UM GOVERNO EM PRISÃO DOMICILIÁRIA
Por Eduardo Louro
Os ministros, todos sem excepção, são vaiados sempre que saem ao contacto público. Tem sido evidente que passaram a fugir a esse contacto, procurando portas e travessas que os levem aos seus protegidos e bunkerizados destinos sem esse incómodo de enfrentar a população.
Os mais recentes casos vêm precisamente do fim-de-semana. A ministra Assunção Cristas, que há poucos dias escapara a um ovo em Santarém, tinha em Aveiro muita gente à sua espera em protesto. Mas tinha também muita polícia capaz de a encaminhar tranquilamente para o interior do auditório – onde encerraria um seminário alusivo aos 50 anos da PAC – vazio!
Miguel Macedo, o ministro da Administração Interna, deslocou-se a Campia - Vouzela – para inaugurar um edifício do destacamento local dos bombeiros. E lá estava a multidão em protesto… Miguel Macedo, com um estranho sentido de oportunidade, achou por bem dizer que os portugueses são cigarras, em vez de formigas!
Gasolina na fogueira: para quem tem o pelouro dos incêndios não é lá muito abonatório…
O governo está definitivamente de relações cortadas com a população e, a partir de agora, ou todos os seus membros permanecem bloqueados nos seus ministérios – um governo em regime de prisão domiciliária – sem de lá poderem sair, ou passam a mandar construir túneis e bunkers por todo o país – o sector da construção e o emprego agradecem – para que possam manter actos protocolares que lhes alimentam a sensação de estarem vivos. E ministros!
Mas não será certamente fácil de perceber que se possa governar assim.