O GP do Japão, esta manhã corrido em Suzuka, foi o regresso "ao normal" da fórmula 1, como aqui se antecipara na extraordinária corrida de Singapura. Vesrtappen ganhou, "comme d´habitude" e a Red Bull assegurou já o título mundial de construtores, o sexto consecutivo, , apesar da desastrada corrida de Perez. Que fez tanta "asneira"que nem teve tempo para cumprir a penalização por, ao aproveitar o "safety car" para mudar de pneus, aproveitar também para ultrapassar uns carros à saída das "boxes", em marcha ainda mais lenta por força do dito.
O GP do Japão foi, ainda assim, isto é, apesar das asneiras de Perez, que ainda regressou à pista muitas voltas depois do abandono por ter batido em Magnussen e, por isso, voltar a ser penalizado, o regresso à normalidade. À normalidade de Verstappen ganhar (a 47ª vitória da carreira, e a 13ª da temporada) aproveitando até a desastrada corrida de Perez para garantir a renovação do título já no GP do Catar, no Circuito Internacional de Losail, em Doha; à normalidade dos (poucos) altos e (muitos) baixos da Ferrari e da Mercedes`e à "normalidade" dos anormais intrusos. À inesperada intrusão da Aston Martin na primeira metade da temporada, sucedeu-se o inesperado regresso da Maclaren. Que desta vez completou o pódio, no segundo (Norris) e terceiro (Piastri) lugares.
Mais uma vez, a Mercedes teve culpa própria. Foi a principal protagonista dos duelos na primeira metade da corrida, justamente entre Hamilton e Russel. Chegaram até a tocar-se. E voltou a sê-lo, na parte final, quando atrasou a ordem para Russel não dificultar mais a ultrapassagem de Hamilton, então muito mais rápido.
Pelo meio, levou ao limite a aposta numa única mudança de pneus de Russel. Com isso chegou a deixá-lo na liderança da corrida. Mas, com isso limitou-o, também, a estender a passadeira para Verstappen regressar a essa liderança que tinha desde o início, na "pole position". Com tudo isso acabaram por, no final, alternar nas posições seguintes com a Ferrari, sempre a perder. Com Hamilton (quinto) atrás de Leclerc; e Russel (sétimo) atrás de Carlos Sainz!
Como não há muito mais a dizer sobre a corrida, e apesar desta nem ter sido das mais marcadas pelo efeito DRS, dedico-lhe - ao "DRS" . precisamente as últimas linhas.
O desporto, todo ele, começou por ser uma competição saudável entre seres humanos. Rapidamente se transformou em espectáculo, e tinha tudo para isso. Depois, praticamente à mesma velocidade, passou a negócio, aumentando a necessidade de potenciar o seu "climax".
Nesta transformação surgiram regras com esse propósito. Estabelecendo um paralelo entre o futebol e o automobilismo, esse "climax" encontra-se no golo, no futebol; e na ultrapassagem, no automobilismo. Nessa transformação, o futebol foi sempre tido por mais conservador. É certo que foi introduzindo regras para facilitar quem ataca, muitas vezes aplicadas com a controvérsia do julgador - o eterno árbitro, com as suas eternas vulnerabilidades - , e que, ainda esta época, aumentou as limitações ao guarda-redes na sua maior dificuldade, a tentativa de defesa das grandes penalidades. Mas nunca mudou as fundamentais: as divisões e dimensões do campo de jogo e, principalmente, as das balizas.
No automobilismo as ultrapassagens - o "climax" - apenas existe nas corridas de pista (por muito que, infelizmente, muitos dos automobilistas comuns o queiram encontrar nas estradas do dia a dia). Não é assim nos ralis, nem nas provas de estrada de velocidade e perícia.
Posso estar errado - e sei que a minha opinião é susceptível de grande controversa - mas entendo o "DRS" como anti-desportivo. Serve ao negócio, mas não serve o desporto automóvel onde, muitas vezes, altera a "verdade desportiva".
Não aconteceu flagrantemente na corrida de hoje, no Japão. Porque, aí, houve o regresso ao normal. Mas foi flagrante em Singapura, onde houve competição a sério!
Era hoje. Era para hoje, 23 de Setembro de 2013, que Vítor Gaspar tinha agendado o regresso aos mercados.
