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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

A recente visita trimestral da troika trouxe-nos Sócrates de volta. No seu melhor, um ano depois do adeus!

É certo que os homens de negro, que a Espanha não quer ver nem pintados, dizem que Portugal está no bom caminho. Que há ainda umas arestas a limar nas rendas relacionadas com as energias e, fundamentalmente, que as eternas reformas laborais ainda estão aquém do necessário: os salários são ainda muito altos e o envolvimento dos sindicatos na contratação é coisa que deverá ser erradicada. Sem isso não é possível combater o desemprego!

È certo que tudo isto para os ouvidos do governo é música, da mais melodiosa. Mas também dizem que não voltaremos aos mercados na data prevista, em Setembro do próximo ano. Mas como dizem que cá estarão, prontos para continuar a ajudar, não há problema nenhum.

Entretanto milhares de empresas continuam a falir, milhares de pessoas batem – em vão – à porta do rendimento mínimo, vinte e cinco pessoas devolvem as suas casas aos bancos em cada dia que passa, o défice no primeiro semestre chega-se aos 7,5% e o desemprego corre a passos largos a caminho dos 20%.

Mas o primeiro-ministro, no primeiro aniversário da sua vitória eleitoral, diz que já não estamos, como estávamos há um ano, à beira do abismo. Não porque já lá tenhamos caído, mas porque Portugal está “mais forte, solidário e resistente a contágios adversos”. Porque estamos em plena mudança económica, a “ mais importante dos últimos 50 anos”.

O ministro da economia – sim, o Álvaro existe – diz que ficou muito claro que Portugal é hoje um país com um ímpeto reformista muito forte, em que já foram feitas reformas estruturais claríssimas a par de uma consolidação orçamental importantíssima” e “fortemente empenhado em ultrapassar a crise com uma agenda de crescimento e emprego que é muito ambiciosa”. Que “voltamos a ganhar a nossa credibilidade internacional em poucos meses”.

O ministro das finanças não pareceu muito entusiasmado. Mas mesmo assim ainda foi dizendo que “acreditamos que estamos no bom caminho” e que “o nosso objectivo é alcançar um ajustamento estrutural muito acima do previsto”. O que é dizer nada, mas fica sempre bem!

Nem Sócrates faria melhor!

Pois é, tinha que ter alguma coisa para dizer sobre isto!

 

Estava a ver que acabavam as celebrações dos 70 anos do reinado de Her Majesty Queen Elizabeth sem que disso aqui desse conta. 

Não segui os acontecimentos de perto. Nem de longe. Mas fui apanhando nas notícias uma ou outra coisa, percebi que a estrela do primeiro dia foi o príncipe Louis, o mais novo de Kate e William, duque de Cambridge. Que tomou conta da varanda Palácio de Buckingham, onde Harry e Meghan não tiveram entrada, e das capas de revistas. Reparei na elegância de kate, claro. Meghan também não ia nada mal, quando teve direito a aparecer, na missa em St Paul's Cathedral. Nem mesmo a mulher de Boris Johnson, apesar daqueles apupos todos, que não seriam certamente pelo vestido. Gosto daquela cor, como se sabe.

Ouvi de relance especialistas em protocolo a dizer banalidades. E fiquei até a saber que há "consultores de sociedade", que era profissão que ignorava. Mas o que me fez mesmo ter alguma coisa para dizer sobre estas celebrações foi ter apanhado de raspão uma entrevista, em estúdio, da nossa duquesa de Bragança. A Senhora Dona Isabel Herédia, a esposa do nosso pretende ao trono, o Senhor Dom Duarte, como um dia destes ouvi chamar-lhe numa amena cavaqueira entre dois jovens monárquicos, que se passava ao meu lado no intervalo de um evento social, que para aqui não interessa nada.

Não tinha nota de aparições públicas da Senhora Duquesa - falha minha, com certeza - e não quis perder a oportunidade de ouvir o que ela tinha a dizer. Confesso que, mais do que tinha a dizer, a minha curiosidade era pela forma de expressão. Pela desenvoltura e pela articulação verbal. Mais pela forma que pelo conteúdo, de que não esperava nada de especial. Desiludido logo nas primeiras sílabas pela forma, esperei pelo conteúdo. E aí fiquei siderado: a senhora duquesa começou por dizer que tudo aquilo, todo aquela festa popular só era possível na monarquia. Que na República nunca haveria um Presidente tantos anos. Não imaginam o que me sossegou ficar a saber que Putin poderá estar por dias, e que kim jong un - que, já agora, também felicitou a Rainha pelo seu jubileu de platina -  não se pode fiar na sua juventude. 

