O dia de hoje – este dia 31 de Outubro de 2011 - nasceu lindo, cheio de sol e de promessas! O último de um Outubro que fugira do Outono porque quis ser Verão. Deixou-se apanhar já perto do fim e não resistiu a uns dias de chuva e vento, de temporal que fez das suas, de Norte a Sul. Roubando vidas a Norte e bens a Sul. Onde deixou de cabelos em pé centenas de turistas que, à procura do sol que ninguém nos consegue tirar, rumaram ao aeroporto de Faro destruído pelo temporal de há precisamente uma semana!
Também este último dia de Outubro, que nasceu lindo, vai ficando Outono. É o Outono a lembrar-lhe que o apanhou, que não vale a pena fugir-lhe porque é e será sempre seu!
Este não é apenas o dia em que Outubro se despede, um Outubro finalmente convencido que é Outono. É o dia em que, na proclamação simbólica da ONU, a Humanidade passa oficialmente a contar com 7 mil milhões de seres humanos. Um número esmagador, certamente mais impressionante se olharmos para trás: 300 milhões há 2 mil anos, ao tempo de Cristo e 2 mil milhões no final do primeiro quartel do século passado.
O ser humano 7 mil milhões, na simbologia da ONU, é uma menina que nasceu pouco depois da meia-noite em Manila, capital das Filipinas - no profundo terceiro mundo que alimenta a vida mas ainda mais a morte - e chama-se Danica May Camacho (na foto).
Eu esperava muito deste dia, confesso. Percebi que terei que esperar por amanhã, já Novembro, no dia de Pão por Deus!
Falava-se de um jogo difícil para o Benfica, nesta curta deslocação ao Estoril. Ia defrontar o quarto classificado do campeonato, que é dado como uma boa equipa, com um futebol positivo e bem jogado. Não foi no entanto um jogo difícil de ganhar, o que vimos. Não vimos um adversário a justificar os créditos que lhe eram atribuídos, não vimos uma equipa do Estoril de grande competência, nem nunca vimos um jogo que levantasse grandes dificuldades ao Benfica.
O que vimos é aquilo que temos visto - uma equipa do Benfica incompetente, a criar a si própria as dificuldades que o adversário não lhe coloca. Se é um adversário que se fecha lá atrás, o problema é que só defende e o Benfica não consegue criar espaços para o desequilibrar. Se, pelo contrário, como fez o Estoril, o adversário joga no campo todo, o Benfica não consegue atacar os espaços que ficam livres. Este Benfica é preso por ter cão, e preso por não ter cão. É sempre preso!
Na verdade nunca, em nenhum momento do jogo, vmos que fosse um jogo difícil. Para que fosse ainda mais fácil, o Benfica marcou logo a abrir o jogo. De canto, por Lucas Veríssimo, ainda não estava esgotado o segundo minuto de jogo. Tudo fácil!
As dificuldades começaram a ser criadas pela própria equipa, logo de imediato. Com aquele futebol do costume, de passo para trás e para o lado, de jogo morno e adormecido, a deixar passar o tempo. A atacar o relógio, em vez de atacar o jogo.
Com um adversário inofensivo, espalhado pelo campo mas sem chegar à baliza de Vlachodimos, o Benfica ia trocando a bola sem sair do mesmo sítio, com os jogadores parados à espera que a bola lhe chegasse aos pés. Sem um rasgo, sem uma desmarcação, sem nunca atacar o espaço. Sem dinâmica colectiva, como onze jogadores que se encontram por acaso para um jogo de futebol. Como se durante a semana não tivessem horas de treino diário pela mão do mais caro treinador de sempre em Portugal. E um dos mais caros do mundo. Este é o take 1 do filme.
No take 2, os avançados pressionavam a saída de bola do Estoril, mas os médios ficavam vinte ou trinta metros mais atrás. Eram presa fácil para os defesas do Estoril, que depois batiam a bola na frente, sobrevoando o meio campo, onde encontravam os seus avançados em igualdade numérica com a defesa encarnada. Que normalmente ganhava a primeira bola, sobrando depois a segunda para o meio campo estorilista. Que depois a perdia por não saber muito bem o que fazer com ela.
