Já está na estrada o 111º Tour de France, a prova rainha do ciclismo mundial. Capicua, e estranho. Estranho por, pela primeira vez, não terminar em Paris, tomada pelos Jogos Olímpicos. Termina em Nice, em 21 de Julho, e num contra-relógio de pouco mais de 37 quilómetros. Também por, em vez de em princípios de Julho, se ter iniciado ainda em Junho. E, se vai terminar num contra-relógio, também não começou com o habitual prólogo.
Iniciou-se em Itália, e por lá andará nas primeiras quatro etapas. Quem olhar hoje para a classificação geral, à segunda etapa, não diria que tinha começado de forma tão atípica. Lá se vêem os 10 primeiros separados por 21 segundos, como se tivesse iniciado com o habitual prólogo, seguido de uma etapa em linha. E lá se vêem os quatro primeiros - e logo os principais favoritos, Pogacar, Evenepoel, Vingegaard e Carapaz - exactamente com o mesmo tempo. Só olhando bem mais lá para baixo, para o 42º segundo lugar de Thomas, a 4minutos e 24 segundos, o 49º de Van Aert, a 11 minutos exactos, ou Cavendish - o velho "sprinter" na derradeira tentativa para a 36ª vitória no Tour, que lhe permitirá bater o velho record que detém com Merckx nas 35 - no 171º lugar, a bem mais de uma hora, se percebe que estas duas etapas iniciais não tiveram nada a ver com tradição.
Não foram duas etapas de montanha, mas foram duas etapas com muitas subidas, algumas delas com grande dureza. Na primeira, ganhou um trepador, Bardet, aproveitando a última subida para escapar e conseguindo, no limite, por apenas 5 segundos, resistir à perseguição do pelotão dos favoritos, com a ajuda do companheiro de equipa Van den Broek, o jovem que vestiu a camisola branca. Para trás, com muito tempo perdido, ficou desde logo gente importante do pelotão.
Na segunda, hoje, Nelson Oliveira - um dos três portugueses presentes, com Rui Costa e João Almeida (às ordens do Sr Pogacar) - foi protagonista. Integrou a fuga e escapou dela após a penúltima subida. Acabaram por se lhe juntar o francês Vauquelin e o norueguês Jonas Abrahamsen, líder da classificação montanha. Logo no início da última subida o francês foi embora para ganhar, na segunda vitória francesa nas duas primeiras etapas. E o ciclista português foi apenas sexto, a 50 segundos.
Já na etapa de ontem Pogacar tinha tentado testar Vingegaard que, depois do acidente na Volta ao País Basco, em Maio - que o levou para o hospital com a omoplata e costelas partidas, tendo-lhe até uma delas perfurado o pulmão -, não poderia estar nas melhores condições para competir à altura da sua dimensão. Hoje não o testou apenas. Atacou-o na última subida. Vingegaard respondeu. Rapidamente ganharam ambos vantagem sobre a concorrência, mesmo que Carapaz e Evenepoel se lhes viessesm a juntar na descida, a caminho da meta, e mostraram que estão à altura um do outro.
E os dois prontos para as curvas deste Tour. Com Pogacar já de amarelo!
Há uns anos não era notícia, agora é: a Mercedes ganhou!
Vinha de dois "pódios" consecutivos mas, ganhar um Grande Prémio- aquilo que há uns anos era comum, e que, já de forma esporádica, não acontecia há dois anos - é mesmo notícia. Aconteceu hoje, com a vitória de Russel na Áustria, a casa da Red Bull.
Mas só foi possível porque Verstappen e Norris, que disputavam a vitória palmo a palmo, deixando prever que a coisa iria acabar mal, a três voltas do fim eliminram-se mutuamente. Verstappen - já se sabe, não conhece limites competitivos - abusou e travou Norris. Tocaram-se. O holandês campeão do mundo ficou apenas sem pneu traseiro direito, a tempo de ir às boxes substituí-lo e acabar em quinto. O britânico ficou pior, e já não saiu das boxes.
E, desta "guerra", saiu vencedor (que não "herdeiro") Russel. Que era então terceiro, mas ainda dentro da disputa. Piastri - esse sim, "herdeiro" de Norris, numa recuperação notável e na demonstração da força da Mclaren, foi segundo. E Sainz terceiro, a completar o pódio. Hamilton, a confirmar que a Mercedes já é a terceira potência da actual fórmula 1, atrás da Mclarem e da Red Bull. foi quarto.