O ímpeto decisivo para trazer aqui estas celebrações surgiu quando a senhora duquesa rematou a entrada com "veja bem, toda a gente em todo o mundo conhece a Rainha de Inglaterra, e ninguém sabe quem é o Presidente da República da Alemanha". Só que foi o mesmo que me deu para deixar a senhora por ali, e desligar o televisor.

 

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

A frase que dá título a este texto - "Diminuir salários não é uma política, é uma urgência" - foi proferida por António Borges, o messias sempre adiado do PSD. Que nunca se submeteu ao voto de ninguém, nem no país nem sequer no partido. Um Goldman Sachs boy, descartado do FMI por incompetência, nas palavras que Marc Roche, jornalista e autor, deixou num livro recente sobre o banco que domina o mundo e ajudou a aldrabar as contas gregas, que, mesmo incompetente, ganha 225 mil euros do FMI – livres de impostos, como a senhora Lagarde – a que junta mais uns milhares pelas funções que mantém em conselhos de administração de empresas. O que, como o governo recentemente declarou, não tem qualquer tipo de incompatibilidade com as funções públicas que o mesmo governo lhe entregou, onde vai buscar mais uns largos milhares. Onde se tornou finalmente ministro, sem o incómodo de se sujeitar a um salário de ministro!

António Borges representa tudo o que de pior se está a passar em Portugal.

Há dez anos atrás os jovens saíam das universidades e tinham acesso ao início de uma carreira profissional. Nas consultoras – nacionais e internacionais -, nos escritórios de advogados, na banca, e nas empresas em geral. O vencimento de entrada generalizou-se nos mil euros, e a ideia que passava era que todos eram pagos pela mesma moeda, independentemente do seu valor actual e do seu potencial futuro. Chamava-se-lhes então a geração dos mil euros!

Hoje, dez anos depois, cerca de metade dos jovens nas mesmas condições não têm emprego. Não têm qualquer possibilidade de entrar no mercado de trabalho. E depara-se com ofertas de emprego como esta:

 

 

Foi aqui que chegamos. É aqui António Borges quer que fiquemos!

 

Frederico Varandas em Tribunal? A sério?

 

Pinto da Costa e o Porto anunciaram uma acção judicial contra Ferderico Varandas. Aposto que se ficaram por aí, pelo anúncio. 

Este artigo do Eduardo Dâmaso - sim ainda há jornalistas a sério, e sérios, na Cofina - vem apenas lembrar o que toda a gente quer que se esqueça. Já lá vão 18 anos, e quando tudo voltou ao mesmo, isto não pode ficar esquecido. Varandas fez bem em levantar a pedra pesada que foi posta sobre o assunto. E, com este artigo, o que o Eduardo Dãmaso está a dizer é que Varandas bem pode esperar sentado pelo processo de Pinto da Costa. Ele e nós todos! 

Paradoxo do contra a favor

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Com a polémica aberta pela divulgação pública do acórdão do Supremo Tribunal americano, que defende a alteração à despenalização do aborto, em vigor desde 1973, o tema voltou à agenda política. Na América, mas também por cá.

Por cá, e também à boleia da recente polémica à volta da cooptação do juiz António Almeida Costa para o Tribunal Constitucional, que entende que essa despenalização é inconstitucional, aproveitou-se para tentar relançar o tema, mesmo que o Presidente da República, que como se sabe também navega (seria talvez mais apropriado dizer que também nada) nessas águas, tivesse de imediato acalmado os ânimos, declarando que esse, hoje, é um não assunto.

Sempre que o "não assunto" vem à tona surge na dicotomia entre pró e contra o aborto. É simples, na opinião publicada: quem defende a despenalização, é a favor do aborto; que se lhe opõe, é contra. Assim foi sempre, e assim continua a ser. E não é assim por facilitação de linguagem, é assim porque se quer fazer crer que é mesmo assim.

