A Web é provavelmente uma das maiores e mais fascinantes ferramentas que o Homem construiu. Mas presta-se a tudo e presta para tudo. E presta-se muitas vezes, vezes de mais, para o que não presta…
Como se sabia, o orçamento em vigor, como sucedera nos anteriores, contém diversas inconstitucionalidades. Faltava apenas que o Tribunal Constitucional as confirmasse…
Conforme se esperava confirmou hoje três delas – outras, como por exemplo a CES, ficam ainda à espera – entre as quais os cortes salariais na função pública.
O primeiro-ministro, ameaçando o Tribunal Constitucional e pelo caminho todos nós, garantira que iria aumentar impostos. Com o IRS a bater no tecto, já só o IVA está à mão… Rebenta com a minúscula réstia de esperança na espécie de crescimento que alimenta o milagre económico que o Pires de Lima anda a vender… Traz de volta a recessão, que não fora embora sem deixar na porta umVolto Já…
Resta a Passos e Portas a tentação enorme, tão enorme quanto oenorme aumento de impostosdosucessoda sua governação, de tirar partido imediato da situação no PS. Uma tentação que Seguro, hoje no mais desastrado dos seus dias de uma semana miserável - que, depois de completamente perdido no meio da moção de censura do PC, culminaria na patética reacção à decisão do Tribunal Constitucional – torna certamente irresistível.
Ontem foi dia de Zelensky, duas semanas depois da programada visita à península Ibérica. Depois de, no dia anterior, ter estado em Madrid, e de, pela manhã, ter dado um salto a Bruxelas, o líder - e ícone - ucraniano passou a tarde em Lisboa.
Poucos minutos depois de ter partido de Figo Maduro iniciou-se o último debate televisivo entre os principais cabeças de lista às Europeia do final da próxima semana. O único com todos - os oito - contra todos, em que Sebastião Bugalho aproveitou para declarar "dia de festa": "Parece-me que hoje é um dia feliz, a democracia portuguesa no seu 50º receber um Presidente de um país pelo PM e PR. Hoje é um dia de festa"!
Estranha noção de festa, de imediato atacada pelos oponentes à esquerda. O "puto" fez beicinho e partiu para a emenda, pior que o soneto: festa, mesmo, "é quando a Ucrânia derrotar a Rússia". À inocente noção de festa, o Sebastião acrescentava infantilidade.
O que diria o Sebastião, prodígio dos comentadores, do Sebastião político?
Se calhar diria que toda a gente sabe que o apoio à Ucrânia, o que Zelensky cá veio pedir, e o que pede, e é parcimoniosamente dado pelo Ocidente, apenas pode ter, como melhor dos objectivos, encaminhar a guerra para o impasse que permita abrir caminho para negociar os termos do seu fim.
Mas Sebastião já não é comentador. É político. E, para já, pára-raios de Montenegro.
Ou para que data marcará a festa da vitória da Ucrânia face à parcimónia belga que, mesmo restringindo - evidentemente - a utilização dos F16 ao território ucraniano, apenas entregará um este ano, deixando os restantes 29 para entregar faseadamente até ao final de 2028?
Quando, em cima da hora, aqui dei a notícia da decisão de António Costa chamei a atenção para a importância de se tratar de um imperativo de responsabilidade e não do simples aproveitamento da melhor, e talvez última, oportunidade de chegar ao poder.
Provavelmente nunca se saberá da verdadeira motivação de António Costa.
Admito que muitos julguem que isso não é importante, que ao presidente da Câmara de Lisboa se abriu o melhor de dois mundos, e que apenas teve de se limitar a juntar o útil ao agradável. Mas não me parece que seja bem assim, não me parece que perceber a situação política em que o país mergulhou, e agir em conformidade em função do interesse do país seja a mesma coisa que simplesmente somá-la às restantes condições que fazem deste momento político uma oportunidade única e irrecusável.
Pode admitir-se que o imperativo de António Costa tenha surgido da súbita perturbação que Guterres tenha introduzido na tranquilidade com que, sentado na cadeira da Câmara da capital, esperava pelas presidenciais. Mas ao fazê-lo não resta outra alternativa que não seja perceber que tudo fica na mesma, que não é aberta nenhuma janela de oportunidade para sanear um regime que, como tenho vindo a dizer, se encontra esgotado e bloqueado.
O crescente divórcio dos portugueses com o sistema partidário instalado traduz-se numa abstenção que já ultrapassou todos os limites, na pulverização do voto de protesto dos que ainda não desistiram e, com isso, no esgotamento do espaço eleitoral capaz de gerar soluções governativas. Chegamos ao momento em que resta apenas o bloco central como espaço de solução de governo. O PSD e o CDS, como quer a governação destes três anos quer estes resultados eleitorais demonstram, já não preenchem esse espaço. O PS, como se outras evidências não houvesse também estes resultados eleitorais demonstram, não tem igualmente condições para isso. Não há mais condições para manter a roda do regime: derrota, mudança de líder – cada vez mais fraco, mais jota e mais plástico – vitória, derrota…
O bloco central em que o regime acabou por desembocar, e que o Presidente da República - curiosamente o coveiro da única experiência que o país conheceu - deseja, não é solução. Quer dizer, é. Mas é justamente a solução final. Tapa a última válvula de escape do regime, e a partir daí é a explosão!
