VENTOS DE ESPANHA
Por Eduardo Louro
De Espanha, diz o povo, nem bom vento nem bom casamento. De casamentos não sei como estamos mas os ventos - ouve-se – não são os melhores.
Agora, que os ventos da austeridade começaram por lá também a soprar forte, os espanhóis estão a sair à rua. Começou com a chegada dos mineiros asturianos a Madrid e não se vê como nem quando irão parar.
E é isto – são estes ventos – que mais assustam o poder político em Portugal, mas também em Bruxelas. Quando vamos ouvindo os temores do que pode vir de Espanha, não é, ao contrário do que se diz, pelos efeitos de contaminação económica. Não é pelo que a austeridade em Espanha possa representar para as exportações portuguesas e para o resto da economia nacional. Aumentar o IVA em Espanha é bom e não mau para a economia portuguesa, por razões tão óbvias que me dispenso de as enunciar. A própria quebra do consumo poderá não afectar, obrigatoriamente, as exportações portuguesas. Nem sequer é de excluir alguma possibilidade de ser favorável, se se verificarem fenómenos de downgradind de consumo. Quer dizer, se alguns consumos forem transferidos para produtos equivalentes mais baratos, não se dirigindo as exportações nacionais – no geral – aos segmentos mais altos, é até possível que Portugal possa vender mais em Espanha. Não é certo, mas também não é hipótese de todo descartável!
O que verdadeiramente assusta o governo, a troika e toda a entourage política é que a agitação em Espanha venha alterar a louvada paz social em Portugal. Os ventos de Espanha que estão realmente a preocupar são os que podem agitar esta paz podre em Portugal. O medo é que, com aqueles ventos, os portugueses deixem de ser mansos!