Ficamos hoje a saber pelo jornal i que o Bernardo, o menino brasileiro de 11 anos, do Rio Grande do Sul, que na semana passada foi encontrado morto numa valeta, vinha sendo vítima de maus tratos e negligência por parte do pai, situação iniciada com o suicídio da sua mãe, em 2010, e agravada depois de ter arranjado nova namorada. Que a criança se tinha deslocado, em Janeiro, ao Ministério Público e que se queixava de tentativa de homicídio. E que o juiz decidira que o pai deveria manter a guarda da criança.
Nada a que infelizmente não estejamos habituados, em Portugal, no Brasil, ou em tantos outros países, mesmo dito desenvolvidos… Que já quase nem seja notícia.
Notícia é que o pai seja médico. Notícia é que estas bestas do mal habitem espaços que não os da miséria e da indigência. Notícia é que a miséria humana não escolha classes e que o ar mais respeitável possa esconder o rosto do monstro mais repugnante!
Não sei se a escolha - Sebastião Bugalho - de Montenegro para cabeça de listas às Europeias foi a primeira, a segunda ou a terceira. Mas sei que é a escolha de Montenegro para política-espectáculo e para o populismo mediático.
Sei também que o pequeno mundo do comentário político engajado a aplaude. Mas isso não surpreende, afinal é disso que se faz carreira política em Portugal. Aí há a coerência que falta a que escolheu e a quem foi escolhido.
Também não sei se o jovem mais velho que por aí anda, sabe alguma coisa de Europa, ou de outra coisa qualquer. Sei que disputou o título de jovem prodígio, de príncipe do comentário político televisivo, com o António Maria, o filho do nosso saudoso Pedro Rolo Duarte. E que saiu a ganhar. E, ao que dizem, e ao que tive oportunidade de constatar, a ganhar bem!
Daí até lhe reconhecer mérito para entrar na política pela porta grande vai uma distância muito grande. Tão grande que a passadeira vermelha estendida para a cobrir terá lugar certo no Guiness.
Há muito que se anda a falar da saída do programa de assistência. Teve uma data, ainda antes das eleições – e até e um relógio em “count down” –, mas surgiu já outra data, lá para o fim dos festejos dos santos populares. Paulo Portas, o relojoeiro, já veio dizer que o relógio está certo: se é a 17 de Maio que se perfazem os três anos, e se o programa era para três anos, não há dúvida nenhuma. Há uma, mas insignificante, diz ele: 17 de Maio é sábado, as portas podem estar fechadas, e a saída poderá ter que passar para segunda-feira!
Não deixa de ter graça… Mas como se poderia achar muita graça a isto, nada melhor que arranjar umas coisas com mais graça ainda.
A saída era limpa, à irlandesa, como também se dizia mas se deixou de dizer. Saída directa para os mercados, sem programa cautelar, que ninguém sabe o que é mas que a gente, cá deste lado, começa a perceber o que seja. Não é nada de linhas de crédito à cautela, de almofada, que nisso os finlandeses nem querem ouvir falar. É apenas e só um programa que garanta a continuação da austeridade – nem mais, nem menos!
E é por isso que já entrou no discurso de Paulo Portas – é sempre ele que fica nos cornos do boi, vá lá saber-se porquê – uma outra coisa ainda com mais graça: a saída, seja lá como for, é sempre limpa. Só um segundo resgate – ideia agora recuperada pela negativa, para logo dizer que, dado por certo há poucos meses, está agora completamente fora de cenário – seria saída suja. Como se com um novo resgate houvesse sequer saída!
Não diria que se esperasse, hoje, em Faro, um Benfica destroçado, de braços caídos. Nunca se poderia esperar, nem admitir, nada disso, mas esperava-se um Benfica abatido, em crise de identidade, e provavelmente com dificuldades em agarrar o jogo.
Nada disso. E por isso o Benfica que vimos em Faro - um campo difícil e um adversário sempre bem organizado e ultra-combativo - foi surpreendente. Surpresa logo na constituição da equipa, uma espécie de meio termo entre a revolução feita no jogo contra o Moreirense e o onze base de Shmidt.
Se na linha defensiva apenas Carreras era novidade, daí para a frente tudo era, se não novo, às avessas. No banco ficavam Aursenes, João Neves, Rafa e Neres - quatro insubstituíveis. Insubstituível mesmo apenas Di Maria. E, se já se dizia que o contrato que assinou teria uma cláusula que o obrigava a jogar todos os jogos, durassem lá o tempo que fosse hoje, em campo, demonstrou que, a existir, não precisa dessa cláusula para jogar. Di Maria foi o maestro de uma orquestra surpreendentemente afinada, em especial na primeira parte!
E isso não se esperava. Com João Mário e Florentino no centro do meio campo, Kokçu mais à frente e atrás de Arthur Cabral, e Tiago Gouveia e Di Maria a ocuparem outros espaços para deixarem as alas para Carreras e Bah, respectivamente, a equipa jogou muito bem. E com uma dinâmica muito diferente da que tem apresentado.
