Como se esperava, Pedro Passos Coelho ameaça com um segundo resgate: "Se não formos capazes nos próximos meses de sinalizar aos nossos credores esta reforma estrutural do Estado que garanta que a despesa baixa de uma forma sustentada, o que acontecerá é que não estaremos em condições de prosseguir o nosso caminho sem mais financiamento, sem um segundo programa que garante ao País os meios que ele precisa", declarou tendo como pano de fundo a decisão do Tribunal Constitucional e aquilo que considera ser a sua visão restritiva da Constituição.
Passos Coelho chegou à liderança do PSD e logo anunciou como prioritária a necessidade de rever a Constituição, coisa que, como bem nos lembramos, foi então considerada completamente despropositada. O país não via nisso qualquer prioridade e percebia-se que se tratava de preconceito ideológico.
A verdade é que nada fez para encontrar o necessário consenso para essa revisão. Mas não é menos verdade que decidiu governar como se o tivesse feito, o que quer apenas dizer que, nada tendo feito para a rever, resolveu ignorá-la. Entendendo ainda que todos os órgãos de soberania deveriam fazer exactamente o mesmo.
Mas não pode ser assim. Por muito que lhe custe um Estado de Direito não é isso!
O primeiro-ministro tem de entender que esta Constituição tem que ser respeitada e que, se não lhe serve, tem de promover a sua revisão. A não ser que opte assumidamente pelo golpe de Estado. Não pode é pretender governar um Estado de Direito em ambiente de golpe de Estado!
Não sei nada de incêndios. Por isso não vou escrever sobre o que (não) sei de incêndios. Apenas sei que devastam o país ano após ano, consumindo bens e vidas. E que, este ano, já muitas foram as vidas que levaram. Vidas de jovens, muito jovens na sua maioria, que um dia decidiram colocá-las ao serviço dos outros e que, por isso mesmo, são vidas que valem mais. E que deveriam valer de mais para serem perdidas desta forma!
E sei que atingem Portugal como nenhum outro país. E bem sei que isso não se deve a razões exclusivamente climatéricas, porque não têm, nem de perto nem de longe, a mesma expressão nos outros países do Sul da Europa, com condições climatéricas idênticas.
Sei pouco de políticas de solos e de florestas, mas sei que as espécies autóctones vêm nas últimas décadas sendo substituídas por eucaliptos. Sei que os eucaliptos servem a indústria da celulose, e que esta representa interesses fortíssimos que facilmente tomam conta dos governos. E que isso se nota à vista desarmada, a todo o pé de passada. Sei que a política de desenvolvimento do país o inclinou para o litoral, desprezando e desertificando o interior. Acabando as pessoas, acabou a pastorícia e o amanho da terra, e destruíram-se os equilíbrios que preveniam incêndios
Sei que o país pouco investe na prevenção, enquanto consome cada vez mais recursos no combate aos incêndios. Que, apesar de todos reclamarem sempre mais, o país já gasta o que pode e o que não pode nesta tragédia que se repete todos os verões, à volta da qual florescem actividades e interesses que não podem ser ignorados. Há umaeconomia do fogoque vive disto e que nem sempre será inocente. Sei - sabemos – que mesmo na Organização que é os bombeiros, há estruturas de interesses, mesmo que mesquinhos como sucede na maior parte das vezes. Que uma coisa são os bombeiros, os jovens, os homens e as mulheres que colocam as suas vidas ao serviço da comunidade, de comunidades que muitas vezes nem sequer são as suas, e outra sãos as suas estruturas de cúpula.
Sei – sabemos – que há criminosos à solta. Uns porque nunca são apanhados, outros porque logo são libertados.
Mas o que sei mesmo é que não podemos continuar a aceitar que tudo continue na mesma, ano após ano. Não podemos continuar impávidos e serenos à espera que em Julho e Agosto tudo se repita. Com televisões a fazerem da tragédia espectáculo, políticos bronzeados a repetirem os mesmos lugares comuns, e diferentes estruturas operacionais a digladiarem-se na praça pública, resumindo esta tragédia a um circo que no Verão desce à cidade.
O Tribunal Constitucional chumbou a mobilidade na função pública. De pouco valeuo Pontal de Passos Coelho!
