- Faça favor de entrar. Não repare, está tudo desarrumado. Nota-se a confusão, não é?
- Pois, se calhar a altura não é a melhor…
- Que não seja por isso, ponha-se à vontade…
- Sim, não se incomodem, eu sei o que são estas coisas. Tive algum tempo – e cuidado, por que não dizê-lo – para não ser surpreendida. E trago até uma carta de recomendação, com uma taxa de desemprego superior a 18%, ao nível de Portugal, e só atrás da Grécia e da Espanha. E com uma taxa de desemprego jovem de vos fazer inveja, já nos 52%. E também já vimos habituados à pobreza: o nosso poder de compra está 40% abaixo da média cá da casa!
- “O problema do governo não é comunicar. O problema é de competência. É fazer! O governo tem pouco para comunicar…”
- “Temo que o primeiro-ministro esteja só, que não tenha quem lhe diga como está o país, como as pessoas sofrem, como as pessoas vivem…”
Retive estas duas frases entre muitas outras que acabei de ouvir da boca de um histórico do PSD. Não, não foi Manuela Ferreira Leite. Pacheco Pereira? Também não!
Esses, entre muitos outros, há muito que dizem isso e pior. Mas esses – diz a máquina de propaganda do governo - são revanchistas, são radicais que extremaram posições, que não são para levar a sério.
Quem disse isto – e muito mais – foi, há momentos, Ângelo Correia, na SIC Notícias à conversa com a Ana Lourenço. Precisamente esse velhobarãodo PSD que, mais que apadrinhar,criouPedro Passos Coelho!
O próprio criador nega a criatura. Ao contrário do guião, é o criador que se vira contra a criatura. A criatura, essa, há muito que se virou contra toda a gente. Há muito que caminha sem rumo nem destino. Sozinha: cega, surda e muda. Sem que ninguém a pare, sem que ninguém a impeça de arrastar uma nação completa para o maior desastre da sua História…
Há onze anos Mario Draghi disse que o BCE "fará tudo o que for necessário" para garantir a sobrevivência do euro. Começou aí a histórica descida das taxas de juro, que se prolongou por 10 anos, em que foram mantidas a níveis nunca antes vistos.
A Senhora Christine Lagarde veio a Sintra formular a mesma determinação do BCE mas, agora, "tudo o que for necessário" para baixar a inflação. Mas, para o BCE de Lagarde, "tudo o que é necessário" é não aumentar salários, acabar com as ajudas dos governos às suas populações, e continuar a aumentar as taxas de juros.
A Senhora Lagarde disse, ainda há bem pouco tempo, que dois terços do aumento da inflação provêm do aumento das margens de lucro das empresas de sectores fundamentais da economia. A generalidade dos economistas, e mesmo grande parte dos indefectíveis das causas liberais, há muito que reforça que as raízes desta inflação não estão na procura, mas na oferta.
Pois. Na determinação de Lagarde "tudo o que é necessário" é nada do que é necessário. Não é determinação, é uma fixação!
Salvou-se o clube, o União Desportiva de Leiria nascido em 6/6/66 que, embora tarde, ainda foi a tempo de se demarcar da irresponsabilidade manhosa que há muito tomara conta da SAD. Recomeçou na segunda divisão distrital do calendário da Associação de Futebol de Leiria - onde, sob o comando do velho capitão Bilro, se sagrou campeão, resultando de um empate os únicos pontos perdidos – e veremos se tem condições para repetir o brilhante percurso sempre ascendente da suaprimeira encarnação. E para se projectar na cidade e na região, para dela ser bandeira, modelo de referência e motivo de orgulho. Mesmo que os tempos não estejam para isso!
