Já não há paciência para este cavalheiro…Os trabalhadores ganham de mais,os empresários são ignorantes. Só ele, que não tem vergonha – nem por onde ela passe -, que passou pelos sítios menos recomendáveis deste mundo, que governa sem ter de se sujeitar ao mísero ordenado de um ministro, que anda por aí a vendertudo o que mexe, que acumula e mistura interesses privados e públicos é abençoado pela inteligência e clarividência que lhe permitem ver o que mais ninguém vê. Que vê um milagre económico em Portugal, que acha que o equilíbrio das contas externas é uma obra ímpar deste governo de excelência, e não o resultado de uma economia destruída, sem consumo e sem investimento. Que vê reformas sobre reformas levadas a cabo por este governo de acção e de convicções inabaláveis…
É preciso quem o mande calar porque, por ele, não se cala. Nem se enxerga…
Estão a decorrer buscas da Polícia Judiciária nas instalações da Presidência do Conselho de Ministros. As notícias dizem que em causa estão suspeitas de corrupção por parte do Secretário Geral deste órgão central no funcionamento do governo, que alegadamente terá recebido um milhão de euros de luvas num negócio de equipamento informático levado a cabo sem concurso público.
Claro que buscas são buscas, e suspeitas são suspeitas. Estão ambas longe de ser acusações. E mesmo se, e quando, aí chegarem ficam ainda longe da condenação, e dentro do princípio da presunção da inocência.
Mas ... caramba. No estado em que as coisas estão, e logo no dia seguinte a ter-se ficado a saber que as empresas do marido da ministra que toma conta dos fundos europeus estavam a recebê-los, e de uma deputada do partido do governo ter exigido que essa informação fosse retirada de uma acta e apagada a respectiva gravação, é caso para dizer que o nó da gravata de António Costa está a ficar demasiado apertado.
Já ouvi por aí dizer que as buscas, e ainda mais em dia de reunião de Conselho de Ministros, têm uma boa notícia - que a Justiça funciona. Triste, e lamentável notícia, essa que essas vozes nos dão. Então mas já chegamos ao ponto de achar que a regra básica da separação de poderes, num estado de democrático, e de Direito, é notícia?
Creio que nunca se falou tanto emadaptaçãocomo nos últimos tempos, a propósito dejogadores adaptados.
A adaptação é um processo de convergência com uma nova realidade, de ajustamento físico e mental a um novo meio envolvente. Todos nós, perante uma mudança das condições que nos envolvem, entramos em processos de adaptação. Se mudamos de emprego, temos certamente um processo de adaptação pela frente. Se mudamos de casa não podemos fugir à adaptação a um novo local, a novos vizinhos e até a novas rotinas.
Depois desses múltiplos processos de adaptação passamos a estar adaptados. Adaptados ao novo emprego, à nova casa, aos novos vizinhos…
Os jogadores de futebol também passam por processos de mudança deste tipo, e até com uma frequência bem superior à dos comuns mortais que não fazem de uma bola forma de vida. A mobilidade profissional de um jogador – como de qualquer outro profissional – de futebol é incomparavelmente superior à de qualquer outra actividade.
E no entanto, emfutebolês, umjogador adaptadonão é um jogador que acabou de passar por um processo de adaptação a um novo clube, a um novo treinador ou a novos colegas. Umjogador adaptadoé tão simplesmente um jogador reconvertido. Um jogador de meio campoadaptadoa defesa central, um defesa centraladaptadoa lateral ou um defesa centraladaptadoa trinco ou a pivô defensivo. Mas o que está mesmo na moda éadaptaralas a defesas laterais!
Estas adaptações resultam de circunstâncias muito diversas. Umas vezes de uma simples coincidência, ou de um acaso, outras de insuficiências de planeamento, outras ainda de insuperáveis dificuldades financeiras que obrigam quem não tem cão a caçar com gato e, finalmente, outras de razões que ninguém consegue entender. E, quando assim é, chamamos-lhe teimosia!
Basta lembrarmo-nos do que Vítor Pereira fez na época passada com o Maicon a lateral direito. Ninguém percebeu. Só podia ser teimosia…
Mas é o Benfica o campeão das adaptações. Sem recuar muito no tempo – e para não ir à mais extraordinária (no sentido de rara, mas também de invulgar eficácia) que me vem à memória quando, há 40 anos atrás, Hagan transformou um dos mais velozes extremos direitos de sempre, Nené, num ponta de lança que, sem sujar os calções, andou mais de uma década a marcar golos de toda a maneira e feitio – lembramo-nos do Miguel, que o Chalana, do dia para a noite, pegando num ala direito mediano, transformou num lateral direito do melhor que chegou a haver por esse mundo fora. E, no Benfica, é Jorge Jesus o mestre das adaptações!
