Não sabemos no que vai dar, mas a detenção de Joe Berardo e do seu advogado surge como uma lufada de ar que entra por uma janela que se entreabre numa sala congestionada de ar absolutamente irrespirável.
Depois dos desfiles pelas comissões parlamentares de inquérito, e das respectivas prestações televisivas, de tantas figuras de proa dos negócios em Portugal, iniciados até pelo próprio Berardo, o que mais faltava era que nada se passasse. Que ninguém, para além de nós todos, pudesse achar que não teria de haver alguma coisa a fazer.
Berardo é apenas o mais tóxico mito de um país saloio, de deslumbramento fácil. Recebeu comendas das mãos de insuspeitos e respeitados Presidentes da República, encheu horas de televisão e páginas de jornais e revistas. Fez os negócios que quis, como quis. Os bancos puseram-lhe nas mãos o dinheiro que quis, sem garantias.
Comprava acções com dinheiro dos bancos, garantidos por essas acções. Garantia o risco com o próprio risco, e os bancos achavam graça. De longe acenava-lhes com a famosa coleção de arte, mas só para a verem em exposição. E ria-se. Ria-se muito... E dizia "babe"... E que não devia nada... Que não tinha nada, nem medo de ninguém...
Claro que tudo isso já se passou há muito tempo. O tempo não volta para trás, passa pelas coisas e elas prescrevem. Não há meios ...
Mas há mais comendadores. E mais chicos-espertos que parecem parvos, e só por acaso não são comendadores.
O Programa de Governo hoje dado a conhecer empurra a privatização da RTP lá mais para a frente. Para segundas núpcias!
Ouvimos o presidente não executivo da TVI – o regressado Pais do Amaral – dizer que não. Que não se pode privatizar a RTP porque – pasme-se – isso iria fazer baixar a qualidade das televisões. E ouvimos, logo a seguir, Pinto Balsemão dizer esta coisa fantástica: “… a defesa da concorrência em excesso prejudica a concorrência…” Isto porque, justificava,” …nos últimos 10 anos a publicidade baixou muito em Portugal e não haverá mercado para mais um player nesta área da televisão aberta…”
Ora bem, não é de agora que todos sabemos que os empresários em Portugal substituem muito facilmente os princípios da liberdade económica e da livre concorrência pelos seus muito particulares interesses. O que não ficamos a saber – e é mau – é em que medida é que estas veementes posições dos dois players são causa ou consequência da decisão do governo. Porque, evidentemente, é muito difícil de aceitar que esta tenha sido uma mera vitória de Paulo Portas, opositor declarado – vá lá perceber-se porquê – da inabalável decisão de Passos Coelho sufragada pelo eleitorado.
É bom que se perceba que a RTP é a empresa pública que mais dinheiro – entre dotações de capital, subsídios, indemnizações compensatórias e a taxa do audiovisual que toda a gente é obrigada a pagar na factura da electricidade - tem levado aos contribuintes.
É bom que se perceba que, quando o actual Presidente do Conselho de Administração vem – também ele, pudera – dizer que agora é que se não justifica privatizá-la porque deu, pela primeira vez, lucro, que esse facto não altera em nada o seu estatuto do mais pesado fardo do sector público empresarial que o contribuinte carrega. Até aqui, e apesar de tudo o que os contribuintes para lá carregavam, ainda conseguia acumular prejuízos que exigiam mais e mais dotações de capital.
É bom que se perceba que a RTP tem sido sempre usada como instrumento de propaganda dos poderes instituídos – de todos – e objecto de permanentes estratégias de controlo e de nomeações de comissários políticos, fazendo dela um dos principais covis de boys.
É bom que se perceba que o que os contribuintes financiam na RTP não é o serviço público de televisão – o verdadeiro serviço público poderia facilmente ser negociado e contratualizado com os operadores privados no âmbito do contrato de concessão – mas sim um enorme e desajustado quadro de recursos humanos com cerca de duas mil pessoas, muitas delas boys e outros instalados principescamente pagos.
