No entanto o "pantomineiro-mor" do país troca esta realidade pela narrativa que lhe alimenta a pantominice, e marca uma grande manifestação para Lisboa contra a imigração. Freta autocarros por todo o país, e arregimenta todas as estruturas para este objectivo principal do partido. Disse-se por aí que quem não apresentasse resultados ficaria com contas para ajustar.
E ontem lá se encontraram todos - gente que não sabia o que ali estava a fazer, gente que também tinha sido emigrante, "mas dos bons, nada destes que para cá vêm", e gente que sabia bem ao que vinha, como um tal Mário Machado com o "seu" 1143 - percorrendo precisamente o eixo da capital mais marcado pelas mais degradantes imagens da exploração associada à imigração.
O pantomineiro tinha à sua volta câmaras e microfones que bastassem. Para elas dizia que não, que não era nada contra a imigração, enquanto descia pela Almirante Reis debaixo da gritaria "nem mais um, nem mais um". Novo microfone à frente e, de novo, não, aquilo era apenas contra a desregulação, contra a "bandalheira" das portas abertas.
As tais que, dizem os empresários deste país, a fecharem-se, seria devastador!
Pantominice é isto. Também lhe chamam populismo, mas isto é mais propriamente pantominice!
Carlos Moedas foi hoje ouvido no Parlamento Europeu, numa espécie de prestação de provas, na condição de comissário europeu indigitado. Provas - nesse sentido - tanto mais necessárias quanto, pela evidente falta de peso político, o parlamento desconfiava da sua preparação para a função.
Saiu-se bem, dizem. Apresentou-se como umprodutodo fenómeno de mobilidade social ascendente, imagem de marca da democracia europeia, o que é sempre bonito, e fez a sua mais surpreendente revelação quando disse que esteve muitas vezes em desacordo com a troika.
A surpresa - ninguém nunca deu por nada, antes pelo contrário, alinhou sempre pela ala mais dura do governo, na linha da frente da defesa da troika - deixou de ser surpresa quando se percebeu que, antes, o próprio Parlamento tinha criticado fortemente a intervenção da troika no nosso país. É sempre a mesma coisa: o que é preciso é saber dançar certinho ao som da música de cada momento. Acertar com a música...E isso aprende-se facilmente por Wall Street e pela City...
Não é o primeiro, nem será certamente o último, a pontapear a gramática de forma grosseira e violenta. Sucedem-se diariamente agressões à língua portuguesa nas primeiras páginas dos jornais - de todos, dos generalistas aos desportivos e aos económicos, como neste exemplo -, nas reportagens, nas notícias e nos comentários das televisões portugueses. Sempre sem que nada se passe. Sem a mínima responsabilidade de quem tem a obrigação de ter a máxima. Sem que ninguém simplesmente peça desculpa...
A primeira obrigação de quem vive da escrita é escrever sem erros. É cumprir o mínimo. Se nem esse cumpre, cai em falência. Ainda primeiro que as tintas ...
O país vibrou com as primárias do PS, disso não me parece que fiquem dúvidas. Muita gente correu a inscrever-se para votar e muita gente seguiu a par e passo a campanha, como o provam as próprias audiências dos debates televisivos.
Não sou dos que pensam que isto represente um sobressalto cívico, que o país tenha de repente saltado da cadeira – ou do sofá – e acordado para o activismo perdido. Que de repente o país se reconciliou consigo próprio, e quer intervir activamente no seu destino. Nada disso, os números ainda não dão para isso. E os partidos ainda são muito como o clube de futebol…
Mas também não acho que se possa ficar pela mera escolha de um novo líder partidário, que foi verdadeiramente a escolha de um candidato a primeiro-ministro, exista ou não essa figura.
Não sei se esta ideia das primárias veio assim tanto para ficar quanto nos vão dizendo muitos dos analistas políticos. Enquanto primárias, não me parece. Mas enquanto forma de legitimação democrática e agente da transparência e da revitalização que é necessário levar aos partidos políticos e, por essa forma, ao regime, não tenho qualquer dúvida que é muito importante que seja uma ideia para ficar. Quero com isto simplesmente dizer que não me parece que se institucionalize como ideia de primárias propriamente ditas, mas que não poderá deixar de ser a forma dos partidos escolherem as suas lideranças.
Para além do que deste processo fique para o futuro do regime, também este resultado expressivo de dois terços que António Costa alcançou, se torna no mais relevante e decisivo facto político desta parte final da legislatura.
É que ninguém no PSD pensará neste momento que Passos Coelho, com o que foi e é o governo e ainda com todos os problemas que o envolvem, e que, tantas as contradições e trapalhadas, estão longe de estar ultrapassados, tenha qualquer hipótese de ganhar as próximas eleições a António Costa. Que, há não muito tempo, sagaz,anunciou ser Rui Rio o seu adversário…
Mas Rui Rio não é apenas o adversário que o PSD tem para António Costa. É também, e acima de tudo,o líder que o PSD tem para se coligar com Costa. Quer isto dizer que o PSD percebe neste momento que só com Rui Rio garante a manutenção do poder. Contra António Costa ou com António Costa!
