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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quatro dias para matar uma ideia de décadas

Putin admite posicionar armas nucleares na Belarus contra a Otan -  20/12/2021 - Mundo - Folha

Não há dúvida que, nos últimos quatro dias, o mundo mudou apagando 80 anos de História, como se de repetente tivesse ficado subterrada por uma avalanche de lama levantada por um tsunami que não veio do mar, mas do Kremlin.

A ameaça de Putin em recorrer a armas nucleares vai muito para além da dimensão retórica. Nunca o mundo esteve tão perto da ameaça nuclear!

A velha ideia - que foi fazendo caminho de décadas - que as armas nucleares não serviam para ser usadas, mas para evitar que fossem usadas, está a morrer. Era uma ideia sustentada no princípio do bom senso e do equilíbrio psíquico de quem tinha a capacidade de premir no botão.

Aconteça o que acontecer hoje, ao quinto dia, no encontro entre delegações russa e ucraniana na fronteira com a Bielorrússia, perto de Chernobyl, a velha ideia já foi devorada pela realidade - para que sejam usadas basta que existam. Porque Putin não se confirma apenas como um louco e imprevisível que tem o poder de premir o botão. Ele personifica um padrão de gente louca e imprevisível à procura de chegar ao poder nos mais diferentes pontos do globo.

Esta guerra teve já o condão de unir a Europa como nunca antes. Veremos se será também capaz de mostrar o perigo que é o populismo que esse padrão vem espalhando. Pelo mundo e pela Europa. E por Espanha. E por Portugal!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

 

Estes últimos dias, e em particular o de ontem, foram varridos por uma autêntica Krugmania. Três Universidades de Lisboa atribuiram-lhe o Doutoramento Honoris Causa e falou-se de Krugman a torto e a direito. E Krugman falou a torto e a direito, dando umas no cravo e outras na ferradura!

Disse que a Grécia iria sair do Euro e que Portugal tinha 75% de lá permanecer. Bom, se a primeira não é novidade nenhuma, a segunda, por muito bem que tenha sabido ao governo – que hoje, pela voz pausada (e pelos vistos bem vista) do ministro das finanças, já veio rectificar a queda do Produto para os 3,3% que a UE anunciara a semana passada, e o aumento do desemprego até aos 14,5% - também não. Há 25% onde tudo cabe, incluindo os erros de previsão do professor.

Reafirmou as suas posições de feroz adversário das políticas de austeridade, o que é simpático para os portugueses e nem tanto assim para o governo; mas reafirmou também que os salários deveriam descer entre 20 e 30%, o que inverte a ordem da simpatia. O que vale – e o que ele provavelmente não sabe - é que já não deve faltar muito para atingir esse desiderato. Valha-nos (mas pouco, porque dentro de poucos anos iremos querer muito de ter salários como os deles) que também afirmou que Portugal não tem que reduzir os salários para os níveis chineses

Ficava no ar um certo tom de contradição: como é que se pode ser contra as políticas de austeridade e defender reduções de salários?

Então esclareceu que o ideal seria que essa redução salarial em Portugal fosse acompanhada por aumentos nos salários dos alemães. Quer dizer, produzir barato em Portugal para que os alemães, com muito dinheiro nos bolsos, comprem.

Mas isso é fado: o nosso fado! Não é preciso ser um Nobel…

Que grande momento!

Na passada quarta-feira, com o Ajax, o Benfica tinha deixado, mais uma vez, uma perspectiva de mudança de rumo. A regra tem sido não confirmar essas expectativas, e por isso este jogo de hoje com o Vitória, de Guimarães, só não era de tudo ou nada, porque o tudo já não existe.

Mas não podia ser de nada.

E não foi. Não que o Benfica tenha feito uma grande exibição, que não fez. Fez o qb para ganhar, e ganhar é mesmo o mais importante nesta altura. Mas deve dizer-se também que fez o quanta bastasse para ganhar porque o jogo acabou por correr bem, ao contrário do que tantas vezes tem acontecido. Bastou que o Vitória, ao contrário do que tantas vezes tem acontecido, não tivesse feito golo na primeira vez que chegou à baliza de Vlachodimos. Nem à segunda, nem à terceira... Nem em nenhum dos 17 remates (!) que efectuou, quase o dobro dos do Benfica. Bastou que Vlachodimos tenha podido evitar o golo nas duas primeiras oportunidades do jogo, e bastou concretizar, com grande eficácia as duas primeiras oportunidades criadas.

