EURO 2012 (XV) - CONTAS FEITAS...
Por Eduardo Louro
A selecção nacional apurou-se para os quartos de final do euro, um feito assinalável. Porque o fez no grupo de apuramento mais difícil – até lhe chamaram grupo da morte, uma expressão de mau gosto para caricaturar as dificuldades – desta competição, onde todos os adversários foram já campeões europeus, todos à sua frente à frente no top ten do ranking da FIFA, que Portugal fecha e, especialmente, porque a equipa não vinha a atravessar uma fase positiva. Se as condições exógenas eram adversas, as da própria equipa não o eram menos, gerando para o exterior a desconfiança que, como se sabe, em Portugal medra facilmente.
O êxito, o sucesso no apuramento para os quartos de final – objectivo sempre afirmado pelo seleccionador – não era tarefa acessível. Não o atingir, não seria uma derrota para a selecção nacional. Derrota seria não ter feito tudo para o atingir. Derrota seria faltar-lhe ambição para o atingir, aceitar a superioridade dos adversários sem a querer discutir. Derrota seria abdicar das suas armas – que as tem e bem poderosas – e limitar-se nas suas potencialidades.
É claro que a selecção nacional não tem o poder de agarrar nos jogos todos e controlá-los. Se o tivesse seria, evidentemente, um dos maiores candidatos a esta como a qualquer outra prova. Vinha deixando a ideia de ser uma equipa reactiva, que ao longo de todos os jogos reagia em vez de agir. Reagiu, defendendo-se, à iniciativa dos alemães no primeiro jogo. E reagiu quando sofreu o golo, mostrando que tinha argumentos para discutir o jogo com aquela que era (e é!) unanimemente apresentada como a melhor equipa em prova. Como acabou por discutir, deixando que a derrota tivesse soado a injustiça. Ganhamos em quase-golos, como aqui referi!
Depois, com a Dinamarca que das vezes que venceu a selecção nacional nunca convenceu, e que, apesar de imediatamente à frente no ranking FIFA, não tinha argumentos para se superiorizar, as coisas começaram a correr bem. Chegou aos golos sem passar pelos quase-golos mas, depois, sem qualquer razão objectiva, abdicou do controlo do jogo, abdicou da ambição e abdicou do seu potencial, acabando por entregar o jogo ao adversário. Só reagiu de pois de tudo ter deitado a perder. Com sorte, mas sem brilho, conseguiu ganhar o jogo que não podia perder.
Hoje, no jogo de todas as decisões, em que nem tudo dependia apenas de si, a selecção pareceu ir pelo mesmo caminho. Não agarrou no jogo e, aos 11 minutos, mercê de um bom golo de Van der Vaart, já perdia. A equipa deixava muitos espaços, com os sectores muitas vezes distantes entre si, e com Raul Meireles a não acertar. Reagiu, mais uma vez!
João Moutinho trocou com Meireles, e passou a jogar mais sobre a esquerda, mais perto de Coentrão. Depois foi apenas o resultado da reacção, as coisas a começaram a sair bem, as conhecidas fragilidades da defesa da selecção holandesa apareceram e, acima de tudo, apareceu Cristiano Ronaldo. Que aos 16 minutos já enviava o seu primeiro remate ao poste da baliza holandesa!
Seguiram-se oportunidades, minuto após minuto, umas atrás das outras numa avalanche de futebol proactivo, sem que a Holanda pudesse activar o seu poderio atacante. Quando, aos 28 minutos, Cristiano Ronaldo – finalmente endiabrado e ao nível do seu estatuto universal - empatou o jogo, já tinham ficado para trás cinco oportunidades para o fazer. Depois, e até ao intervalo, a selecção nacional criaria mais quatro boas ocasiões para voltar a marcar.
Na segunda parte, à excepção dos dois primeiros minutos que ainda fizeram lembrar o início do jogo, só deu Portugal. As ocasiões de golo sucediam-se e Cristiano Ronaldo, Nani, Coentrão e João Moutinho pintavam a manta. O golo da vitória – escassa para tanta superioridade – só surgiria aos 74 minutos. Depois, mais e mais ocasiões de aumentar o marcador, a última das quais ao minuto 90, num grande remate de Ronaldo – o homem do jogo - ao poste, pela segunda vez.
Foi a melhor exibição da selecção nacional – não na prova, que não era difícil – mas dos últimos longos meses. Com todos os jogadores – Raul Meireles, em deficientes condições físicas e a exigir atenção para o próximo jogo, à parte – a subirem de produção. Se Pepe, Coentrão, Nani, e mesmo Veloso, tinham estado sempre em bom nível, hoje juntaram-se-lhe Cristiano Ronaldo – evidentemente –, João Moutinho e João Pereira. Com esta exibição, e com o resgate de Ronaldo, é de acreditar que a selecção possa ultrapassar os checos e chegar às meias-finais, onde provavelmente encontrará a Espanha.
A selecção holandesa – uma das maiores favoritas – foi uma desilusão. Se não merecera perder o primeiro jogo, com a Dinamarca, mas já fora bem derrotada pela Alemanha, nunca havia sido tão claramente dominada como hoje, pela selecção nacional, que a tornou na equipa banal que não é. É o vice-campeão mundial!
E o segundo dos favoritos - com a Rússia - a regressar prematuramente a casa.
O outro dos jogos dos quartos de final que ficou hoje definido colocará frente a frente a Grécia e a Alemanha. Será certamente mais que um jogo de futebol, com uma envolvente única neste euro. E vem-me à memória uma frase batida (não, não é da canção, mas de Bill Shankly): “ O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais que isso…”