Nos intervalos era Rafa, como sempre tem sido, o úníco a procurar desequilibrar, romper com a bola e dar uma sapatada naquela dormência. Mas Rafa não dá para tudo, mesmo que às vezes até pareça que dá. Não pode atacar uns espaços, descobrir outros, criar e finalizar. Nem ele nem ninguém.
Depois vem o take 3, dedicado às substituições. Aí, o realizador tem a tarefa simplificada. Mas só em metade. Há cinco substituições para fazer, e escolher os cinco que saem é muito fácil. Se há oito ou nove que não estão lá a fazer nada, é muito fácil acertar em cinco. Aí Jorge Jesus acerta sempre. Já só tem para errar nas escolhas para entrar, mesmo que aí também se perceba, por tudo o que tem feito até aqui, que não tem muito por onde acertar. Estão todos fora de forma, e em miserável condição mental.
Pizzi e Rafa não podem jogar juntos, garante o mestre. Não defendem. Mas, Rafa com Everton, já pode ser. Então entra o Everton. E quando chegar a vez de Pizzi entrar tem de sair o Rafa. Mesmo que continue a ser o único que justifica estar em campo. Mesmo que tenha acabado de criar mais uma das poucas situações de possível golo.
É este o filme que vi. Um filme que se repete a cada jogo, sem uma surpresa, nem um momento de suspense. É sempre o mesmo, só muda o nome. Este poderia chamar-se "quem com ferros mata, com ferros morre". Ao segundo minuto do início marcou, de canto, por um central. Ao segundo minuto do fim, sofreu o golo do empate, por um central. Pelo meio, simplesmente medonho. No fim, só o estrondo da queda de primeiro para terceiro. Quedas com estrondo é tudo o que pode ser anunciado nos próximos números desta saga de terror que Jesus criou especialmente para o Benfica!
O caso Duarte Lima, a que regresso sem de novo entrar propriamente nele, trouxe ao de cima a inexistência de acordo de extradição entre Portugal e o Brasil. Não é o primeiro caso de figuras públicas protegidas por essa lacuna, ainda há não muito tivemos a Fátima Felgueiras a tirar proveito dessa situação.
O Brasil tem acordos de extradição com uma imensidão de países – a começar já aqui em Espanha – mas não tem com Portugal. Ao ponto de ter já apanhado por aí – creio que vinda do bastonário da Ordem dos Advogados – uma ideia curiosa. A ideia é esta e foi expressa mais ou menos assim: Duarte Lima, para não ser preso, sujeita-se a ficar preso em Portugal.
Pois é. O Brasil tem acordos de extradição com toda a gente menos com o país irmão. E vice-versa! É estranho! Em vez de cooperarem entre si para a sã aplicação da justiça aos seus cidadãos, parece que os dois países irmãos se preocuparam mais em servir de recíproco covil de malfeitores. Uma solidariedade com o crime pouco explicável! Entre irmãos espera-se mais!
Esta é uma solidariedade nada fraternal, mais própria de outros laços familiares… De outras famílias. E dos seus padrinhos!
Esta é a centésima edição do Futebolês. É o número 99, mas como o primeiro foi o número zero… Não é razão para festejar, se o fosse comemorar-se-ia hoje o número 100, que só surgirá na próxima semana. Como se faz com as passagens de década, de século e de milénio. Em 1999, com a passagem para o ano 2000, festejou-se a passagem do milénio. Em 2009, a primeira década deste século. Indevidamente, porque não houve ano zero; o primeiro ano foi o ano 1, ao contrário do que se passa aqui no Futebolês.
Talvez porque estes números mais redondos nos levam sempre a olhar para trás, hoje regresso a uma certa dimensão erótica da bola que por aqui passou, em particular no número 1 (Beijar), que foi justamente o segundo, mas também noutros dos primeiros números. É aquela ideia da bola transformada na mais apetecida das beldades, que 22 rapazes disputam até ao limite das suas forças (o futebol feminino começa a dar cabo desta narrativa idílica, mas deixem passar). Numa beldade rebelde e insinuante que tão depressa se entrega, dócil e meiga, apaixonada, como, de repente, ultrapassa todos os limites da irreverência, salta de uns braços (leia-se pés) para outros sem que ninguém a segure, ninguém a domine e ninguém lhe possa chamar sua.