O processo de ajustamento, um ano antes do fim do programa da troika, estaria concluído e Portugal regressaria hoje aos mercados… A certeza era tanta que até dava para fixar um dia. Exactamente, com toda a precisão!
Não sei se tinha alguma coisa a ver com as eleições na Alemanha. Se seria a homenagem que Vítor Gaspar quereria prestar à senhora Merkel. Sei – sabemos – que este 23 de Setembro dá para Merkel festejar. Os alemães adoram-na, deram-lhe 41,5% dos votos, mesmo que lhe tenham deixado nas mãos a batata quente de formar governo sem a sua habitual bengala, os liberais do FDP. E que, por cá, em vez de regresso aos mercados,se fala de novo resgate. E que lá por fora Portugal não é mais o bom aluno,mas o problema maior do euro!
O governo decidiu e anunciou, ontem, depois da habitual reunião do Conselho de Ministros das quintas-feiras, duas medidas para mitigar os efeitos dos sucessivos aumentos das taxas de juro no agravamento das prestações do crédito à habitação, que há muito vêm asfixiando grande parte das famílias portuguesas: revisão da (já existente) bonificação das taxas de juro; e possibilidade dos devedores solicitarem aos bancos a redução da prestação, para um valor fixopor um período de dois anos - entretanto já hoje corrigido por Fernando Medina para quatro - , que decorre da aplicação de uma taxa de juro implícita que não ultrapasse os 70% da Euribor a seis meses.
São naturalmente medidas que se saúdam.
A primeira é uma decisão da exclusiva competência do governo. É o governo, e só o governo, que tem capacidade para uma intervenção deste tipo. É ao governo, e só ao governo, que compete estabelecer os limites e condições deste apoio às famílias. E fê-lo determinando que se destina a contribuintes até ao 6.º escalão de IRS (até 38.632 euros de rendimento colectável anual), que a bonificação incide sobre o que exceda a taxa de 3%, fixando-a em 75% desse diferencial, para taxas de esforço (valor da prestação do crédito à habitação face ao rendimento) entre 35 e 50%, ou na totalidade quando ultrapassem os 50%, e alargando o anterior limite de 720 euros por ano para 800.
É o que o que os apoios sociais sempre são. Pouco para cada um, não chega a 67 euros por mês, mas muito quando são tantos!
A segunda, não só não é da estrita competência do governo, como é uma medida que, por mera racionalidade de gestão, caberia aos bancos. Houvesse concorrência no mercado bancário em Portugal, e fosse a banca portuguesa gerida por administradores que não se limitassem a estar repimpados nas almofadas que a Senhora Lagarde lhes ofereceu para os confortáveis cadeirões, mas que se preocupassem a sério com o negócio, e teriam sido eles, há muito, a tomar a iniciativa de avançar com propostas deste tipo para os clientes que, sabem como mais ninguém, estão em dificuldades.
Sabe-se que são muitas as famílias que têm estado a recorrer ao crédito ao consumo para pagar as prestações da casa. E nem me admiraria nada que isso estivesse a acontecer na esfera do próprio banco, todos eles a operar neste negócio da galinha de ovos de ouro!
É assim. Eles sabem que o Estado nunca lhes faltará. Faz-lhes tudo. Até leis para que cumpram actos de gestão de senso comum!
Perdidos os primeiros pontos na primeira dificuldade de um calendário que mais pareceu escolhido a dedo do que por bolinhas da sorte, perdido o conforto da sucessão de vitórias que umcalendário à medidaprometia garantir, fosse lá como fosse, como se vira em Setúbal e em Felgueiras, Paulo Fonseca apressou-se vir a palco desempenhar o papel que lhe tinha sido distribuído.
Percebeu-se que ninguém contava que fosse tão cedo chamado àquele papel. O desempenho em palco acabou por deixar à vista que os ensaios estavam atrasados, que nem o texto estava ainda bem estudado. A interpretação ressentiu-se e a mensagem passou mal, com grande dificuldade.