Enquanto irrompem por todo o mundo gigantescas manifestações de protesto, como as que temos visto no Brasil e na Turquia, cá pelo país – com muitas, as mesmas se não mais razões - tudo parece calmo. Enquanto as sociedades por esse mundo fora se agitam e revoltam, e saem à rua a reclamar soluções ao poder, por cá… nada. Uma meia dúzia canta Grândola aqui, outra meia dúzia levanta um cartaz ali, um que manda o presidente trabalhar… E que caro lhe sai!
Mais nada!
E no entanto sobra tensão na sociedade portuguesa. Sente-se essa tensão em todo o lado: na rua, no trabalho, até entre amigos. Revele-se ela em medo ou em ansiedade. Nos nervos à flor da pele ou na intolerância. Percebe-se na sociedade portuguesa uma panela de pressão muito próxima de explodir. E percebe-se que não há válvula para soltar a pressão…
As movimentações sociais - sabe-se – são normalmente as válvulas de escape mais eficazes. Comportam sempre alguns riscos de desvirtuação, seja por manipulações de cúpulas seja por infiltrações. Às vezes alguns conseguem controlá-las e apropriarem-se delas, desvirtuando o que de puro e genuíno possa estar na sua génese. Outras vezes há infiltrações, há grupos que se infiltram para, a coberto de qualquer turbilhão humano, prosseguirem os seus fins, quase sempre criminosos. Mesmo assim, mesmo correndo sempre esses riscos, continuam a ser a fórmula mais saudável mas também mais eficaz de a sociedade libertar a pressão.
Mesmo em Portugal. Todos recordaremos momentos da nossa História recente em que bastou uma grande manifestação de massas, umas poucas horas que fossem, para se passar a respirar melhor.
Nada que se assemelhe ao que se tem passado no Brasil, ou mesmo na Turquia. Os portugueses não se dão coisas desse tipo. De dias e dias de resistência. Somos poucoresilientese muito de baixar os braços, de achar sempre que é o outro que tem de fazer aquilo que nos compete. De, como cantam os Deolinda, “vai lá tu que eu já lá vou ter”…
Se somos assim – e somos – há no entanto, em meu entendimento, algo que tem estado a ser feito para que sejamos ainda mais assim. Perigosa e irresponsavelmente, porque está a tapar essa válvula de escape!
Cada vez mais perdido no exercício da governação e cada vez mais acossado, o governo enveredou por uma – perigosa e irresponsável, repito - estratégia de divisão na sociedade portuguesa. Apostou em colocar os portugueses uns contra os outros: os empregados contra os desempregados, os trabalhadores do sector privado contra os funcionários públicos, os trabalhadores no activo contra os reformados e pensionistas, os novos contra os velhos, os alunos, os pais e toda a gente contra os professores… Verdadeiramente paradigmático o que se passou nos últimos dias, com o governo a recusar alterar a data dos exames que coincidia com a da greve dos professores - não para defender os alunos que, como se viu, não sairiam defendidos, mas para os usar e pôr toda a gente contra os professores - mas sem hesitar em alterar a data dos que, hoje, coincidiriam com a greve geral.
Esta é uma estratégia miserável. Porque numa sociedade como a nossa, é eficaz. Facilmente nos pomos uns contra os outros, porque isso faz parte da idiossincrasia lusitana, muito marcada por uma inveja latente, tão bem retratada naquele tão nosso provérbio dagalinha da vizinha… sempre melhor que a minha!
E o governo sabe disso, sabe que está a alimentar aquilo que lhe competia combater. É imperdoável!
Criado omito da credibilidade externa, e voltando a recorrer à táctica da mentira repetida e à memória curta dos portugueses, o governo passou a criar e a alimentar outro, o mito número dois: que está a fechar o programa de resgateencomendadoe assinado por outros.
À medida que se foi deixando encurralar pelosseus sucessivos falhançoso governo começou a lançar a ideia de que nada tinha a ver com a troika e com o seu programa. Que simplesmente lhe tinha calhado em sorte a missão patriótica - quiçá divina - de salvar o país, que está a levar a cabo com grande constrangimento mas não menor determinação. Começou pelo discurso dapesada herança - a que tinha começado por tentar resistir- e rapidamente passou para o papel de quem não tem nada a ver com isto.
