Primeiro o povo correu aos supermercados e às bombas de gasolina. Depois passou a tarde nas filas e, por fim, bateu palmas à janela, ou nas ruas, à medida que a luz vinha regressando.
O povo não percebe nada de política energética, nem sabe que são os chineses que mandam na rede eléctrica. Mas ouviu Montenegro dizer que o problema nasceu em Espanha, e que foi com ele ao comando, a estabelecer prioridades, a garantir que a Saúde funcionava e que os hospitais tinham geradores e gasóleo, que o país resistiu incólume ao apagão.
Com as dispensas cheias de conservas e papel higiénico, o povo ouviu e gostou. E vai amanhã ouvir, e gostar de ouvir, Toni Carreira nos jardins de S. Bento, a festejar o 25 de Abril de Montenegro, empurrado pelo luto para a um salto no calendário.
O povo não sabe, nem quer saber, que a Protecção Civil andou à nora, que o governo ficou atarantado, que o Presidente da República esteve desaparecido, que o SIRESP voltou a não funcionar, que as estruturas estratégicas para a segurança e para a soberania estão à mercê do acaso, ou que o país não tem sequer um plano para uma coisa que corra mal em Espanha. E Montenegro sabe disso...
Se há coisa que Montenegro conhece bem, é o povo. E por isso lhe é tão fácil "montenegrisar" o país!
Ontem a notícia era que a equipa médica do Hospital de Santa Maria tinha tomado a decisão sobre a gravidez da criança de 12 anos abusada pela besta do padrasto. E que dela não daria notícia pública...
Aplaudimos. Toda a gente que é gente acha que ninguém tem nada a ver com o sentido da decisão. Notícia tem que ter interesse público, e não se percebe onde possa estar o interesse público no conhecimento da decisão.
Já basta a dor da pobre criança. Já basta de dor para a criança... Agora só resta punir exemplarmente a besta e os seus cúmplices, se os houver, e tratar da menina. Tratar-lhe do corpo e da alma... Na medida do possível devolver-lhe a infância roubada e dar-lhe sentido ao futuro!
Afinal, não. Não basta nada disso... A cuscovilhice que reina no império sobrepõe-se a qualquer ideia de respeito. Ninguém resiste a espreitar pelo buraco da fechadura ... E a fazer disso modo de vida, fazendo crer que é de interesse público o que é o interesse de algum público. De gente que não é gente!
Continuamos, e iremos continuar, sem saber o que, no apagão de ontem, se passou em França e Espanha. Ao contrário, do que se passou em Portugal, sabemos tudo.
Sabemos que estavam desligadas centrais de produção porque é mais lucrativo importar de Espanha. Porque, e isso não sabíamos - valha-nos o Mira Amaral, que sabe da coisa, e não ganha nada do Estado Chinês -, a energia lá comprada custa menos que os custos variáveis da sua produção, cá.
E sabemos, se bem que já soubéssemos de outros carnavais, que somos uns imbecis que, à mínima oportunidade, corremos para os supermercados a limpar as prateleiras, a esgotar a água, as conservas e, claro - não podia faltar - o papel higiénico. Fazemos filas de quilómetros para os postos de abastecimento, para esgotar de pronto toda a gasolina e o gasóleo que por lá haja. Sempre a tentar passar a perna uns aos outros, até desatarmos todos à lambada.
Uma coisa tenho por certa: é muito mais preocupante o que já sabemos do que aquilo que não sabemos. E dentro do que sabemos, é ainda mais preocupante o que já sabemos de nós, do nosso miserável comportamento, do que o ficamos a saber da electricidade que faz o nosso modo de vida.
É mais preocupante a selva em que transformamos Portugal, que a dependência a que as nossas elites condenaram o país.
A Polícia Judiciária está a fazer buscas na Secretaria de Estado das Finanças, de Paulo Núncio. Pouco depois da lista VIP sair das primeiras páginas, esta não é uma boa notícia. Daí que mais uma vez seja lançada a confusão... É o costume...
Daí que para o Ministério das Finanças osvistos goldacabem por não passar de um simples problema de IVA na prestação de serviços de saúde.
Como se um problema de IVA numa empresa pudesse ser motivo para buscas no gabinete de Paulo Núncio, como pretende o comunidado do Ministério das Finanças. E motivo para no mesmo comunicado garantir que "a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais está totalmente disponível para colaborar com a investigação". Como se fossemos todos parvos!
Não me recordo de um "apagão" destes. Pode até ter havido, mesmo que não me lembre, um ou outro com duração idêntica - no meu caso, ou melhor, na minha casa, foram 9 horas, contadas a partir das 11:33, início do apagão - mas nenhum com esta dimensão. Internacional, e de crise, com o caos a tomar conta das principais cidades do país.
Nem nenhum com as dúvidas e incertezas deste. Sem se saber como, nem porquê.
Pode ser que venhamos a saber o que aconteceu. Para já apenas sabemos que se especulou muito e mentiu ainda mais. Já sabíamos que a distribuição de energia é uma questão de soberania. De que o país abdicou quando a entregou ao Estado Chinês. Agora ficamos a saber - com alguma surpresa - que os sistemas de distribuição de electricidade funcionam em dominó. E que, tal e qual como a de entregar toda a infra-estrutura a terceiros, essa é capaz de também não ser uma grande ideia!