Por isso seria muito importante – decisivo mesmo – que o imperativo de António Costa seja de verdadeira responsabilidade e não de mera oportunidade. Que resulte, se não exactamente desta avaliação, de qualquer coisa não muito distante. Sem que seja o Messias, o salvador do regime e muito menos da Pátria, António Costa poderá ter condições para, enquanto abre novas pontes para o regime, ou simplesmente frestas por onde entre algum ar respirável, se não refundar o partido, pelo menos quebrar as velhas lógicas.
Sendo certo que, sendo bem sucedido no PS, o PSD não poderá – nem quererá – ficar para trás!
Não deixa de ser curioso reparar que quando se ouve falar de António Costa no PS se ouve, de imediato, falar de Rui Rio para o PSD. Não quer dizer que seja, também ele, o Messias do PSD e a outra chave do desbloqueamento do regime. Nada disso, mas enquanto um duelo Costa/Rio pode sugerir o adjectivo estimulante o equivalente para Seguro/Passos não passa de penoso!
Tão dificilmente este passo de António Costa será tudo como será nada. Se nem nesta altura Seguro estiver à altura das responsabilidades e insistir em esconder-se, desta vez atrás das suas tropas, é que nunca conheceremos a dimensão deste imperativo.
Com o arranque da negociação dos direitos de subscrição é dado hoje o pontapé de saída no processo de aumento de capital do BES que decorre das dificuldades financeiras do grupo que têm vindo a público.
A este aumento de 1045 milhões de euros no capital do Banco, juntam-se outros, em particular no capital da holding dos negócios não financeiros do grupo – Rio Forte. Tudo somado são 2745 milhões de euros, que o grupo terá de ir captar ao mercado nacional e internacional no mais curto prazo de tempo para evitar males maiores, incluindo ter de recorrer ao fundo de capitalização da banca – de que o BES fizera ponto de honra em afastar-se –, onde ainda restam 6 mil milhões. E junta-se a alienação de activos imobiliários em Portugal e no estrangeiro, especialmente no Estados Unidos.
As dificuldades financeiras do grupo poderão até ser resolvidas com estas medidas de emergência em curso. Mas o banco – e o grupo – não atravessa apenas dificuldades financeiras… Acrescem sérias dificuldades de reputação … E a essas não há capital que acuda!
Foi multado em Espanha por problemas de branqueamento de capitais, e está a ser investigado nos Estados Unidos por infracções idênticas. O próprio Ricardo Salgado também passou por problemas com as suas declarações fiscais, para o que contou, como de resto é costume, com a complacência da administração fiscal…
Não admira por isso que, quando tudo isto acontece num grupo que é o expoente máximo do regime, de onde ao longo dos últimos 30 anos têm saído deputados, ministros, dirigentes de políticos de toda a espécie e administradores de empresas e demais orgãos do Estado, a única demissão tenha sido a do contabilista… E que quase só por espírito santode orelha se fosse sabendo destas coisas!
O Giro, na sua 107ª edição, acabou ontem, sem que aqui o tivesse trazido, ao contrário do habitual. Talvez porque, também ao contrário do habitual, não tivesse portugueses a brilhar.
Só teve a presença (discreta) de um português: Rui Oliveira, colega de Pogacar na UAE, que concluiu a sua segunda participação (tinha estado em 2022) no 122º lugar da classificação, entre os 142 corredores que terminaram em Roma.
Sem concorrência à altura - essa ficará para o Tour, daqui a pouco mais de um mês - Tadej Pogacar dominou por completo a primeira das três grandes Voltas da competição mundial. E deu espectáculo. Correu para ganhar o seu primeiro Giro, mas muito especialmente para dar espectáculo - permanentemente ao ataque - e para desafiar o recorde dos seis triunfos de Eddy Merckx, em 1973.
Igualou-o, e não o ultrapassou porque foi batido no segundo contra-relógio da prova, à 14ª etapa, pelo especialista italiano Filippo Ganna (Ineos), ex-bicampeão mundial da especialidade, por 29 segundos. No anterior, à 7ª etapa, com mais cerca de 8 quilómetros que terminava com uma subida prolongada, tinha sido ao contrário. Pogacar, muito melhor na subida, recuperou o tempo que perdera no trajecto plano e acabou por ganhar por 18 segundos, naquela que seria então a sua segunda vitória.
Ganhou ainda a classificação da Montanha (maglia azurra) com grande vantagem (64 pontos) sobre o jovem (20 anos) Pellizzari (Green Project). E deixou o segundo da geral, o colombiano Daniel Martínez (BORA), a 9.57 minutos, a maior vantagem desde 1965. O britânico Geraint Thomas (Ineos), vencedor do ano passado, fechou o pódio, a 10.24 minutos.
