Na entrevista de há pouco do primeiro ministro a António José Teixeira, na RTP, António Costa recuperou a forma. Não me refiro à forma física, nem sequer a política, onde são conhecidas as suas aptidões. Ou habilidades.
Recuperou na forma - a única que poderia recuperar, já que a substância nunca foi o seu forte - que também tinha perdido. Na realidade não disse nada de novo. Não esclareceu, e muito menos limpou, uma, que fosse, das múltiplas trapalhadas do governo. Não apontou para a saída de um, que fosse, dos becos em que estamos metidos. Mas foi António Costa, quando se duvidava que ainda o conseguisse ser.
Mas também, com tudo o que lhe aconteceu nestes últimos dois meses, só faltava que quisesse continuar a ser Luís XIV!
António Costa esperava por uma vaga de fundo, uma onda que o levasse, na sua crista, ao ponto mais alto do poleiro socialista. Ouviu falar na onda da Nazaré, que levaria o nome desta minha praia - será sempre a minha praia, mesmo que aquela não seja a minha onda - ao topo do mundo, e pensou que… era aquela. Que aquela onda gigante não tinha aparecido na Nazaré para Garret McNamara surfar e voltar a bater o seu recorde mundial, mas apenas para o levar ao destino que há muito o destino lhe traçara.
Foi já tarde, bem tarde, que percebeu o que se estava a passar. Aquela era uma onda demasiado grande e, como o pobre faz da esmola quando é grande, desconfiou. E não a pegou, deixou que morresse na praia... perante desespero dos socratistas.
Aquela era a sua – deles - onda, onde tudo tinham apostado, convencidos da já crónica fraca memória dos portugueses. E convencidos também que, com o sol da ambição a bater-lhe nos olhos, Costa não perceberia que aquele seria um sol de pouca dura!
Uma sucessão de erros de cálculo que acabou num triste espectáculo. Mas clarificador!
Sócrates, lá por Paris, deve ter ficado a perceber que, para apanhar a onda, terá que ser ele a trepá-la. Não tem cá tropas que lhe façam isso.
António Costa deve ter percebido que não lhe chega ter boa imprensa. Precisa de tropas - que não tem – porque com as tropas dos outros não chega lá. Saiu pela porta pequena, e com sérios riscos de até Lisboa perder.
Seguro, que não tem autoridade nenhuma para acusar quem quer que seja de falta de lealdade – porque disso pode toda a gente acusá-lo, conspirou na sombra durante todo o consolado de Sócrates mas sempre sem coragem para dar a cara,sempre escondido por trás dos arbustos-, provavelmente com mais facilidade do que alguma vez imaginara, ganhou novo fôlego. Que, já se percebeu, não lhe servirá para muito…
Quem se fica a rir é Passos Coelho, que sabe que pode dormir descansado. Assim a consciência lho permita…
A disputa interna no PS, e a marcação da data do congresso – antes ou depois das autárquicas é a questão - transformou-se rapidamente no tema da semana.
Sempre me pareceu óbvio que seria do interesse de Seguro marcá-lo para depois das próximas eleições de Outubro: os resultados do partido serão necessariamente bons, penalizando o partido no governo, como sempre acontece. Em Lisboa, ainda e sempre o resultado mais relevante, Seguro ganharia sempre: ganharia se Costa ganhasse, ganharia se Costa perdesse e ganharia ainda se Costa não ganhasse nem perdesse. Porque ganhando, ganharia o partido. E perdendo, mais do que perder o partido, perderia o seu rival. Se António Costa decidisse não ir a jogo, o PS ficaria sem candidato ganhador. O partido perderia provavelmente Lisboa, o que não deixaria de ser levado a débito do actual presidente da Câmara de Lisboa, por ter colocado os seus interesses acima dos do partido.
António Costa, pelo contrário – evidentemente – teria interesse em que o Congresso precedesse as eleições autárquicas. Porque Seguro não teria oportunidade de tirar partido da expectável vitória eleitoral e porque não seria ele próprio obrigado a expor-se a um resultado eleitoral, com o qual tem pessoalmente pouco a ganhar e muito a perder. Ficando ainda com grande espaço de manobra para lidar com a gestão da sua decisão sobre a recandidatura a Lisboa.
Curiosamente não é esta a perspectiva da maior parte dos comentadoresencartados. Marcelo Rebelo de Sousa, que os comparava, ontem, à tv a cores (António Costa) e a preto e branco (Seguro) entende precisamente o contrário. Mas a verdade é que não explica porquê, limitando-se a concluir que, numa disputa antes das eleições, António Costa sairá derrotado, embora argumente que, "para Seguro, é ideal a eleição do líder ser antes das autárquicas, porque apanha António Costa no meio de duas corridas: PS e Lisboa”.
