De uma equipa que não consegue ganhar três jogos consecutivos não se pode esperar a muito
Haverá certamente a tentação de considerar este Braga - Benfica de hoje, na Pedreira, um grande jogo de futebol. Um jogo com cinco golos, a maioria deles em apenas cinco minutos, com voltas e reviravoltas no marcador, tenderá para isso, para um grande jogo. Não me parece que tenha sido. Foi, antes, mais um mau - muito mau mesmo - jogo ... do Benfica.
O Braga aprendeu a lição da goleada (6-1) da Luz, na primeira volta. Quis disputar esse jogo de igual para igual com o Benfica, e acabou goleado. Hoje não caiu nessa tentação. Hoje entrou para o jogo com o claro propósito de se juntar no seu meio campo, com a grande área e baliza bem defendidas. Saía para pressionar a saída de bola , recuava de imediato, em bloco, e esperava pelo erro para sair em contra-ataque, a aproveitar as costas da defesa do Benfica. Que não são bem costas, são mais calcanhar. O calcanhar de Aquiles da equipa.
Não vi todos os jogos do Braga, mas vi muitos. Vi todos os que disputou com o Porto e com o Sporting, e nunca os vi jogar assim, dessa forma. Da forma como jogam todas as equipas pequenas contra o Benfica.
É condenável que Carlos Carvalhal tenha optado por esta estratégia de jogo? Não, claro que não. Toda a gente sabe que a melhor forma de enfrentar este Benfica é essa. Sem espaços, com pressão e intensidade na disputa da bola, esta equipa fica sem saber o que fazer. Circula a bola, por um lado, pelo outro, e para trás, mas na maior parte das vezes não vai a lado nenhum. Muitas vezes começa até a falhar passes fáceis lá estão as costas. Os calcanhares.
A primeira parte correspondeu por inteiro à óbvia e fácil estratégia do Braga. O Benfica teve bola (69 ou 70%) mas nunca encontrou a baliza do Matheus. Nas três únicas ocasiões em que conseguiu entrar na grande área adversária, e baralhar-lhes a defesa, os dois pontas de lança decidiram ser eles próprios a matar o perigo das jogadas. Primeiro Yaremchuck, que com Rafa liberto à frente da baliza, preferiu ser ele a rematar sem qualquer ângulo para isso, e naturalmente para fora. Depois foi Gonçalo Ramos a decidir rematar contra o defesa que tinha à frente, com o mesmo Rafa na mesma situação. Da última, em boa posição, à frente da baliza, Yaremchuck não teve engenho, nem arte, e nem sequer iniciativa para aproveitar o cruzamento rasteiro, perfeito, de Gilberto. E o Braga acabou até por rematar mais vezes que o Benfica, mesmo sem nunca acertar na baliza de Vlachodimos, que nem uma defesa fez em toda a primeira parte.
Não fosse a mão de Vertonghen e o jogo não dava em nada. Mas Vertonghen tem mão. Também tem azar, e também joga mal. Tão mal como hoje, é que nunca vi. A mão é que vem antes de tudo.
Ia a primeira parte a meio quando, num canto, Vertonghen marcou o golo que poderia - ou talvez não, já vimos tanta coisa - dar outro caminho ao jogo. O Hugo Miguel, lá no VAR, viu que a bola lhe raspou na mão. A mão que tinha encostadinha à barriga, mas é o que a lei diz. Quando é golo, tudo o que se sabe sobre a mão não vale de nada.
Logo a seguir, a mesma mão do capitão da selecção belga, que saltava nas alturas a cortar uma bola, e já não a podia ter encostada à barriga, tocou ao de leve no cabelo do Ricardo Horta, cá em baixo, apenas preocupado em empurrar-lhe ... os calcanhares. E o bom do Ricardo Horta, que dizem por aí que é benfiquista do coração e que está para ser contratado, caiu a rebolar-se agarrado à cara. E não foi só dessa vez que tentou enganar - o árbitro, os benfiquistas e até os braguistas.