É que, percebendo-se isto, não se percebe de que é que se está à espera para privatizar a RTP. A não ser que seja para fazer a vontade ao Dr Pinto Balsemão! E ao Dr Pais do Amaral!
Caiu o pano sobre os oitavos de final do Euro, em palcos britânicos. Em Wembley a Inglaterra eliminou a Alemanha. Mas a norte, em Hampden Park, a Ucrânia fez o mesmo à Suécia.
Agora vêm aí os quartos de final, onde não chegou ninguém do chamado grupo da morte. o tal que juntava os dois últimos campeões do mundo e o campeão europeu. E o único que não tem representação nos quartos de final, todos os restantes, fraquinhos, lá têm alguém. E alguns até têm dois, como são os casos da Bélgica e da Dinamarca, e da Inglaterra e da Chéquia, como agora se chama a pátria dos checos.
Dos três campeões do grupo da morte nenhum se ficou a rir, foram todos para casa à primeira. E não ganharam mais que um único jogo cada um.
O jogo na Escócia foi pouco, ou mesmo nada, interessante. Suécia e Ucrãnia deram um pobre espectáculo. E ainda por cima se arrastou por mais 30 e muitos minutos - tantas paragens teve - de prolongamento. O resultado (1-1) no final dos 90 minutos veio da primeira parte. Marcou primeiro a Ucrânia, por Zinchenco, pouco depois do meio da primeira parte, um tanto ou quanto contra a corrente do jogo. Empatou a Suécia, já em cima do intervalo, por Forseberg, o médio goleador dos escandinavos.
A segunda parte só teve uns breves minutos de algum frisson, ali por volta do meio, com três bolas nos ferros, uma para a Ucrânia, primeiro, e logo depois duas para a Suécia, pelo inevitável Forsberg. E mais uma boa oportunidade pelo fantástico, mas intermitente, Isak. Tudo o resto foi um arrastar do jogo para o prolongamento, e deste para os penaltis.
Aos 7 minutos do prolongamento a Suécia ficou reduzida a 10, por expulsão (vermelho directo, após intervenção do VAR) do central Danielson. A Ucrânia não tirou grande proveito disso, até porque praticamente não houve jogo durante o penoso prolongamento. Pareceu até que que os jogadores só pensaram em jogar alguma coisa quando acreditaram que já nada impediria o recurso aos penaltis. O que viria a ser fatal para os suecos, já que no período de compensação - 4 minutos, mas não haveria minutos que compensassem todas as paragens - permitiram que a bola fosse jogada, e chegasse à cabeça Dovbyk, para marcar no coração da área.
E lá está a Ucrânia nos quartos de final, para surpresa de toda a gente. Até deles próprios.
Bem diferente foi o jogo de Wembley. Um grande jogo, muito agradável à vista, e de uma riqueza e de uma espectacularidade táctica fora do comum. Ingleses e alemães mostraram muito do que raramente se vê nos jogos de futebol.
A primeira parte foi bastante equilibrada, com o jogo muito dividido, mas também muito disputado. E sempre tacticamente muito bem jogado. A Alemanha superiorizou-se na segunda parte, com o seu futebol de régua e esquadro, e de gestão de espaços - ora procurando-os, ora ocupando-os. Só que a Alemanha tem quase tudo, mas não tem Sterling. Nem Harry Kane, que pode andar um jogo todo desaparecido, mas sempre aparece.
Aos 70 minutos Southgate lançou Jack Grealish, e mudou o jogo. Cinco minutos depois esteve na excelente jogada em que Shaw assistiu Sterling para o 1-0. Dez minutos depois, numa cópia perfeita da anterior, assistiu Kane, para uma grande execução de cabeça. Pelo meio, Muller falhou um golo cantado, que daria o empate. Mas não deu, e a Alemanha, a quem Fernando Santos tinha garantido vencer na final, também caiu à primeira.
O terceiro dia dos oitavos foi memorável, com dois grandes jogos. Com tudo o que de melhor há a esperar de um espectáculo de futebol. Com muitos golos, que é aquilo que sempre mais se espera de um grande jogo, com reviravoltas no marcador, e muitas surpresas. A maior, claro, a eliminação do campeão do mundo, a super-favorita França..