Quer isto dizer que a clara vitória desta noite é meramente circunstancial? Não. Aquelas circunstâncias foram decisivas, mas depois delas houve o jogo. E neste jogo já se viram ideias. Sim, num jogo de futebol as ideias vêm-se. 

O Benfica não entrou com a mesma equipa que jogara com o Ajax - Otamendi e Weigl estavam disciplinarmente impedidos, e foram bem substituídos por Morato e Meité, este finalmente a mostrar-se e a fazer um bom jogo - mas entrou com o mesmo dispositivo táctico, o 4x4x2, com Darwin e Gonçalo Ramos na frente de ataque. E com ideias. 

Entre elas, e provavelmente a mais decisiva, uma ideia de espaço. E depois a ideia de o atacar, mais vincada que a do defender. E dentro dessa ideia de atacar o espaço, a de que a mudança rápida de flanco é a melhor forma de a concretizar. Não é por acaso que os dois primeiros golos, ambos de excelente execução, nasceram assim - mudanças rápidas da bola para a direita, e cruzamentos de grande qualidade de Gilberto. A qualidade que a liberdade de espaço, que noutras condições não tem, lhe permitiu mostrar. Depois bastou a qualidade de Gonçalo Ramos, no primeiro, num fantástico remate de pé direito, de primeira. E de Darwin, num grande remate de cabeça.

E por isso não foi nada circunstancial a circunstância do Benfica ter resolvido o jogo nas duas primeiras oportunidades de golo que criou. Foi qualidade e... ideias. De tal forma que, ao intervalo, já era indiscutível a vantagem do Benfica, e já ninguém se lembrava do primeiro quarto de hora do jogo.

Do que provavelmente muita gente se lembraria era do último jogo, no Bessa. Ao intervalo também era aquele o resultado, e também era aquela a imagem de superioridade. 

Com o arranque da segunda parte também isso foi esquecido. Até porque o terceiro golo, o tal que tem sido excepção, surgiu logo aos 5 minutos, num penálti - é verdade! - cometido dobre Gonçalo Ramos, e convertido por Darwin, mais uma vez com classe. E porque o Vitória foi sempre disputando bem o jogo mas sem lhe acrescentar a intensidade e a agressividade que tornassem o jogo desconfortável para o adversário.

O jogo apontava para o quarto golo do Benfica. Que acabou até por surgir logo a seguir ao terceiro, no que seria também o bis de Gonçalo Ramos, depois anulado por fora de jogo assinalado a Taarabt, que fizera a assistência. E pouco depois desperdiçado por Rafa, numa das duas ocasiões por concretizar. Até se chegar ao  momento do jogo.

O minuto 62. O primeiro momento das substituições. E não foi pela habitual inépcia de Nelson Veríssimo, mesmo que tenham produzido o habitual efeito. Foi o momento da entrada em campo de Yaremchuk, com Vertonghen a entregar-lhe a braçadeira de capitão e com a Luz a explodir numa emocionante onda de apoio à sua Ucrânia. Simplesmente fantástico, com o jogador ucraniano reconhecido, sensibilizado e fortemente emocionado. Valeu mais, muito mais, que qualquer golo. E valeu pelo jogo!

Os colegas ainda tentaram oferecer o golo ao ucraniano, que seria certamente o segundo grande momento do jogo. Mas já não dava para mais, e na parte final foi até, de novo, o Vitória a estar mais perto do golo que o Benfica, e Yaremchuk. Voltou a valer Vlachodimos para, pela primeira vez na era Veríssimo, chegar ao fim com a folha em branco.

No fim fica um jogo que valeu pelo resultado, pelo que pode contribuir para a estabilidade da equipa, e por aquele momento de manifestação contra a guerra, à volta de Yaremchuk. E a confirmação que as substituições são uma dor de cabeça para Nelson Veríssimo. Que Gonçalo Ramos é definitivamente jogador, bastava-lhe a aposta mais continuada. Que João Mário perdeu, provavelmente em termos definitivos, o seu espaço na equipa. E que também Diogo Gonçalves não tem muito para dar. Ao contrário de Meité, de quem já não se esperava nada!