Terei em tese de admitir que haja quem seja a favor do aborto. Pessoalmente, não conheço ninguém. Sou e sempre fui a favor da despenalização, e sou, e sempre fui, contra o aborto. E assim é toda a gente que conheço que é a favor da despenalização do aborto. E não consigo entender como possa haver quem defenda o aborto. Como não consigo perceber como, em profunda e esclarecida convicção, alguém possa actualmente entender que quem ser contra o aborto é ser contra a sua despenalização.

Mais que uma questão de princípio(s), é uma questão de números. 

O "Expresso" revela hoje que o número de interrupções voluntárias da gravidez em 2021 caiu 15,5% em relação ao ano anterior, em que já tinha caído 6,3% face a 2019. Os números são, respectivamente, 11.640, 13.777 e 14.696. Entre 2011 e 2017, caíram em 25%,  revelava o Diário de Notícias em Março de 2019.

Se a despenalização do aborto contribuiu desta forma para o reduzir, parece legítimo concluir que ser verdadeiramente contra o aborto não é ser contra a sua despenalização, ao contrário do que se faz passar. E muito menos, como mais flagrantemente se comprova, ser contra a despenalização do aborto nos termos consagrados na lei nacional, é ser pró-vida, como planfetariamente é apregoado. Não é só pelo número de interrupções de gravidez que foi reduzido. É, bem mais importante ainda, pelo o número de vidas de mães que foi poupado, ao substituir actos absolutamente clandestinos, em deploráveis e perigosas condições sanitárias, por actos medicamente assistidos, e devidamente acompanhados nas suas diversas envolventes.

Sem paradoxos, ser pró-vida tem que ser bem diferente daquilo se propagandeia. E podemos voltar ao início, à América. Onde, os que agora pretendem inverter a legalização do aborto, são precisamente os mesmos que impedem a proibição da venda de armas, com que todos os dias se matam crianças, e crianças matam. Onde os massacres são notícia diariamente. Anteontem, aconteceu mais um, desta vez num hospital. E onde, ainda na segunda-feira passada, uma menina de 10 anos tirou uma pistola da mala que a mãe lhe tinha passado para matar uma mulher que com ela travava uma qualquer discussão.

 

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Vi há dias, algures, - confesso que não tenho uma grande memória, apenas uma memória selectiva que deita facilmente fora uns detalhes para se fixar nos que realmente lhe interessam – um quadro que dava conta de um estudo efectuado em oito países da UE. Recolhia em cada um desses oito países – Alemanha, Grécia, Itália, Inglaterra, França, Espanha, República Checa e Polónia – a respectiva opinião sobre um conjunto de atributos relevantes para as nações. Como estou simplesmente a socorrer-me da minha memória – selectiva, e como referi já nem sei onde é que poderei recuperar o tal quadro – corro o risco de deixar algum desses atributos para trás. Creio que me recordo de todos, apenas quatro. Mas, se assim não for, são de qualquer forma estes que me interessam: os mais e os menos trabalhadores e os mais e os menos corruptos dentro da União Europeia.

Os resultados eram interessantes:

  • Em todos os oitos países se achava que os alemães eram os mais trabalhadores;
  • Em nenhum dos oito países se achava que o seu era o menos trabalhador, condição que era invariavelmente atribuída a gregos e italianos, sendo que, nestes, cada um achava que era o outro;
  • Também em todos os oito países se apontava a Alemanha como o país menos corrupto;
  • Mas – e aqui vai o que mais me impressionou -, à excepção da Alemanha, como se percebe pela questão anterior, cada um achava que o seu país era o mais corrupto.

Não são apenas os gregos e os italianos a acharem que a corrupção tomou conta dos seus países, como provavelmente todos achariam normal. Não! Os franceses acham que é lá e não na Grécia ou em Itália que a corrupção mais se faz sentir. E os espanhóis, e os polacos e os checos…

Isto dá a ideia clara do estado da Europa. Do desencanto que atravessa as nações europeias e da credibilidade que atribuem às suas elites. E ajuda a perceber por que é que os capitais voam para a Alemanha. Por que é que a Alemanha não precisa sequer de pagar juros pelo dinheiro que capta, como se tem visto nas últimas semanas pelas taxas simbólicas de 0,07%. Por que é que há gente que prefere colocar dinheiro de borla na Alemanha, como que a pedir por favor para lho guardar, que a emprestá-lo a taxas de juro agiotas aos outros.