A jornada começou em Copenhaga, no Parken Stadium, com um emocionante Croácia - Espanha com oito golos. A história deste jogo começa aos 20 minutos, quando o miúdo Pedri, aos 18 anos um craque da cabeça aos pés, atrasou a bola para o seu guarda-redes que ... deixou-a passar por baixo do pé para dentro da baliza.
Foi o primeiro grão de areia na engrenagem da máquina do futebol espanhol, uma máquina muito nova, pela primeira vez sem uma peça do Real Madrid, mas que não engana. É fiável, como já são as máquinas espanholas. Talvez pela juventude, a equipa ressentiu-se, e andou um bocadinho por ali atrapalhada. Demorou 20 minutos a chegar ao empate, por Sarabia, com que terminou a primeira parte.
Cedo, ainda antes de se esgotar o primeiro quarto de hora da segunda parte, passou para a frente, com um belo golo de Azpilicueta. Em desvantagem, os croatas vestiram de espanhóis e, armados da fúria espanhola, passaram a discutir o jogo e o resultado palmo a palmo. Estavam por cima do jogo quando, já dentro do último quarto de hora, Ferran Torres fez o terceiro da Espanha.
Um rude golpe, uma machadada, nas aspirações croatas? Qual quê. Nem pensar!
Menos de dez minutos depois reduziram, num golo de Orisic em que a bola se fartou de ser pontapeada até entrar. E entrou mesmo, disse a tecnologia de baliza, porque a olho nu não ficava fácil de ver. Faltavam 5 minutos para os 90, e o seleccionador croata meteu o que tinha e o que não tinha dentro da área dos espanhóis, impedindo-os de se espraiarem pelo campo, e de "matarem" as suas jogadas à nascença. E ao segundo minuto dos 4 ou 5 da compensação, empataram o jogo com um golo de Pasalic (só nomes desconhecidos), e mandaram-no para prolongamento.
Era já uma surpresa, e não apenas uma meia surpresa. O prolongamento permitiu à maquina espanhola retomar, se não o seu normal funcionamento, pelo menos a sua matriz operacional. E ainda na primeira parte do prolongamento, em três minutos fizeram dois golos - aos 100, Morata (finalmente; e que execução!) e aos 103, Oyarzabal, fecharam o resultado de um jogo louco.
E lá está a Espanha, à espera da ... Suíça!
Que noutro jogo fantástico, em Bucareste, com o mesmo resultado - e até com a mesma evolução do marcador - no final dos 90 minutos, e certamente na surpresa maior deste Europeu, eliminou a França.
A Suíça começou bem cedo a surpreender, ao impor-se à super-favorita selecção francesa. Chegou ao golo, por Sefevorivic, numa excelente execução de cabeça, aos 15 minutos, e nunca se deixou inferiorizar no jogo. Ao intervalo vencia, justamente.
Nos 10 minutos iniciais da segunda parte o jogo manteve as mesmas características, não obstante as alterações que Deschamps introduziu na equipa. Sem lateais esquerdos, com Hernandez e Digne lesionados, tinha optado, sem sucesso, pela moda dos três centrais, e na segunda parte achou por bem regressar à defesa a quatro, recuando Rabiot e fazendo entrar Coman.
A melhor oportunidade de golo tinha já pertencido aos helvéticos quando, precisamente aos 10 minutos, Pavard faz penalti. Rodriguez marcou fraco e permitiu a defesa a Lloris, e o que poderia ter sido o 2-0 da machadada final nos campeões do mundo, acabou por virar o jogo. Empolgou os franceses e destruiu a moral e a organização dos suíços. Nos 3 minutos seguintes a França criou a sua melhor oportunidade de golo (Mbappé) e marcoiu dois golos por Benzema.
Estava dada a volta ao marcador, a equipa suíça estava destroçada, e pensava-se que só poderia acontecer o que era inevitável. Mais ainda quando precisamente à entrada do último quarto de hora Pogba fez um dos melhores golos deste Europeu.