Não me parece que o argumento colha. Até porque, como já se percebeu, António Costa já descartou Lisboa. Utilizou-a para se esconder há dois anos atrás, permitindo que esta ” tv a preto e branco” chegasse à liderança do partido, porque o único cheiro que captava era o da areia do deserto. Descarta-a agora, que o cheiro a poder entra pelas narinas dentro!
Há apenas uma semana, no pico dos casos e casinhos, e no meio das maiores trapalhadas deste governo, Luís Montenegro secundava o Presidente Marcelo, e nem queria ouvir falar de dissolução do Parlamento. Era claro nessa posição, tão claro que nem sequer em votaria a favor da moção de censura apresentada pelos liberais, mesmo sabendo que dele nada resultava. Que não teria qualquer consequência prática, e que, a troco de nada, estava a correr riscos futuros. Que, num futuro mais ou menos próximo, seria sempre acusado de, na realidade, se ter posto ao lado do governo. Ou até de cumplicidade.
Entretanto surge a primeira sondagem depois desse pico, que inevitavelmente penalizam o partido do governo e, pela primeira vez em largos anos, apontam o PSD como partido com mais intenções de voto, mesmo que sem condições para formar governo. Nem mesmo com o Chega, dado que a IL, com nova liderança ainda fresquinha, não faz como o PSD, e diz claramente que, ao Chega, não se chega.
Mas logo, poucas horas depois, já Montenegro afirmava que “está preparado para ser primeiro-ministro” e que caso António Costa não esteja à altura do momento não hesitará em ir ao Palácio de Belém pedir eleições antecipadas.
Para quem ainda no dia anterior não queria ouvir falar de eleições antecipadas, não está nada mal... Para quem as sondagens não queriam dizer nada, também não!
Antes de dizer que este foi um grande jogo – talvez melhor, uma grande primeira parte – apetece-me dizer que, ao contrário dos últimos, este foi um jogofair. Sem truques, sem quebras na iluminação, comportamento imaculado do público e dos jogadores e sem arbitragens habilidosas. Tãofairque nem o Lima festejou o seu golo, o que, mesmo como benfiquista, aplaudo. O respeito é sempre de aplaudir, e não mancha coisa nenhuma!
Pronto. Agora já posso dizer que, se não foi um super jogo, foi um grande jogo, com uma super primeira parte!
Porque a segunda parte não foi, nem tão bem jogada, nem tão intensa, nem tão espectacular. Mas foi, do lado do Benfica, a confirmação – se é que era necessária – da grande pecha da equipa. Daquilo que lhe falta para ser uma grande equipa de futebol em qualquer parte do mundo!
Não há equipa que possa controlar todo um jogo, e todos os jogos, exclusivamente a partir de um domínio avassalador, vertiginoso e mesmo frenético. É preciso saber controlar os jogos quando não é possível dominá-los!
Sempre que o Benfica pretende controlar um jogo através de mecanismos de simples controlo, abdicando dos seus princípios dominadores, as coisas não saem, nem de perto nem de longe, com a mesma eficácia. Com 2-0 ao intervalo, o Benfica surgiu na segunda parte numa atitude táctica de contenção. Na tal tentativa de controlar o jogo e de defender o resultado que, mais uma vez, lhe retirou a supremacia no jogo.
Não foi novidade, num jogo de novidades. De novidades tácticas no Benfica, da novidade de Jesus, pelo Benfica, vencer em Braga e de saudáveis novidades no ambiente da Pedreira!
Foi curiosamente com alguma novidade que o Braga chegou ao golo, na precisa altura em que o Benfica parecia conseguir controlar o jogo, mesmo sem manifestamente se superiorizar ao adversário. Só o pouco tempo que sobrava, e depois a expulsão – decisão acertada do árbitro, porque o Lima ficava isolado na cara do guarda redes do Braga - do seu defesa, já nos últimos minutos, impediram que o Braga conseguisse ameaçar seriamente a justa vitória benfiquista.
Quatro notas finais. Duas para saudar dois regressos: o regresso de Gaitan à posição 10, pelo impedimento de Cardozo, e o de Urreta Viscaya, curiosamente numa época marcada pela inflação de jogadores das alas. Outra para saudar o fim do mito dos árbitros internacionais: as melhores arbitragens não estão claramente aí. E,the last not the least, a homenagem a MIklos Feher: não teve pompa nem circunstância, mas o seu nome ouviu-se no estádio na parte final do jogo. Não sei de onde veio, se de benfiquistas, debraguistasse de ambos. Sei que, no final do jogo, quando o resultado do jogo prendia as emoções, se cantou nas bancadas “Miklos Feher…Miklos Feher …”
Jogou-se hoje o Paços - Benfica, um jogo antecipado correspondente à 20ª jornada, em razão do calendário europeu do Benfica, que os dirigentes da equipa da capital do móvel só não impediram porque não puderam. O jogo iria cair entre as deslocações a Braga, para os quartos de final da Taça, e a Bruges, para os oitavos da Champions.
