagem. E, com um tão lento ritmo de vacinação, não serão muito avisados os apelos ao desconfinamento. Por muito compreensíveis que possam ser. Mais que as duas vozes que no governo se percebem sobre a matéria.
O banho de sangue continua na Líbia, com Kadhafi apostado em repetir Tiananmen.
O efeito dominó instalou-se na estrutura diplomática do país a partir da posição do embaixador em Nova Deli, de que ontem aqui dei nota. Sucedem-lhe, a começar pelo próprio embaixador na ONU, os embaixadores na Austrália, na Malásia, no Bangladesh... O que, infelizmente, não parece passar para o interior do aparelho de poder instalado no país, ao que parece a resistir à desagregação.
Efeito dominó não vemos na comunidade internacional, pese embora a ameaça da ONU de considerar a violência em curso sobre a população líbia como crime contra a humanidade. Continuamos a assistir a um silêncio ensurdecedor da União Europeia e dos países membros. Sentimo-nos incomodados pelo silêncio da Europa e pelo silêncio português – agora que Portugal tem assento no Conselho de Segurança da ONU. Sentimo-nos incomodados quando lembramos a recepção dispensada a Kadhafi ainda há pouco, na vergonhosa cimeira de todos os ditadores. Sentimo-nos envergonhados quando revemos as fotografias sorridentes de Amado e Sócrates à volta de um Kadhafi de olhar perdido e lunático. Mas o que sentir quando vemos que o conselheiro pessoal do filho de Kadhafi – Saif Al-Islam – que ontem garantia que iriam “lutar até ao último minuto, até à última munição e até que o último homem esteja de pé” – se dá pelo nome de Tony Blair?