Nada disso. A Suíça renasceu das cinzas e, a menos de 10 minutos dos 90, Seferovic voltou a marcar mais um belo golo, de cabeça. Para aos 90, Gavranovic empatar o jogo.
Para que a emoção fosse ainda maior, na compensação Coman atirou à trave, o prolongamento não deu em nada e vieram os penaltis. Ninguém falhou até ao último penalti. O décimo, que Mbappé - veja-se bem - não concretizou, permitindo a defesa de Sommer.
Levou cigarros para um mês. Depois do enxovalho dos alemães, em Munique, apressou-se a dizer que iríamos ganhar na final com a Alemanha. Disse e redisse que era muito difícil a qualquer selecção ganhar a Portugal; em quatro jogos disputados, perdeu dois - metade, nem mais, nem menos. Que era muito difícil marcar golos à selecção portuguesa; em quatro jogos sofreu 7 - quase dois de média por jogo. Só um adversário, apenas a Hungria, não conseguiu marcar; 75% dos adversários marcaram golos.
“Agora é olhar para a frente e ganhar o Mundial” - proclamou ontem Fernando Santos na conferência de imprensa, depois da vitória moral que inventou.
É demasiada charlatanice. Fernando Santos, um homem antes respeitado, está transformado num charlatão. E ninguém está a dar por isso!
O governo acaba agora de ser concluído, com a tomada de posse dos 35 secretários de Estado. Ainda está novo: novinho em folha!
E no entanto já começaram a ser visíveis os ataques. Ainda não estava completo e já se começava a perceber por onde iria começar a ser alvejado: pelo ministro da economia, parece-me evidente!
Porque é muito académico. Porque não tem experiência política. Porque é um super ministério e ele muito longe de ser um super ministro. Porque não vivia no país. Porque veio dizer que era Álvaro, que isso do professor doutor não faz parte do nome. Enfim, porque já toda a gente já começa a achar que ele não percebe nada disto…
Mas agora vêm os secretários de estado e eis que surge um Secretário de Estado do Empreendedorismo. E já se começam a ouvir as vozes da maledicência: o que é que faz um secretário de estado do empreededorismo? O tipo é mesmo um desajeitado teórico e um académico desligado da realidade…
Bom, a secretaria de estado chama-se do empreendedorismo, competitividade e inovação. Coisas em que, não é demais referi-lo, somos altamente deficitários. E sem o que, como já toda a gente percebeu, não vale a pena pensar em crescimento. Nem em aumento das exportações!
O Secretário de Estado – o jovem Carlos Nuno Oliveira – pode ser pouco conhecido. Mas não pode ser acusado de não ter dado provas de empreededorismo, de competitividade e de capacidade de inovação: começou por criar a MobiComp (aplicações para smartphones e telemóveis) que depois vendeu à Microsoft por uma pipa de massa, tendo-se mantido ligado ao maior investimento deste gigante da nova economia no nosso país até há bem pouco tempo. Paralelamente foi-se mantendo ligado a projectos inovadores na área das tecnologias de informação e é director do Centro de Excelência em Desmaterialização de Transacções (CEDT), uma espécie de rede de competências de empresas e de entidades científicas e tecnológicas empenhada em desenvolver a desmaterialização de transacções.
Pois é! Se escolheram o Ministro da Economia para elo mais fraco e começar por aí a minar o governo tudo bem. É a vida, como diria o outro! Mas haja juízo: pegar por esta secretaria de estado é gato escondido com rabo de fora. E bem à vista!
Se não há dúvida que esta secretaria de estado se justifica – o empreendedorismo poderá não se ensinar e ser atributo exclusivo da sociedade civil, mas o governo pode e deve criar as melhores condições para o seu desenvolvimento – também poucas haverá que a pasta está bem entregue…
Outra coisa bem diferente é um ministro da economia a dizer aos investidores onde devem investir. Ou mesmo a ideia de um Portugal à imagem da Florida…
Acabou-se o Euro 2020 para a selecção de Portugal!