Tudo começou com Coentrão, um rapaz que jogava lá à frente, quando jogava. Porque na maioria das vezes não jogava. Andava mesmo perdido, de Saragoça para Vila do Conde, sem se adaptar nem servir em lado nenhum. De repente, sem lateral esquerdo – uma velha maldição deixada no Benfica, não por Bella Gutman, mas por Lello, esse brasileiro que era uma espécie de Maxi (também eleadaptado, ainda antes da era Jesus) da esquerda e que partiu sem ninguém perceber porquê – omestre da tácticalança-o a lateral esquerdo. Foi um sucesso e rendeu logo 30 milhões de euros, que o Jorge Jesus transformou num crédito pessoal inesgotável. Ao ponto de nunca mais querer outra vida que fazer adaptações!
Desatou a comprar avançados, à dúzia, só para ter motivo para osadaptaràs outras posições de que, assim, com aquela política de aquisições, a equipa ficava carenciada. O mais badalado foi Melgarejo, ou a Melga para facilitar as coisas, um jovem avançado com inegáveis potencialidades que Jesus teimou fazer lateral esquerdo. Nesta altura do campeonato já dá para ver que ainda não conseguiu fazer dele um lateral esquerdo. Mas já conseguiu fazer dele um jogador medíocre, que nada acrescenta à equipa: aquela ala esquerda, com Nolito e Melga, é verdadeiramente assustadora!
Com a inesperada partida de Witsel e Javi Garcia o Jesus esfregou as mãos: aí estavam mais duas oportunidades para o seu dedo milagroso. Matic iria fazer de Javi Garcia, numaadaptaçãoesperada mas, para poder ir mais além, decidiu esquecer-se que Carlos Martins existe eadaptaro ainda inadaptado Enzo Perez a Witsel.
Foi a contra gosto que o primeiro-ministro recuou na TSU. Não foi por ter reconhecido o erro, e para o corrigir, que a medida foi parar ao caixote do lixo. Foi simplesmente porque foi obrigado a isso, a contra gosto. E amuado, como se viu!
Passos Coelho amuou, em particular com os empresários. Uns ingratos, acha convictamente. Daí que ontem, no almoço com banqueiros no Estoril – em mais uma penosa deslocação – lhes tenha deixado uma ameaça (a tal lição para o futuro que, em tom ameaçador, não quis concretizar) e uma acusação de cobardia. Foi por cobardia, acha ele, que muitos empresários se colocaram conta a medida. Porque tiveram medo dos seus trabalhadores!
O homem está perdido, não percebe nada do que à sua volta se passa. Mas nem tudo lhe corre mal: a privatização da Caixa Geral de Depósitos, que ainda há poucos dias, no debate quinzenal na Assembleia da República e interpelado por Seguro, era tabu – apesar de toda a gente saber que tinha sido assunto tratado com a troika – aí está, a fazer o seu caminho. Sem que ele tivesse de dizer uma única palavra…
Ainda há coisas que funcionam… Não são as que dependem da acção do governo, mas há sempre muita gente disponível para dar uma mãozinha!
Mãozinha é, de resto, coisa que não falta a este governo. Há sempre uma mãozinha para meter em tudo. Veja-se o rato que a montanha das fundações pariu. Quantas mãozinhas não andaram por ali?
Penoso. Cada vez mais penosos os últimos dias dos governos. De todos!
O INE divulgou hoje os dados oficiais relativos ao primeiro semestre. O défice – sempre o centro do problema – é ainda superior às piores expectativas que por aí têm circulado (mas ao nível do que por aqui fomos avançando) fixando-se nos 5,6 mil milhões de euros, qualquer coisa como 6,8% do PIB. Os 5%, para que a troika permitiu que resvalasse, são uma miragem… Mesmo com medidas extraordinárias, mesmo transformando a privatização da ANA numaconcessão, para que a receita possa abater ao défice em vez de abater directamente na dívida pública!
E, no entanto, continuam a fazer tudo na mesma … À espera que as mesmas medidas, nas mesmas condições, produzam outros resultados e não os mesmos. Mais teimosos que a realidade!
A selecção nacional de futebol voltou a falhar. Voltava a bastar-lhe um empate, em casa. Mas voltou a perder!
Chegou a este último jogo de apuramento para a fase final da Liga das Nações com dois registos históricos - um favorável, e outro desfavorável. A favor, quando o empate bastava, a história de empates nos largos últimos anos com a Espanha. Contra, a história das derrotas, nas duas últimas vezes, nas mesmíssimas circunstâncias - com a França, para esta mesma competição; e com a Sérvia, na fase de apuramento para o mundial que aí vem.
Repetiu-se o fado, sempre mais virado para o lado desgraçado da história.