Isto sucede no mesmo dia em que se soube que o governo deturpou a realidade salarial que informou ao FMI com o fito único de sustentar a premência de novas reduções, coisa que, como se sabe, é música para os ouvidos daquele parceiro da troika.
O problema disto é que, quando o governo diz que não tem alternativas para reduzir a despesa, já ninguém vai acreditar. Toda a gente achará que o governo tem apenas uma obsessão: lixar todos os que vivem do seu salário. Comparada com esta, a da Constituição é apenas uma brincadeira que o governo já não dispensa.
“Se um dia perceber que com uma candidatura à Presidência da República serei útil ao país tomo essa decisão”.
Não. Não é Marques Mendes a chegar-se para a fila da frente. É Marques Mendes a confessar que também ele acredita, e sempre acreditou, que as televisões fazem presidentes.
O problema são as cópias. Desconfia-se sempre da cópia. E mais ainda de quem copia!
O Secretário de Estado Carlos Moedas deu hoje uma aula na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, a lembrar Vítor Gaspar, que imitou quase na perfeição.
Falou, claro, sobre a dívida:que é para pagar- “as dívidas têm que ser todas pagas, os países têm que pagar as dívidas e é importantíssimo que isso fique claro, que o esforço que os portugueses estão a fazer é para termos essa credibilidade”, disse.
Mas não falou claro sobre a dívida, contra a qual nada tem. “Que é necessária”, que “sempre se trabalhou com dívida”, mas “não pode ser é uma dívida em excesso”. Rematando que, “como tudo na vida, nada em excesso é bom”.
Claro que isto não é falar claro, nem sobre a dívida nem sobre excessos. Até porque os excessos não estão só na dívida. Que é para pagar mas que, na prática, a teoria de Moedas (e de Gaspar, e de Albuquerque, e de Passos, e de tuti quanti) só tem feito aumentar.
Bom, mas lá temos nós derevisitar a lei de Gresham: e este é apenas a má Moedas. A boa Moedas é que continua sem aparecer…
É sempre tida por difícil, esta deslocação a Barcelos. É assim, ano após ano, em todas as épocas. Mas, de forma também mais ou menos invariável, chega quase sempre a tornar-se fácil. Mais ou menos fácil.
Ontem não foi diferente. Mas também não foi diferente a forma como o Benfica tornou difícil o que era fácil. Com um onze que não se pode classificar de surpreendente - Roger Schemidt está mesmo muito previsível -, com Aursenes a manter-se lateral esquerdo, atrás de João Mário, com Neres no banco, e Florentino atrás de Kokçu no meio campo, e Cabral lá mais na frente, o jogo arrancou nos moldes que já se podem dizer habituais neste arranque de campeonato, com o Gil a pressionar alto, a discutir todas as bolas e até a manifestar algum ascendente com bola. São os já habituais 10 minutos iniciais. Tem sido sempre assim.
A partir daí, igualmente "comme d´habitude", o Benfica começa a acertar marcações e posicionamentos e o seu futebol começa a brotar e vai enchendo o relvado. E o golo aparece, com naturalidade. Ontem aconteceu ainda antes de esgotada a metade inicial da primeira parte, num penálti cometido sobre João Mário, e convertido com aquele toque de classe extra de Di Maria, já a equipa dominava amplamente o jogo.
Chegado ao golo o Benfica não abrandou, e submeteu a equipa gilista a autêntica asfixia. Pôde então assistir-se a algo nunca visto num jogo de futebol, a anunciar o que aí vinha ... e o que aí virá. João Pinheiro, o árbitro, que na altura já havia ignorado duas entradas sobre Rafa que ditariam a segundo amarelo a dois jogadores gilistas -Dominguez e Marlon (que cometera a falta do penálti), no mais prolongado período de sufoco benfiquista, decide parar o jogo à espera de uma suposta intervenção do VAR. A jogada tinha terminado com um remate de Cabral ao lado, sem que se vislumbrasse qualquer tipo de anormalidade em todo o lance. As repetições da Sport TV, esta época ainda mais adversário, quando lhe compete apenas transmitir os jogos, sucediam-se, e confirmavam isso mesmo. Nada, como toda a gente tinha visto, e apenas um "time-out" de bónus que João Pinheiro queria oferecer ao Gil Vicente naquele período difícil por que passava.
