Termina hoje o "estado de emergência", ou melhor, o 15º "estado de emergência". Vigorava ininterruptamente desde 9 de Novembro do ano passado, e é agora substituído pelo "estado de calamidade" que, apesar do nome pouco simpático, é menos calamitoso. E entramos na quarta fase de desconfinamento, que ainda não é o retorno à normalidade, nem o regresso das nossas vidas, mas é um "passo em frente", para utilizar as palavras de António Costa no anúncio desta boa nova.
Não é, no entanto, um "passo em frente" todos os portugueses. Há oito concelhos que ainda ficam de fora desse passo e, num deles, Odemira, há até duas freguesias peadas em cerca sanitária.
Que ninguém dê o passo mais largo que a perna. E que "ninguém cegue com a luz ao fundo do túnel", nas palavras de Marcelo. Dá mau resultado, e para calamidade já basta!
O futebol tem, como se sabe, muito de religião. São muitos os pontos de contacto entre a religião e o futebol, muito para além do factor alienante que é frequentemente invocado! Estranhamente o futebolês não recorre muito a esses pontos de contacto: ao contrário do que poderia parecer esta crença não tem nada a ver com a fé religiosa ou com a crendice básica que tantas e tantas vezes sustenta as religiões. E a ignorância!
A crença, em futebolês, corresponde a um estado de espírito colectivo que se traduz num forte acreditar. Em acreditar em si, nos seus pares e nos seus líderes! Nada que seja exclusivo do futebol: é antes um dos alicerces de qualquer teoria de motivação. É qualquer coisa de fundamental sempre que se trate de gerir recursos humanos. E, como sabemos, tudo o que seja desporto colectivo de alto rendimento transformou-se no mais exigente laboratório de manipulação de variáveis de comportamentos físico e emocional de pessoas com vista à optimização de desempenhos.
Manuel Sérgio, o professor que tenho por grande filósofo do futebol, e que frequentemente aqui cito, usa esta expressão emblemática: “uma grande equipa vive de uma grande crença”!
É de facto assim: uma grande equipa de futebol é constituída, indubitavelmente, por grandes jogadores, por jogadores de grande capacidade técnica em boa condição física. Mas se lhes faltar a crença – uma grande capacidade psicológica capaz de os fazer ultrapassar os obstáculos, as dificuldades e as contrariedades – falta-lhe aquele plus, aquela mola que é capaz de transformar o azar em sorte, a tristeza em alegria e, no que finalmente mais importa, de virar a derrota para a vitória.
Incutir essa crença na equipa é seguramente a mais exigente das tarefas do líder, do treinador. Não havendo quem a não saiba cumprir de todo, raros, raríssimos, são os que permanentemente a conseguem desempenhar. Qualquer treinador consegue num determinado período, nem que seja num único jogo, transportar para a equipa toda a carga motivacional que a faça transcender-se. De forma idêntica qualquer jogador consegue reagir positivamente a esses estímulos. Já é bem mais difícil encontrar um treinador que consiga manter os índices psicológicos da equipa no topo, se não na totalidade, na maior parte e nos mais decisivos momentos da época. Precisamente porque essa é a sua mais exigente competência, porque é a cereja no topo do bolo, porque só resulta depois de exercidas todas as restantes competências: táctica, técnica, planeamento, comportamento e comunicação.
Exigem-se hoje muito mais qualificações aos treinadores. Percebe-se que hoje, como também diz o Prof. Manuel Sérgio,” um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!
Esta equipa do Porto está realmente uma grande equipa porque vive de uma grande crença. De uma grande crença incutida por um treinador que, mesmo muito novo, sabe muito de futebol. Mas que não sabe só de futebol!
Por isso vai igualar o recorde do Benfica e ganhar o campeonato sem derrotas – arrisco mesmo que com apenas dois empates. Por isso chegou à Luz com dois golos de desvantagem e, acreditando, em 12 minutos em que tudo saiu bem, eliminou o Benfica. Por isso ainda agora frente aos espanhóis do Villareal – uma equipa de topo do futebol espanhol – depois de uma primeira parte (recorde-se igualmente a primeira parte do jogo da Luz) em que o adversário lhe foi claramente superior (com muitas ocasiões e com o único golo), acabou por marcar 5 golos, arrumar a questão do apuramento para a final, e atingir o terceiro jogo consecutivo na Europa com chapa 5. E por isso ninguém se lembra nem discute que, por exemplo, o decisivo segundo golo na Luz foi irregular (fora de jogo) e que o terceiro resultou da sorte de um desvio da bola num adversário. Ou que o decisivo primeiro dos 5 golos aos espanhóis surgiu logo no início da segunda parte, mas, mesmo assim, já depois de o adversário ter falhado a oportunidade de fazer o dois a zero, e através de um penalti inexistente! E que logo a seguir veio o 2-1, que levou os espanhóis a partir para a frente com pouca cabeça…
Na ordem do dia pelo mundo fora, o levantamento das patentes das vacinas contra a covid-19 está praticamente ausente do espaço de discussão pública em Portugal. Não ouvimos falar disso por cá.