 

 

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Meryl Streep ganhou, nesta noite da 84ª edição dos Oscars, o seu terceiro galardão deste que é o mais importante certame de prémios da sétima arte. Depois dos Oscars para melhor actriz em “Kramer contra Kramer” e “A decisão de Sofia”, curiosamente no início da era Thatcher (1979 e 1982, respectivamente)  – e de muitas outras notáveis interpretações não premiadas, como, por exemplo, em “África Minha” ou "Mamma Mia"– Meryl Streep, agora na pele (quase que apetece dizer no sentido literal do termo) de Margaret Thatcher, atingiu a marca que tinge os grandes actores de Hollywood. Um tri apenas conquistado por Ingrid Bergman, Jack Nocholson e Walter Brennan, e exclusivamente superado por Katharine Hepburn, com quatro!

“A dama de ferro” não é um grande filme – longe disso, cruza-se com os grandes acontecimentos da História das últimas duas décadas do século XX sem lhes passar cartão – é, antes, um retrato de Thatcher, onde é Meryl Streep que fica sempre bem na fotografia!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

É de ouro! Compra-se e vende-se, como uma mercadoria. Por vezes é ensurdecedor… outras é sepulcral. É aterrador, mas também tranquilidade, paz, e ordem!

Bucólico e assustador. É cúmplice e delator. O silêncio é arma de defesa e de ataque, é direito e dever…

Silêncio é mistério. O mistério do que se não diz, do que fica por dizer e entregue à livre especulação de tudo e de todos. Ao livre e discricionário arbítrio de quem o escuta sem nada conseguir ouvir. Quem cala consente, diz o povo e toda a gente acredita!

Quem cala permite tudo: permite concluir do que não foi dito, aceitar o que se não aceita, validar o que não vale, consentir o que se não consente, concordar com o que se não concorda…

É a porta fechada ao mais insondável de cada um. É o último reduto da intimidade, daquilo que pretendemos preservar só em nós, fechado a todos os outros. É o segredo para sempre guardado, inviolável!

Silêncio é respeito e falta dele. Respeitamo-nos no silêncio e ofendemo-nos no silêncio… Solidarizamo-nos e desprezamo-nos no silêncio! No silêncio tomamos de partilha o pesar e a dor, mas também a mais absoluta das indiferenças…

Faz-se silêncio para ouvir: Silêncio que se vai cantar o fado! E faz-se silêncio para calar, e impedir de ser ouvido.

Silenciam-se vozes para calar consciências. É a liberdade tomada de assalto pelo poder, por qualquer poder. É a verdade inconveniente - ou simplesmente incómoda - calada, silenciada. Onde tudo vale. Não há limites nem fronteiras. Nem pudor em atropelar os mais indiscutíveis valores que marcam a condição humana nos actuais patamares da civilização. Nem a própria vida é uma linha intransponível…

Há o silêncio dos inocentes. E o dos culpados! O dos inocentes é sepulcral. O dos culpados chega a ser ensurdecedor!

Cada um tem a sua relação própria com o silêncio. A forma de o administrar, seja na sua relação consigo próprio seja na sua relação com os outros, constitui o principal eixo da matriz comportamental de cada um. E um dos seus mais notáveis traços de personalidade!

Há quem lide bem e quem lide mal com o silêncio. Quem precise absolutamente dele para se concentrar e quem nele o não consiga fazer. Quem o use para a reflexão e quem o use para a alienação, para fugir do mundo e quantas vezes de si próprio. Da própria vida. Quem nele se deprima e quem nele se revigore. Quem nele se esconda ao longo de toda uma vida, como quem se esconde atrás de uma máscara que lhe permita passar pela vida como quem passa por entre os pingos da chuva …

Há estratégias de silêncio. E não apenas as dos réus, em tribunal. Há quem faça da estratégia de silêncio uma estratégia de orientação, de sobrevivência. Quem estabeleça autênticos pactos de silêncio com a vida. Gente que se não compromete com nada nem com ninguém, indiferente a tudo e a todos. Gente sem causa e sem causas!

Só não são indiferentes a si próprios, com o centro do mundo no seu próprio umbigo.

