Se o governador vier de um mandato irrepreensível... Se o desempenho do governador tiver sido consensual, de méritos amplamente reconhecidos... Se não tivesse acontecido nada no BES... Se não houvesse centenas ou milhares de vítimas das burlas do BES... Se não tivessem sido enganadas milhares de pessoas no aumento de capital do BES... Se não tivessem acabado de perdoar 85 milhões em impostos... Se não estivessemos na iminência de pagar os milhões que ficarão a faltar depois da venda do Novo Banco... Se não estivessem muitos outros milhões para chegar pela litigância que está a ser preparada nos melhores gabinetes de advogados da capital...
Em pleno refluxo gastroesofágico pelo balde de água fria que foram os resultados de domingo, com a azia da irrelevância, a Iniciativa Liberal resolveu vir falar de revisão constitucional. Para acabar com o Estado, diz Rui Rocha.
Não é surpresa nenhuma. A IL estava inchada, como a rã da fábula de La Fontaine. E, como ela, como a rã, explodiu. A diferença é que a IL quer que o país expluda com ela.
A Constituição não impede nada do que a IL diz defender, nem nada do que pretenderia implementar se fosse governo, ou mesmo se o pudesse influenciar. Impede, no entanto, muito do que o Chega defende e propagandeia. E muito do que certamente implementará se vier a ser governo, ou se o puder vir a influenciar.
A IL nunca propôs uma revisão constitucional quando ela poderia ser feita sem o Chega. Mas decidiu propô-la logo que o Chega se tornou decisivo para o processo. E logo à saída de Belém, logo que, na sequência das eleições, chegou a sua vez de ser ouvida pelo Presidente da República.
Quando se quiser saber de que lado está a Iniciativa Liberal é preciso ter isto em conta!
É dona de um currículo que fala por si. Um exemplo flagrante da fauna política que faz da incompetência cartão de visita e da trapalhada modo de vida. Com tudo para fazer parte da nata que Passos Coelho trouxe para a ribalta... É sua vice-presidente!
De Teresa Leal Coelho já tudo viu. E dela tudo se espera... Foi vice de Vale e Azevedo (também um produto do cavaquismo) na SAD do Benfica, donde se recusou a sair quando o seu mentor foi corrido.Teve que ser Manuel Vilarinho, o presidente eleito, a demiti-la. Trapalhadas também não faltaram na sua passagem pelo Centro Cultural de Belém, acusada de favores a amigos. Bem íntimos, ao que se dizia... Foi por isso condenada. Por duas vezes!
Ontem, Fernando Negrão não a poupou. Perdeu a paciência com as trapalhadas da senhora - mais uma vez, por incompetência ou porque simplesmente é esse o seu modo de vida, não cumpriu com as suas incumbências em sede de comissão parlamentar (presidida por aquele reputado deputado do seu partido, sobre enriquecimento ilícito) - e disse-lhe, em público,alto e bom som: “A pior coisa que há na vida é desmentir a realidade”!
O que lhe vale (sem Azevedo) é que, para este tipo de gente, a melhor coisa que há na vida é não ter vergonha...
Há uma vasta série de teorias para explicar o fulgurante sucesso eleitoral do Chega - melhor, de André Ventura. Em 6 anos, afinal e apenas o tempo de uma legislatura e metade de outra, surgiu e passou de 1% de expressão eleitoral, e um deputado, para 23%, 60 deputados, e líder da oposição.
Não consta de qualquer teoria mas, isso - quatro actos eleitorais no espaço onde ainda se deveria estar apenas a meio da legislatura do segundo - também faz parte da explicação.
A mais clássica das teorias geralmente apresentadas reporta para os vencidos da globalização. É clássica, comum a várias geografias, e não apenas portuguesa. Os operários das regiões industriais - que acabaram com o desaparecimento das fábricas, deslocalizadas para regiões do globo de mão de obra mais barata -, que antes votavam comunista e socialista, migraram o seu voto para a extrema direita.
Com isso se explicaria a votação do Chega no distrito de Setúbal, e na cintura industrial de Lisboa. Mas só explica uma parte!
A transição do voto comunista no Alentejo para o Chega tem o mesmo sentido, mas já carece de outra teoria. E aí surge a imigração, também ela no centro da propaganda política da extrema-direita.
Os imigrantes são culpabilizados pela insegurança - mesmo que as polícias digam o contrário -, pelo aumento dos preços, são acusados de invadirem o SNS, e de encherem as escolas com os seus filhos, subvertendo o quadro de valores nacionais.
E isso explicaria o domínio eleitoral a sul do Tejo, no Alentejo e no Algarve.
