Se alguém tinha dúvidas que batemos na parede deve tê-las perdido com a entrevista do chefe da missão do FMI publicada noJornal de Negócios. Não que Selassie tenha dito algo muito diferente do que já se tinha ouvido da parte das instituições europeias. Mas porque reforçou essa linha que já separa o governo da troika, dando expressão ao ditado popular segundo o qual,em casa onde não há, pão todos ralham e ninguém tem razão. Porquezangam-se as comadres e descobrem-se as verdades!
O próprio Durão Barroso já havia dito que a culpa de tudo isto era do governo –a responsabilidade da aplicação dos programas de ajustamento é dos governos nacionais, foram as suas palavras – e de Bruxelas já tinham apontado o dedo ao governo, responsabilizando-o pela opção de fazer o ajustamento pelo lado da receita, descurando a despesa.
O governo já tinha respondido. Atabalhoadamente, de forma ridícula, mas não deixava de ser resposta: afinal, o programa da troika, aquele que adoptara como seu, para além do qual queria ir, estava mal desenhado. A troika tinha desenhado mal o programa, e por isso as coisas não batiam certas!
Agora, Selassie diz que “não há muito mais a ser feito … para estimular o crescimento”, que “ a bola agora está do lado do governo” ou que “a troika tem sido pragmática o suficiente para acomodar as medidas que o governo tem encontrado”. E põe o dedo n(um)a ferida: “é muito desapontante que os preços da luz e das comunicações não desçam”! “ É muito importante que o debate sobre as rendas excessivas em alguma áreas da economia seja revisitado. Este é um aspecto muito importante para garantir uma justa repartição do esforço de ajustamento”…
Pois é. O governo disse querer ir além do Memorando para ficar no exacto ponto de certos interesses, e muito aquém do interesse público: aí está uma das verdades quea zanga das comadresvai pondo a descoberto!
Não faço ideia se será o Vale e Azevedo do Sporting, nem sequer se serão muitos os pontos de contacto entre estas duas personagens. Lá que parece haver um lado obscuro – ou mesmo mais - em Bruno de Carvalho, parece. Que há coisas que se não percebem, há. Que há ali populismo – mesmo que mais bemembrulhadoque o de Vale e Azevedo -, há!
Mas, se a lógica não fosse uma batata, não poderia ser outro a ganhar as eleições para a presidência da agremiação de Alvalade. Nunca poderia ser o José Couceiro que praticamente todas as sondagens davam como certo. Por uma razão simples: o Bruno de Carvalho tinha tido há dois anos praticamente o mesmo número de votos de Godinho Lopes. E mais votantes, que dois anos depois garantiam ainda mais votos!
Ao longo destes dois últimos anos da presidência de Godinho Lopes o Sporting teve um percurso muito idêntico ao do país: sempre a correr para o abismo, com cada mês pior que o anterior. Godinho Lopes rivalizou com Passos Coelho na asneira, no disparate e na profundidade do buraco que foram cavando. Bruno de Carvalho, mesmo que não fizesse nada, mesmo que se mantivesse imóvel, ganharia só com o péssimo desempenho do seu antigo adversário. Acresce que aguerra civilestalou em Alvalade, mas não foi por ele. Sempre se manteve fora da cena de guerra em que o Sporting se foi afundando, nunca alimentando publicamente o que quer que fosse. Manteve aquilo que se convencionou chamar de postura responsável, sem desperdiçar os votos que lhe vinham cair às mãos.
Bruno de Carvalho partiu para estas eleições com a sua base de votação de há dois anos significativamente reforçada, não partiu apenas com os seus de 35%. Era um patamar de saída virtualmente imbatível, mesmo que a campanha eleitoral lhe corresse muito mal. O que nem sequer foi o caso!
José Couceiro, dado como o candidato da continuidade, isto é, aquele que seguraria ostatus quomuito assente na feira de vaidades em que aaristocracialeonina transformou o clube, partia como herdeiro dos votos de Godinho Lopes. Só que Godinho Lopes não deixava herança, tudo tinha sido desbaratado!