Valeu-lhe a ajuda da comunicação social, que não se limitou a emitir uma boa crítica. Encarregou-se ela própria de fazer passar a mensagem. Direitinha, fluente, sem hesitações nem tempos mortos…
Mesmo que não esclarecesse a atabalhoada confusão com os três campos. O primeiro e o segundo tinham ficado claros: Alvalade, onde o Sporting se deixou superiorizar pelo Rio Ave, não teve oportunidade de marcar em fora de jogo e viu o árbitro negar-lhe um penalti. E Amoreira, onde o Porto continuou a jogar pouco, viu uma mão de Otamendi - que já não devia estar em campo desde o início do jogo, por ter derrubado um jogador do Estoril que seguia isolado para a baliza de Helton -, fora da área, transformada num penalti. Mas, e o terceiro?
Em Guimarães não era certamente, porque aí voltou a ser mais do mesmo: um penalti daqueles universais – e não é por ser do tamanho do mundo, é por sê-lo em qualquer parte do universo onde se jogue à bola -, outro daqueles que, se a favor da sua equipa ou contra a do autor daspreces, são sempre marcados, e dois foras de jogo mal assinalados, com Enzo Peres na cara do guarda-redes da casa. Em Arouca também não: aí prosseguiu a série de penaltis que os árbitros vêm perdoando ao Braga. Que pé ante pé, penalti aqui penalti ali, já está no segundo lugar, a um único pontinho…
Pois é Paulo, a mensagem passou, mas não ficou bem na fotografia. Não saiu bem e não foi bonito de ver. E já que lhe exigem esse papel, o melhor mesmo é acelerar os ensaios…
Mesmo assim, com horas extras nos ensaios, veja lá se consegue arranjar um bocadinho para visitar na prisão um colega de profissão que, ao que diz, lhe ensinou alguma coisa.
É que já não há dúvida nenhuma, o Jesus vai preso. Só não ficou logo preso porque a polícia teve medo!
Talvez se encontre lá com o Caldeira. Com o Pinto da Costa é que não... aproveitaria logo para o contratar!
Não sou muito dado a superstições, nem mesmo na bola. Mas, já dizem os espanhóis que não acreditam em bruxas, "pero que las hay, las hay". Ainda não tinha aquecido a cadeira e chegava a primeira sensação de que a coisa não ia correr bem: o voo da águia Vitória não acabou limpinho, e isso não dá boas sensações. Logo a seguir, à entrada dos jogadores, Trubin vestido de azul, também não.
A águia Vitória lá foi recolhida do relvado, e dela não se voltou a dar conta. Já de Trubin ... bem pelo contrário. E não há duas oportunidades para uma primeira boa impressão!
Cantámos "ser do Benfica ... " até esgotar as gargantas naquele "saltitantes" final. Ouvimos o hino da Champions, e cumprimos, os 61 mil, o minuto de silêncio pelas vítimas do sismo em Marrocos, e das cheias na Líbia. Houve um que não teve paciência, nem civismo para tanto, e soltou um "Benfica, caralho" para cima daquele silêncio.
A bola de saída pertenceu ao Salzburgo, e naquele primeiro minuto apenas dois jogadores do Benfica tocaram na bola. Um para interceptar um cruzamento, e deixá-la para um adversário à entrada da área, e outro para levar com ela a desviá-la para canto. No canto, Turbin vai para socar a bola com as duas mãos (!) mas, em vez de acertar na bola, acertou num adversário. Penálti. Encarregado de o marcar, Karim Konaté atirou bem por cima da baliza.
Afinal poderia ser que as más premonições se não confirmassem. Não foi assim, e esse foi o único momento de sorte do Benfica no jogo. E viu-se de imediato que não seria mesmo assim. O Salzburgo trazia a lição bem estudada, e viu-se como tinha preparado bem o antídoto para o futebol do seu ex-treinador. Posicionamento táctico irrepreensível, a secar completamente a fonte do futebol benfiquista. Aquilo não era bem a mesma coisa que temos visto nos jogos desta época, quando os adversários entram em campo a pressionar e a correr como loucos para entupir o caudal de jogo do Benfica. O que já aqui tenho referido como o primeiro milho para os pardais, que rapidamente enxotam. Não aquilo não era nem pressão alta, nem tinha correrias. Era posicionamento puro. Aquilo não rebentava os jogadores da equipa austríaca, engasgava colectivamente o Benfica, e baralhava individualmente boa parte dos jogadores, em especial Bah, esta época simplesmente desastrado.