Creio que Passos Coelho percebe isto. E percebe que, se como António José Seguro insistir em resistir ao óbvio, poderá abrir a caixa de Pandora que afastará por muitos anos o PSD do poder. Posso estar enganado, mas não vejo como Passos possa estar a fazer outra coisa que não seja escolher a melhor forma de sair pelo seu pé…
De novo na Luz, de novo cheia que nem um ovo, de novo o "novo" Benfica de Bruno Lage entrou a perder. Ainda se não tinha percebido - nem nada perto disso - o que o jogo tinha para dar e já Gil Vicente marcava, logo na primeira vez que chegava à baliza de Trubin. Ia o jogo com 8 minutos!
Nada de novo. Já assim tinha acontecido no último jogo na Catedral, o primeiro de Lage. Como já tanta vez tem acontecido. O Benfica - a equipa e os quase 60 mil nas bancadas - não se deixou abater, e partiu à procura da reviravolta. O que foi novidade foi, à medida que o jogo ia prosseguindo, perceber que nada disso - o golo prematuro do Gil e a reacção pronta do Benfica - dava ao jogo um sentido único.
Surpreendentemente a equipa de Barcelos dividia o jogo com o Benfica. Que, surpresa ou não, pagou com a mesma moeda: não foi à primeira vez que chegou à baliza adversária - pelo contrário, foi até no quarto canto conquistado - mas marcou na primeira oportunidade, menos de 10 minutos depois. Foi de novo um golo de canto, a novidade da era Lage. E foi o primeiro de Otamendi nesta época. Mais importante foi ter sido a resposta do capitão à sua própria responsabilidade no golo sofrido, nove minutos antes.
Com o Gil a continuar a dividir o jogo e a praticar futebol de qualidade, melhor mesmo só consumar a reviravolta à segunda oportunidade. Foi o que aconteceu apenas oito minutos depois e a meio da primeira parte, quando Kerem Aktürkoglu respondeu de cabeça a um grande cruzamento de Aursenes. A meio da primeira parte três golos, em três oportunidades. Só depois houve tempo para desperdícios, ainda assim poucos: dois para o Benfica; um para o Gil.
O Benfica veio para a segunda parte decidido a acabar com o atrevimento do adversário. No primeira metade demonstrou-o claramente, assumindo o domínio do jogo, sufocando mesmo, e criando sucessivas oportunidades de golo. Pouco antes do meio da segunda parte Andrew, o guarda-redes do Gil, provocou uma paragem no jogo para ganhar ar e quebrar o sufoco. E resultou!
O Gil voltou a ter bola, e a jogá-la bem. À entrada do último quarto de hora sentia-se que as bancadas tinham sido invadidas pelo receio. O Benfica não aproveitara aqueles 20 minutos de absoluta superioridade, o resultado estava em aberto, e o Gil já voltara ao registo da primeira parte. Bruno Lage já tinha mexido na equipa - fora mesmo o primeiro a fazê-lo - com a entrada de uma assentada de Cabral, Rollheiser e Amdouni (saídas de Pavlidis, Koçu e Aktürkoglu), mas nem isso tranquilizava as bancadas da Luz.
A equipa consegue dominar os jogos. Mas quando não tira proveito disso, e o resultado continua em aberto, tem evidentes dificuldades na altura de o controlar. Já se tinha percebido, e aqueles minutos confirmavam que esse é, para já, um problema que Bruno Lage tem para resolver.
Desta vez tudo acabou em bem - e até na maior goleada da época - porque Amdouni acabou com "o galo" dos ferros, e arrancou um grande golo, no momento certo. Foi como o ketchup, e os golos soltaram-se a partir daí. Florentino marcou o quarto, decalcado do que fizera da última vez na Luz - canto ao primeiro poste, desvio de Otamendi e finalização do médio, quase a meias com Cabral.
Antes, naquela dúzia de minutos que mediou entre o terceiro e o quarto golo, já mais umas tantas oportunidades de voltar a marcar tinham ficado para trás. Ao todo foram onze!
Depois, já na compensação, acabado de entrar, Prestiani (parece a perder espaço nesta configuração de Bruno Lage) assistiu o compatriota Rollheiser para o quinto da noite. Acabando em festa um jogo que foi isso mesmo - uma festa.
De que o Gil fez parte. E não foi por ser o bombo!
Embalada pelo canto da sereia da globalização a Europa desindustrializou-se, crente que a sua superioridade tecnológica, e as suas capacidades de investigação e inovação, seriam suficientes para continuarem a garantir às suas marcas confortáveis posições dominantes nos mercados mundiais. E às suas principais economias lugares destacados à cabeça do produto mundial.
Sem darmos conta - se não tivesse sido a pandemia a mostrar-nos como já não conseguíamos fabricar máscaras e ventiladores, o estado a que chegou a indústria europeia seria provavelmente ainda escamoteado - a Europa, que em 1990 detinha 44% da produção mundial de semicondutores, não passa hoje dos 9%. E a China, transformada na fábrica do mundo, deixou de copiar e passou a liderar, como demonstra o novo paradigma da indústria automóvel, da era do eléctrico.