O Farense terá pensado que com aquela pressão pelo campo todo tiraria proveito das esperadas fragilidades do Benfica. Não tirou. Pelo contrário, deixou o espaço todo do campo para jogar, e o Benfica soube usá-lo justamente para isso. Jogar à bola, criar lances de espectáculo (Di Maria esteve à beira de um dos mais geniais golos da História do futebol), oportunidades de golo - muitas - e dois belos golos, curiosamente ambos em assistências de Bah. No primeiro, Kokçu respondeu com um toque de primeira. No segundo foi a arte de Cabral, de calcanhar.
Pelo meio o Farense empatou - um grande golo, também - mas numa segunda bola, depois do único canto até então a seu favor. E a verdade é que se chegava ao intervalo com um escasso 2-1, completamente desajustado do que se passara no campo.
A segunda parte foi menos entusiasmante, mas nem assim com menos oportunidades de golo, ou menos espectaculares - como aquela bicicleta do Cabral - ou menos interessante o comportamento da equipa. Golos é só mais um, o da estreia de Carreras. Também a coroar uma belíssima jogada de futebol. Ao contrário do que tem sempre acontecido, nenhum dos três golos surgiu de transições rápidas, ou de lances de bola parada. Não foi por acaso!
É pena que já só tenhamos visto isto quando já foi perdido tudo o que havia ganhar. É pena que Schmidt só agora tenha entendido - se é que entendeu - que tem um plantel à disposição que o obrigava a outras decisões, que não as que tomou durante todo um ano. E é pena que alguns dos benfiquistas que hoje estiveram em Faro não tenham pecebido nada disto. Nem nada do jogo, nem nada do que os jogadores fizeram.
O que fizeram no fim, depois daquela exibição, àqueles jogadores, não é benfiquismo. É estupidez. E grande!
Diz-se por aí que a troika iniciou hoje aquela que é a 12ª e última avaliação ao programa chamado de ajustamento. Não parece que seja exactamente assim, nem sequer parece que a troika ainda resista. Só há FMI, só o Sr Subir Lall fala, avisa, ameaça, incomoda… Só o Sr Subir quer descer. Salários e pensões!
Para o lado europeu da troika já tudo acabou, e em bem, como há muito se percebe. Já está tudo mais que avaliado, e foi um sucesso. O sucesso que tinha de ser!
O sucesso anunciado e de data marcada, de Portas. Que responde ao Sr FMI, dizendo-nos que tem de encontrar maneira de o convencer que os salários já ajustaram. Que já não há anda mais para ajustar… e que ele tem de perceber isso!
Que chatice. Só o FMI é que não tem nada a ver com eleições.Que se lixem as eleiçõessó vale mesmo para o FMI!
Não fosse um senhor com um nome esquisito – Subir Lall é um nome esquisito, mas que vamos fixando – e este seria um dia marcado pela ressaca de dois acontecimentos que fazem seguramente bem à economia nacional: a Páscoa, que animou sector hoteleiro, em particular o do Algarve, e a conquista do título nacional pelo Benfica, que animou tudo em todo o lado. Nem é preciso explicar porquê!
Mas lá tinha de voltar esse senhor, para estragar a festa. Fica-se com a ideia que não gosta da nossa economia, e muito menos que ela cresça. E se calhar também não é do Benfica!
O Sr Subir Lall, o actual rosto do FMI na troika, veio hoje explicar a sua obsessão com a legislação laboral. Tem – explica ele - que se flexibilizar ainda mais a legislação laboral porque há um grande problema com a falta de mobilidade dos trabalhadores portugueses. Estão, coitados, muito agarrados ao seu posto de trabalho. São quase escravos, sem liberdade para se despedir e partir para outra!
É verdade. É isto que preocupa o FMI, e o Senhor Subir. Ou o senhor Lol, perdão Lall!
É preciso que os despedimentos sejam ainda mais facilitados porque isso liberta os portugueses para procurar trabalho onde o houver… Também dá uma ajudinha ao combate ao desemprego, se bem que a grande ajuda seja mesmo não mexer no salário mínimo, conforme aproveitou para esclarecer!
Esta é a cartilha do FMI, e não vale a pena que a realidade diga o contrário. Nem que o Benfica ganhe o campeonato!
Não foi fácil. Nada é fácil para o Benfica, tudo tem de ser muito conquistado e assim é que é bonito.
O Olhanense dificultou, como lhe competia. Se jogasse sempre assim não ocuparia certamente a última posição e não estaria a caminho da II Liga. Mas dá vontade de dizer que, se todos jogassem sempre como sempre jogam contra o Benfica, ninguém descia de divisão. Teriam que se inventar novos regulamentos!