Evidentemente que, num campo cheio de rapazolas na flor da idade, não faltaria quem lhe quisesse oferecer o corpo. Uma beldade destas - insinuante, rebelde, muito dada a uma certa vadiagem e pouco a fidelidades - tem muito por onde escolher. Atrevida, manda-se a eles!
E é este manda-se a eles que reverte a situação, acabando por transformar a oferta do corpo – bem diferente de venda do corpo, como se percebe, e que estabelece as fronteiras desta dimensão erótica, fechadas à pornografia – numa missão de sacrifício. Oferecer o corpo à bola não é, assim, uma simples oferta que se aceita ou rejeita. Nem junta o prazer da oferta – oferecer é normalmente um acto de prazer – aos prazeres do corpo.
Oferecer o corpo à bola é sempre um acto deliberado. O corpo entrega-se – dir-se-ia de corpo e alma - à bola, ao contrário do que acontece noutros encontros de ocasião. Que os há, e bem suspeitos!
E não pensem que tenho apenas em mente aqueles encontros de particular abuso, em que a bola ultrapassa os limites da rebeldia e do atrevimento e atinge o puro descaramento, atirando-se directamente às chamadas partes baixas dos rapazes. Não, estou também a pensar em fugazes e escondidos jogos de mãos, de carícia aqui e afago ali, sempre que a ocasião o permita.
Não tem, claro, o arrebatamento da grandeza destemida de oferecer o corpo à bola, às claras e à vista de todos. Dê no que der. Nem a exuberância de movimentos contorcionistas de uma bolada nas ditas partes baixas. Mas tem a adrenalina do flirt, a sensação única da transgressão e aquele prazer indescritível da cumplicidade escondida ou mesmo secreta. Como sempre acontece nestas circunstâncias, toda a gente está a ver. Eles é que, como os jovens de antigamente, tão enamorados quanto ingénuos, pensam que ninguém vê. Acontecem no recato e no aconchego da grande área, precisamente para onde toda a gente tem os olhos virados, tão expostos quanto num banco de jardim numa tarde de sábado cheia de sol. O Rolando, por exemplo, é um dos maiores especialistas desta marmelada. É useiro e vezeiro em passar a mão pelo pêlo da bola em plena grande área, pensando que, lá porque conta com a cumplicidade do árbitro, ninguém mais vê. Mas lá está, toda a gente vê. Menos quem deveria!
Não digo que não seja rapaz de dar o corpo à bola – embora tenha por lá colegas bem mais dados à tarefa - mas do que ele gosta mesmo é destes encontros de ocasião. Que, como se vai vendo - especialmente em ambientes a que está menos habituado, na selecção ou mesmo nos jogos europeus do seu clube – lhe começam a criar algumas dificuldades. Logo a ele que foi o primeiro a falar em dar o salto, contando até que o André Vilas Boas não perdesse o seu número de telefone.
E, já que isto foi desaguar ao novo Dragão de Ouro, cá estamos já todos à espera – 30 anos passam num instante - das suas memórias, com prefácio de Pinto da Costa. Prefácio e título: A Cadeira de Sonho!
Um verdadeiro especialista em dar o corpo à bola, este Pinto da Costa!
Acontece muitas vezes que comédias acabem em drama. O contrário é menos comum, mas também sucede. É por isso mais notável e, mais ainda, quando sucede imediatamente ao ponto mais alto do drama.
Aconteceu desta vez. Com o anunciado chumbo do Orçamento, ontem na Assembleia da República, o drama atingiu a sua expressão mais alta, para logo acabar numa comédia, em que o último a rir é ... quem ri melhor. E o país vai para eleições, como António Costa pretendia. E Marcelo, não queria!
Querem melhor comédia? É difícil!