Foi preciso o debate desta noite (madrugada em Portugal) para soarem os sinos no Partido Democrata americano. Só quando "viram as barbas a arder" perceberam o risco de ceder à insensata teimosia do Presidente Biden em levar para a frente uma recandidatura para que já não tem condições. Não sei se não é já tarde de mais, afinal estamos a apenas três meses das eleições na América.
Depois da fragilidade demonstrada por Biden, aproveitada até ao limite por Trump para acentuar a mentira e o populismo, aos democratas restam duas alternativas: conformarem-se com a entrega do poder a Trump, com tudo o que isso representa neste momento histórico; ou encontrarem rapidamente (a convenção de nomeação realiza-se Chicago, de 19 a 22 de Agosto) um candidato com capacidade e energia para se lhe opor.
Concluída a primeira fase do campeonato da Europa que se disputa na Alemanha, e apuradas as 16 selecções que seguem para os oitavos de final, ficam algumas indicações.
Algumas delas poderão vir a ser desmentidas na fase a eliminar, em que tudo se decide num só jogo - e num só jogo de futebol tudo pode sempre acontecer - que vire tudo do avesso. Quem não se lembra do que aconteceu à selecção do Brasil - provavelmente a melhor equipa de sempre - no Mundial de 1982?
A primeira indicação é que, à excepção da Espanha - a única selecção 100% vitoriosa, a única que não sofreu qualquer golo, e que, à partida, não era incluída no grupo dos principais favoritos - ninguém apresentou um futebol francamente entusiasmante. A qualidade do futebol apresentado não passou da mediania, e daí que as selecções que melhor impressão deixaram tenham sido as que se revelaram mais bem organizadas. Ou trabalhadas.
Dessas, porém, apenas a Áustria atingiu um resultado surpreendente, ao ganhar o grupo D, à frente da super-favorita França. A Suíça, mercê do surpreendente empate com a Escócia, a que equipa que mais golos sofreu (7), acabou por se qualificar atrás da selecção da casa, a quem, no confronto directo, se superiorizou em tudo menos no resultado.
A segunda é que todas as principais favoritas desiludiram. Desiludiu a Alemanha, mesmo que tenha sido a que mais golos (8) marcou, à conta da goleada à entrada, contra a Escócia.
Desiludiu a Inglaterra, recheada de jogadores que podem discutir a "bola de ouro", com apenas uma vitória, tangencial e pouco merecida sobre a Sérvia, e apenas dois golos marcados e um sofrido. Num grupo (C) onde a Dinamarca e a Eslovénia (próximo adversário da selecção portuguesa) empataram os três jogos (como Portugal, quando ganhou, em 2016), acabaram com os mesmos 3 pontos, e com os mesmos dois golos marcados e sofridos, acabando por ser um cartão amarelo, mostrado a um membro do staff esloveno, a fazer o desempate a favor dos nórdicos.
Desiludiu a França, a mais poderosa das selecções em competição, que em tudo imitou a Inglaterra. Apenas também ganhou um jogo e marcou dois golos. Sofreu também apenas um, mas simplesmente à conta da sua fortíssima defesa e do excelente Maignan, capaz de discutir com Donnarumma, Oblak e Mamardashvili (sim, o de ontem, da Geórgia) o título de melhor guarda-redes da Europa.
E, claro, desiludiu Portugal, mais uma vez incapaz de reflectir na selecção a qualidade individual dos seus jogadores. Não é muito difícil encontrar a justificação para esta crónica incapacidade. Não é preciso procurar muito para a encontrar nos poderes instalados. É fácil apontar os erros ao seleccionador - e são tantos - mas não são apenas os seus erros técnicos a condenar ao fracasso a melhor geração de sempre. Ele é escolhido para fazer assim, e assim manter os poderes instituídos!
Há outras selecções que também desiludiram, mas pela sua História. A Itália, campeã em título, pela qualidade que lhe falta na frente, não pode fazer muito mais. Parece até que Spalleti tem dificuldade em encontrar nesta geração de jogadores italianos a qualidade necessária para o futebol que tem na cabeça. A Bélgica já só tem De Bruyne e o jovem Doku. Ambos excelentes, mas apenas dois. E a Holanda - pronto: Países Baixos -, mais a mais desfalcada de Frenkie de Jong e De Ligt, também não mostrou ter por onde responder á sua História.