Não consta da agenda mediática, talvez por quem a constrói achar que não nos diz respeito, que não temos que nos meter nisso. Mas diz-nos todo o respeito, e temos mesmo que nos meter nisso.
Levantar as patentes das vacinas é hoje o passo decisivo no combate à pandemia, sabendo-se, como se sabe, que ninguém estará livre da doença enquanto ela subsistir em qualquer parte do mundo. Que enquanto isso suceder há sempre uma variante nova pronta a atingir-nos. Temos a tendência para esquecer isto, concentrando-nos no nosso umbigo. Se nós - países ricos (sim, sei que soa estranho chamarmos-nos assim, mas apenas somos dos mais pobres dos ricos) - estamos a caminho da imunidade de grupo, estamos safos. Os outros que se lixem ... Está errado quem assim pense.
Quebrar as patentes das vacinas, e liberalizar a produção, é a única forma de rapidamente responder às necessidades dos países sub-desenvolvidos. É a única forma de desligar a bomba-relógio da Índia, cujo tic-tac se ouve por todo o mundo. Insistir em não o fazer é, objectvamente, trocar milhões de vidas por lucros imorais das grandes companhias farmacêuticas.
Sim. Imorais. Porque, como noutras ocasiões já aqui referi, a maioria do investimento no desenvolvimento das vacinas, na Europa como na América, foi público, como dificilmente poderia ter deixado de ser. E o que suportaram está mais que coberto pelos exorbitantes lucros já realizados no abastecimento aos países do primeiro mundo.
Talvez não seja assim tão estranho que o tema esteja tão distante da opinião pública portuguesa, mais interessada nas guerras das marcas, e em levar as pessoas a escolher umas porque sim, e outras simplesmente porque não.
Não importa se até o beijo tem hora marcada. É o casamento do século – mesmo que este seja ainda é uma criança – e o resto é conversa!
E às portas do Palácio de Buckingham o povo pediu “só mais um”. Quebrou-se a tradição e lá de cima, da varanda, soltou-se o segundo beijo. Nem num muito british casamento real a tradição já é o que era!
Abre-se hoje uma nova rubrica no Quinta Emenda - "Gostava de ter escrito isto". Junta-se a outras como "gente extraordinária", "há 10 anos", diálogos curtos", ou "coisas" para os mais diversos gostos, algumas já a ficarem esquecidas.
É uma espécie de "ler os outros", mas só com coisas que não escrevi porque alguém escreveu antes. E diferente!
Os episódios de violência de anteontem à noite em Moreira de Cónegos, no final do jogo entre a equipa da casa, o Moreirense, e o Porto, revelam mais uma vez o terceiro-mundismo que se vive na bolha do futebol em Portugal, onde arruaceiros, capangas, mandantes e caciques convivem tranquila e harmoniosamente com forças de segurança e meios de comunicação.
Com 4 pontos de desvantagem sobre o líder do campeonato, o Sporting, a cinco jornadas do fim e já sem qualquer confronto directo, isto é, sem qualquer possibilidade de interferir directamente na anulação da vantagem sportinguista, Pinto da Costa declarou, na semana passada que, se nada de anormal acontecesse, o Porto seria campeão. Em vez de questionar tão estranha quanto inaceitável declaração, a comunicação social desportiva projecta-a como dogma papal. Do único Papa que reconhecem.
Logo na primeira oportunidade o Porto empata, e os 4 passam a 6 pontos. Isto é, surge a primeira "anormalidade". O treinador do Porto, bem acompanhado por um dos diretores de comunicação (no Porto são dois, um no banco (!!!), de seu nome Rui Cerqueira, ex-jornalista da RTP, e outro no gabinete, o inenarrável Francisco J Marques) faz a arruaça que sempre faz nessas circunstâncias, e só não chega à agressão física - porque da verbal ninguém escapa - porque o árbitro até em campo tem segurança pessoal especial e, valha a verdade, pela intervenção do dirigente Luís Gonçalves, normalmente também dado à arruaça e à ameaça, e de um jogador, pareceu-me Sérgio Oliveira. Lançado o rastilho, a coisa passou para a zona de saída dos balneários, onde Pinto da Costa não gostou de ver câmaras de televisão, acabando com um tipo chamado Pedro Pinho, um empresário de futebol, unha e carne com o(s) Pinto da Costa, a passar à agressão a um dos desses operadores, o da TVI.