Mesmo que se percebesse que aquilo não exactamente "o primeiro milhos dos pardais", e ainda assim, poderia até ter sido. Bastaria que a sorte se não tivesse esgotado no penálti falhado, e que a arbitragem turca não tivesse sido à portuguesa. Aos 10 minutos não entendeu que era penálti o que realmente um corte com a mão de um defesa do Salzburgo dentro da área. E começou aí o autêntico festival de dualidade de critérios que durou o jogo todo. A incrível permissividade a tudo o que os jogadores da equipa austríaca fizessem. Faltas, perdas de tempo sucessivas, fosse a marcar cantos, desinteressados da bola, e a atravessar o campo a passo, fosse o guarda-redes a repôr a bola, fosse nas substituições, fosse no que fosse.
Aos 12 minutos, a bola rematada por João Mário poderia ter entrado. Mas o poste não deixou. No lance imediato Bah - sempre ele - falha mais um passe e entrega a bola a um adversário. Ao tentar cruzá-la para a área bate no próprio Bah, sobe, sobe e desce até cair sob a barra. Quando António Silva a tenta interceptar, o desvio na barra acaba a encaminhá-la para a mão do defesa do Benfica, em cima da linha de golo. Cartão vermelho, e penálti. Desta vez sem a sorte do outro, e o Benfica ficava a perder e com um jogador a menos.
Roger Schemidt entendeu tirar João Mário - não terá sido a melhor opção, mas nem nisso o treinador surpreende ninguém - para repôr a defesa, com Morato. Se já estava a ser difícil, mais ficava ainda.
Ainda assim os jogadores foram valentes, conseguiram jogar e ganhar ascendente no jogo. Depois daquele primeiro quarto de hora tenebroso, com 10, o Benfica chegou a jogar bem e chegou ao intervalo, com apenas 5 minutos de compensação depois de todo o tempo perdido pelos autríacos, e de dois penáltis, a justificar outro resultado, com três boas oportunidades de golo. Valeu aos austríacos o seu guarda-redes, que se revelou inspiradíssimo e inultrapassável. E a sorte. Quando estava batido havia sempre o poste, onde Di Maria voltaria a certar, aos 25 minutos.
Era evidentemente difícil, com 10, manter aquele domínio na segunda parte. E da sorte já nada havia para esperar. Mas o Benfica regressou, com os mesmos 10, e a dominar. Di Maria deixou morrer uma jogada em que esteve isolado, e gritou-se golo de Musa, depois de um grande trabalho na área. Schlager, é este o nome do guarda-redes que tinha dado jeito estar do outro lado, fez mais uma defesa impossível. Imediatamente a seguir, Morato, que tinha estado a alto nível, saiu a jogar sem qualquer protecção nas suas costas, e perdeu a bola. Aursenes teve ainda oportunidade de interceptar o primeiro passe, mas também falhou, e ficaram dois jogadores isolados frente ao sempre nervoso e intranquilo Trubin.
De novo, depois de mais uma grande oportunidade para marcar, o Benfica sofria o segundo golo. O resto do jogo foi mais do mesmo. Os jogadores do Salzburgo a queimarem tempo, o guarda-redes a defender tudo (mais duas defesas de golo, uma negando-o a João Neveso, e outra a Otamendi (num espectacular remate de bicicleta); o árbitro a fazer vista grossa a faltas claras, a amarelar os jogadores do Benfica pelos protestos, e provavelmente a perdoar-lhes mais um penálti (aos 70 minutos).
Schemidt não mexia na equipa, e nas bancadas gritava-se por Neres. Que entraria já perto da entrada no quarto de hora final, com ... Chiquinho. Substituindo Di Maria, já há muito esgotado, e Kokçu. As duas restantes substituições chegariam já bem perto do final, com Tengsted (o Cabral, dos vinte e tal milhões, que vinha substituir o Gonçalo Ramos, é a última das três opções para ponta de lança!) e Tiago Gouveia (em estreia absoluta num jogo destes!), a substituírem os esgotadíssimos e massacrados Musa e Rafa.
E assim abriu o Benfica a Liga dos Campeões desta época. A perder, em casa, o jogo com o adversário menos cotado do grupo, que se sabe dos mais equilibrados. A perder, em casa, o jogo que não havia dúvidas que ganharia. Depois do que fez na passada!
