EURO 2012 (XXII) - PIRLO
Por Eduardo Louro
E, ao enésimo dia, o primeiro jogo sem golos. E, ao quarto dos quartos de final, o primeiro prolongamento. E a primeira vez em que a decisão chega dentro do envelope das grandes penalidades.
Apetece-me dizer que ainda bem! Porque se assim não tivesse sido nunca veríamos o fabuloso penalti marcado pelo Pirlo. Valeu a pena esperar mais de duas para assistir àquilo. E não me venham com falta de sentido de responsabilidade. Aquilo é classe pura, e classe é classe. Responsabilidade – ou falta dela – é outra coisa…
Foi à Panenka? Não, foi à Pirlo! E não é preciso registar a marca, porque ninguém consegue copiar… À Panenka, até o Postiga conseguiu: pobres ingleses!
Desculpem, mas tinha de começar por aquele momento único. Agora vamos ao jogo que – apetece-me dizer – pôs frente a frente duas Itálias. A Itália – la vera – e a Inglaterra, italianizada. E o certo é que uma Inglaterra assim obrigou a Itália a ser menos italiana, o que quer dizer: a especular menos e a assumir mais o jogo!
E a Itália até não se deu mal nesse papel contranatura. Posse de bola à Barcelona (64%) e 35 remates (20 na baliza), contra apenas 9 (4 na baliza) dos ingleses. Nada que tenha surpreendido Cesare Prandelli, o seleccionador italiano, como se percebeu quando apresentou uma equipa em plano B, abdicando dos três centrais e dos laterais que servem o plano A. E chamando Balotelli!
A Inglaterra não apresentou novidades, agora que já pode contar com Rooney. E o jogo acabaria por valer pela primeira parte, jogada a grande ritmo e com alta intensidade. O jogo abriu mesmo assim: logo aos três minutos, um grande remate de De Rossi só parou no poste da baliza de Hart e, aos cinco, é Buffon quem, do outro lado, nega um golo feito (Johnson) com uma defesa impossível.
E assim foi a primeira parte, em ritmo vivo, de bola cá bola lá, mais lá – na baliza inglesa – e sempre muito mais trabalhada pela squadra azurra, com Pirlo - imperial, como sempre – e Montolivo no papel de donos da bola. E do jogo!
Do outro lado, Gerrard e Rooney iam dando conta do recado, que é como quem diz: da capacidade de resposta inglesa que mantinha os italianos em sentido.
A segunda parte foi diferente e começou com duas excelentes oportunidades de golo para os italianos, a segunda, aos 52 minutos, foi três em um. Com duas enormes defesas consecutivas de Hart para o terceiro remate sair por cima. Os ingleses só responderam aos 65 minutos por Walcott (no cruzamento) e Carroll, acabadinhos de entrar. Foi o canto do cisne!
A partir daí, com o estoiro de Gerrard – que Hogdson manteve em campo, e percebeu-se porquê – a Inglaterra não quis outra coisa que levar a decisão do jogo para os penaltis. Vá lá saber-se porquê...
Só a Itália parecia querer – e poder – ganhar o jogo, não obstante os 90 minutos se terem esgotado precisamente numa vistosa – como sempre é - bicicleta de Rooney, que até poderia ter saído para a baliza e não por muito por cima da barra. E o prolongamento foi mais do mesmo. Mas ainda mais devagar, porque já não havia quem pudesse com uma gata pelo rabo. E desse período ficam dois registos: um cruzamento de Diamandi a que Nascerino respondeu enfiando a bola na baliza, em fora de jogo milimétrico mas bem assinalado; e mais uma habilidade de Balotelli, ao exigir a cobrança de um livre – mal assinalado por Pedro Proença, que ao terceiro jogo foi obrigado a regressar a casa pelo envolvimento da selecção bacional nas meias-finais - que Pirlo se preparava, como sempre, para marcar. Atirou para as nuvens!
E lá se seguiu para a decisão pelos pontapés de grande penalidade, a tal por que, sem ninguém perceber porquê, os ingleses tanto ansiavam. Só vejo uma razão: o exacerbar de italianismo desta selecção inglesa!
Do período de alta tensão que precede aqueles minutos dramáticos da angústia dos penaltis, vem um enigma: o que terá Buffon ido fazer ao balneário antes de se posicionar na baliza?
Dos penaltis – francamente – nada mais interessa que aquela obra de arte de Pirlo. O resto é a maldição inglesa!
E já que se fala de penaltis, também se deve dizer que Pedro Proença, aos 65 minutos, transformou um puxão de De Rossi a Terry, na área italiana, num livre contra a Inglaterra. Situação que se repetiria aos 83, só que dessa vez não viu. Pelo menos não marcou falta ao inglês!
E pronto: está completo o quadro das meias-finais! E a Itália, com este trabalho suplementar de hoje e menos dois dias de descanso que a Alemanha, é bem capaz de ter dificuldade em evitar que os desejos de Platini sejam uma ordem!