De Fernando Santos, e de Cristiano Ronaldo, até porque já nem se sabe bem onde começa um e acaba o outro, nem vale a pena dizer nada. Sem condição física nem psicológica, sem treinos nem jogos, e à beira dos 38 anos, ambos entendem que pode jogar dois jogos inteirinhos em 3 dias. E fica tudo dito, até porque Fernando Santos diz que tudo "é futebol". Em Praga, Cristiano Ronaldo não jogara nada, mas ... "é o futebol". Hoje, falhou desastradamente três ou quatro oportunidades de golo. Que "normalmente não falha", no dizer de Fernando Santos. E que também isso é "o futebol".
Fale-se então de Luís Henrique, o seleccionador espanhol. Que escalou uma equipa de segunda linha, retirando-lhe sete dos titulares no último jogo, no sábado, com a Suíça, para entreter o jogo. Que teria de ganhar, em Braga, para seguir para a final a quatro a disputar no próximo ano.
Manteve o jogo entretido e entretendo-se com a bola. Ao intervalo fez entrar Busquets, para o entreter melhor. E um quarto de hora depois lançou os putos maravilha que lá tinha sentadinhos no banco. Quatro, ao todo: os consagrados Pedri e Gavi, e os debutantes Yeremi Pino e Nico Williams. E todos com menos de 20 anos!
E foi o bom e o bonito. Acabaram com a brincadeira, passaram a asfixiar e, com requintes de malvadez, marcaram o golo a dois minutos dos 90.
E foi isto. E isto é que é futebol: enquanto o seleccionador espanhol substituía os piores pelos melhores para a estocada final, o de cá fazia exactamente o contrário. O resto é um equipamento horrível e mais uma braçadeira de capitão para o chão!
Não é quando for vice-primeiro ministro de Ventura que Luís Montenegro perceberá o que anda a fazer. Será seis meses depois de ter tomado posse, quando for corrido a pontapé desse governo e for disputar eleições antecipadas.
Sem surpresa - todas as sondagens, há muito, o davam por certo - o partido de extrema-direita "Irmãos de Itália" ganhou a eleições italianas, e Giorgia Meloni, a discípula de Steve Bannon, será a primeira mulher a chefiar um governo em Itália.
Ainda não são conhecidos os resultados finais oficiais, mas deverão desviar-se muito dos apontados 26% ao partido da seguidora de Mussolini que, somados aos 8,9%, de Matteo Salvini - da Liga, antes Liga do Norte, até aqui o principal rosto da extrema direita italiana -, e aos 8% da Força Itália, de Silvio Berlusconi, garantem a maioria absoluta e a governação à extrema direita, e mais uma dor de cabeça para a Europa.
Depois da Hungria e da Polónia, agora a Suécia e a Itália. Depois, provavelmente, a França. E eventualmente a Espanha ... neste processo de normalização da extrema-direita há muito em curso, que culmina no rótulo de "centro-direita" que todos os media colaram a este resultado eleitoral em Itália.
Na maioria dos jornais e televisões em Portugal (ainda não vi o que vai pela Europa e pelo mundo) a notícia é que o "centro-direita" ganhou em Itália. Alguns - poucos - lá introduzem a expressão "extrema" para classificar a solução vencedora como coligação de centro e extrema-direita. Não nos dizem onde encontram o centro na tríade Meloni, Salvini e Berlusconi, e apressam-se a revelarem-nos uma Giorgia Meloni inteligente, capaz, moderada e tolerante. Quando nem um só desses atributos nos salta à vista.
A globalização, a descrença nas instituições e a desilusão com os políticos que as dirigem, lavraram o campo para a extrema-direita. A guerra e a inflação fertilizaram-no, e agora é vê-la crescer.
No passado não se soube, ou não se quis, mondá-la. Isolá-la. Agora normaliza-se a partir de Itália. E sabe-se do potencial da moda italiana!
A semana passada teve dois pontos altos: a reunião do Conselho de Estado, uma mega reunião de oito horas animada pelo desfile de carros alegóricos, e a cimeira entre os partidos da coligação, que haveria de resolver a crise política que Paulo Portas trouxera pelo braço.
Aqui se fez eco do que de relevante saiu desta última, ficando todos a perceber que, com a decisão de apresentarem listas conjuntas para as autárquicas, a crise política estava definitivamente ultrapassada, como o próprio Presidente da República fez questão de anunciar pouco antes do início da reunião do Conselho de Estado.
Tenho de reconhecer que, ao contrário do que maciçamente fez a Comunicação Social, não dei qualquer relevo ao que de realmente importante saiu dessa reunião de reconciliação dos partidos da coligação. Preferi, certamente com algum sectarismo, salientar que o PSD e o CDS ultrapassaram todas as divisões, e resolveram e puseram-se de acordo sobre todos os graves problemas do país, logo que acordaram em concorrer às próximas autárquicas com listas conjuntas. Em vez de, como toda a Comunicação Social, salientar a decisão de criar o CCC. Isso mesmo: o Conselho de Coordenação da Coligação, um órgão que ninguém percebe para que serve, até porque percebemos que o que precisa de coordenação é o governo, e não exactamente a coligação.