Depois há ainda a teoria dos deserdados do regime, aqueles que os governos terão sucessivamente deixado ficar para trás, a empobrecer. Dados ainda ontem dados a conhecer indicam que três em cada cinco portugueses dizem que não ter dinheiro para as necessidades básicas, e que Portugal é o país europeu onde mais cidadãos dizem ter dificuldades financeiras. Toda esta gente pobre canalizaria o seu o voto para a extrema direita como forma de protesto.
Provavelmente a explicação não estará tanto nestas realidades sociais, para as quais, em boa verdade, a extrema-direita nunca apresenta soluções realistas, mas na exploração dessas realidades em ambiente de seita, num registo de desinformação, e de manipulação emocional, de potenciação de ódio. Até encontrar bodes expiatórios fácil e rapidamente assimilados através dos mecanismos das redes sociais, treinados e testados por todo o mundo. O resto é deixado para as televisões.
Na América, Trump teve para isso uma televisão - a Fox. Em Portugal, o mestre André, teve-as todas. Servilmente prontas para transmitir em directo todas as suas encenações messiânicas.
Sei que o PS apresentou hoje uma espécie depré-programa eleitoral. Sei que o PS estánumade não me comprometam. É preciso marcar terreno, mas nada de exageros. Nada é definitivo, tudo é provisório...Não vá o diabo tecê-las. Por isso tudo vale o que vale... mesmo que não valha nada!
Não deixa de me surpreender é que o ministro da economia não tenha tempo para ler os relatórios do FMI, e que o chefe do governo não tenha problemas de tempo para ler tão depressa o tal pré-programa eleitoraldo PS. E de concluir imediatamente que não passam de "milagres que conduzirão o país ao desastre"!
Até pode ser que seja isso. Mas assim ninguém acredita... Ou acreditam os que querem acreditar... Os que acreditam em milagres!
Ao fim de 50 anos democracia a esquerda tornou-se irrelevante. A direita tem agora capacidade para mudar o regime. Tem dimensão para rever a Constituição, e a partir daí acabar acabar com tudo o que tínhamos por adquirido. Até, no limite, com a democracia...
Os memoráveis festejos do 34 e dobi (fantástica, do mais bonito que se tem visto, a festa no Marquês) foram lamentavelmente marcados – e interrompidos – pela violência policial. Por saber está, ainda, como tudo terá começado. E se apenas se deve a alguns excessos – de hormonas ou de cerveja – ou se tem a ver com algo de mais profundo.
Mas não é disso que pretendo falar. Isso só quero lamentar. Quero falar da importância dobi, do que representa, independentemente do que se lhe siga.
Sabe-se que há 31 anos que fugia ao Benfica, naquele que tem sido, sem dúvida, um dos mais longos períodos de hegemonia na História do futebol em Portugal. Que se faz da prevalência do Sporting na década de 1940, da do Benfica nas décadas de 1960 e 70, e da do Porto na de 1990 e na de 2000. E de longos anos de jejum dos três protagonistas maiores desta história: 19 anos para o Porto, entre 1959 e 1978; 18 para o Sporting, entre 1982 e 2000, a que se juntam já mais 13, desde 2002; e 11 para o Benfica, entre 1994 e 2005.
A seguir ao título de 2005, o Benfica não tinha condições de o repetir. Fora ocasional, o próprio presidente do Benfica, já Luís Filipe Vieira, numa declaração que os adeptos não gostaram de ouvir, dizia que era cedo demais. Que o Benfica ainda não estava preparado. Percebeu-se que não!
Depois veio o de 2010, o primeiro com Jesus. E toda a gente percebeu que, ao contrário da última vez, cinco anos antes, o Benfica podia quebrar o longo ciclo portista. O Porto percebeu isso melhor que ninguém e tudo fez para o impedir. Pelo contrário, o Benfica, fez quase tudo o que não poderia fazer. Não interessa agora pormenorizar, mas lembramo-nos que o guarda-redes campeão – Quim, que não “dava pontos” - foi trocado pelo desastre Roberto, rapidamente transformado em foco de instabilidade. Que não foi dada a devida importância à Supertaça, que obviamente era decisiva para alicerçar a época.
Do outro lado tudo era meticulosamente preparado. O Porto percebeu que tinha de fazer da Supertaça a alavanca da época, e sabia que ainda dispunha das ferramentas que construíra e usara como ninguém ao longo de quase trinta anos. Ninguém esquece o que foram as arbitragens do Benfica nas primeiras jornadas. E no que foram as do Porto, em especial em Guimarães e na Figueira da Foz. E que à quarta jornada o Porto tinha 12 pontos, contra 3 do Benfica… Rapidamente se tornaria incontestável, com tudo devidamente branqueado por força do argumento de 21 pontos de vantagem final e da conquista a Liga Europa, contra o Braga de Domingos.
