SALTAR FORA
Por Eduardo Louro
A reunião de ontem do Eurogrupo no Luxemburgo confirmou a já conhecida decisão da troika de dar mais tempo – mais um ano – para o processo de ajustamento português. Mais tempo que o governo sempre recusou e que boa parte dos que se lhe opõem sempre reclamaram!
Estes dizem agora que esta decisão da troika lhes vem dar razão e que o governo teria poupado o país a grande parte da destruição da sua economia se, a tempo e horas, tivesse reclamado mais tempo para o ajustamento. Os que defendem o governo, por sua vez, dizem que a troika tomou agora esta iniciativa justamente porque o executivo cumpriu rigorosamente com todas as obrigações. Porque Portugal foi bom aluno é que agora foi premiado pela troika!
Se dúvidas havia foram hoje dissipadas.
O FMI veio dizer que calculou mal o impacto da austeridade, veio fazer um tardio mea culpa, e reconhecer que a receita estava errada, como há muito toda a gente excepto o governo afirmava. E veio, diria que dirigindo-se directamente ao governo, dizer que aumentar impostos põe em causa o crescimento económico a longo prazo. O FMI não só disse que se tinha enganado como disse parem com isso. Não continuem a aumentar impostos porque isso é errado!
Independentemente da lata revelada pela Senhora Lagarde – é mesmo preciso ter lata – é coisa rara que uma instituição como o FMI venha fazer um acto de contrição como este.
A Comissão Europeia, pela voz de Olli Rehn, veio pedir justiça social na aplicação do aumento de impostos, falou em esforços de consolidação mas de forma socialmente justa e no respeito pela equidade social, ao mesmo tempo que apelava ao espírito construtivo das diferentes forças políticas em Portugal.
Uma linguagem, a exemplo da do FMI, nunca antes ouvida. E que, evidentemente, tem a ver com tudo menos com a estória do bom aluno. Porque a atitude do governo nunca foi a do bom aluno mas a do cábula e do graxa. O bom aluno há muito que tinha autoridade para dizer que a coisa não iria funcionar. O cábula nunca o percebe e o graxa só serve para dizer sim…
A troika simplesmente concluiu, depois de toda a gente mas antes de Vítor Gaspar e Passos Coelho, que o programa não funciona. Não funciona na Grécia, não funciona em Portugal e não funciona em lado nenhum.
Mas não se julgue que está empenhada noutro, numa estratégia e num programa que resolva este imbróglio em que estamos metidos. Não. Por enquanto apenas quer lavar as mãos, saltar fora …