Há votos de silêncio! Quando em busca do sobrenatural ou do divino se esquecem as pessoas. Quando a aproximação ao divino é o afastamento das pessoas, quando se procuram respostas a perguntas que se não sabem fazer, quando se procuram certezas onde apenas há dúvidas.

E pactos de silêncio, carcereiros da liberdade e anfitriões do subjugo, que fazem do medo forma de vida e das pessoas marionetas. São dispositivos de comando á distância, exactamente como os que as tecnologias nos disponibilizaram e que nos dão, também eles, uma estranha sensação de poder. O poder na ponta do polegar que nos permite silenciar uns para dar voz a outros, afastar o que nos desagrada para procurar o que julgamos querer encontrar.

O silêncio rompe-se, como se rompem umas meias ou umas calças. E quebra-se, como se quebra um prato ou um copo. Romper com o silêncio, contudo, é, e haverá de ser sempre, um acto de coragem. Consistente e, acima de tudo, consequente. Quebrá-lo pode ser apenas um atrevimento. Simplesmente esporádico, quando não inoportuno.

Romper com o silêncio é soltar amarras, rebentar algemas e gritar liberdade. É dizer não e nunca mais. Quebrá-lo é apenas interrompê-lo por breves momentos, para que tudo permaneça exactamente como está.

Há amor no silêncio: “as mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar “ (Leonardo da Vinci). E há silêncio no amor, um silêncio que nem a voz muda de corpos nus quebra!

Como há quem ame em silêncio toda a vida, como se o destino se encarregasse de cruzar amor e sofrimento na esquina de um fado de amores proibidos.

Mas o silêncio também é ódio e raiva. Prazer e dor. E traição!

Não é verdade que, como atribuído a Confúcio, o silêncio seja “um amigo que nunca trai”. Tantas vezes o silêncio trai… O silêncio trai e é traído. Trai-se muitas vezes o silêncio, traindo-se sempre muito mais do que isso!

 

Coisas que não se percebem

PCP considera “um erro” pedido do Governo de fiscalização dos apoios  sociais – O Jornal Económico

Consegue perceber-se o alinhamento acrítico do PCP com o regime cubano, com o da Nicarágua ou com o da Venezuela. Consegue até perceber-se que encontre, agora, fortes afinidades com o regime chinês, quando ainda há pouco tempo - tempo histórico, naturalmente - não se podiam ver.

Nada é absolutamente é líquido, mas conhecendo-se a história do PCP, consegue perceber-se. Consegue perceber-se o alinhamento e a fidelidade de sempre com a então União Soviética, que fez dele o único Partido Comunista ocidental a obedecer caninamente ao PCUS até ao fim. Percebe-se o fascínio pela mãe Rússia. Já não se consegue perceber, de todo, o seguidismo e o fascínio pelo regime de Putin. Que contraria toda a sua doutrina e apoia, promove e financia a extrema direita pelo mundo fora, que o PCP garante combater. Não se consegue perceber como, no concerto internacional, possa surgir ao lado de Marine Le Pen, de Salvini, de Trump ou de Bolsonaro no apoio a Putin.

Mas estar do lado da guerra de Putin como se colocou, como manifesta no Avante, e como ontem expressou na Assembleia da República, o ainda líder parlamentar do PCP, João Oliveira, ultrapassa as fronteiras da racionalidade com a mesma violência com que Putin ultrapassa as da Ucrânia!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Tudo tem a sua metade. Tudo se pode dividir em dois. O golo é que não!

Não há metade do golo, não se pode dividir um golo ao meio. Quanto muito há golos a meias, mas são golos, não são meios golos!

Lembram-se daquele golo do Petit ao Vítor Baía - acima recordado - aqui há uns anos na Luz? Pois, nem sequer esse foi meio golo. Simplesmente não foi golo, Olegário Benquerença não quis que fosse… Como há outros que são sem que o tenham sido. Meio golo é que não!

Mas lá tinha de vir o futebolês negar estas evidências, e garantir que há meio golo sim senhor. E mais que um, há pelo menos três. Há meio golo - ou pode haver – num passe. Ou num cruzamento. Na assistência. E há ainda meio golo da vitória!