Ainda assim apuraram-se as três, ao contrário da Croácia, em anunciado fim de ciclo (Modric), que não passou dos 2 pontos, dos empates com a Itália e a Albânia. A Itália em segundo, atrás (e muito) da Espanha. A Holanda em terceiro. E a Bélgica em segundo, num grupo (E) em que todos somaram os mesmos 4 pontos, acabando a Ucrânia no último lugar, e a Roménia no primeiro, por força da expressão do resultado (3-0 para os romenos) no primeiro jogo, entre si.
Agora está tudo alinhado até à final. Em duas alas. Uma parece boa para a Inglaterra. A outra será o grande teste à Espanha. À nova e entusiasmante Espanha.
António Costa é oficialmente presidente do Conselho Europeu. Como sempre quis!
O Presidente Marcelo ameaçou-o quando o empossou para o terceiro, e último, governo: se for para Bruxelas, demito o governo e vamos para eleições. E a coisa ficou preta.
Ironicamente - há sempre ironia na História - o governo caiu pela própria demissão e fomos para eleições. Por outras e conhecidas razões. E a coisa voltou a ficar preta. Com a velocidade a que por cá corre a Justiça, seria difícil apagar a tempo o fogo em que António Costa ardia sem se ver.
O fogo é assunto de bombeiros, não da Justiça. E os bombeiros apareceram. Em força, e a tempo!
Parabéns senhor ex-primeiro-ministro. E boa sorte, porque o ordenado não é mau. E comparado com o do Presidente da República nem tem comparação...
Quando o apuramento para o Brasil estava em dúvida – e isso aconteceu durante muito tempo, porque cedo a selecção começou a desperdiçar pontos e só tarde, no segundo jogo do paly-off na Suécia, o assegurou – toda a gente dizia que seria impensável um campeonato do mundo, no Brasil, sem a selecção portuguesa. Pelo peso que o futebol português (já ou ainda?) tem, por ser no Brasil, o romântico país irmão mas, acima de tudo, por Cristiano Ronaldo…
Hoje, com a selecção portuguesa já afastada, com um desempenho pior que medíocre, pode concluir-se que não faz lá falta nenhuma. Não faz, como não fez… Não acrescentou nada ao campeonato do mundo e retirou muito a si própria. E não só...
Diz-se hoje que a selecção veio de menos para mais, que fez o pior no primeiro jogo, na goleada da Alemanha. Que melhorou no segundo, no empate com os Estados Unidos, e que esteve finalmente bem no terceiro, da vitória magra e amarga contra o Gana. Não me parece, nunca me pareceu que tivesse sido isso o que se passou. Isso aconteceu apenas nos resultados, que são soberanos mas não são tudo. O pior dos três jogos foi o segundo, contra a selecção de um país que despreza tanto o futebol - e tantas outras coisas - que nem o trata pelo nome. Porque o primeiro tem um sem número de atenuantes: má preparação do jogo, adversário do melhor que há, influência decisiva da arbitragem, expulsão, com inferioridade numérica durante mais de dois terços do jogo, lesões... O segundo, não. Não tem nada disso, antes pelo contrário. Contra um adversário fraco - agora a cumprir um alto serviço ao país, dando-lhe a saber que existe algures, não sabem bem onde, um país chamado Bélgica -, e com vantagem no marcador logo aos cinco minutos, sem surpresas quanto ao estado físico, e de forma, pelo menos dos jogadores que já tinham sido utilizados e sem qualquer razão para facilitar na preparação do jogo, que depois do empate entre a Alemanha e o Gana era decisivo, a selecção portuguesa foi simplesmente cilindrada. Os americanos, que haviam ganho ao Gana simplesmente porque às vezes há milagres no futebol, que simplesmente tinham mostrado saber defender - coisa que hoje em dia qualquer equipa que não seja africana sabe fazer - logo que se viram a perder mandaram-se para cima dos portugueses. E foi um não mais parar de oportunidades, uma autêntica humilhação que só parou quando viraram o resultado. Um golo no quinto e último minuto de compensação, com que ninguém contava, salvou o resultado. Apenas isso!
No terceiro, com o Gana, Paulo Bento recorreu finalmente a outros jogadores. Também isso contribuiu para que fosse o mais bem conseguido, ou, talvez melhor, o menos mau. Mas, francamente, decisivos mesmo foram os problemas internos na selecção africana. Tivessem repetido as exibições dos dois jogos anteriores e teria sido mais um suplício. Como de resto se percebeu na breve e intermitente, mas também imediata reacção que tiveram ao golo alemão, no outro jogo.