E foi com o Benfica a criar e a desperdiçar oportunidades de golo, e João Pinheiro a poupar amarelos aos de Barcelos, que o jogo seguiu até ao intervalo. No último lance da primeira parte o Gil fez então o seu único remate à baliza do Samuel Soares, que se mantém na baliza, como Vlachodimos se mantém de fora.
Ao intervalo, a equipa de Barcelos tinha de agradecer dois milagres: aos deuses do futebol, o do escasso 0-1 que lhes mantinha o resultado do jogo em aberto e, a João Pinheiro, o de poderem disputar a segunda parte com 11 jogadores.
Mercê destes dois autênticos milagres o Gil mantinha-se vivo para a segunda parte. E entrou mais afoito, mais adiantado no terreno, mas rapidamente o Benfica voltou a pegar no jogo, e a dominá-lo. Mas apenas à terceira oportunidade voltou a marcar, ainda dentro dos primeiros 10 minutos, quando Rafa concluiu em golo mais uma bela jogada de futebol, provavelmente a mais bonita do jogo. Claramente por cima do jogo, com 2-0, tudo indicava que o Benfica iria ter um resto de jogo tranquilo. Esperava-se o terceiro golo a todo o momento. Que chegou pouco mais de 5 minutos depois, mas anulado por fora de jogo, bem assinalado a Rafa.
E vieram as substituições. Roger Schemidt fez entrar Neres, aclamado pela multidão benfiquista que enchia o Estádio, e Tengsted. As substituições que tinham resolvido o jogo com Estrela, desta vez, em circunstâncias diferentes, não tiveram o mesmo resultado. E Vítor Campelo fez três substituições de uma assentada, que mexeram claramente com a equipa. O Benfica começou a perder o controlo do jogo, e a mostrar a falta de consistência que vem sendo habitual, que faz com que seja capaz do melhor e do pior durante o mesmo jogo. À entrada para o último quarto de hora, no meio de três jogadores do Benfica, na meia lua, Touré, acabado de entrar, marcou. E em vez de uma tranquila goleada o resultado ficava no intraquilo 2-1, e o jogo num sobressalto. Schemidt tirou Florentino e Kokçu, amarelados, substituindo-os por João Neves e Chiquinho.
A ausência do "polvo" e a intranquilidade de Chiquinho afundavam o meio campo benfiquista. Mais uma vez as substituições não funcionavam. Valeu a última, com Musa a entrar para substituir Rafa, e a marcar na primeira vez que tocou na bola, já no período de compensação. O 3-1 arrumava definitivamente com o jogo. Com poucos minutos para jogar, e dois golos de vantagem, a vitória já não fugiria.
Não fugiu, é certo. Mas o Benfica ainda viria a consentir mais um golo de forma absolutamente intolerável. E a acabar com o "coração nas mãos" um jogo que fora fácil, que poderia ter acabado em goleada, e que voltou a mostrar a montanha que o Benfica tem peloa frente para conquistar este campeonato. É certo que a equipa continua a mostrar-se capaz do melhor e do pior no jogo, mas não é menos certo que tudo o que rodeia o jogo está armadilhado.
E não são apenas as arbitragens. É tudo. Por exemplo, ao intervalo, a Sport TV não teve vergonha de, nas estatísticas da primeira parte, apresentar uma oportunidade de golo para cada lado. Do que se passa todos os dias nas televisões nem vale a pena falar. Tudo é "caso" no Benfica. Tudo é épico no Sporting. E tudo é normal no Porto.
É tudo normal na transferência do Octávio, com o comprador a desembolsar 60 milhões, quando duas semanas antes o poderia ter feito por 40; com um banco de Minas Gerais a abdicar da sua parte no passe; e com o empresário a abdicar da comissão da transferência. E é normal e comum que um jogador como João Moutinho tenha sido contratado, anunciado e apresentado para, depois, acabar no Braga. Como normal é, ainda e também, que, depois de ter roído a corda do acordo inicial com o Braga jogar jogar no Porto, João Moutinho acabe recebido de braços abertos por António Salvador.