Um passe que contorna todos os obstáculos que o adversário que coloca, e deixa a bola nos pés do avançado na cara do golo, é meio golo. O passe fez o mais difícil, deixando o mais fácil para o marcador, que se limita a empurrar para o golo. A fazer a outra metade do golo.

O que, no entanto, nem sempre acontece. E lá se fica o meio golo da assistência a não valer de nada, exactamente como o tal golo do Petit. Ainda há bem pouco tempo o Cardozo fez uma dessas: começou a festejar o meio golo da assistência e, quando deu por ela tinha deitado fora a sua metade. Ainda agora andam por aí a correr umas imagens semelhantes de um tal Deivid, um rapaz que pass(e)ou por Alvalade há uns anitos sem grande honra nem glória, como vem sendo habitual com tantos outros…

O cruzamento que é meio golo é aquele que vai direitinho e tenso – convém sempre que seja tenso – para um espaço, aéreo ou terrestre - só o marítimo não vale – onde apenas possa aparecer o avançado a finalizar, com mais ou menos espectáculo.

E finalmente há a vitória por meio golo. O que importa é ganhar, nem que seja por meio a zero!

Era, por exemplo, o caso do Benfica na passada segunda-feira em Guimarães. Depois da derrota na Rússia, com o Zenit para a Champions no início de um ciclo decisivo da época – apenas a segunda da época, depois do amargo afastamento da Taça de Portugal, pelo Marítimo – era fundamental ganhar em Guimarães. Nem que fosse por meio golo. Porque era a segunda derrota consecutiva, o que destabiliza quem quer que seja. Porque estava em causa a invencibilidade no campeonato, e a possibilidade de igualar o feito do Porto na época passada e o do próprio Benfica de Hagan, em 1973 (conta no seu historial com outro campeonato sem derrotas, mas perdido em igualdade pontual para o Porto, por circunstâncias de desvantagem na diferença entre golos marcados e sofridos). Porque perder a invencibilidade pode comparar-se à perda da virgindade: sabe-se como acontece, mas não se sabe o que acontece depois. Porque falhar logo no início de um ciclo difícil e decisivo cria muito mais pressão para enfrentar o que dele fica a faltar. E, finalmente, porque voltou a colocar o Porto na condição de depender apenas dos seus resultados, acrescentando-lhe crença e motivação para a deslocação à Luz que aí vem. O que, não obstante a pesada e humilhante derrota desta semana com o City – que a comunidade portista resolveu desvalorizar, chamando mentiroso ao resultado e não sei o quê ao árbitro, depois de um banho de bola dos citizens, com quatro golos, duas bolas nos ferros e mais uma mão cheia de outras oportunidades - pela história recente destas coisas, não é muito confortável.

Por tudo isto aquele jogo não podia ser perdido. Há jogos que não se podem perder, que têm de ser ganhos nem que seja pelo tal meio golo. Como jogo inaugural da época passada, o daquela supertaça; que embalou um Porto titubeante para uma época triunfante e empurrou o Benfica campeão, mas também algo arrogante e descuidado, para um arranque lastimável de que nunca viria a recuperar. Jorge Jesus já tinha que ter percebido isso. E tinha de montar a equipa e preparar mentalmente os jogadores para ganhar aquele jogo. Nem que fosse por meio golo, nem que houvesse que comer a relva.

Hoje, em Coimbra, há mais. Mas já não pode ser do mesmo! 

Tempos de pouca esperança

Rússia bombardeia a Ucrânia com mísseis; Kiev diz que invasão é total

 

A guerra não começou esta madrugada, com a invasão generalizada da Ucrânia pelas tropas de Putin. Tinha sido formalmente declarada há três dias, estava há muito programada e tinha recebido luz verde no Verão passado, com o sinal dado pelos Estados Unidos na debandada do Afeganistão - o sinal da fraqueza em que Putin apostou, e que aguardava para garantir que o seu projecto totalitário se transformaria num passeio. Para já pela Ucrânia dentro...

Resta-nos a esperança que se repita a história de passeios que, por mais bem encaminhados que pareçam, acabam mal. Não nos restam muitas outras!