Há muito que se percebia que era grande a probabilidade de ser assim. Porque já não temos grandes jogadores, porque se deixou de lado a formação, porque a base de recrutamento é pequena. Porque, tantas coisas que tanta gente diz...
E que são verdade, mas não são a verdade toda. Nem talvez a verdade que, agora, no imediato, mais interessa.
Como já se percebeu, o jogo que, na minha opinião, mais marcou a eliminação foi o tal com os Estados Unidos. No texto que então aqui publiquei não me pareceu oportuno escrever tudo o que me ia na alma, e por isso ilustrei-o com um fotografia que hoje aqui repito. Ali estão Fernando Gomes, o líder da Federação, o seleccionador Paulo Bento e Cristiano Ronaldo, todos reunidos à volta do ícon. Parece-me simbólico. E sugestivo!
Porque a idolatria iconográfica à volta de Cristiano Ronaldo foi prejudicial. É estrategicamente inaceitável que domine, como dominou, a selecção nacional. E revela as fragilidades de liderança na Federação e na selecção. O mediatismo do craque português, a sua dimensão universal, e a sua condição de figura incontornável do showbiz internacional, não podem ser transferidos para o seio de uma equipa. Têm o seu espaço, mas é outro!
Mas o descalabro da selecção tem também a ver com o jogador fantástico que é Cristiano Ronaldo. E tudo começa por não perceber o papel da selecção nacional no seu sucesso desportivo. Talvez ainda seja um súper atleta, mas não é, nem nunca foi, um súper homem. E por isso não pode passar um ano de campeonato do mundo obcecado por recordes individuais. Tem que optar: ou abdica de um ou outro, ou abdica de aparecer em grande forma no maior palco do futebol mundial. Sabe-se qual é a escolha dos seus principais concorrentes!
Mas não se fica apenas por aí. Cristiano não foi apenas um jogador que chegou a este mundial em condições inaceitáveis para o seu estatuto. Falhou ainda, porque é o capitão, na liderança da equipa. Mostrou não ser o líder dentro do campo, não saber agarrar a equipa e impedi-la de se afundar. Mas também mostrou não o saber ser fora de campo, sendo o primeiro a atirar a toalha, a desvalorizar a equipa e os colegas. Mostrou-se acima de tudo e de todos, como nunca se lhe tinha visto. Falou quando não devia e calou-se deselegantemente quando devia falar. A cereja no topo deste bolo intragável surgiu quando, na qualidade de homem do jogo da despedida, apareceu na sala de imprensa para uma simples declaração, sem direito a perguntas mas, coisa estranha, com direito a exibir um boné de publicidade à sua própria marca.
Paulo Bento não fica mal na fotografia apenas pelas convocações, por contar sempre com os mesmos, independentemente do estado de forma e, até, dessa coisa nova que aprendemos nesta semana chamada índices de suspeição lesional. Não se percebe que, não havendo pontas de lança ou avançados-centro de qualidade minimamente aceitável, ele queime três lugares da convocatória com três specimens como os que levou. Nem se percebe a insistência até à exaustão em Veloso e Meireles. Mas, pior que tudo isso, foi deixar cair aquela imagem de impoluto. Deixa agora perceber que cede a interesses, sejam eles de jogadores, de directores ou de outros agentes que se movimentam no futebol profissional. Declarou-se responsável por tudo o que envolveu a preparação da selecção, mas não se vê como a estadia prolongada nos Estados Unidos não corresponda a cedência a interesses. Ou os treinos abertos no Brasil. Ou a súbita titularidade do Eduardo, retirada logo que arranjou novo contrato. Ou até a lesão de Rui Patrício, que mais não pareceu que uma encomenda de Alvalade, um pouco na linha das convocações, dos portistas Licá e Josué, no início da época, em contra-mão com o seu conservadorismo convocatório.
Por último a estrutura federativa, personalizada no presidente Fernando Gomes. Em vez de uma estrutura profissioanlizada, com competências específicas para as diferentes valências do negócio, a Federação dedicou-se ao compadrio. A distribuir lugares como se de tachos de trate, seja para pagar favores seja para obedecer a lobbies.