E, claro, esclarece definitivamente por que é que as eurobonds nunca passarão de uma quimera…

Mais que continuar a bater na Alemanha e na Senhora Merkel confesso - logo eu, a quem não têm doído as mãos - que acho que talvez não fosse má ideia reflectir um bocadinho sobre estes resultados. E a realidade que lhe está por trás!

Fantasmas

Houve militantes-fantasma a votar onde Montenegro ganhou com 100% dos votos  | PSD | PÚBLICO

 

Lamenta-se o país e o PSD do fraco entusiasmo que as eleições internas do partido no passado fim-de-semana suscitaram. No país e no PSD.

E, claro, lamenta-se a fraca participação eleitoral dos militantes. A vitória eleitoral de Luís Montenegro, tendo sido expressiva, com mais de 70%, e com mais 11.972 votos que Jorge Moreira da Silva, resultou da votação de apenas cerca de 17 mil militantes. 

Vem agora a saber-se que, mesmo nesse número de votantes, muitos são eleitores fantasmas. Que votaram em Luís Montenegro!

Conta o "Observador" que em Castelo de Paiva, onde Jorge Moreira da Silva não tinha qualquer delegado na mesa, com 108 militantes, votaram 105. Todos em Luís Montenegro; zero - nenhum - em Jorge Moreira da Silva. Até aqui tudo bem - haveria apenas 3 militantes que não tinham votado, e os que votaram podiam todos ter votado no candidato vencedor. Só que o jornal garante que falou com dezenas de militantes e que muitos lhe confirmaram que não tinham ido votar: uns por estarem fora nesse sábado; outros porque estavam com covid.

Em Vimioso, no concelho de Bragança, conta o "Público", houve pessoas que pretenderam votar sem apresentar o respectivo cartão de cidadão. Aí, já com a candidatura de Jorge Moreira da Silva representada na mesa, essas pessoas foram barradas, vindo a apurar-se que os nomes por que se identificavam correspondiam a emigrantes, ausentes da terra. 

Pode lamentar-se o desinteresse por estas eleições no PSD. Mas, mais - muito mias - que a fraca participação eleitoral dos militantes do PSD, há que lamentar estes exemplos de batota e caciquismo. Bem nos lembramos do tempo em que os mortos votavam ... 

Pelo pouco que foi dado a perceber nesta disputa eleitoral, havia alguma diferença de ideias entre os dois candidatos que disputaram a liderança do PSD. A grande diferença, essa, e que Jorge Moreira da Silva não quis explorar, era mesmo de pessoas. De perfil, de carácter e de comportamento, que estas notícias apenas confirmam e reforçam.

Luís Montenegro bem pode anunciar-se candidato a primeiro-ministro. Pode ser, basta que dure quatro anos, e chegue às próximas eleições legislativas. Mas ninguém acredita muito que seja uma pessoa destas a levar o PSD de volta ao governo. É que não há só fantasmas nos eleitores!

Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Encaixe é certamente o campeão dos homónimos em futebolês. Começou por surgir ao redor do guarda-redes, como se fosse uma linha de baliza ou os limites da pequena área, para significar aquele gesto técnico com que eles transmitem confiança e tranquilidade. Aos seus companheiros e aos seus adeptos!

É aquele gesto de segurar a bola bem apertada entre os antebraços e o peito. Dali não foge! Foi caindo em desuso à medida que os guarda-redes iam perdendo, mais que a segurança, a educação e o cavalheirismo. Em vez de a aconchegar contra o peito e de a proteger, como é digno de uma donzela, passaram a socar a bola ou dar-lhe uma palmada!

Com tão incompreensível mudança de atitude, os guarda-redes mantiveram, mesmo assim, a expressão no seu domínio. Não admira que, quando deixaram de tratar a bola com a ternura e o carinho que merece para passar a agredi-la a soco e à palmada, tivessem deixado de encaixar a bola e passado a encaixar golos. Surgia então um novo homónimo!

Com a financeirização – desculpem o neologismo – que passou a tomar conta do futebol ainda antes de tomar conta do mundo, o encaixe abandonou o domínio dos guarda-redes e passou para o domínio de outros agentes do jogo bem mais importantes: os agentes de jogadores, também chamados, impropriamente, de empresários do futebol. Impropriamente porque, empresários de futebol, só há um em Portugal: Joaquim Oliveira, evidentemente. Jorge Mendes, não. Esse é um agente do jogo, tão claramente que até foi recentemente homenageado por Miguel Relvas por mérito desportivo!