Aos ucranianos resta-lhes sofrer e resistir. E ensinar essa lição aos restantes europeus!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Na mesa à minha esquerda almoçavam duas mulheres. Uma na casa dos trinta e outra, um pouco mais velha, talvez já quarentona. Falavam de futebol, falaram de futebol durante todo o almoço, e eram sportinguistas. Comentavam o jogo de ontem, que passava em repetição na Sport TV, e percebia-se que não tinham nada de bom para dizer dele.

Retive uma frase: “… não estão a jogar nada, o Sá Pinto não me convence. O trabalho dele nos juniores até estava a ser bom, mas treinar homens feitos não é a mesma coisa. E está sempre a dar bicadas no Domingos. Não lhe fica bem!”

Na mesa da direita almoçavam três homens e uma mulher. E falavam de … futebol. Melhor, ela falava de futebol, não deixava que mais ninguém falasse. Era também sportinguista, e percebia-se que tinha estado ontem em Alvalade. Também não deve ter gostado muito do que viu, pelo que se percebia de uma expressão que registei: “… o melhor mesmo foi a polícia ter aproveitado para treinar um bocado…” Na próxima eliminatória com o Manchester City só queria “não perder por mais de 6 a 1: desde que não façam pior que o Porto já está bem”!

Um dos acompanhantes aproveitou a deixa momentânea: “vocês são assim, as vossas vitórias são as derrotas dos outros. E desde que fiquem à frente do Benfica…”

A resposta da senhora foi fulminante:” Eu por mim o que queria era que, sempre que o Benfica e o Porto saíssem, o avião caísse!”

Aí, desviei completamente a atenção e levei o olhar a passear pela sala. Estranho: mas de dois terços eram mulheres! Muitas das mesas eram exclusivamente ocupadas por mulheres. Numa Portugália, tamanha maioria feminina era-me muito estranha. Tanto ou mais que ver-me ladeado por mulheres a falar de futebol. E logo do Sporting!

E andava eu convencido que não tinha perdido pitada destas mudanças todas…

Enquanto metia à boca o último pedaço do pão encharcado nos restos do molho onde ainda há pouco o bife da vazia quase flutuava, lembrei-me que talvez estivesse a observar mais um sucesso do marketing do que propriamente uma tão grande revolução. E quanto a mulheres fanáticas a discutir futebol, talvez a minha amostra não fosse de todo significativa...

Aquele conceito do Balcão que a Portugália lançou há uns anos é isso mesmo: um grande sucesso de marketing!

 

O que ficará desta grande noite na Luz?

Grande noite na Luz!

Um grande jogo de futebol num grande ambiente, como há muito se não vivia na Catedral. E no entanto nada disto seria expectável, à luz do que tem sido o desempenho da equipa do Benfica. Sabia-se que o Ajax tem selo de garantia, e que viria à Luz exibir a qualidade do seu futebol. Isso era praticamente dado por adquirido.

Mas isso não era garantia de um grande noite. Era, pelo contrário, mais um motivo para recear uma noite de pesadelo. Para que fosse uma grande noite era preciso Benfica. Só com um grande Benfica poderia haver uma grande noite na Luz. E esse não estava anunciado. Não era na teoria dos 50/50 de Nelson Veríssimo que se via esse anúncio. Ninguém acreditava naquilo, era coisa para levar tão a sério como a outra de continuar com o objectivo de ser campeão nacional.

Mas a verdade é que houve Benfica. O Benfica compareceu, disse presente e, juntou o querer e a qualidade dos seus jogadores à qualidade dos jogadores e do futebol do Ajax, para que a Luz voltasse a viver uma grande noite. De que só ficam dois amargos - o resultado, o empate fica aquém do que a equipa fez por merecer, e fica a dever-se à menor eficácia na finalização, e ainda á influência da arbitragem, ao negar o penálti claro sobre o Gonçalo Ramos; e confirmação que o Benfica está na situação em que está porque os jogadores não têm querido fazer mais.

Hoje quiseram, e aceitaram o desafio de se bater de igual para igual com a melhor equipa da Europa, a seguir aos três grandes de Inglaterra e ao Bayern. E quiseram durante o jogo inteiro, e não só a espaços, como tem vindo a acontecer.

