Temos por hábito e vício dizer bem das pessoas quando morrem. Com kissinger não é fácil cumprir esse hábito, ou satisfazer esse vício.
Pode haver quem o ache o maior xadrezista político do século XX, o mais excelso especialista em política internacional, ou tudo o que a imaginação de cada um abranja. Mas isso não faz com que não haja quem ache o mestre do cinismo e da mentira. Quem não se lembre da CIA, às suas mãos. Do Chile, de Allende. Da Indonésia, da invasão de Timor.
Durão Barroso não poupou em veemência ao declarar que “os tempos de soberania limitada acabaram na Europa”. Foi com grande convicção, e com a autoridade digna do que se diria ser um verdadeiro líder europeu, que Durão Barroso vincou a superioridade civilizacional da Europa e do seu projecto.
Do céu ao inferno. Foi esta a viagem que o Benfica fez, esta noite, na Luz. Do céu, da primeira parte, ao inferno, da segunda.
O céu não foi tão celestial quanto o 3-0 ao intervalo poderia fazer crer. Foi uma boa exibição, mas não foi daquelas exibições arrebatadoras, de destroçar o adversário, de vertigem e magia. Mas foi a prova de que se podem fazer grandes exibições sem se ser avassalador.
Sem grande exuberância, mas com uma equipa competente, o Benfica deixava a ideia de ter feito uma grande exibição, deixando no ar a sensação de ter chegado à Champions só depois de já ter visto a porta de saída. O Inter, com uma equipa inicial onde faltavam as maiores estrelas, teve mais bola, manteve as suas rotinas e nunca foi um adversário verdadeiramente submetido. A grande diferença, e a tal ilusão de ter chegado ao céu, foram os golos, os três de João Mário, em 45 minutos inesquecíveis. Não tem sucedido nada de parecido em termos de aproveitamento.
O intervalo mudou tudo. E aí vêem-se os treinadores. A perder por 3-0, Simeone mandou os mesmos jogadores para a segunda parte. Deve ter-lhes dito que, tendo sido eles a caírem no seu inferno, eram eles que de lá teriam de sair.
Não faço ideia do que terá dito Roger Schemidt aos seus jogadores. O que se viu é que, coisas que, antes, saíam bem, começaram logo a sair mal.
O passe de ruptura de João Neves, que na primeira parte teria chegado ao destino, foi interceptado e deu em contra-ataque, interrompido, em falta, pelo próprio João Neves, provocando um livre a pouco mais de 20 metros da baliza. O pontapé de Alexis Sánchez assustou de tal forma Trubin que, podendo perfeitamente agarrar a bola, desviou-a por cima da trave. Do canto surgiu o primeiro golo do Inter. A segunda parte ia apenas com 5 minutos e já se via que o jogo tinha mudado por completo. E o segundo golo veio logo a seguir.
Exactamente como acontecera na primeira parte com os golos do Benfica: aos 5 e aos 13 minutos.
Simeone deu então por cumprida a tarefa dos seus rapazes. Tinham eles próprios saído do inferno, e fez então entrar as principais figuras para fazerem o resto. Fez as cinco substituições em tempo útil. Thuram, Cuadrado e Barella todos de uma vez, logo a seguir ao segundo golo. Lautaro e di Marco dois minutos depois.
No Benfica nada acontecia. Mas ao Benfica tudo acontecia. Os golos que na primeira parte aconteceram com toda a facilidade, e felicidade, passaram a oportunidades flagrantes perdidas. O guarda-redes do Inter, que na primeira parte praticamente não tocara na bola, passou a defender tudo. O central Bisseck , de andar de cabeça à roda, passou a cortar tudo. E quando Di Maria e Tengstedt poderiam ter feito o quarto e o quinto golos, a sorte já tinha sido toda esgotada por João Mário.
E como tudo acontecia, de um atropelamento a João Neves à entrada da área adversária, que a arbitragem - mais uma, desastrada, na linha do que também tem acontecido nesta Champions - não quis ver, resultou um contra-ataque que acabou num penálti assinalado a Otamendi, sobre Thuram, e transformado por Alexis Sánchez no golo do empate.
Havia ainda muito tempo para jogar - na realidade houve ainda mais de meia hora - e o inferno ficaria ainda mais profundo com a expulsão de António Silva, ditada pelo VAR, e provavelmente exagerada.
Com dez, durante perto de um quarto de hora, ainda que no inferno, o Benfica conseguiu apenas resistir e salvar o empate. Que, só por isso, pela resistência no inferno, não é ainda mais amargo.