Luís Godinho, chamou-lhe um figo - assinalou falta, ali em cima da linha da grande área, e mostrou o amarelo ao defesa do Benfica, o quinto. Foi incompetente. Mas não tanto quanto Vlachodimos, que deixou entrar na baliza a bola rematada pelo Yuri na cobrança do pontapé livre. Ah... um livre ali, em zona frontal e mesmo a queimar a linha da grande área, tem boas probabilidade de dar em golo. É verdade. Grandes executantes conseguem fazer a bola contornar a barreira e enfiar-se no cantinho do lado contrário ao do guarda-redes. Só que não foi assim. Foi um remate rasteiro justamente para o único lado que podia ir. Aquele onde estava Vlachodimos.
E lá ficou o Braga a ganhar. Com a incompetência do Luís Godinho e do Vlachodimos, mas sem a mão de Vertonghen era o Benfica que estaria a ganhar. E lá continuou tudo na mesma, até ao fim da primeira parte.
Só mudou na segunda. E como mudou ... Ao intervalo, Nelson Veríssimo tirou Everton e Gonçalo Ramos, para fazer entrar Darwin e .... João Mário. Lembram-se dele? O Yaremchuck continuou por lá, a fazer não se sabe bem o quê. Nem ele saberá. Carvalhal trocou só o Abel Ruiz pelo Vitinha, e acertou. E foi a desgraça. Seguiu-se meia hora tenebrosa. Ninguém ganhava uma bola, e ouviram-se até olés na Pedreira. Ainda o primeiro quarto de hora se não tinha esgotado e os irmãos Horta fizeram o que quiseram da defesa do Benfica, com o André a entrar com a bola pela baliza dentro. Não festejou. Foi só cínico.
A perder por dois, Veríssimo fez entrar Seferovic, Paulo Bernardo e Diogo Gonçalves, tirando Yaremchuk (finalmente), Meité e o desgraçado do Vertonghen, recuando Weigl para o eixo da defesa. Mas nem isso mudaria o jogo, parecia até aumentar o risco de um resultado ainda mais penoso. O que mudou o jogo foi um penálti, essa raridade, que só não caiu do céu porque veio pela mão do André Horta, a desviar uma bola que lhe fugia da coxa.
Darwin converteu-o, e aí sim. O jogo mudou. A equipa acreditou, foi para cima do adversário, e bastaram três minutos para empatar o jogo, por João Mário, assistido pelo Darwin. Acreditou-se então na vitória. O jogo só terminaria 20 minutos depois e, chegados ali, já nada pararia a avalanche do Benfica.
Nada disso. O Braga já lhe tinha tomado o pulso, e já não tinha medo. Não foi o Braga que nem deixou saborear o golo de João Mário. Foi mais uma vez a equipa. O Braga só fez o que lhe competia - não ajoelhar. A bola foi ao centro e daí praticamente para o remate espontâneo, mas fácil, de Vitinha. Que Vlachodimos defendeu para canto, só porque não estava suficientemente concentrado para fazer melhor. Do canto, a bola ressaltou na costas do Gilberto e ia para sair pela linha lateral do lado contrário quando o AL Musrati a foi tranquilamente buscar para a colocar no lado oposto, para o Vitinha, completamente sozinho na pequena área, nas barbas de Vlachodimos, marcar um golo fácil.
Faltavam 11 minutos para os 90, a que se seguiram mais 7 de descontos. Muito tempo - 18 minutos - mas o Braga regressou à fórmula da primeira parte. Os jogadores do Benfica quiseram, mas não puderam.
Se ainda havia quem pensasse no apuramento directo para a Champions, já não há. Acabou. Uma equipa que não consegue ganhar três jogos consecutivos não pode aspirar aos lugares da frente de qualquer campeonato minimamente competitivo. Dá para terceiro porque é em Portugal. E porque o quarto também não tem primado pela regularidade. E porque o quinto é o Gil Vicente.