Os clubes passaram a procurar fazer encaixes de qualquer forma, nem que fosse ao murro e à palmada. Nem por isso enriqueceram - isso ficou para os agentes de jogadores – porque logo a seguir a um encaixe gastam como se tivessem feito dez! Isto quando não o gastaram antes de qualquer encaixe, ficando depois à espera de um milagre para ir amortizando pedacinhos de dívida. Como aconteceu ao Sporting. Estas coisas acontecem sempre ao Sporting!

Na época passada gastou à fartazana, e sem qualquer encaixe. A última vez que alguma coisa semelhante se passara tinha sido com uma maçã podre. Não admira, quando são eles próprios a desvalorizar a própria fruta, de que é que estão à espera?

Valeu-lhes na altura que havia alguém tão dado à fruta que nem tinha mal nenhum que fosse podre!

No Sporting, a ânsia de encaixe é tal que venderam o João Pereira com desconto de fazer inveja ao Pingo Doce. Esperar pela valorização do rapaz no europeu? Qual quê?

Espero que não venham a ser acusados de dumping. Não estou a ver o António Salvador a aceitar factura nenhuma, como os fornecedores dos outros tiveram que aceitar…

Mas não se pense que nisto de encaixe tudo o que o Sporting faz é mal feito. Tem também o mérito de ajudar o futebolês, fazendo regressar o encaixe ao domínio do guarda-redes, donde, como vimos, há muito fugira. É para aí, precisamente para o guarda-redes, que agora aponta as baterias de novo encaixe - do único que provavelmente lhe restará – esperando, agora sim, que o europeu lhe acrescente uns trocos. Provavelmente é uma questão de falta de confiança na selecção: acreditam que a baliza da selecção vai ser tão fustigada que alguma coisa haverá de sobrar para o Rui Patrício brilhar.

Mas a necessidade de encaixes não é exclusiva de Alvalade. Na Luz e nas Antas os encaixes são outros, mais vistosos, mas nem por isso menos necessários.

No Benfica, no entanto, ainda só se compra. Não sei se à grande e à francesa, mas por enquanto só desencaixa. Já no Porto é diferente. Ali há gestão de excelência!

O Cebola já foi de borla. Para o Atlético de Madrid, de onde ainda não chegou o encaixe do Falcao. Já para o Hulk é o decalque exacto da estratégia Pingo Doce: 50% de desconto! Ainda não se sabe é se o Abramovich não vai querer descontar o que pagou pelo barrete do ano passado…

Nas grutas também se faz vinho

Tive ontem oportunidade de participar numa experiência rara. Passo a contar.

O Carlos Alberto Jorge - o Berto para os mais próximos - é um homem que se confunde com as Grutas de Mira de Aire. É o Presidente do Conselho de Administração da empresa que as explora, e toda a sua vida foi feita nas - e para as - Grutas, que só por ele são hoje o que são. Nelas tem feito - e continua a fazer - experiências várias de exploração das condições únicas de profundidade, temperatura e humidade das grutas. Uma delas foi deixar por lá umas garrafas de vinho a ver no que dava, por acaso ou não - isso não consegui perceber - da Casa Ermelinda de Freitas. 

Partilhou o resultado da experiência com o seu núcleo de amigos. Daí com a equipa do produtor de Fernando Pó, que logo acolheu a ideia de dar uma nova dimensão à experiência, com uma produção da colheita de 2015. A partir de uma selecção de castas nacionais e francesas - os pormenores técnicos não são para mim - a produção entrou em estágio de dois anos em barris de carvalho nacional e americano, e foi engarrafada em 2017. Dessa produção 12 mil garrafas seguiram para a profundidade das grutas, num processo que foi um misto de logística complexa e de aventura. As restantes seguiram o destino normal das suas caves.

A ideia era que as 12 mil garrafas permanecessem durante três anos de estágio em condições únicas de temperatura (constante de 17º) e humidade das grutas, de onde sairiam para o mercado para assinalar os 100 anos da Casa Ermelinda de Freitas, a comemorar em 2020. A pandemia trocou as voltas todas, e a tudo, e as garrafas acabaram por lá se manter por mais dois anos. 