Interessam pouco as contas para Sazburgo. Foi com esse adversário, logo no primeiro jogo, que o Benfica abriu as portas do inferno, de que já não tem salvação. Interessa é perceber como a equipa vai do céu ao inferno em apenas 45 minutos. Perceber a inconsistência sistemática desta época.
Quero crer que alguém responsável ande à procura dessas explicações. Espero que sejam dadas porque, explicar tudo por sorte e azar, e por arbitragens, valha o que valer, só pode servir para o exterior. Para a equipa não pode servir!
Pronto. Já há orçamento, o último de António Costa, emocionado, ao que se diz. A Assembleia já pode ser dissolvida, e o governo já pode cair. Tudo nos "conformes".
Agora é esperar pelo 10 de Março do próximo ano, já no fim do Inverno que ainda não começou. Então, esperar-se-á pela Primavera, provavelmente a única coisa boa a esperar. Creio que nem o mais irritante optimismo dará para esperar por muito mais!
Paulo Portas vai efabulando à volta das exportações – “uns dedicam-se às exportações e outros a manifestar-se” e outros, acrescentaria eu, a dizer e fazer disparates - sem sequer perceber que não somos produtores de petróleo.
Nuno Crato anda eufórico com os 40 mil professores já inscritos para o exame. Que ainda não perceberam que entretanto já não são professores. Que, ao inscreverem-se para o exame, deixaram de ser professores para passarem a ser candidatos a professores. E muito menos perceberam que, para o ministro Crato, deixaram de ser uma dor de cabeça – um exército de contratados excedentários – para passarem a ser uma excitante e grata surpresa. É que o ministro Nuno Crato não conseguiu esconder a surpresa pela afluência ao exame que, no seu entender, quer apenas dizer que há muita gente, jovens e menos jovens, que quer ser professor e dignificar a profissão. Gente que gosta da profissão, e isso é o primeiro passo para serem bons professores… Notável!
Notável é ainda o ministro Aguiar Branco, que garante toda a transparência no processo de reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, ao mesmo tempo que diz aos trabalhadores que recebem agora as suas indemnizações mas que em Janeiro estarão de volta ao seu trabalho nos Estaleiros. Porque só eles têm qualificação para isso!
Melhor só o burro mirandês que hoje faz capa (e chacota) no International New York Times…
Não tenho dúvidas em afirmar que Cristiano Ronaldo protagonizou, ontem, um dos melhores momentos de desportivismo de sempre no futebol. Raro, e só ao alcance dos realmente grandes em carácter.
Não têm sido poucas as vezes em que lhe critiquei traços de carácter, porventura algumas delas equivocado entre carácter pessoal e espírito competitivo. Ou talvez incapaz de perceber que, num "animal" de competição como ele, é muita curta a distância que separa o êxito da frustração. Por isso não poderia deixar de salientar esta atitude exemplar de dignidade de que só os maiores são capazes.
Certamente que já vimos Cristiano Ronaldo ser igual a tantos os outros, simulando e tentando tirar proveito da arte de enganar. Provavelmente já beneficiou de alguns penáltis mal assinalados. Mas provavelmente foram ainda mais os que ficaram indevidamente por assinalar.
Ontem, logo no início do jogo para a Liga dos Campeões asiática, entre a sua equipa - o Al-Nassr - e a equipa iraniana do Persepolis, o árbitro chinês - Ma Ning, que provavelmente nunca sairia do anonimato - assinalou penálti, por suposta falta sobre a estrela portuguesa, que os narradores da televisão deram logo por indiscutível. Na repetição via-se que tinha havido toque na perna do craque do Al-Nassr. Só depois se percebeu que fora Cristiano a provocar o contacto mas, antes de tudo isso, já ele indicava ao árbitro que não. Que não era penálti!
O árbitro recorreu ao às imagens do VAR e reverteu a decisão. Mas nunca se saberá se, sem aquele sinal de "não", com o indicador, peremptório, de CR 7 o VAR teria sequer intervindo. Sabe-se é que este gesto de Cristiano vale mais que qualquer dos recordes que já bateu e dos que ainda quer bater.
Há para aí pessoal que anda excitadíssimo de indignação com osapelos à violênciade Mário Soares, Pacheco Pereira, Helena Roseta ou Vasco Lourenço.