Porque não queria eleições nesta altura, o Presidente ameaçou com elas, convencido que, com medo, a esquerda encontraria o consenso para aprovar este orçamento, e passar mais um ano. Precioso, para o tempo que a direita neste momento precisa. Porque queria eleições nesta altura - não teria outra melhor, como facilmente se compreenderá - António Costa fingia (e como ele sabe fingir!) que tudo fazia para que o Orçamento fosse aprovado para, ao mesmo tempo, fazer tudo para que o não fosse.
E no fim saiu a rir. Em campanha eleitoral e a anunciar uma nova geringonça, quando o corpo desta ainda estava quente. E percebe-se porquê. Já Marcelo saiu a correr para o Multibanco, e não se percebe porquê!
A presunção de inocência é um instituto das sociedades civilizadas plasmado nos conceitos de Direito e de Justiça: todas as pessoas são inocentes até prova em contrário. Apenas os tribunais, depois transitado em julgado, podem selar o rótulo de condenado!
Visa-se, assim, preservar o bom nome – direito sagrado das pessoas.
Assim é e assim deve ser, nenhuma dúvida a esse respeito!
Sabemos, porém, que raramente assim é e todos os dias vemos esse direito atropelado. Irremediavelmente, quase sempre!
Da suspeita à condenação pública, ao assassinato do bom nome, é um passo de criança. É sempre assim, e é tanto mais assim quanto mais pública for a figura do suspeito. A presunção da inocência é, no entanto, logo invocada sempre que o assunto chega aos telejornais e são ouvidos, a propósito, os diferentes especialistas da justiça. Dizer que é invocado porque o suspeito é figura de proa é redundante, porque apenas esses casos chegam ao espaço mediático com direito a consultas de opinião especializada.
Vem isto a propósito da acusação de homicídio a Duarte Lima pela Justiça Brasileira, que está a ocupar as manchetes de jornais e telejornais. Depois de dadas as mais diversas explicações sobre os contornos processuais em causa, sobre o que a Justiça Portuguesa pode ou não pode fazer ou sobre a impossibilidade de extradição, lá vem o alerta final da presunção de inocência. Que, como sempre, para a opinião pública já não serve de nada.
Duarte Lima tem, evidentemente, esse direito. Mas a verdade é que não está a fazer nada para que lhe seja reconhecido. E devia!
O lugar de destaque que ocupa (ou ocupou) na sociedade obrigá-lo-ia – mais ainda pelo papel que assumiu na sequência da grave doença que o afectou há uns anos do que propriamente pelas funções políticas que assumiu - e que lhe garantiram também esse estranho direito a uma dessas subvenções vitalícias, de que não abdicou - a defender esse seu direito à presunção da própria inocência. Assim, desaparecido em parte incerta ou escondido num buraco qualquer, é que não! Por si, por nós todos e pelo fundamental princípio da presunção da inocência!
Foi um bom jogo de futebol, este que as equipas do Vitória e do Benfica disputaram esta noite, em Guimarães, para decidir o apuramento para a final four da Taça da Liga. Mas estranho. Ou nem tanto!
Um bom jogo, mas nisso o quinhão do Vitória é maior que o do Benfica. E estranho porque o Benfica entrou mandão no jogo, e a jogar bem. E isso é neste momento estranho. Com uma equipa bem diferente do onze habitual, do qual apenas sobravam dois centrais - Otamendi e Lucas Veríssimo - e Grimaldo. Todos os restantes oito jogadores que iniciaram a partida não contam habitualmente para Jorge Jesus, à excepção de Everton. Que esse conta, não é titular habitual, mas joga em todas as partidas.
Mas a equipa entrou muito bem no jogo, muito por mérito da acção de Pizzi, um dos que não conta. E até Mejté jogou bem. Tal como Nemaja, na ala direita, e titular pela primeira vez. Que logo no arranque protagonizou a primeira oportunidade de golo. Que não tardou muito, surgiu logo aos 7 minutos, marcado na própria baliza pelo Alfa Semedo, quando Taarabt já estava fora do jogo, por lesão. Pouco depois, à beira do quarto de hora de jogo, surgiria o segundo, obra de ... Pizzi.