Ontem, nas Grutas de Mira de Aire, foi apresentado pela Drª Leonor Freitas e pelo Carlos. Chama-se "Grutas" e foi provado, em paralelo como o seu "irmão gémeo", de que se separou há cinco anos. Não sei muito de taninos e de outros polifenóis, nem tenho o mais apurado dos olfactos para estas experiências. Apenas gosto, ou não gosto. E quando gosto, do que gosto ainda mais. Gostei muito do Grutas. E se gostei mais dele do que do seu "irmão gémeo" que cresceu nas caves, é porque as grutas lhe deram qualquer coisa a mais no crescimento.

Não são muitas garrafas, e estão - irão entretanto estar - à venda apenas nas Grutas de Mira de Aire, na loja da Casa Ermelinda Freitas e no WineNot?, em Lisboa. Já não dá para repetir a experiência de ontem, mais a mais acompanhada das melhores iguarias de Mira de Aire e de Azeitão. Mas ainda dá para experienciar mais um dos belos vinhos que se fazem neste nosso país, um dos que melhor sabe fazê-los no mundo.

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Há 10 anos

O retrovisor da vida: olhando para trás e vendo coisas boas

Tenho a profunda convicção que nada se constrói contra a democracia. O processo da construção europeia, e o ponto a que chegou, reforça-me essa convicção!

Tudo se fez sempre nas costas dos europeus e a União, enquanto foi dirigida por órgãos próprios – coisa que, como se sabe deixou de acontecer para passar a ser dirigida pela Alemanha -, foi-o à revelia de qualquer processo democrático. Nenhum órgão, nem nenhum membro de qualquer órgão, foi alguma vez eleito. O Parlamento Europeu, como se sabe, não conta para nada disso.

Os governos dos países membros prometeram sempre, em algum momento, dar a palavra aos seus cidadãos sobre os mais diferentes tratados. Sempre recuaram, sempre voltaram atrás com esse tipo de compromissos, para encontrar outras vias de vincular os seus países. Por medo da democracia, evidentemente! E a Europa lá foi andando, pela mão de governos, legítimos é certo, mas sem legitimidade específica, de costas voltadas para os cidadãos.

A Irlanda, porque a isso está obrigada pela sua Constituição, é das poucas excepções. Não que lhe tenha valido de muito porque, como se sabe, tem sucessivamente sido obrigada a votar até que os resultados sejam os pretendidos… Sempre que votou não teve que voltar a votar até que votasse sim!

Nos últimos dois referendos – aos Tratados de Nice e de Lisboa – atingiu, à segunda, o obrigatório sim. Ontem voltou às urnas, desta vez para ratificar o tratado orçamental, o tal da regra de ouro, do tal limite de 0,5% para o défice que, até ao momento, apenas a Grécia e Portugal ratificaram, nas condições que por aqui se têm abundantemente referido.

Não são ainda conhecidos os resultados oficiais, mas circula por aí que o sim terá ganho com 60% dos votos expressos. Que não resultam de muito mais de 20% de participação!

Quer dizer, os irlandeses – intervencionados, como se sabe, e a braços com as mesmas doses de austeridade que nos tocam, com taxas de desemprego que, não atingindo o descalabro português, também não anda assim tão longe, com doses maciças de emigração e com os jovens a serem obrigados abandonar o país, com ou sem recomendação de algum secretário de estado – sabendo que, se votassem não, teriam pela frente tantos referendos quantos os necessários, optaram por facilitar as coisas e não comparecer nas assembleias de voto. 80% de abstenção!

Os irlandeses sabiam que a única liberdade que lhes restava (estavam bem informados que, se votassem não, já não veriam a próxima tranche) era precisamente a de não ir votar. E, naturalmente, usaram-na… E a Europa ficou feliz e tranquila!

Não me admiraria que, nas próximas eleições na Grécia - que trazem a nomenklatura europeia preocupadíssima com o Siriza e empenhadíssima em manter o poder nas mãos dos que os andaram a enganar durante décadas – os gregos tomassem idêntica opção, para que a Europa possa respirar de alívio.

E lembrarmo-nos que a democracia era a condição sine qua non de adesão à comunidade europeia…

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