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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

BASTA!

Convidada: Clarisse Louro *

 

Uma confusão com o calendário da minha participação neste nosso jornal levou-me a preparar um texto para ser publicado na última edição. Apenas quando me aprestava para o enviar para a Direcção reparei no equívoco: que a data de publicação era esta e não a da semana passada.

Começo por aqui porque grande parte do que então escrevera foi completamente desmentido na precisa semana em que seria lido. E foi-o, de forma arrasadora, no sábado passado!

Quem escreve sabe que nem sempre é fácil mandar para o cesto dos papéis aquilo que se escreveu. Não foi o caso: foi com uma satisfação enorme que enviei aquele meu texto para o lixo!  

Falava sobre a mentira e a tolerância com que nós, portugueses, lidamos com ela. Sobre a passividade, a falta de exigência e a cultura de acomodação que nos caracteriza. Não é que a extraordinária demonstração de mobilização cívica que os portugueses fizeram neste 15 de Setembro tenha funcionado como esponja que apagou aqueles traços da personalidade lusa. Isso não é nem possível nem exigível.

Não é que esta seja uma data regeneradora, o dia em que os portugueses despiram o negro conformismo com que foram talhados ao longo da História e que sacudiram o pesado fardo fatalista que há muito lhe puseram nas costas. Mas pode ser o princípio de qualquer coisa!

Portugal disse BASTA (feliz e premonitória a capa da última edição do Jornal de Leiria que, não por acaso, roubo para título) e gritou-o tão alto que se ouviu pelo mundo fora. E fê-lo com aquele civismo de que só os portugueses são capazes, a lembrar ao mundo, porventura já esquecido, que aqui se fez uma revolução com armas que em vez de balas tinham cravos. Sem divisões, como no primeiro de Maio de 74, sem partidos – antes contra os partidos -, sem sindicatos… Sem máquinas a ditar palavras de ordem, apenas a iniciativa livre e espontânea de portugueses de todas as gerações e de todas as idades, de todas as condições sociais, unidos pela revolta – é certo, e nem de outra forma poderia ser – mas, acima de tudo, por Portugal. Pelo direito a viver na pátria que é sua, que tem que os acolher e não de os expulsar. Por um país que não consentem seja desrespeitado e destruído!

As estruturas orgânicas do país – órgãos de soberania e partidos políticos - que têm a responsabilidade total pelo processo de destruição em curso, não podem fingir que não viram. E os portugueses, todos nós, não podem fingir que não fizeram isto. Não podem ver aqui um ponto de chegada, apenas um ponto de partida. Não podem desmobilizar. Não podem chegar às próximas eleições – sejam elas quais e quando forem – e repetir o passado: ficar em casa ou ir para a praia em vez de votar, seguir acriticamente aquilo que lhe põem à frente, aceitar o que as máquinas partidárias lhes impingem, aceitar que os que lhes mentiram continuem a mentir, permitir que quem os enganou os continue a enganar…

Quebrou-se o mito urbano do protesto inorgânico. O protesto orgânico é, por definição, sectário. Representa interesses de uns e não de todos, divide e não une. Tem o seu espaço, mas não é o espaço comum de todos nós. O protesto não enquadrado poderá resvalar para actos de violência, vem nos livros. Cá estamos nós para negar isso!

 

* Publicado hoje no Jornal de Leiria

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