Schauble quis fazer da Grécia um exemplo, o caso prático da lição que a Alemanha quis dar à Europa e ao mundo. Por isso, como um cão raivoso, pegou e não largou mais… Não há limites para a humilhação…
Não há volta a dar. Tem sido assim, e assim vai continuar a ser até à exaustão, dê ela no que der. É nesse quadro que ocorre osacrifíciode Varoufakis. A sua cabeça foi exigida e Tsipras não resistiu... E substituiu-o por um discreto número dois do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, Euclid Tsakalotos, justamente o oposto do seu ministro das finanças. Mais ao jeito de formalismos e convenções!
A opinião publicada está a fazer passar a ideia de um Varoufakis negligente, até irresponsável e mesmo incompetente. De visão simplista e de propostas estapafúrdias... A imprensa transmite agora uma imagem de Varoufakis que não cola na outra, no seu currículo e nasua história,que transmitia há apenas dois meses. O que há pouco era frescura, agora é negligência e até insolência... O que há dias era inteligência, hoje é vazio de ideias... O que ontem era óbvio, hoje é simplista...
E é demasiado limitativa e simplista a tentação de resumir tudo isto a um simples fenómeno de ascensão e queda dapop starem que Varoufakis foi transformado… E se deixou transformar!
Bonita tarde de sol, e a Luz com casa cheia, para receber o Aves - ou lá o que é aquilo - no primeiro dos últimos quatro jogos que restam para decidir este campeonato.
A informação que se ouviu da instalação sonora dava conta de pouco mais de 58 mil nas bancadas. De lá, das bancadas, a pequena clareira que se avistava num dos topos não parecia ser suficiente para "roubar" tanta gente à casa cheia.
O jogo começou com um susto, logo na saída de bola, com um pontapé longo a levar a bola para a área do Benfica, e Akinsola a chocar com Trubin. Na verdade dois sustos, o da bola ali meio perdida até ser afastada pelo António Silva; e o de Trubin, abalroado, no chão. Passado esse susto em dose dupla, o Benfica pegou no jogo e desatou a jogar à bola.
Sem Florentino e Di Maria, Bruno Lage surpreendeu com Amdouni, sobre a direita, e Dahl, na esquerda, com Akturkoglu em zonas mais interiores. Que marcou logo na resposta ao susto inicial, com o golo a ser anulado por fora de jogo. Que a olho nu não era perceptível, pelo logo suou a estranho que o árbitro - Carlos Macedo, mais uma estrela da arbitragem nacional a despontar e, pelo que se viu, com futuro garantido - tivesse sido tão convicto e imediato a assinalar fora de jogo a Dahl, que assistira para o golo. Viria a saber-se depois que as linhas do VAR marcavam 8 centímetros.
A cena repetiu-se repetidamente - o pleonasmo é propositado - nos minutos seguintes. Foras de jogo que não se percebiam eram sucessivamente assinalados, interrompendo jogadas que nunca era deixadas concluir. Aí nem davam hipótese de ser confrontadas com nada.
Não se ficou por aí o Sr Carlos Macedo, a mostrar que não é preciso marcar, ou não marcar, penáltis, expulsar ou poupar à expulsão, para o árbitro influenciar directamente o caminho do jogo e o resultado. Este árbitro, inscrito na Associação de Braga, mostrou como se faz, e o que se pode fazer, mesmo num jogo de sentido único, de domínio avassalador de uma equipa, sem quezílias, e muito fácil de arbitrar.
O Benfica jogava, dominava o jogo por completo, ia criando sucessivas oportunidades de golo e, aqui e ali, até marcando. Os primeiros golos, entre muitas oportunidades, surgiriam de bola parada, em cantos bem preparados em laboratório. O primeiro, logo aos 8 minutos, por Tomás Araújo em recarga ao remate de António Silva, num lance que o Benfica viria a repetir, vezes sem conta. O segundo tardou mais um quarto de hora, novamente com um canto curto da direita, seguido de combinações ao primeiro toque entre Kokçu, Dahl e Pavlidis, a entrar junto ao primeiro poste para finalizar. Um regalo para a vista!
O terceiro, o primeiro de bola corrida, demorou menos de três minutos. Dahl, outra vez, desta a cruzar para a área, para Amdouni surgir no corredor central, tirar um adversário da frente e bater Ochoa, com classe.
Depois, mais um largo período, quase outro quarto de hora, para o quarto: recital de Pavlidis e Akturkoglu a encostar, nas costas de Ochoa.
O que é acontecia no intervalo entre os golos?
Pois, o que acontecia, era o tal Sr Carlos Macedo fazer tudo para cortar o domínio avassalador do Benfica. Quando tinha de dar a lei da vantagem, não dava. Interrompia o jogo. Se um jogador do Aves se sentasse no chão, interrompia o jogo. Se, mesmo depois de não aplicar a lei da vantagem, os jogadores do Benfica marcavam rapidamente a falta, parava o jogo e mandava repetir. A pretexto de tudo, e de nada, interrompia o jogo para entrar em diálogo com os jogadores.