A GNR, ali presente, não vê nem ouve. E, na manhã seguinte, nos jornais desportivos ... nada. A própria TVI trata de limpar, fazendo o seu director de informação saber que Pinto da Costa lhe telefonara a esclarecer que o agressor não tinha nada a ver com o Porto. E que até teria sido convidado do Moreirense, mesmo que estivesse ali, à saída do balneário, incluído na comitiva portista.
Os comentadores afectos ao Porto distribuídos pelas televisões e, pelo menos um, ao que se diz, também presente no local, lançam-se de imediato às operações de limpeza. Ao contrário do pretendido a coisa não acabou abafada. E hoje "a Bola" faz esta primeira página, quando ontem não tivera nada para dizer.
Em gestão ou em pleno exercício legítimo do poder, este governo não muda na sua imensa capacidade para manter, imperturbavelmente, um discurso de costas viradas para a realidade e para o mais elementar bom senso. É o rumo de Sócrates: há muito traçado e do qual ninguém se afasta um milímetro que seja!
Hoje, enquanto Sócrates continuava a sua nobre tarefa de sacralização do PEC 4 – já a antecipar um dos seus cavalos de batalha da campanha, agora na variante da sua comparação com o que será o produto final da troika, e a adornar a sua tese conspirativa (tirou da cartola que o PSD tinha outras maneiras de provocar eleições, sem prejudicar o país) – o seu ministro mais que tudo, Silva Pereira, falava-nos de Teixeira dos Santos. Para dizer que o ministro menos que tudo está integralmente dedicado às negociações com a troika!
Isso mesmo: o ministro que Sócrates publicamente indicou como o interlocutor do governo junto da troika, o chefe mor do governo nestas negociações - na primeira afronta pública de Sócrates ao seu ministro das finanças (a segunda seria o seu afastamento das listas) - estava agora a dizer, com a maior e habitual desfaçatez, que ninguém sabe do ministro das finanças porque ele está fechado com a troika e sem tempo de sequer aparecer!
Vale a pena citá-lo: «O ministro das Finanças está integralmente dedicado, trabalhando desde muito cedo até muito tarde, para que este processo tenha um desenlace compatível com aquele que melhor serve os interesses do país», E vale a pena ainda referir que, quando os jornalistas lhe perguntaram pelo ministro das finanças, achou a pergunta “extraordinária”. Despropositada, acrescento eu! Extraordinária é no entanto a sua resposta, e volto a citá-lo: «Os portugueses sabem perfeitamente o que está a fazer o ministro das Finanças. Está a negociar o processo de ajuda externa; está a trabalhar intensamente no Ministério das Finanças com a troika europeia para defender Portugal neste processo de negociação internacional».
É fantástico! Teixeira dos Santos agora até passa por escriturário - vá lá, contabilista - de Pedro Silva Pereira!
Tão fantástico quanto o impagável (bom, com mais uma PPP talvez se consiga pagar! Lá bem mais para a frente!) ministro das Obras Públicas, António Mendonça, vir também hoje garantir que aguarda o visto do Tribunal de Contas para o TGV!
O Bloco de Esquerda surgiu e consolidou-se no nosso espectro partidário porque soube conquistar o seu próprio espaço e porque soube aproveitar as oportunidades que se lhe foram deparando. Chegou ao parlamento por força da aritmética – a soma dos votos antes dispersos pelos vários partidos que lhe deram origem -, e foi crescendo por ter sabido conquistar um espaço da esquerda que estava por preencher.
E cresceu até chegar onde chegou nas eleições de Setembro 2009. Fez-se grande ao ponto de discutir o último lugar no pódio do campeonato dos partidos. E aí as coisas começaram a correr menos bem: são muitos os exemplos das coisas que nasceram para ser pequenas e que se descaracterizam quando crescem para além daquilo para que nasceram. Umas vezes porque não sabem crescer e outras porque não o merecem!
Esta era a fatalidade do Bloco de Esquerda: ocupando um espaço da esquerda muito centrado no protesto e sustentado por um discurso mais aberto e arejado, capaz de fazer moda, estava condenado a crescer. A personagem de José Sócrates fez o resto, deu-lhe o plus! E o Bloco foi, por força desse crescimento, obrigado a sair da sua zona de conforto: o espaço de protesto. E aí estatelou-se ao comprido!
A moção de censura – mais a forma que a substância – foi a primeira grande escorregadela. A encenação com o Partido Comunista também não ajudou nada. Mas a queda, decisiva e irreversível, surge quando, colado ao PCP, se coloca de fora do quadro de diálogo com a troika que está a tomar conta do país. Diz aí o último adeus a umas centenas de milhares de votos, porque perde a confiança de uma franja de eleitorado que não entende que se voltem as costas às instituições de que o país, quer se queira quer não, depende. E com quem é indispensável dialogar, independentemente da margem de negociação.