Os resultados das eleições no Sporting só podiam ser os que foram. Na dimensão da crise que tomou conta de Alvalade não poderia sair outra via que não a revolucionária. O problema é que, das revoluções, só se sabe como começam…
Até aqui, até aos resultados desta noite, tudo era previsível. A imprevisibilidade vem a seguir!
A malta liberal que enche os espaço mediático não se cansa de dizer que o que se passa nos preços dos bens alimentares não tem nada a ver com as margens das empresas de distribuição. Dizem até que os lucros dessas empresas caíram.
Elas, essas empresas, pela voz dos respectivos CEO´s ou pela do Presidente da respectiva associação, juram a pé juntos que não. Que até baixaram margens.
A Jerónimo Martins apresentou ontem publicamente as contas do ano passado. "Dizem" elas que as vendas cresceram 21,5%. Bate certo com tudo o que se tem sabido. Sabe-se que os portugueses têm cortado na alimentação. E sabe-se que a inflação nesses produtos não anda abaixo dos 23%. Isto é, o Pingo Doce vendeu menos - os portugueses têm cortado na alimentação - mas, com a inflação, vendeu mais 21,5%. E "dizem" que os lucros cresceram 27,5%. Isto é, cresceram mais que as vendas.
Portanto, os lucros não caíram, como apregoa aquela malta nas televisões. Subiram. E, subindo mais que as vendas, é difícil, para não dizer impossível, admitir que as margens não tenham subido. E muito. Ao contrário do que dizem as figuras do sector, que garantiam tê-las baixado.
Lembram-se do anúncio do teste do algodão?
O algodão realmente não engana. Já esta gente, não faz outra coisa. E toma-nos por parvos!
A temperatura política subiu bem mais que a meteorológica nesta parte final da semana. E não teve nada a ver com a chegada da Primavera, o equinócio não trouxe nada de novo ao nível das condições climatéricas.
É a moção de censura ao governo que o PS – o antigo Partido de Soares, que foi Partido de Sócrates, e é agora Partido de Seguro – anunciou ao final da noite da passada quinta-feira, anúncio solenemente confirmado ontem no Parlamento, na discussão quinzenal com o governo que, evidentemente, mais faz subir o mercúrio do termómetro político do momento. Sabe-se qual é o destino de uma moção de censura a um governo que dispõe de maioria parlamentar, e nessa medida há sempre alguma dificuldade em desenquadrar a decisão de uma daquelas medidas folclóricas que fazem parte do jogo político. Não servem para nada mas têm significado político: os media animam-se, os comentadores excitam-se e os políticos levam-se a sério!
A anunciada moção de censura do PS é tudo isso e ainda mais alguma coisa. António José Seguro apresenta-a exactamente no registo que, no passado, utilizou nas suasabstenções violentasdos dois orçamentos anteriores. Ou no que usou para a violenta declaração do seu voto de aprovação do tratado orçamental imposto por Merkel, aquele que impõe o défice zero. Défice que Portugal não consegue baixar dos 5%, nem depois de secar os bolsos dos seus pobres contribuintes, nem de esgotar a imaginação com artifícios contabilísticos, mas que, pelas mãos desta maioria e do PS, foi o primeiro, pela ratificação do tratado, a comprometer-se a anular.
É por isso que Seguro anuncia a apresentação da moção de censurasem anunciar a data da sua apresentação. Uma moção de censura para data incerta, que denuncia a pressa – gato escondido com rabo de fora - com que foi decidida. Recordandoosoundbytede Segurode há dois meses atrás - Qual é a pressa? – dir-se-á que a pressa veio de Sócrates. Diria que, gerido o dossiê António Costa, o regresso de Sócrates obrigou Seguro a mexer-se!
E é também por isso que, enquanto anunciava a moção de censura para daqui a umas semanas, Seguro tranquilizava a troika. Que a moção de censura não punha em causa qualquer compromisso, que tudo seria integralmente respeitado!