Sem ser o primeiro jogo do calendário da segunda volta, aconteceu que foi o primeiro jogo da segunda volta. Para o Benfica, e para o Paços, primeiro e último da classificação. Mas nem por isso tido por fácil. Porque não há jogos fáceis, como é mais que sabido, e porque o último classificado, e já com grandes dificuldades em evitar a descida, depois do inédito regresso de César Peixoto ao banco, depois de despedido, vinha de boas exibições, como na do último domingo, quando deu água pela barba ao Braga, e fechou - com muita injustiça e até polémica no golo que lhe ditou a derrota, já para lá do tempo de compensação - a janela que a primeira vitória, na jornada anterior, em Vila de Conde, parecia abrir.
O benfica entrou novamente muito bem no jogo, com dois golos nas duas primeiras oportunidades. Em apenas quatro minutos, e praticamente nos primeiros dez. Bastante parecido com o que acontecera em Ponta Delgada, no último jogo com o Santa Clara. Como parecido foi o jogo.
Parecido, com muitas semelhanças mas, ainda assim, com muitas diferenças. As semelhanças estão nos dois golos madrugadores, desta vez de Grimaldo, em mais um livre cobrado com a habitual classe e mestria, logo aos 7 minutos. E de João Mário, aos 11, depois de uma excelente desmarcação de Gonçalo Guedes para Aursnes rematar para a defesa de Marafona, como pôde. Que mais não pôde que defender para a frente, deixando a bola ao alcance de João Mário. E estão nas oportunidades criadas e desperdiçadas pelo Benfica até ao intervalo.
Mas estão também na quebra da equipa na segunda parte, mesmo que nunca tão acentuada como no último jogo.
As diferenças são que o Benfica, depois, não levantou tanto o pé. Mas, apesar disso, permitiu oportunidades de golo ao adversário. E não conseguiu chegar ao terceiro golo.
Se o jogo deixou sempre uma sensação de facilidade idêntica ao dos Açores, foi apenas porque o Paços não conseguiu concretizar qualquer das oportunidades, acabando até com três bolas nos ferros, a última na derradeira jogada do encontro.
Independentemente dos circunstancialismos do jogo é visível o progresso na qualidade do futebol praticado, já mais perto do período anterior à interrupção para o Mundial. E a melhoria da forma dos jogadores que mais tinham caído, como é particularmente evidente no caso de Bah. E de Enzo, esse pelas razões conhecidas. A esta melhoria, e pese embora a ausência de Rafa, acresce que Gonçalo Guedes assenta que nem uma luva nesta equipa. E neste futebol.
Ainda independentemente dos circunstancialismos, este jogo confirmou o que há muito se vem notando que falta, e que este Benfica de Shemidt já teve. Que perdeu, sem que se veja recuperação: a capacidade para a transição rápida, o contra-ataque, como dantes se chamava; e o aproveitamento das bolas paradas.
A equipa não consegue aproveitar o adiantamento dos adversários, e isso permite-lhes ousadia e confiança. Como hoje se voltou a ver. Os mecanismos de transição em velocidade falham quase que invariavelmente, e permitem sempre a recuperação defensiva do adversário.
E, à excepção dos livres directos de Grimaldo, onde conta apenas a sua competência específica, e classe pessoal, a equipa não aproveita qualquer lance de bola parada, sejam livres laterais, sejam cantos. Todas as equipas trabalham estes esquemas tácticos - o Paços dispôs apenas de um livre lateral, e fez dele uma grande oportunidade de golo. Nos primeiros meses da época o Benfica marcava frequentemente na sequência de cantos, e de livres. Ainda hoje se viu que, de 10 cantos, nada resultou. E sempre marcados da mesma forma. Se antes estes lances eram preparados nos treinos, não se entende por que terão deixado de ser. Até porque o Benfica é a equipa com mais cantos na Liga.
Faltam estes dois "momentos" do jogo para que possamos dar a equipa por regressada ao bom caminho que trazia.
Apenas duas notas finais: uma para a preocupante lesão - muscular, ao que tudo indica - de Gonçalo Ramos. Musa voltou a confirmar que não dá. Outra para dizer que ainda dá gosto ver Gaitan jogar à bola. E saudade!