O Sr Carlos Macedo fez tudo, mas mesmo tudo, para quebrar o ritmo do jogo, e para interromper a avalanche de futebol do Benfica. Por isso o resultado era apenas de 4-0. E por isso saiu para o intervalo debaixo de uma imensa vaia.
A segunda parte foi diferente. O Benfica levantou o pé, e o jogo, os jogadores, e até as bancadas foram, por esta ordem, adormecendo. O Aves - ou lá o que é aquilo - até teve uma oportunidade para marcar, que Trubin resolveu. O árbitro estava então nas suas sete quintas, donde sairia logo que o Benfica voltou a carregar no acelerador, para acabar em alta, a deixar de novo as bancadas a arder. Como o Benfica tinha regressado ao ritmo, e aos golos, o senhor árbitro entendeu dar 2 minutos de compensação. Lourenço Pereira Coelho protestou, e foi expulso!
Os jogadores acordaram com as substituições - primeiro com Belotti e Schjelderup, para as saídas de Carreras, que não vai jogar no Estoril, por ter visto o quinto amarelo, e Amdouni; e depois Prestiani, Cabral e Barreiro -, e as bancadas com a onda. Que nem é a coisa mais empolgante deste mundo.
E foi com as bancadas empolgadas e pedir o 39, e os jogadores de novo acordados que o resultado subiu. Belotti marcou o quinto, numa transição conduzida por Akturkoglu. Otamendi, de cabeça, fez o sexto, novamente na sequência de uma bola parada, numa recarga a uma defesa incompleta de Ochoa a um livre de Kokçu.
Não é - de todo - provável que o título venha a ser decidido pela diferença de golos. Sendo absolutamente improvável, não é pois, por isso, que importa o resultado, que tão visivelmente incomodava o Sr Carlos Macedo. Só tem importância porque o Sr Varandas anda por aí a apanhar as canas dos foguetes do melhor ataque e da melhor defesa.
Não precisaram de muito tempo. O tempo é um bem escasso. E o tempo de mão no pote pode ainda ser mais… Há que aproveitá-lo bem,sem deixar escapar nada…
O mundo despediu-se hoje, em Roma, do Papa Francisco. E esteve lá em peso.
Até quem pouco lá teria que fazer, lá esteve ... a fazer alguma coisa. Trump a falar - ou a fazer que falava? - com Zelensky. E Milei a ridícula figura de corpo presente.
Foi uma correria, cansou só de ver. Cada um correu para seu lado, sempre o contrário do do outro!
O Porto entrou a correr para não deixar o Benfica jogar, descaracterizando a equipa. Percebeu-se desde logo a ideia: impedir que o Benfica pudesse pegar no jogo e fazer mossa em cima de uma convalescença bem congeminada. Que começou logo na noite do desastre, com aquela encenação no aeroporto de Pedras Rubras, continuou com aquela outra à chegada ao Altis e acabou no escalonamento da equipa inicial – incluindo a ressurreição de Helton na crucificação do Fabiano – e na estratégia de abordagem ao jogo. Tudo bem engendrado, digno da famosa estrutura.
O que não podia acontecer era o Benfica entrar e impor o seu jogo. E para isso era necessário encher o meio campo de gente capaz correr daquela forma. E para ter gente capaz de correr daquela forma eram indispensáveis aquelas encenações, bem preparadas. Depois, atingido esse objectivo inicial e equilibradas as coisas, trataria então de tentar gradualmente restaurar o seu figurino e procurar então ganhar o jogo.
Pelo contrário, o Benfica entrou dentro da sua estrutura habitual. Mas sem Salvio, que não recuperou, e com Talisca no seu lugar. O que faz toda a diferença!
Obrigado a correr e a lutar o Benfica viu-se impedido de jogar. Nem sequer deu para perceber se a ideia tinha alguma vez sido a de entrar forte, na tentativa de aproveitar as maleitas do adversário. Só quando na segunda parte o Porto mudou de registo, o jogo deixou de ser uma correria louca e uma sucessão de choques e faltas, para passar a ter alguma qualidade em cima da intensidade que nunca perdeu.
Nos últimos minutos passou a ser o Benfica a tomar os cuidados que, como os caldos de galinha, não fazem mal a ninguém. Não sendo bom, o empate não era mau de todo. Mau só para Lopetegui, que mais uma vez demonstrou o seu mau perder (não há ninguém que o ensine a dizer BENFICA, em vez de "ellos"?), deixando a sua assinatura em mais um momento de arruaça. Com a agravante de o ter feito por cima de uma outra, de respeito profissional e defair play. Que acabou por deixar irreconhecível, completamente apagada!
E lá interrompeu o Benfica a notável série de 92 jogos sempre a marcar na Luz. E lá fiquei eu sem a minha prenda. Logo quando abandonei os meus na minha própria festa, com o argumento de ali estarem uns rapazes de vermelho para me dar a prenda de anos...