As caras da estrutura federativa são, para além do presidente, o vice Humberto Coelho e o director João Pinto. Sabe-se que o lobby dos jogadores de futebol reclama sempre protagonismo na organização do futebol português, mas a verdade é que raramente se lhe reconhecem atributos que lhes garantam especiais competências para o efeito. Lá está o João Pinto, sem que sequer se saiba o que lá anda a fazer. De quando em vez ouve-se, mas é para debitar lugares comuns que dizem nada, levando toda a gente a pensar que está lá porque tem uns problemas pessoais para resolver. Qualquer dia - se não chegou já - chega a vez do Vítor Baía...
Humberto Coelho foi um extraordinário jogador de futebol. Depois foi durante pouco tempo treinador de segunda linha e, de repente, chegou a seleccionador nacional. Teve a seu cargo o melhor conjunto de jogadores que Portugal já conheceu, e com eles, com pouco ou muito mérito, fez a melhor selecção nacional de sempre, que brilhou no euro-2000, na Holanda e na Bélgica. Depois, mais nada... E pelo discurso percebe-se mesmo que mais nada. Lugares comuns, nada mais... E quando sai daí é disparate, do grosso. Como se viu na conferência de imprensa desta semana, onde se percebeu que naquela estrutura não há liderança, nem estratégia, nem nada por onde alguma coisa dessas pudesse passar. Viu-se, sim, fazer o discurso da derrota, lavar os cestos - e alguma roupa suja - quando a vindima ainda prometia.
A FPF está (mal) habituada às receitas da presença consecutiva nas fases finais das grandes competições permitida pela aposta na formação dos primeiros vinte dos últimos trinta anos. A actual direcção - e também a anterior - está sentada em cima de um saco de dinheiro, e acha que isso basta. Por isso não precisa de quem pense no futebol, até porque se alguém começar a fazê-lo vai dar-lhe cabo da tranquilidade. E isso é muito desconfortável!
Um erro de António Silva - é assim que ficará para a História, se bem que o de Danilo tenha sido bem mais evidente - acabava o ponteiro dos segundos de dar a sua primeira volta, e o talento de Kvaratskhelia, a estrela da Geórgia que brilha no Nápoles, deixaram os georgianos na frente do marcador e confortáveis na sua estratégia, praticamente decalcada da da Chéquia, no primeiro jogo da selecção portuguesa. Como Roberto Martinez também decalcou as asneiras desse jogo, sem a sorte de então, a exibição e o resultado não poderiam ser diferentes do que foram esta noite em Gelsenkirschen.
Relativamente ao último jogo, com a Turquia, o seleccionador manteve apenas três jogadores: o guarda-redes, Diogo Costa, o trinco, Palhinha e o ponta de lança, Ronaldo. Este tem de jogar sempre. Mudou oito jogadores e mudou tudo, regressando aos três centrais, às invenções, com os laterais a jogar por dentro - desta vez foi com Dallot -, e aos jogadores fora das suas posições naturais, da falhada experiência com a Chéquia.
Mas conseguiu ainda fazer pior: juntar Palhinha aos três centrais.
Não. Não começou tudo no erro de António Silva. Começou antes. E não se esgotaram os erros nos de António Silva. Que cometeu outro, no início da segunda parte, que deu num penálti, e no segundo golo da Geórgia. Que, na estreia num Europeu, conseguiu o apuramento para os oitavos de final, pondo de fora a Hungria (com que já contávamos para os oitavos de final) e deixando-nos a Eslovénia pela frente.
Começou na mediocridade de Martinez. Que não é de agora, e que só por milagre melhorará.
A partir do segundo golo - no penálti convertido por Mikautadze, que é por esta altura, com três golos, o melhor marcador da competição -, ainda nos primeiros 10 minutos da segunda parte, esteve sempre mais iminente o terceiro da Geórgia que o ponto de honra da selecção portuguesa.
É verdade que a arbitragem - talvez a pior de toda esta fase de grupos - não ajudou nada. Nem, ao contrário daquilo a que nos estávamos a habituar, a sorte. Mas não é menos verdade que a selecção portuguesa não mereceu melhor que o enxovalho de uma derrota clara perante um adversário que ocupa a 74ª posição do ranking mundial.
Seguem-se os oitavos de final. Onde há gente que não merecia lá estar. Por exemplo a Inglaterra, a maior decepção no que à qualidade de jogo diz respeito, e a Itália. Mas onde estão a Suíça, a Áustria, a Eslovénia e a Dinamarca, as equipas mais bem trabalhadas. A Espanha é de outro campeonato.
Voltou, doze anos depois, a ser a selecção mais completa da Europa. Agora num registo completamente novo, sem o velho - e às vezes entediante - tiki-taka.