O jogo até nem começou da melhor maneira para o Benfica. O Ajax começou a pressionar muito alto, condicionando muito a saída de bola, que Nelson Veríssimo decidiu desta vez fazer através dos laterais, em vez do eixo central através de Weigl. Com essa pressão ganhava muitas bolas que, depois, a qualidade dos seus jogadores e as dinâmicas mais que consolidadas da equipa, cedo começou a criar problemas. Foi assim que chegou ao golo, logo aos 18 minutos: saída de bola pela esquerda, com Grimaldo a dominar mal a bola, que já não vinha fácil de receber pela pressão sobre o guarda-redes, e a perdê-la. Depois foi o craque Antony a colocar a bola na esquerda, onde não estava Gilberto, que ia a sair, mas Tadic, sozinho, para marcar.

Poderia pensar-se que a equipa afundaria, como sempre tem acontecido à primeira contrariedade. Mas não. A Luz não deixou, e os jogadores quiseram responder ao apoio que o golo simplesmente intensificou. E responderam, e à segunda oportunidade chegaram ao empate, num auto-golo de Haller, o melhor goleador desta edição da Champions, mas perfeitamente justificado pela reacção ao golo sofrido, apenas 7 minutos antes. 

Mas era notória a diferença da qualidade do futebol praticado pela equipa de Amesterdão. O futebol do Ajax fluía naturalmente, altamente mecanizado e com dinâmicas de posicionamento verdadeiramente espectaculares, que não se esgotam nos movimentos daquele notável trio atacante.  Os laterais aparecem em todo o lado, até a finalizar. Como surgem os próprios centrais a finalizar lances de construção. E o empate não chegou a durar 5 minutos, com Haller a marcar, agora na baliza certa, e a fazer o que tem feito em todos os jogos. Numa recarga, a uma defesa para a frente de Vlachodimos.

Faltava mais de um quarto de hora para o intervalo, e pensar-se-ia que o descalabro teria apenas sido adiado. Mais uma vez as bancadas disseram para dentro do campo que não. Que havia que resistir. E foi praticamente isso que a equipa fez, com a alma e crença que não tem tido, até ao intervalo.

Para a segunda parte estaria guardado o melhor bocado da grande noite da Luz, com o Benfica a mandar no jogo, e a impor uma superioridade no jogo que não se julgaria possível perante um adversário tão qualificado. Foi mesmo uma grande exibição do Benfica, a superiorizar-se em todos os capítulos do jogo, com todos os jogadores em grande ritmo e num elevado nível exibicional, mas em especial Grimaldo, Darwin, Taarabt, Gonçalo Ramos e Rafa. E até Yaremchuk, que entretanto entrara a substituir Everton - outra bela exibição -, que marcaria o golo do empate, numa recarga a um grande remate de Gonçalo Ramos, depois de espectacular defesa do guarda-redes adversário. Que não se quis dissociar deste momento difícil para o seu povo, tirando a camisola para mostrar o símbolo das forças armadas do seu país, numa manifestação que a UEFA não deixará de penalizar. Bem mais que o inevitável amarelo que viu de imediato. Gonçalo Ramos - em mais um exemplo da maturidade que ainda teve tempo de deixar em campo - tentou impedi-lo de tirar a camisola, mas a determinação do ucraniano era inabalável.

E o Benfica só não juntou a vitória à exibição porque desperdiçou três ou quatro flagrantes ocasiões de golo. E porque, como já referido, o árbitro esloveno - sempre muito mais permissivo, quer em faltas quer no plano disciplinar, para os jogadores do Ajax do que para os do Benfica - fez vista grossa ao tal penálti sobre Gonçalo Ramos.

Veremos o que fica desta exibição, e desta grande noite da Luz. Se vai dar razão aos 50/50 de Nelson Veríssimo, em que ninguém acreditava. Se vai servir para finalmente acabar com a intermitência da equipa, e estabilizá-la para o que falta de uma época em que, já nada tendo para ganhar, poderá ainda lutar pelo segundo lugar no campeonato que garante o apuramento para a Champions. Ou se não vai servir para nada!

Nem para ajudar o Rui Costa na escolha das companhias. Depois de há dois dias ter sido visto a cumprimentar afavelmente Pinto da Costa, hoje também não ficou bem visto entre Fernando Gomes e Pedro Proença. Como as coisas estão, e com a centralização dos direitos televisivos a avançar a alta velocidade, aconselhar-se-ia algum cuidado com as companhias.

 

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