Há anos que o Pedro Proença faz o Benfica pagar por alegadamente ser benfiquista. Pelo que se vai percebendo vêm aí mais uns anos de pesadas facturas, agora por ter ido dar aulas ao Seixal…
O jogo de hoje na Luz iria sempre ser histórico. Pela primeira vez um clube assumia a responsabilidade de transmitir um jogo do campeonato nacional pela sua própria televisão. Era a primeira transmissão da Benfica TV de um jogo do campeonato nacional, cortando definitivamente com o eterno monopólio de Joaquim Oliveira. E, começando por aí, cumpre elogiar, elogiada que há muito está a decisão, a transmissão, um trabalho de grande qualidade e profissionalismo. E de grande independência, com o profissionalismo a que o Hélder Conduto já nos habituou, a pedir meças à concorrência. De tal forma que nem uma arbitragem de fraquíssima qualidade de um dos mais incompetentes árbitros nacionais, que prejudicou grandemente o Benfica, mereceu qualquer reparo…
Mas será certamente histórico por outras razões. Não tanto pela forma épica como o resultado foi invertido, com dois golos em dois dos quatro minutos de compensação, mas pelo que essa reviravolta poderá significar. E pelas manifestações que provocou!
Não adianta sequer falar muito do jogo que, na realidade, não surpreendeu muito. O Gil jogou como se esperava que fizesse, mesmo que não tivesse enveredado por uma estratégia ultra-defensiva e mesmo que nem tivesse tido necessidade de, à sua escala e nesse modelo, jogar bem. Também o Benfica não conseguiu superar as expectativas, bem baixas por esta altura.
A pedaços – pequenos – o Benfica jogou com alguma qualidade, o suficiente para criar muitas oportunidades de golo que especialmente Lima e Rodrigo iam desperdiçando. Mas nem foi constante nem nunca chegou a ser brilhante!
Não é pois pela exibição que se poderá esperar que hoje tenha sido o dia D, de mudança. É pela mensagem de união que saiu de dentro da equipa, é pela nota que a equipa quis dar de estar com o treinador, e é ainda pela inédita atitude de Jesus com Maxi Pereira. Corresponda tudo isto à realidade ou não passe tudo isto de uma grande encenação!
Tenho algumas dúvidas que os jogadores estejam assim tanto com o treinador. Tenho as mesmas dúvidas que Jorge Jesus se comporte agora com todos os jogadores como se comportou hoje com Maxi Pereira. Não sou um crente destas coisas, mas também não é isso agora o que mais conta. O que conta é que todos, jogadores e treinador, tenham tomado consciência que a coisa não está para braços de ferro, que não há nada para forçar, que, se são estes jogadores e este treinador a ir até ao fim, têm todos que se comportar dentro dos padrões de respeito que a grandeza do Benfica exige.
E não há dúvida nenhuma que, mesmo que não morram de amores uns pelos outros, o sentimento que hoje todos manifestaram é um forte contributo para o espírito de equipa indispensável ao sucesso. Que o carinho e apoio que os colegas dispensaram ao Maxi, seguindo o mote dado pelo treinador - um indicador que contrasta com o que se viu no passado com Ola John, Carlos Martins ou Enzo Perez – revela grande solidariedade e um espírito de balneário que se dava por perdido.
Claro que é especulativo dizer que isto se deve ao facto Luís Filipe Vieira ter dado à costa. Mas não há grandes dúvidas que, sendo o presidente o responsável pela inaceitável continuidade de Jesus, era mais inaceitável ainda que agora se escondesse, que não deixasse claro que o treinador não ficaria abandonado e cada vez mais fragilizado. É verdade que não deixou nada disso assim tão claro, como se percebeu ao voltar a agitar o fantasma de Fernando Santos, mas basta dizer qualquer coisa… E aparecer, mesmo que tarde e a más horas!
Mesmo que não queira perceber que são benfiquistas que sofrem aqueles que hoje estão descontentes com a sua gestão. São benfiquistas dos 83% que o elegeram, dos que enchem o estádio, dos que pagam as quotas e dos que deitaram fora o comando…
Luís Filipe Vieira renovou o contrato com Jorge Jesus com medo de um fantasma: o fantasma de Jesus no Porto. Com os resultados que estão à vista. Que o levam a segurar agora o treinador com o fantasma de Fernando Santos. Já começa a sustentar a sua própria presidência com o fantasma de Vale e Azevedo.
É fantasmagórica, esta gestão de Luís Filipe Vieira!