Em Sevilha, onde era para nos deslocarmos em massa, a despedida portuguesa fez-se de dois jogos O primeiro, nos primeiros 45 minutos, foi de xadrez, tão ao gosto de Fernando Santos. O jogo de xadrez foi muito pouco interessante, aquilo foi pouco mais que trocar peões por peões, sem atar nem desatar. Até que quando aquilo já estava a ser demasiado maçador, a ver-se que não se saía dali, em cima do final veio o cheque-mate da Bélgica.
Terminado o jogo de xadrez teria que se passar ao jogo da bola. Perdido o jogo de xadrez, tinha de se ganhar o jogo da bola. Não seria fácil, até porque dizem os donos do jogo que a selecção belga é a melhor, a número um.
Foi mais interessante o joga da bola que o de xadrez. Mas não foi bem jogado. A selecção nacional está muito virada para o xadrez, e tem alguma dificuldade em jogar à bola, mesmo tendo muita a gente a saber fazê-lo bem. Mas é assim, e já há muito que sabemos que é assim.
Claro que se poderá dizer que não merecíamos ter perdido o jogo de xadrez, e que merecíamos ter ganho o da bola. Naquilo que são as estatísticas demos uma cabazada à Bélgica. Em remates, em remates enquadrados, em cantos… Até em posse de bola. A Bélgica fez apenas um remate à baliza - por acaso, ou talvez não, quando a selecção portuguesa jogava xadrez -, e Portugal até teve um remate ao poste. O que, como se sabe, é muito bom para a catarse nacional - foi azar. Ou, na melhor das hipóteses, foi uma questão de eficácia.
Talvez não tenha sido assim. Talvez tenha sido o castigo merecido para quem prefere o jogo de xadrez ao da bola. Quem aposta tudo no xadrez depois não consegue jogar à bola. Os jogadores desgastam-se a jogar xadrez, e quando querem jogar à bola já não conseguem.
Não. Portugal não jogou bem. Dos 24 remates (Fernando Santos já diz que foram 29) apenas três são dignos desse nome. E jogadas bem construídas, realmente passíveis de acabar em golo … não me lembro. Mas deve ser da minha memória.
Nem vale a pena falar das opções de Fernando Santos. Nem perguntar se João Cancelo não poderia até estar já hoje em condições de jogar, sem termos de levar com o Dalot. Vale a pena é perguntar por quanto mais tempo se vai continuar a desperdiçar o talento da actual geração de jogadores portugueses.
"Isto é futebol", diz Fernando Santos. Não é, não!
Neste terceiro jogo dos oitavos de final, não foi só Budapeste que se despediu do Euro. Quando se diz que a Europa se deveria despedir da Hungria, é a Holanda - pronto, os Países Baixos - que se junta a Budapeste - que foi a casa da selecção portuguesa, onde até nem se deu nada mal - na despedida do Euro. Prematuramente, aos olhos de muita gente.
Não me incluo no grupo daqueles que ficaram surpreendidos com a eliminação dos neerlandeses - pois, já não são holandeses, e paísesbaixeses não dava muito jeito - pois, como tenho repetido desde o seu primeiro jogo, esta laranja nem é mecânica nem sumarenta.
Nunca se saberá até que ponto essa eliminação possa ter decorrido da expulsão de De Light, logo aos 10 minutos da segunda parte. O contra-factual não existe. Alguma influência terá tido, até porque Frank de Boer decidiu não recompor a defesa (a três, como está na moda), que ficou presa fácil para o ataque checo. O que se sabe é que, no que foi o jogo, a República Checa, que parece que não quer ficar atrás e também mudou o seu nome para Chéquia, ganhou. Sem espinhas!
Foi sem qualquer surpresa que, aos 68 minutos, Tomás Holes fez o primeiro golo, o primeiro golo da equipa que não foi marcado por Schick. Esperava.se, era apenas uma questão de tempo. E o segundo, 12 minutos depois, mais esperado ainda. Até porque não há vitórias da selecção checos sem golos de Patrik Schick.
Normal, portanto, este afastamento dos neerlandeses. Só não o era para as casas de apostas. Mas por alguma razão é esse o negócio deles.