O problema não está, evidentemente, se o PS poderia dizer o contrário. O problema está apenas no simples facto de que não há solução para o país sem rever ou renegociar os compromissos assumidos. E que o PS, apenas porque anunciara uma moção de censura inconsequente,não precisava nada de ir a correr para a troika com juras de amor e fidelidade eternos!
O anúncio da moção de censura sem data está para aabstenção violentana votação do orçamento como a carta logo enviada à troika está para a votação do tratado orçamental. Tudo na mesma, portanto!
Quem ouvir os debates parlamentares com o governo fica com a ideia que não há problema sem solução. E, no fim, é bem capaz de ficar a pensar que ... pronto. Está resolvido.
A oposição tem sempre soluções para tudo. O governo tem ainda mais e, ou já resolveu, ou vai resolver.
O desta tarde foi dominado pelo tema da "inflação". E, aí está: o que o governo não resolveu, vai resolver. Sobre o aumento dos preços dos produtos alimentares António Costa garantiu que o governo tem feito “um trabalho mais discreto ou menos discreto com os diferentes agentes da cadeia alimentar”. E que ainda esta manhã tinha ocorrido “uma reunião muito importante da Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar (PARCA)”, em que todos haviam concordado com a "necessidade de haver maior transparência em toda a cadeia, para não andarmos a apontar com maior ou menor injustiça a este ou àquele agente económico".
Coisa "Parca", que é mesmo coisa nenhuma!
Como daí, do lado dos preços, de não vem nada - ah... pode ser que se mexa no IVA, esperando que não acabe como acabou em Espanha, a dar em nada nos preços - vamos aos salários, para lhe fazer frente. E aí, o primeiro-ministro diz que o governo tem o dever de rever os salários da função pública. Foram negociados no pressuposto de uma inflação de 7,4%, mas ela foi de 7,8%, e há que corrigir isso.
Dito assim, fica bem. Dito assim, e como as coisas estão, vem-nos à memória que para o ano há eleições.
Mas, se os 7,4% de inflação serviram de base para o aumento de 2% nos salários, na mesma linha, os 7,8 servirem para passar a 2,1%, "o tiro sai pela culatra". Se for assim, o governo está a dizer que não se preocupou, nem se preocupa, com os 5,4 pontos percentuais do diferencial entre a inflação e o aumento que estabeleceu para os salários. Mas que, agora magnânimo, se preocupa com os 0,4 do diferencial entre a inflação então estimada e a real no fim do ano. Que não se preocupou com os 75% da inflação que o aumento dos salários não cobriu, mas que, agora magnânimo, se preocupa com os 5% que a inflação cresceu.
E isto é apenas mais do mesmo. Do mesmo que, a António Costa, não tem corrido nada bem... Nem a nós!
É até capaz de ter razão, que é uma lei "cartaz"- "aquelas leis que aparecem a proclamar determinados princípios programáticos, mas a ideia de base não é que passem à prática". Mas não deixa de ser curioso que a tenha morto apenas depois daquela "aparição" de Cavaco, numa daquelas provas de vida a que nos tem habituado, em que aparece sempre como se nada ele tenha a ver com nada.
Choca que alguém que está tão ligado à desgraça nacional seja reabilitado desta forma, pela mão da televisão pública. Choca que Sócrates não se enxergue, e esteja convencido que tudo o que as suas tropas por cá têm feito nos últimos tempos o reabilitou. Choca que quem manda na estação pública de televisão não perceba que isto é uma afronta, que já deu origem a uma petição pública de repúdio. Mas choca ainda mais pensar que isto possa ser um grande favor que a RTP está a fazer ao governo... Sim, porque para o governo, isto é um jackpot do euromilhões!
Choca pensar que eles achem que já nos tiraram tudo. Que já nem capacidade de nos chocarmos tenhamos…
Pronto. A UBS ficou com o Credit Suiss, o Banco Nacional da Suíça entrega-lhe mais de 100 mil milhões de euros, as bolsas gostaram e ... siga a dança. Ou venha o próximo!