VENHA...VENHA...
Por Eduardo Louro
Esta quinta avaliação da troika, ainda em curso e tida como a mais decisiva de todas (isto é um pouco como as cimeiras europeias: cada uma é sempre a mais decisiva e depois dá no que dá), faz-me lembrar aquela rábula em que uma figura – ou um cromo, como agora se diz – vai indicando uma manobra de estacionamento a outra figura, ao volante do seu carro: venha… venha…venha… e …”pum”. Bateu, e o cromo continuou impávido e sem qualquer interrupção, como se nada tivesse a ver com aquilo: venha…venha…venha ver a merda que fez!
Toda a gente estava a ver que iria dar pum. Que iria bater. Há muito que toda a gente está a gritar: “olhe que vai bater, olhe que vai bater”... Indiferentes à algazarra, governo e troika lá têm continuado a sua manobra para arrumar o carro. Direitinho ao muro, onde acaba de bater com grande estrondo: um estrondo de grau 7 na escala do … défice!
O tal défice de 4,5% é agora mais próximo dos 7% do que doutra coisa qualquer.
Bateu: Falhou, como se sabia que falharia…
Falhou a troika, na receita! O governo fez tudo o que lhe foi mandado, e algumas vezes fez mais, diz-se. O governo cumpriu à risca o programa da troika e apenas falhou nas variáveis que não controla, como a receita fiscal. O governo fez bem em adoptar a postura de bom aluno, ganhou a confiança dos seus pares europeus e tem agora as portas abertas para a revisão das metas do Memorando,
Tudo isto é dito pelo primeiro-ministro e repetido em coro pela máquina da propaganda. Com isto regozijam-se os comentadores do regime. Para eles é o governo que está dentro do carro, sem culpa nenhuma que se vá destruir contra o muro. Porque eles não vêem nem não ouvem. Não escolhem nem decidem: apenas cumprem ordens!
E no entanto fizeram escolhas: escolheram deixar acabar de destruir o país. Escolheram aproveitar o processo de destruição da economia e do país para o entregarem ao desbarato a quem mais lhe convenha. Escolheram ir além da troika sempre que os mais penalizados eram as classes médias e os mais desfavorecidos. Escolheram deixar na gaveta as medidas da mesma troika que contribuiriam para a racionalidade administrativa do país e para a competitividade da economia, mas que iam contra os interesses das suas clientelas. E escolheram, acima de tudo, demitir-se de defender os interesses do país!
Claro que a receita da troika falhou. Claro que a troika tem responsabilidades. Claro que a troika sabe que, nestas avaliações, se está a avaliar a si própria - daí que tudo sempre esteja bem. Mas só se o governo fosse inimputável teria menores responsabilidades que as da troika.
O grave é que parece que é!