Enquanto o PSD anda a correr à volta da mesa a tentar agarrar o próprio rabo, com o tipo que saiu do governo para ir para o partido às turras, por causa do FMI, com o tipo que saiu do partido para ir para o governo – quer dizer, o PSD do governo a não se entende muito bem com o PSD das autárquicas - o CDS fala a uma só voz: a de Portas. Nem que seja para, em pleno comício eleitoral das autárquicas, dizer que já saímos do fundo, que já só falta saber a que velocidade se está a fazer a descolagem.
Percebe-se que há um PSD para governar e outro para disputar as autárquicas. E que só há um CDS - não chega para tudo - que, mesmo assim, só quer falar de governação.
Pois: Quem só tem um cavalo não pode apostar em dois. Tem que apostar no que tem,mesmo que vá em contra-mão!
Hoje houve moção de censura ao governo apresentada pelo Chega, que António Costa agradeceu. Como, em Janeiro, o Chega tinha votado a do Iniciativa Liberal, igualmente bastante interessante para Costa, desta vez a IL retribuiu.
Amor, com amor se paga. Mesmo se se odeiam, como dizem.
André Ventura já gastou as cartas todas. Mas dá-as por bem empregadas. Só ajudou Costa e o seu partido, mas também é de lá que lhe tem chegado a maior ajuda.
Antes era a economia que tinha crescido no segundo trimestre, era a economia a dar completamente a volta. Era o novo ciclo. Era Passos, pelo segundo ano consecutivo, na festa do Pontal, a decretar a vitória final sobre a crise, seguro (seguro - estão a ver!) do êxito da sua brilhante governação. Mal compreendida, mas inequivocamente eficaz... Até o desemprego já estava a cair, e Passos já roçava a arrogância a anunciar tantos sucessos!
Era Pires de Lima na pele ministro da economiamaravilha,o novo IRC de Lobo Xavier que fazia milagres e Portas a falar grosso com a troika...
Bastou uma semana para tudo isto desaparecer, bastou uma semana para parecer que mudamos de país. Numa única semana, nesta, que nem sequer ainda chegou ao fim, a Standard & Poor´s ameaça de corte o rating, que já classificara em lixo,e fala da iminência de um segundo resgate, o país está às voltas com a troika -a quem Cavaco pede bom senso- para rever a meta do défice, e atéRamalho Eanesdiz que o país está sem saída. As más notícias sucedem-se, umas atrás das outras. O FMI diz-nos que fomos cobaias e que a experiência correu mal, que correu mal o que Passos ainda há duas semanas se vangloriava de ter corrido bem.
Tudo isto apesar do barulho ensurdecedor da campanha eleitoral. Agora imagine-se no que aí virá depois do fim do mês...
Será que dá para entender este país?
Não dá, mas não é esta resposta que me preocupa. Preocupa-me é a resposta se mudarmos a pergunta: Será que dá para acreditar num país assim?
Terminou ontem em Madrid a Vuelta deste ano. As próximas pedaladas da grande corrida espanhola serão dadas em Lisboa, ponto de partida da Vuelta 2024.
Tudo tinha ficado resolvido na quinta feira, na 18ª etapa, mesmo que a de sábado fosse a tal de montanha russa. Era a mais longa desta Vuelta, com quase 210 kms num traçado que percorria a Sierra de Guadarrama e voltava a ser ao jeito de Rui Costa, como então aqui tinha dado nota. E foi. Não deu para ganhar mas voltou a ter um excelente desempenho, andou sempre na frente, num grupo de luxo constituído pelos grandes nomes excluídos do topo 10, e acabou em sexto. Também não deu para Evenepoel, que estava empenhado em ganhar tudo. Foi segundo, batido no sprint final por Wout Poels.
Dez minutos depois chegou o grupo dos primeiros da geral onde, na dura subida Alto de San Lorenzo de El Escorial, e no pouco que ficou a restar para a meta, João Almeida impôs o ritmo para defender o quarto lugar do seu colega Ayuso, afinal o único que poderia estar em risco.