Depois o Porto acrescentaria ainda mais dois campeonatos, com Vítor Pereira. No primeiro o Benfica comandava tranquilamente com 5 pontos de vantagem que, pouco antes da visita do Porto à Luz, as arbitragens cirúrgicas de Guimarães e Coimbra puseram a voar. O resto ficou por conta de Pedro Proença, na Luz, com aquele golo em fora de jogo do Maicon.
E o segundo, com aquele empate com o Estoril, na Luz, na antepenúltima jornada, também esse com uma arbitragem a condizer, que culminou no golo do Estoril, também em fora de jogo, a “engolir” 2 dos 4 pontos de vantagem, num ano dramático em que o Benfica tudo dominou e, no fim, tudo perdeu. Depois, o tal golo do Kelvin aos 92 minutos do jogo do Dragão, fez o resto. Não foi bem o resto. O resto seria feito em Paços de Ferreira, o sensacional Paços do terceiro lugar, de Paulo Fonseca de malas feitas para o Porto, onde o árbitro transformaria em penalti uma falta sem nexo a dez metros da área.
Depois de dois campeonatos perfeitamente oferecidos, o Benfica voltou a ganhar, num ano em que, de pois de tudo perder, ganhou tudo, materializando a superioridade que da facto vinha revelando.
E o Porto voltou a fazer tudo para evitar que o Benfica fosse bicampeão. Investiu como pouca vezes, e terá provavelmente corrido riscos como nunca. Entrou em desespero, e lançou mão de tudo. Por isso se percebe que o Porto se tenha transformado numa avestruz gigante com a cabeça bem enterrada na areia. Num gigantesco buraco que abriu com a areia que há meses anda justamente a lançar aos olhos de toda a gente. E em especial dos seus adeptos!
Faz hoje 30 anos que Cavaco chegou à liderança do PSD, que não à vida política. Já em 1979 tinha sido ministro das finanças do governo da AD, liderado por Sá Carneiro.
Foi na Figueira da Foz, onde decorria o XII congresso do PSD. Quis que ficasse para a história que tinha acabado de adquirir o seu Citroen BX, a que precisava de fazer a rodagem. E que, para isso, nada melhor que uma viagem de Lisboa à Figueira... Depois... foi chegar, ver e vencer... O discurso arrebatador - imagine-se - e a eleição apoteótica...
Cavaco é isto. Tudo é Cavaco neste simples episódio que o cavaquismo quis tornar mítico. Ali está o homem providencial, que sempre quis ser. Que está sempre à hora certa no local certo, sem nada fazer por isso. Sempre fora, e sempre acima, dos bastidores da política. Mas também um certo provincianismoda "rodagem" do carro.
O resto da história conhece-se. O homem da estabilidade rompe de imediato com a coligação, e derruba o bloco central. Com o país a sair da crise e dasgarrasdo FMI, e a adesão à CEE à vista, apetecem-lhe eleições antecipadas. Ganha por pequena margem, que em pouco tempo o PRD e Mário Soares (a vingança tem destas coisas) transformaram em maioria absoluta. E em dez anos de poder agarrado ao alcatrão e ao betão dos fundos europeus... e aos interesses que à sua sombra cresceram. Que nem cogumelos...
Depois, à segunda, o homem que não era nem nunca fora político, tem direito a mais dez anos na presidência da República. Ainda faltam uns meses...Que toda a gente deseja que passem depressa!
Foram divulgadas imagens televisivas de agressões brutaisa três pessoas, umas das quais criança e as restantes, supostamente, o avô e o pai. A cena decorre nas imediações do Estádio, em Guimarães, no final do jogo entre o Benfica e o Vitória local. A criança está a beber - um refrigerante, parece - agarrado ao pai. Aproxima-se um polícia e percebe-se um diálogo... De repente e do nada, sem nada que visivelmente o justificasse, começa uma agressão brutal, despropositada e completamente desproporcionada por parte de um grupo de três ou quatro polícias de intervenção. Selvaticamente, nâo popupando o idoso nem a criança, em pânico.
Repetem-se com desusada frequência estes comportamentos da polícia a lembrar osgorilasdo antigamente. Desta vez há imagens. Esperemos que sirvam para alguma coisa... Todos temos direito a saber se, num Estado de Direito, a arbitrariedade e a violência são impunes quando vestem uniformes policiais.