O resto está a cargo de José Sócrates. O que é justo, parece-me: se foi esse personagem a dar-lhe o tal plus, é justo que seja ele a tirar-lho! É que desta vez o personagem vai desencadear o fenómeno de voto útil: como o meu clube, aqui há uns anos, se uniu para correr de lá com aquele tipo que toda a gente sabe, agora o país vai unir-se para correr com Sócrates. E, ao contrário do que ouço a todos analistas, - que garantem uma grande transferência de votos do Bloco para o PS – eu acho que a grande maioria dos votos irá fugir directamente para o PSD. Votos decisivos, nas circunstâncias que vamos conhecendo, para garantir a vitória de Passos Coelho.
É claro que, depois, toda a gente irá dizer que esses são os votos do Fernando Nobre. Olhem que não… olhem que não!
Que jogo esquisito, este do Benfica esta noite na Luz, com o Santa Clara, nesta montanha russa - com mais descidas vertiginosas que propriamente subidas - que são as suas exibições nesta época. Não é que seja esquisito que a equipa não tenha dado continuidade à boa segunda parte de Portimão, porque - lá está - regularidade é coisa que o Benfica não sabe bem o que é. O jogo é que foi mesmo esquisito.
O Santa Clara é um adversário complicado, não complicou só a vida ao Benfica. Já o tinha feito em Alvalade e no Dragão, donde acabou por sair com o mesmo resultado de hoje, e porventura até de forma mais injusta que hoje. Mas isso não explica tudo, e menos explica que o jogo tenha sido tão esquisito.
Na primeira parte o Benfica não jogou bem, longe disso. Mas também não jogou tão mal como já o tem feito, pelo menos ao nível do passe. É certo que o futebol da equipa não teve velocidade, nem intensidade. Mas também não foi exactamente aquela pasmaceira de muitos outros jogos. Foi assim uma coisa que nem é carne nem peixe.
Mais que uma má exibição, foi uma exibição incompetente. Especialmente tacticamente incompetente.
Nunca teve o jogo controlado, mas também nunca se viu seriamente ameaçado pelo adversário. Criou duas ou três oportunidades para marcar, mas nem sequer rematou. E acabou por chegar ao golo, aos 25 minutos, quando o Santa Clara estava por cima do jogo, na única vez que conseguiu chegar à linha de fundo - a pecha maior deste futebol de Jorge Jesus, como venho repetindo - num cruzamento tenso, como mandam as regras, de Everton, na única coisa de jeito que fez enquanto esteve em campo, concluída pelo melhor marcador … da equipa açoriana.
Foi um golo à ponta de lança, num cabeceamento de grande execução, como se a baliza fosse outra. Uma rotina de ponta de lança numa acção defensiva. Mais esquisito não há!
Logo a seguir Seferovic - também ele com a sua montanha russa - não fez de ponta de lance, como tantas vezes lhe acontece. E falhou o 2-0 sozinho à frente da baliza, depois de servido de bandeja pelo Diogo Gonçalves, de novo o mais inconformado
Sempre à espera da fase de subida da montanha russa, esperava-se que a segunda parte fosse diferente. Que, em vantagem no marcador, com a lição da primeira parte estudada, com um adversário a jogar aberto e no campo todo, repetisse a segunda parte de Portimão.
Mas, não. O Benfica piorou ainda. E o primeiro quarto de hora foi pouco menos que um pesadelo. O Santa Clara chegou naturalmente ao empate, e só se não pode dizer que esteve sempre por cima do jogo porque,, de quando em vez, o Benfica engatava uma jogada, e criava sempre mais perigo que o adversário a atacar e a rematar mais.
Esquisito. Tão esquisito que chegou ao golo da vitória - por Chiquinho, que entrara, com Darwin, logo a seguir ao golo do empate, com mais uma assistência do Diogo Gonçalves, a culminar a melhor jogada do desafio - no primeiro remate de todo o jogo enquadrado com a baliza.
Esquisito que o guarda-redes do Santa Clara tenha feito uma única defesa. E Helton Leite umas sete ou oito. E que os açorianos tenham rematado o dobro do Benfica. E que mesmo assim Seferovic tenha voltado a falhar mais dois golos feitos. E Darwin mais outro.
Já só não é esquisita a regularidade desta irregularidade da equipa. Nunca se sabe com o que se pode contar. O melhor é contarmos com exibições destas. E depois, se sair alguma coisa de jeito, deixarmo-nos entusiasmar e pensarmos mais uma vez que agora é que é.. E entramos também na montanha russa!