Sem darmos conta, a Europa da superioridade tecnológica de há 30 anos não tem hoje uma única empresa entre os líderes tecnológicos globais. E está claramente a ficar para trás, muito longe do que acontece na América, na "revolução" da inteligência artificial.
É desta perda de competitividade que trata o "Relatório para a Competitividade da Europa” que Mario Draghi apresentou há dias. O diagnóstico é certeiro. Reconheçamos que acertar também não era muito difícil. As soluções é que, agora, são bem mais difíceis.
Há uma década, quando a União Europeia andava convencida que a "crise do euro" (chamaram-lhe crise das dívidas soberanas, mas era mesmo do euro) se resolvia com austeridade, e com bons alunos um pouco por todo o lado, Draghi viu que não era assim, e fez o que tinha de ser feito para salvar o euro. Mas era então Presidente do BCE; tinha o poder. Tomara ele próprio a decisão e dispunha ele próprio dos meios para a executar.
Hoje, não tem nada disso. E provavelmente as suas propostas - algumas ainda muito vagas - irão acabar enroladas nas indefinições estruturais da União Europeia. Na sua falta de decisão política e nos seus dogmas!
CENTRO PORTUGUÊS para a COOPERAÇÃO – dito assim, com este nome pomposo, até parece que estamos a falar de coisa séria e respeitável, acima de qualquer suspeita. Ouvido assim, de braço dado com uma palavra de honra, parece salvo-conduto. Abre-te Sésamo, sem ladrões mas com mil e uma noites. Resolve tudo. Não se fala mais nisso…
E ninguém pergunta o que é isso. Nem para que uma empresa privada precisa de uma ONG. Nem por que os administradores de uma são os administradores da outra…
Nem para que servem tantas Fundações e ONG`s, tudo farinha do mesmo saco…
O PSD tinha ontem anunciado que o primeiro-ministro esclareceria hoje tudo e, mesmo que ainda antes do início do debate quinzenal já os jornais adiantassem que a explicação estava nas despesas de representação, a expectativa era, por isso, grande.
António José Seguro teria certamente percebido que este debate de hoje, nestas circunstâncias e nesta altura, a dois dias das eleições internas, mais que mais uma oportunidade, era uma oportunidade única caída do céu, depois dos debates televisivos com o seu opositor. Se bem que já todos saibamos do que Seguro (não) é capaz, esperava-se que a súbita capacidade de combate recentemente revelada desse agora em alguma coisa.
A Procuradoria Geral da República, provavelmente fazendo o que teria de fazer, fez o que se esperava que fizesse. Que chutasse para canto, como Passos Coelho bem sabia quando, depois de se ter refugiado na Assembleia da República, decidiu pedir-lhe a investigação.
Era este o cenário que dominava o debate quinzenal desta manhã, o último reduto que sobrou a Passos Coelho. Por escolha própria ou porque fosse a parede a que se foi encostando, mais que deixar-se encostar.
Encurralado, socorreu-se do último argumento a que agora podia lançar mão: a sua palavra de honra, que para uns pode valer muito e, para outros, nada. Antes, fazendo-a valer ainda menos, mais uma cambalhota: as despesas de representação eram ainda terreno muito movediço – como bem sabe quem dedica alguma atenção às coisas da Contabilidade e da Fiscalidade – e era preciso corrigir isso para pagamento de despesas, mesmo que ninguém lhe lembrasse que para se efectuarem despesas em serviço é preciso estar ao serviço, mesmo que a abrir portas. E que se está ao serviço de alguém de forma remunerada ou a título gratuito… E que, como ainda ontem dizia o António Lobo Xavier, poderia não se lembrar de quanto ganhara em cada um dos meses dos últimos vinte anos, mas lembrava-se perfeitamente quando trabalhara de graça…
No fim de contas, depois da estranha coisa de não se lembrar de coisa nenhuma, de, pela mão de um Secretário Geral fiel, diligente e disposto a meter os pés pelas mãos, buscar ilibação na Assembleia da República, e de procurar ganhar tempo e poeira na PGR, Passos Coelho pensa que, entre aplausos de dezenas de deputados "encarneirados", conseguiu criar a parede de fumo suficiente espesso para continuar em cena.
Esta cabia-lhe a ele, ninguém o podia substituir. Agora a máquina trata do resto!
O Planeta reuniu os seus líderes em Nova Iorque, na 79ª Assembleia Geral da ONU, a Organização Internacional criada em 1945, sobre os destroços da guerra, para que nada mais de terrível voltasse a acontecer.
Lá reunidos, reconhecem todos que acontecem coisas cada vez mais terríveis, a que o planeta não vai conseguir resistir. As guerras, as alterações climáticas, a fome, a desigualdade - reconhecem - são coisas cada vez mais insuportáveis. Como reconhecem que acontecem porque querem que aconteçam, num simples passo para declarar a inaptidão e a incapacidade da Organização criada para as evitar.
Afinal foram todos para Nova Iorque ajudar uma velhinha de quase oitenta anos atravessar a rua. Fizeram boa figura. Fica sempre bem!