Jonathan Milan (Lidl-Trek) foi o rei dos sprinters.
Este Giro, apesar do domínio esmagador de Pogacar, revelou que novos talentos continuam a chegar ao topo do ciclismo mundial. O italiano Antonio Tiberi (Baharain), quinto na geral e primeiro da juventude, a fazer lembrar a participação do nosso João Almeida nos últimos anos, é um deles. Pellizzari é certamente outro. E o neerlandês Thymen Arensman (DSM) outro ainda.
Na Madeira, seja como for, chova ou faça sol, ganha o PSD.
Mesmo com um líder indiciado por corrupção, por isso demitido, e que a muito custo, e muito empurrado, lá teve que largar a liderança do partido na Região. Mesmo que logo que regressado pela porta da recandidatura, como se nada se tivesse passado. Como se o desembarque de dois aviões com magistrados e polícias da Judiciária na Ilha só não tivesse sido apenas mais um desembarque de duas centenas de turistas por terem saído de aviões da Força Aérea . Mesmo com os vícios e podres à mostra, mesmo com Miguel Albuquerque de "calças na mão", não há volta a dar e só o PSD lá ganha eleições.
Não sei - francamente - se isto diz mais sobre o habitat frondoso da ilha se sobre o desértico da oposição.
É certo que longe vão os tempos das maiorias absolutíssimas do Alberto João. Que agora já só dá para baralhar e voltar a dar, sem sair do bailinho. Que roda, roda, sem sair do mesmo sítio. Valha que dois irmãos se juntaram pelo povo e lá dão alguma animação àquilo...
António Costa chegou-se à frente. Deu o passo que faltava, não podia ser de outra forma...
Mas o país precisa que tenha sido um imperativo de responsabilidade e não o simples aproveitar da melhor oportunidade. Que António José Seguro potenciou com o patético discurso e os absurdos festejos de domingo à noite, a fazer lembrar aquele ministro dos negócios estrangeiros de Sadam!
Ontem, com os resultados das eleições ainda quentes – em boa verdade as projecções, porque os resultados, por força de mais uma das muitas aberrações que por aí se vêm, ficaram congelados durante horas, pelo que já estavam bem frios quando apareceram – olhei-os à procura de surpresas e novidades. Hoje olho-os como um túnel, lá para o fundo, à procura da luz …
A coligação no governo, mesmo com o pior resultado de sempre, acha que não foi mau. Perderam por poucos, disseram. E isso deixou-os felizes e satisfeitos, prontos para voltar hoje ao trabalho, cheios de coragem e motivação.
Na verdade não perderam por poucos. O pior resultado de sempre não dá para perder por poucos… Apenas olham muito curto, só ali para o lado. Para o adversário que é também parceiro … de partilha do poder!
Pretendem ignorar a derrota escrita nos 28% dos votos, e procurar a vitória nos escassos 4 pontos de vantagem do PS, S de Seguro. Que por sua vez pretende fazer crer que são suficientes para reclamar legitimidades que não se vislumbram e para os festejos patéticos a que assistimos. Realça o pior resultado de sempre da direita, mas quer ignorar que, sobre o ponto mais baixo de sempre do adversário/parceiro, não conseguiu mais que uns escassos 4 pontos, menos do que os 5 que perdeu desde as autárquicas, há apenas 8 meses. E que o resultado que lhe assegura esta vitória está praticamente ao nível do que, há cinco anos, com Sócrates, se traduzira numa das maiores derrotas do partido.
Quer isto dizer que em boa verdade ambos – e este é um caso de ambos os três – perderam! Uns, perderam perdendo. Outro, perdeu mesmo ganhando!
Estes três partidos que têm dividido entre si o poder, e que por isso se intitulam do arco da governação, ficaram pela primeira vez aquém dos 60% dos votos. Há razões para acreditar que a coligação salvou Portas e o CDS de serem varridos do mapa político, e isso não vai passar despercebido.
Quer isto dizer que a única razão para que a coligação se mantenha para as legislativas do próximo ano é levar o governo até ao fim da legislatura. Se, e quando, Portas perceber que não há coligação faz cair o governo, disso não há qualquer dúvida.
Porque se percebe que a mudança, mesmo que lenta, está em curso e que os portugueses começaram mesmo a responsabizlizar estes três partidos pela destruição do país. PSD e CDS já não são capazes de garantir fórmulas governativas maioritárias, o que devolve o mais pequeno à marginalidade. É agora inevitável que o próximo governo saia do bloco central, e que Portas se torne descartável. A partir de agora, no ponto a que chegou o processo de erosão do campo da governação, apenas PSD e PS juntos conseguem formar soluções governativas maioritárias. Tanto destruíram, cada um para seu lado, que foram ficando sem espaço. Resta-lhes agora um pequeno reduto onde, para sobreviver, ambos, bem juntinhos, se vão acantonar.
Com Seguro e Passos juntos num governo também esse pequeno reduto será rapidamente destruído. Só então se verá o fundo do túnel em que estamos metidos. Se ainda houver país, pode ser que lá esteja alguma luz...