Já este caso não excita ninguém, e até porque não é mais que um remake de Mário Soares - o próprio provérbio à parte, nunca presunção e água benta estiveram tão próximas - não contém apelo nenhum. Também Belmiro de Azevedo não apela a coisa nenhuma. Quanto muito estará a apelar aos responsáveis pelas suas lojas... para que se não esqueçam de manterem actualizados os seguros contra roubo!
O congresso do PSD deste fim de semana foi mais parecido com um comício do que com um congresso. Lá apareceu Cavaco, a dar perceber que Montenegro o preferiu a Passos. E como se percebe...
Saiu à pressa, porque a mulher já o esperava para jantar. E Cavaco não é de deixar a mulher à espera, nem de deixar o jantar arrefecer. Passos poderia não ter tanta pressa.
Montenegro lá espalhou promessas. Prometeu tudo. Não a todos, mas aos que se contam em votos. Aumenta pensões, claro. A mínima promete chegar aos 820 euros. E há-de até igualar o salário mínimo. É mesmo assim, iguala a retribuição a quem trabalha a uma pensão a quem não contribuiu. E claro, vai pagar tudo aos professores. Os tais seis anos, seis meses e 23 dias. É tudo para pagar, votem lá...
Nem assim convenceu os companheiros de congresso. Há deles, e parece que não são poucos, que acham nem assim lá "chega". É preciso “uma base comum que possa dar o tal élan que permita acrescentar ao que o nosso líder tem feito” - disse Nuno Morais Sarmento, um deles.
Pois é. O problema é essa "base comum". O IL já deu "tampa". Há o CDS, e o PPM. Mas isso é na História.
Olha-se à volta ... e não "chega" para "base comum". Então há que contar com os eleitores do PS que se assustam com Pedro Nuno Santos. Ora aí está, como dizia o Ricardo Araújo Pereira, o congresso do PSD elegeu o líder do PS. Os socialistas já não têm que se dar a essa maçada, Montenegro resolve tudo. E até isso.
Em "comício", Montenegro resolve tudo. Tem outro problema: percebe pouco do que se passa à volta. Ainda não percebeu por que é que Francisco Assis foi o primeiro protagonista da candidatura do "radical" Pedro Nuno. Nem por que é se lhe juntou Álvaro Beleza.
Pois é. Sem Chega, não chega mesmo. E o diabo - afinal ele havia de chegar - é que nos Açores as coisas não correram nada bem, mesmo que disso não desse o Congresso notícia. Nem o próprio José Manuel Bolieiro, agora às voltas com o Presidente Marcelo para lhe dar uma segunda oportunidade, e não dissolver a Assembleia Regional.
O diabo é mesmo assim. Aparece donde menos se espera, e até se disfarça de ironia.
O governo confirma as suas invulgares aptidões para o negócio. Nunca será de mais relevar a invulgar mestria deste governo na arte de bem vender a coisa pública, uma mestria forjada nas artes do talhante. Desta vez são osEstaleiros Navais de Viana do Castelo, onde o governo voltou a fazer tudo como bem sabe: pegou na peça, abriu-a e separou carne para um lado e ossos para o outro. Pegou na carne e entregou-a a um grupo privado; os ossos - já se sabe - ficam para nós!
Com a aprovação na especialidade do Orçamento para o próximo ano cumpriu-se mais um ritual. A maioria aprovou o que o governo quis que fosse aprovado e, quando o presidente insiste no seu esgotado ritual de apelo ao consenso, não se limitou a ignorar as propostas da oposição. Foi mais longe e sentenciou que, consensos, só com outra liderança na oposição… Quer dizer, a maioria já não quer apenas limitar-se a determinar a governação, acha que deve ainda determinar a oposição. Do tipo: esta oposição não serve, queremos outra para brincar aos consensos!
E pronto já só falta o ritual desuspensedo Tribunal Constitucional. E, claro, o dos sucessivos orçamentos rectificativos, porque este, mais ainda que todos os que ficaram para trás, não é para cumprir. O que não significa que não faça mal: não vai ser cumprido, mas faz todo o “mal” que tem a fazer. Sem que atinja nenhum do “bem” que apregoa!
Não faltou também o ritual de contestação, um pouco por todo o país, mas especialmente à frente do Parlamento, onde desta vez ninguém subiu as escadas. E, lá dentro, à hora da intervenção final da ministra Albuquerque, gritou-sedemissão- um clássico seguido do ritual de evacuação das galerias!
Pelo sim e pelo não, não passem as coisas para lá dos rituais, Passos Coelho cancelou a viagem à Lituânia marcada para quinta e sexta-feira...