Hoje, na Assembleia da República, ao primeiro momento de aperto,Passos Coelho voltou a sacar do seu mito número dois, pouco preocupado se um dia jurara ir para além da troika. Nada incomodado por ter anunciado que o programa de resgate era o seu programa de governo. Rigorosamente nada constrangido pelas imagens de Catroga nas televisões e no seu próprio telemóvel, na assinatura do memorando da troika. Que, com Portas, usou como escadote para subir ao pote...
E, claro, sem sombra de preocupação em dizer que está tão à beira (um ano, precisamente) de fechar um resgate como de abrir outro. Bem mais difícil, infelizmente!
Esta é uma boa notícia. Pena é que o aumento dos pobres seja muito maior. A má notícia é que todos os dias há mais pobres, muitos mais pobres, muito abaixo do limiar da pobreza.Sem comer...
Uma coisa não tem que ver com a outra? Se calhar não tem... Mas, se calhar, tem!
Boa, mesmo boa, seria a notícia de que há mais ricos mas também menos pobres em Portugal... E muito mais saudável!
Ainda ninguém percebeu nada do que se passou naquelas 36 horas que mediaram entre o momento em que Prigozhin pôs uma coluna de 400 viaturas de guerra a caminho de Moscovo, no sábado, e aqueloutro, a meio de domingo, mais de mil quilómetros de estrada depois, e a apenas 200 do destino, em que, para evitar derramamento de sangue - estranha preocupação de uma criatura destas - pôs fim à marcha, rendido às negociações de Lukashenko.
Se calhar não há muito para perceber. Ali nada bate certo. Nem nada é que o que querem que pareça que seja. Afinal, o que se percebe é que o poder militar da Rússia se esgota num botão. Que a Putin basta o medo que o botão mete. E que Prigozhin haverá, mais dia menos dia, de lançar a mão à moleta de uma porta, pegar numa chávena de chá, ficar ao alcance da ponta de um chapéu, ou abeirar-se de uma janela num qualquer quinto andar.
Pois é. Há três anos Teixeira dos Santos declarava que a taxa de juro de 7% seria o limiar a partir do qual o país teria de chamar o FMI. O país não conseguia suportar taxas de juro dessa ordem. Foi imprudência, claro. Os mercados especulativos ficavam na altura a saber que poderiam esticar até aí ...
Este governo tem falhado tudo o que havia para falhar, como estamos fartos de saber e já ninguém consegue negar. Temos no entanto visto que aquele pequeno grupo de pessoas que, na esfera dos dois partidos que suportam o governo, ainda defende esta governação socorre-se, para isso, de um único argumento: o da credibilidade externa. Esse escasso número de apoiantes deste governo agarra-se ao único mérito que lhe reconhece: a recuperação da credibilidade junto dos credores. E invariavelmente recorrem logo a seguir a um argumento que, por muito repetido, dão por certo e verdadeiro:"como se prova pela descida dos juros"!
É verdade: a taxa de juro que há pouco mais de dois anos era dramaticamente insustentável é hoje a única coisa que os apoiantes deste governo têm para lhe creditar!
O resgate da credibilidade internacional não passa de um mito. É sabido que uma mentira muitas vezes repetida passa a verdade. Mas a máquina de propaganda do governo faz mais: mais do que uma simples verdade, faz da mentira muitas vezes repetidas um mito!
O que estava a acontecer na Rússia deixou de estar, a 200 quilómetros de Moscovo. E foi como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu - a criatura não matou o criador, mas deixou-o em mau estado.
Putin sai mais fraco. E ainda mais desacreditado. Yevgeny Prigozhin ... perdeu o negócio, que não a ambição. Para já terá apenas ganho uma reforma dourada no albergue do Lukashenko. Outra criatura.