TOUR DE FRANCE III
Por Eduardo Louro
A segunda semana do Tour começou a definir as coisas, com o contra-relógio de segunda-feira e com as montanhas dos Alpes, a que hoje os ciclistas disseram adeus e até para o ano. É certo que ainda faltam os Pirenéus, e o longo contra-relógio do penúltimo dia da competição, mas os contornos da história desta pré-centenária edição do Tour estão já bem definidos.
Bradley Wiggins e Chris Froome – que já vencera a primeira etapa de montanha, no sábado -, ingleses e companheiros de equipa na Sky, dominaram o contra-relógio – consolidando então Wiggins a amarela que retirara a Cancellara, como aqui se previra, na mesma etapa de sábado – e, depois, chegava-se aos Alpes. Onde, para além de um duelo entre Cadel Evans e o camisola amarela, se esperavam grandes espectáculos de ciclismo.
A verdade é que, lá chegados, sentimos imensas saudades de Lance Amstrong e lamentamos as ausências de Andy Schleck e Alberto Contador. Os momentos de espectáculo foram raros, e neles não vimos nem Evans nem Wiggins: o primeiro porque não pode e o segundo porque, podendo ou não, não precisa. Conta com a equipa mais poderosa da prova e nem precisa de se incomodar, até porque o seu maior adversário é o seu compatriota e colega de equipa: Chris Froome. Que, tendo sido o único a estar ao seu nível no contra-relógio, provou estar bem melhor a trepar montanhas. Na etapa de ontem – a etapa rainha dos Alpes, com duas montanhas de categoria especial (Col de la Madeleine e Col de la Croix de Fer), uma de segunda categoria e outra de primeira, precisamente na meta – Froome, depois de rebocar o líder da equipa para anular um ataque do italiano Vicenzo Nibaldi (terceiro da classificação geral), fez-se de distraído e, alcançados os fugitivos, manteve o ritmo. Não abrandou e deixou Wiggins para trás, sendo logo mandado parar. As coisas são como são!
Frank Shleck, derrotado logo no contra-relógio, também não conseguiu justificar a sua fama de grande trepador, percebendo-se que afinal o irmão, em vez de o libertar, faz-lhe falta. E o espectáculo nos Alpes acabou por ser dado pela equipa da Sky – pela forma como controla e comanda a corrida, pelas soluções que tem para sucessivamente impor ritmos e cadências que destroçam os principais adversários – e por uns jovens que vão aparecendo e prometendo muito para os próximos anos: dois franceses – Pierre Rolland, vencedor de ontem e do prémio da juventude do ano passado, com 25 anos e Thibaut Pinot (na foto), o segundo na etapa (e vencedor no domingo) e o mais jovem em prova, com 22 anos – e o americano Van Garderen, líder da classificação da juventude e colega de equipa de Evans que, para o rebocar e minimizar as consequências do estoiro do australiano, acabou impedido de maiores feitos.
Claro que anda por lá a coragem – e a capacidade - do italiano Nibaldi e do belga Van den Broeck. Mas que nada podem contra o poderio da Sky: vão-se aguentando, o que já é para poucos!
Como as coisas estão a correr só uma catástrofe evitará que o vencedor deste Tour seja um inglês. Pela primeira vez na História!
Rui Costa – o melhor português, nem se tem dado por Sérgio Paulinho, que anda lá pelos lugares incógnitos do meio da classificação – fez um excelente contra-relógio, que o deixou à porta do top ten. Mas apenas se aguentou no primeiro dia de montanha, ontem perdeu perto de quinze minutos e deu um grande trambolhão na classificação geral. E um lugar entre os dez primeiros, que estava ali tão perto, não passa agora de uma miragem!
Ainda entraria na primeira fuga da etapa de hoje, na despedida dos Alpes – a maior mas que praticamente não teve história – mas sem sucesso.