Em Amesterdão o País de Gales até entrou bem no jogo, e foi melhor nos primeiros 15 a 20 minutos do jogo, com Bale a assumir o protagonismo. Pertenceram-lhe então uma série de remates, mesmo que só um deles com alguma probabilidade de sucesso, bem executado, com a bola a sair ligeiramente ao lado, com Schemeichel batido. Foi á beira do quarto de hora de jogo, e ficou como a única oportunidade galesa em todo o encontro.
Depois a Dinamarca mostrou como estabilizou com a goleada sobre a Rússia, que lhe garantiu o apuramento, e começou a espalhar pelo relvado o seu futebol, que tinha começado a mostrar no primeiro jogo, há precisamente duas semanas, o do grave acidente cardíaco de Eriksen, que retomou, ainda que sob alguma instabilidade emocional, com a Bélgica, e que estabilizou finalmente no jogo com a Rússia.
Marcou aos 27 minutos, por Dolberg, que substituía Poulsen, o avançado de serviço, lesionado, e a partir desse golo não mais permitiu qualquer veleidade aos galeses, engolidos pelo futebol dos vikings. Logo no arranque da segunda parte o mesmo Dolberg voltou a marcar, e percebeu-se que a questão já apenas seria por quantos a Dinamarca iria ganhar.
Maehle, o lateral esquerdo que acabou de chegar da selecção sub-21e que, como já aqui referi, é um dos melhores, se não mesmo o melhor deste Europeu, e Braithwaite deram a resposta, já nos minutos finais ~ 4-0!
Em Wembley Itália e Áustria proporcionaram um grande jogo de futebol, emotivo e muito disputado.
Ao intervalo parecia que seria uma cópia decalcada do outro. Surpreendentemente os austríacos entraram a todo o vapor, primeiro a pegar e pois a mandar no jogo. Aos 10 minutos de jogo tinham 73% de posse de bola. Impensável!
Quando se esgotava o primeiro quarto de hora já os italianos tinham as peças da sua máquina de futebol afinadas, e no fim da primeira parte já dominava em todas as variáveis do jogo, e acumulava oportunidades de golo que faziam do 0-0 um resultado lisonjeiro para os austríacos. Só que a segunda parte não confirmou o ascendente italiano, pelo contrário. A Áustria voltou a entrar por cima do jogo, que não mais evoluiria como na primeira parte.
Os austríacos foram até melhores. Valeu então o VAR aos italianos, a quem a arbitragem dentro campo também ia favorecendo. Em pequenas coisas, é certo, mas daquelas que se sabe que pesam no jogo. Dois foras de jogo de VAR anularam um golo e evitaram um penalti aos austríacos, numa segunda parte em que os italianos não lograram uma única oportunidade clara para marcar.
E a surpresa aí estava. Bastou à Áustria levar o jogo para prolongamento para consumar a primeira grande surpresa dos oitavos de final.
Se os recursos que a Itália dispunha em campo já eram muito superiores aos da Áustria, a diferença no banco era ainda maior. E então sim, no prolongamento essa diferença notou-se. Não terá sido simples coincidência que os golos italianos, Chiesa (grande execução) no primeiro, e Pessina, no segundo, tenham vindo do banco. Mas a selecção austríaca não queria sair da competição sem mostrar a fibra de que é feita. E nem com dois golos sofridos no prolongamento perdeu a alma. E quando se começava a pensar que a questão já não era quem conseguiria ganhar à Itália, mas quem lhe conseguiria marcar um golo, a Áustria deu a resposta Donaruma adiou o golo, com uma defesa espantosa. Mas não conseguiu impedi-lo, a seis minutos do fim do prolongamento, e levando o sofrimentos italiano até ao último segundo.
Parabéns ao Sr Foda, e aos seus jogadores - grande lição deixou a Áustria ao regressar a casa. A Itália não deixou de ser a equipa do melhor futebol que se tem visto, apenas permitiu que mais uma vez se confirmasse que o futebol não é ciência. E espera agora por nós. Esperamos nós, que não gostamos de deixar que a esperança morra!