Em vez de se galvanizar com este início de jogo, a fazer lembrar o de há cerca de um mês, para o campeonato, pareceu que os jogadores se começaram a deslumbrar. Mesmo com esse ar de deslumbramento, o terceiro poderia ter surgido logo a seguir. João Mário, que entrara para substituir Taarabt, isolado, permitiu a defesa a Bruno Varela. E no lance de resposta o Vitória marcou, na primeira falha da defesa do Benfica, que perdeu todos os ressaltos que havia para ganhar dentro da área.
Nada que pusesse em causa a sobranceria que os jogadores do Benfica já evidenciavam, até porque, seis ou sete minutos depois, Pizzi voltava a assistir para Nemaja fazer um belo golo, repondo a vantagem de dois golos. Ainda nem meia hora estava jogada, e o Benfica deu o jogo por ganho, lembrando-se do tal jogo de há um mês.
Na última jogada da primeira parte o Vitória marcou. Mais um golo estranho, com Estupiñán a cabecear entalado entre Otamendi e Lucas Verísismo. Inacreditável!
A segunda parte iniciou-se com os mesmos jogadores, e com a oportunidade de o Benfica fazer o quarto golo - o remate de Pizzi, sempre ele, saiu ligeiramente ao lado do poste. Mas depois veio o banho de táctica que Pepa deu a Jorge Jesus, e só deu Vitória. Pepa acertou as substituições todas. O "mestre" da táctica falhou-as todas!
O Vitória empatou, e mesmo que em fora de jogo, que o habilidoso Hugo Miguel deixou passar, justificou não só o empate, como justificaria até a vitória, e a eliminação do Benfica logo à primeira.
Seria estranho que o Benfica ficasse desde já arredado da disputa desta Taça da Liga num jogo que não só esteve a ganhar com dois golos de vantagem, como deu a sensação de poder dominar a seu bel prazer. Acabaria por não ser assim tão estranho porque, afinal, estranho mesmo, foi o que se passou naquela primeira meia hora. Estranho foi que Pizzi tivesse regressado àquele nível. Que Mejté até parecesse finalmente jogador. Ou que Nemaja tenha mostrado o que já lhe vimos fazer na selecção sérvia, mesmo que também tenha mostrado que defender não é a sua praia.
Também Jorge Jesus achou isso estranho. Tanto que tratou de os tirar da equipa logo que pôde!
Mais uma vez, salvou-se o resultado, que permite manter em aberto o acesso à final four de Leiria. É preciso ganhar por mais de dois golos ao Covilhã, na Luz. Não será tarefa de grande dificuldade mas, como as coisas estão, nunca se sabe.
Durou até às tantas. Entrou pela madrugada dentro mas, ao ouvirmos Durão Barroso, e mesmo Passos Coelho, parece que valeu a pena. Um diz que a cimeira acordou finalmente no que ele anda há muito a dizer, e vê-se que isso o deixa feliz. O outro, o nosso primeiro-ministro, diz que a cimeira, também finalmente, resolveu o problema da Grécia e, com isso, Portugal ficou livre de pedir nova ajuda! Via-se que, se não ficara também ele feliz, ficara pelo menos aliviado.
Vamos por partes, e comecemos pelo corte - o hair cut, como se diz – de 50% da dívida grega, com a participação da banca privada. Quer dizer, sem incidente de crédito, que iria desencadear os resseguros, os chamados CDS (credit default swap) e provocar uma autêntica guerra atómica que pouco do edifício financeiro global deixaria de pé.
O problema não é quem é que sai mais ajudado desta medida. Se a Grécia, que fica ainda a correr atrás do objectivo de fixar a sua dívida nos 120% do PIB lá para 2020, se a banca credora que, em boa verdade, fica a perder metade quando já tinha perdido tudo: a dívida da Grécia valia zero! O problema é que a Grécia nunca conseguirá pagar uma dívida dessa ordem. Parece-me que cortar 50% é curto e, nesse sentido, isto é mais um adiamento, mais uma das habituais medidas a conta-gotas, que em vez de decisivamente resolver os problemas os empurra com a barriga.