Para ganhar o Benfica teve de puxar do seu às de trunfo: as transições rápidas. Duas, praticamente seguidas, deram os dois golos. Antes – e também depois, se bem que menos – oportunidades de golo criadas de todas as maneiras e feitios, mas golos … Nada. A bola não entrava!
Entrou daquelas duas vezes, ainda nos primórdios da segunda parte, se bem que o jogo tenha terminado pouco depois. Depois dos golos só havia cabeça para a festa, olhos para a bancada e ouvidos para o apito do árbitro. Quando se ouviu pela última vez foi a explosão da festa. Na Luz e no resto do mundo!
É o 33º, que inexplicavelmente fugia há dois anos consecutivos, e a felicidade imensa. Como a chama, essa chama que nos envaidece e engrandece!
Já se sabia que a ideia de acabar com os deputados que de manhã fazem leis no Parlamento, e à tarde ganham dinheiro com elas, ia direitinha para o caixote do lixo.
O Benfica procurou o azar, e encontrou-o. Merecidamente!
Demonstrara em Lisboa que tem melhor equipa, que tem melhores jogadores que o Marselha, o 9º classificado da Liga francesa. Podia ter então arrumado com a eliminatória, mas falhou. Por falta de ambição e de competência. Voltou a mostrá-lo nos cinco ou seis minutos iniciais do jogo desta noite em Marselha. Depois, sem se perceber por quê, desistiu de jogar e preferiu esconder-se, com medo. E só reapareceu depois de já ter sofrido o golo que empatava a eliminatória, e durante o prolongamento. Mesmo que do banco apenas se visse um treinador paralisado, de mãos nos bolsos.
Schmidt fez tudo para que tudo acabasse assim, eliminado pelo adversário mais fraco que o sorteio tinha para dar nestes quartos de final da Liga Europa. Apostou em defender o 0-0. Apostou em deixar Di Maria a arrastar-se mais de duas longas horas pelo relvado porque, falhado o 0-0, passou a apostar nos penáltis. Como se não viesse de duas eliminações por essa via.
O Benfica (António Silva) teve azar no golo sofrido em Lisboa. Voltou esta noite a ter azar no golo (Trubin). Como já tinha tido azar naquela bola que lhe saltou das mãos quando, na descida, encontrou a cabeça do António Silva. Teve azar de Di Maria mandar a bola ao poste, no primeiro dos penáltis.
O Benfica teve azar. Mas só teve o que procurou. Procurar a sorte dá muito trabalho. O azar é muito mais fácil de encontrar. Por isso já nem há jogadores para marcar penáltis. E não é preciso sorte para marcar um penálti, basta a cabeça limpa.
Em Novembro do ano passado, a Procuradora-Geral da República, depois de chamada a Belém pelo Presidente Marcelo para uma misteriosa reunião, decidiu incluir no comunicado sobre as buscas realizadas no âmbito da chamada "operação influencer" um parágrafo final, dando conta da existência de uma investigação criminal autónoma contra o primeiro-ministro, de que resultaria a sua demissão. Aproveitada por Marcelo para dissolver a Assembleia da República, e convocar eleições antecipadas, que resultaram num terramoto político.
Cinco meses depois, no acórdão ontem conhecido, os desembargadores do Tribunal da Relação consideraram que os factos apresentados pelo Ministério Público (MP) não indiciam qualquer tipo de crimes por parte dos arguidos. Que o alegado “plano criminoso” defendido pelo MP, não passa de “um conjunto de meras proclamações assentes em deduções e especulações retiradas do que o MP ouviu arguidos e membros de governo falar ao telefone, proferindo afirmações vagas, genéricas e inconclusivas”.
Ou seja, 50 anos depois do golpe de Estado perpetrado pelos capitães de Abril, que abriu as portas da Revolução, o país foi alvo de outro, por acção do Ministério Público e bênção do Presidente Marcelo, que abriu outras portas, muitas das quais julgávamos fechadas para sempre.
Instado a comentar o acórdão (em Coimbra, na inauguração de um mural de homenagem a Alberto Martins e à Crise Académica de 1969 - um marco na História da luta contra a ditadura derrubada há 50 anos), Marcelo não poderia ser mais cínico: "Não vou comentar as decisões de justiça, mas repito de uma outra forma um comentário que já fiz que é mais político". "Tenho a sensação de que começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, neste próximo outono, em Bruxelas".
Cínico, Marcelo quis dizer "não se importem com isso". Que Costa até saiu a ganhar, e pode, agora que está limpo, ir descansado - já livre daquela espécie de bullying que durara desde a tomada de posse - para onde afinal queria ir. E que para o país não tem importância nenhuma que já só seja governável com a extrema direita. Importante é que tenha alguém em Bruxelas!
Não. Não é Marcelo a ser "Marcelo". Como já não fora Marcelo a ser "Marcelo" nas trapalhadas com o Dr Nuno, "maior e vacinado", no caso das gémeas brasileiras. É Marcelo a bater no fundo!