Na chegada a Madrid, a Vuelta seria completada num circuito de15 voltas pelas ruas da capital, com passagens pelos principais pontos de referência da cidade. Aí acabou a festa e o passeio, próprios das etapas de consagração. E aconteceu tudo o que raramente acontece nestas etapas finais das grandes voltas. Porque a Vuelta é mesmo assim. Só não houve novidade nos animadores. Rui Costa foi um deles, e até dos principais. Evenepoel, inevitavelmente, outro.
Rui Costa foi o primeiro a sair e a isolar-se, com mais dois ciclistas da Bora. Um deles Lennard Kämna, velho conhecido do Rui. Estiveram sempre juntos em todas fugas em que participaram, e foram muitas. Quando o Rui ganhou, ganhou a Kämna. Depois foi Evenepoel a atacar, e a acabar por se lhes juntar. Como o belga punha em risco a camisola dos pontos de Grooves, o corredor da Alpecin- Deceuninck colou-se-lhe. É normal que o melhor sprinter ganhe na última etapa. Mas Grooves percebeu que tinha de seguir Evenepoel para conseguir ganhar.
Até nisto a Vuelta é diferente. Depois de um final emocionante, com o pelotão a anular a fuga em cima da meta, mas já sem nem tempo, nem forças, para qualquer comboio de lançadores de sprint, foi Grooves quem ainda estava em melhores condições para ganhar. Ganhou, como era suposto, mas completamente fora do que era suposto. E consolidou a primeira posição nos pontos. Rui Costa acabou por voltar a repetir o sexto lugar do dia anterior.
E ponto final. Kuss ganhou, como deveria ser. Vingegaard e Roglic fecharam o pódio. De uma única equipa, todos da imbatível Jumbo. Que pela primeira vez ganha as três maiores competições do ciclismo mundial: Roglic, no Giro, Vingegaard, no Tour e Kuss na Vuelta.
Evenepoel ganhou a montanha. E só não ganhou nos pontos porque, nesta classificação, as vitórias em etapas de montanha valem apenas 20 pontos. Contra os 50 das etapas planas. E mesmo assim ainda tentou, da forma que se viu, buscar o 50 pontos de Madrid. Suficientes apenas e só se Grooves não pontuasse. E acabou por proporcionar os melhores momentos de espectáculo de ciclismo desta Vuelta.
Dos portugueses, Rui Costa acabou por fazer uma grande prova. Como João Almeida, que talvez pudesse ter feito algo mais. O nono lugar da geral sabe a pouco, especialmente depois do pódio no Giro, mas não deixa de ser um bom resultado. Nelson Oliveira viu-se aqui ou ali. Mais ali, no contra-relógio. Os outros não deixaram história. Porque não puderam. Guerreiro pela infelicidade da queda, bem cedo.
Que o Presidente Marcelo comenta tudo, sobre tudo e sobre nada, já não é novidade. Há muito que se sabe disso. Que nem sempre o faz cumprindo com os mínimos da sensatez e da elegância, também é sabido.
Que chegasse à deselegância de chamar gorda a uma mulher, ridicularizando em público a senhora a sentar-se numa cadeira, ("olhe que a cadeira pode não a aguentar") parecia o limite do intolerável que a Marcelo se tolera. Mas não, não era ali o limite. Ontem, na visita oficial ao Canadá, no meio de emigrantes que ali estavam, no país que os recebeu, os integrou e lhes deu a dignidade que nunca encontrariam no seu, em manifestação de apreço pelo presidente do país que tudo lhes negou, provavelmente à espera da selfie que é a imagem de marca do populismo que o alimenta, a fasquia subiu para níveis já intransponíveis.
De dedo em riste a apontar para o decote de uma jovem, advertindo-a que se poderia constipar, Marcelo não foi só infeliz. Nem ridículo. Foi deselegante, machista e bota de elástico salazarento. Tudo impróprio para um Presidente, mas de todo intolerável sabendo que, atrás do seu dedo estendido, seguiam as câmaras das televisões que iriam expor ao mundo não só o decote, mas a cara e o corpo de uma jovem que, provavelmente, apenas estaria ali porque a mãe, ou o pai, a teriam convencido a vir conhecer o mais alto responsável do país longínquo que, apesar de tudo lhes ter negado, continuam a amar.
PS: Claro que a fotografia que encabeça este texto nunca poderia ser a do decote da jovem.