O reforço do FEEF para mais do dobro – de 440 mil milhões para um bilião de euros – também não foge muito disto. Do conta-gotas. Não chega para Portugal – ninguém tem dúvidas que teremos de lá voltar a curto prazo, pois não? -, para a Itália e para a Bélgica - que provocará réplicas de alguma intensidade em França -, já para não falar da Espanha nem da Irlanda, que parecem empenhadas em transformar os PIGS em PIB, que é muito mais saudável.
A terceira medida que saiu da cimeira foi a implementação da tão badalada governação económica. Durão Barroso anunciou, já hoje no PE, que apresentará em Novembro um plano geral de governação económica, com base no reforço do papel do executivo comunitário saído da cimeira. Coisa vaga, mais uma vez! Sobre a verdadeira solução – o inevitável orçamento comunitário – nem uma palavra!
Por último a recapitalização da banca que, até por ser uma medida complementar - directamente relacionada com a decisão do corte da dívida grega - é a mais objectiva, pacífica e consensual. É efectiva – terá que estar concluída até ao final de Junho de 2012 -, tão efectiva que resolve de vez a rábula da banca portuguesa. Os principais banqueiros nacionais, que ainda ontem continuavam a garantir que não precisavam, porque não queriam dizer que de não quereriam (não queriam o Estado lá dentro, apesar das garantias do primeiro-ministro de que o Estado seria um sleeping partner), já todos hoje anunciaram a adesão ao plano de recapitalização. E as suas cotações subiram de imediato na sessão de hoje da Bolsa, com o BES – o único a dizer que cumpre o respectivo aumento de capital através dos seus accionistas, sem recorrer ao fundo estatal dos célebres 12 mil milhões – a bater recordes.
E foi isto o que saiu da cimeira que, dizem alguns optimistas militantes, voltou a meter o euro no trilho certo. Longe disso, bem longe disso, digo eu!
Se nos dermos ao trabalho de ir saber o que diz a Constituição sobre este Órgão lá encontraremos, no artigo 145º, as competências do Conselho de Estado:
Pronunciar-se sobre a dissolução da Assembleia da República e das Assembleias Legislativas das regiões autónomas;
Pronunciar-se sobre a demissão do Governo, no caso previsto no n.º 2 do artigo 195.º;
Pronunciar-se sobre a declaração da guerra e a feitura da paz;
Pronunciar-se sobre os actos do Presidente da República interino referidos no artigo 139.º;
Pronunciar-se nos demais casos previstos na Constituição e, em geral, aconselhar o Presidente da República no exercício das suas funções, quando este lho solicitar.
Coisa séria, portanto!
Quando me fui apercebendo de certas pessoas que por lá se sentavam – algumas mesmo pouco recomendáveis e que, apesar de saberem que já toda a gente o sabia, se recusaram a levantar e dar o lugar a outros – comecei a pensar que, afinal, sendo coisa séria, nem sempre seria para levar a sério. Daí que já não tivesse levado a coisa muito a sério quando, há cerca de um mês, o Presidente anunciou a convocatória do dito. Coisas da crise, pensei eu!
Calma, não é o que pensam. Coisas da crise porque a vida não está fácil e o valor da senha de presença dá uma ajudita! Realmente não via outra razão, e convido a reler o primeiro parágrafo para confirmar esta conclusão.
Já sei. Releram e descobriram que aquela última alínea do tal artigo tem uma escapatória: “…e, em geral, aconselhar o Presidente da República no exercício das suas funções, quando este lho solicitar”. Esta pequena frase dá cobertura a tudo, cá está a justificação da convocação deste Conselho de Estado!
Isto poderia o Presidente escrever no facebook, não era necessário maçar aquela gente toda e sempre se poupava nas senhas de presença e numas viagens da Madeira e dos Açores. E não se tinha dado mais uma martelada nas instituições: se, pela sua composição e pelas próprias birras que arrasta, já não era pelo Conselho de Estado que as instituições da nossa democracia se salvavam, estas reuniões e estes comunicados condenam-nas sem remissão.
Quando o governo diz que a solução está no empobrecimento o Conselho de Estado faz apelo a entendimentos que sirvam o crescimento económico, a criação de emprego e a coesão social. É tudo brincadeira, não é?